Série: Conhecimento de Deus - Livro V: Deus - O Juiz.

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Deus - O Juiz! “O Senhor é Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de ira; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e reserva indignação para os seus inimigos”. (Na 1:2). Introdução: Deus é um juiz. Ser Juiz é ter capacidade e autorização de exercer juízo. Juízo é o ato de julgar. Julgar é medir a verdade dos atos e dos fatos de acordo com um padrão. O padrão de medir, a referência, é a lei. Aquilo que está de acordo com a lei recebe a aprovação dela e aquilo que está em desacordo com a lei recebe a punição dela. Deus é Juiz. Ele tem a capacidade infalível de julgar segundo a lei, a Sua Lei, e tem autorização de Si mesmo para julgar, pois não há ninguém maior do que Ele. Deus não apenas fica desgostoso quando os atos são praticados fora do padrão da Sua vontade, mas Ele julga os atos que são praticados fora da sua vontade. Deus julga porque tem autoridade sobre todos os homens. Deus julga porque 1


exige que os homens procedam de acordo com a Sua Lei. Deus julga porque a Sua Santidade assim o exige. Todas as vezes que os homens transgridem a Sua Lei, a Sua santidade é ferida, agredida, desprezada, vituperada, e isso exige julgamento, pois a culpa não pode ficar sem castigo, porque Deus é zeloso pela Sua santidade. Se a Sua santidade fosse ferida pelo procedimento pecaminoso dos homens e Ele não tomasse nenhuma providência, então Ele não seria santo. Mas não é assim: por isso que Ele está sempre a julgar, porque os homens estão sempre a pecar, a errar, a transgredir a Sua lei. O juízo de Deus começou a se manifestar sobre os homens logo após a queda e não mais parou, porque a queda agrediu a santidade de Deus. Dessa forma, todos os dias, todos os instantes, Deus está a julgar, e estabeleceu um dia em que há de julgar definitiva e totalmente todos os atos de todos os homens, sem exceção: o dia do juízo final, a partir do qual, nenhum ato permanecerá sem ter sido julgado definitiva e finalmente. Por que, então, Deus julga parcialmente e não definitivamente, à medida que os atos são praticados, durante o desenrolar da história? Precisamos relembrar que a punição merecida por causa da queda era a fulminação instantânea dos nossos pais Adão e Eva. Mas não! Deus não os julgou definitivamente, mas parcialmente. E isso aconteceu porque Deus tinha planos, tinha propósitos para cumprir através deles, assim como 2


tem planos e propósitos para cumprir através de nós, e também através de todos os ímpios. Deus também é paciente, tanto para com os que hão de se salvar como para os que hão de se perder. Jamais pensemos, portanto, que o juízo definitivo não ocorre porque Deus faz vistas grossas para com o pecado, ou porque Deus acha que alguns pecados não são tão graves e por isso não os julga definitivamente. Não! Nunca pensemos dessa forma. A paciência de Deus e os seus eternos propósitos são as causas para a aplicação parcial do Seu juízo sobre os homens. É por causa dos seus propósitos e da sua paciência que Deus não julga definitivamente os atos dos homens. Nada mais o impede! Deus considera que qualquer pecado é suficiente para levar um homem a receber a pena capital, a pena máxima, a morte eterna, imediatamente, tão logo o cometa. Deus odeia o pecado em todas as suas formas. Deus é absolutamente santo, impecável, perfeito, não tolera transgressões, por menor que sejam. Deus é puro, imaculado, não possui nenhum aspecto em trevas, tudo nele é luz. Definitivamente, Deus não pode suportar o pecado, a transgressão. Os homens ímpios, atolados no pecado, homens que amam o pecado, Deus os odeia, abomina-os, “porque o Senhor abomina o perverso” (Pv 3.32). Não deixemos nos enganar pelo falso provérbio de que Deus odeia o pecado e ama o pecador. Não! Deus odeia o pecado e odeia o pecador não convertido, o pecador incrédulo, o pecador que ama o 3


pecado. Deus tem verdadeira ojeriza, verdadeira repugnância, não os suporta. Deus é juiz, Deus tem ódio ao pecado, e por isso julga, julga com retidão, com equidade, com justiça. Deus só “odeia o pecado e ama o pecador” no caso do pecador convertido, aquele que peca, mas não tem prazer no pecado, e quando peca logo se entristece e, compungido, confessa o seu pecado e pede o perdão do Senhor. A nossa postura, portanto, para com esse atributo de Deus, deve ser o temor, a reverência, a repugnância ao pecado, o horror ao pecado. Somos devedores de correr léguas de distância para longe de qualquer forma de pecado. Veremos mais detalhadamente três aspectos de Deus como “O Juiz”. O juízo de Deus é perfeito: A cadeia é a seguinte: Deus é santo, separado de tudo quanto é impuro, pecaminoso, corruptível. O pecado do homem agride a santidade de Deus. Quando a santidade de Deus é agredida surge o seu furor, a sua indignação, a sua ira, que por sua vez toma providências executando o juízo. Portanto, santidade agredida, ira manifestada, juízo executado. O elo, portanto, entre a santidade de Deus agredida e o juízo executado é a ira de Deus. Ela é quem move o juízo. A essa altura faremos uma incursão no assunto da ira de Deus: A maioria esmagadora dos crentes se apavora diante da ira de Deus, consideram um atributo pelo qual devam pedir desculpas ao povo, gostariam que não existisse tal coisa no caráter de Deus, consideram 4


uma mancha do seu caráter divino, estão longe de enxergá-la com bons olhos, não gostam de pensar nela, e muito menos de falar sobre ela. Outros consideram que a ira de Deus é de uma severidade terrificante e que, falar sobre ela, não traz benefícios práticos nem teóricos para nenhum cristão, outros ainda consideram que a ira de Deus não é coerente com o seu amor ou com a sua bondade, e, por isso, excluem-na totalmente dos escritos e das pregações. Pensar dessa forma é concluir que a ira de Deus é pecaminosa. A verdade, porém, é que as Escrituras não fazem o mínimo movimento para ocultar tão estrondosa verdade das suas páginas. A Bíblia poderia ser chamada de “o livro da ira de Deus”, pois está repleta de narrativas da retribuição divina, desde a maldição e expulsão de Adão e Eva em Gênesis 3 até a derrota da “Babilônia” e o grande tribunal de Apocalipse 17,18 e 20. O assunto da ira de Deus é claramente usado sem qualquer inibição pelos escritores bíblicos. Por que devemos nós então sentir tal inibição? Por que nós nos sentimos obrigados a ficar silenciosos sobre esse assunto quando a Bíblia fala às claras sobre ele? O que nos torna covardes e embaraçados quando surge o assunto, e nos apressamos a abafá-lo, evitando discuti-lo quando nos perguntam sobre ele? Deus não se envergonha de dar a conhecer que a vingança e a cólera Lhe pertencem, Dt 32.39-41 [..]. A ira, que move o juízo de Deus, é também uma das perfeições de Deus, igualmente à sua graça, ao 5


seu amor, à sua bondade, à sua fidelidade. Todos os atributos de Deus são perfeitos e não há nele perfeição que seja menor do que a outra. Deus não poderia jamais olhar para a sua criatura e contemplar uma virtude e um vício com a mesma satisfação! Deus, que é a soma de todas as perfeições, não poderia ficar indiferente diante do pecado cometido pelos homens e negar-se a demonstrar a sua severidade para com eles! Como poderia Aquele que é infinitamente puro e nobre, deixar de detestar e de odiar o que é impuro e vil? A própria natureza de Deus exige que haja um inferno tão real e eterno como o é o céu. Os homens e os crentes, de uma forma geral (não todos, claro!), rejeitam a realidade da ira de Deus porque julgam que ela se compara com a ira humana. Nada, porém, mais enganoso! A ira humana é uma imperfeição de caráter, movida por sentimentos negativos, malignos, injustos, invejosos, por sentimentos assassinos, é produzida pela carne (os que estão na carne não podem agradar a Deus), visa a vingança, a retaliação, a revanche, a maldade, é destituída de razão, de senso, é atrevida, não mede conseqüências. Já a ira de Deus é santa, justa, imparcial, destituída de maldosa intenção, destituída de retaliação pelo simples prazer de retaliar, pelo simples prazer de infligir ou devolver a ofensa recebida. A ira de Deus é uma das suas perfeições, por isso o apóstolo assim se expressou: “Porque do céu se manifesta a ira de Deus...” 6


(Rm 1.18). Todas as vezes que ela se manifesta há juízo, aliás, o juízo só se manifesta por causa da ira de Deus, que é acionada quando a sua santidade é agredida. Nada, portanto, há de pecaminoso na ira de Deus, pelo contrário, ela é destituída de qualquer mácula, de qualquer mancha, ela é pura, santa, perfeita, justa, e por isso deve ser anunciada, pregada, proclamada, respeitada, temida, reverenciada, glorificada, como uma das sublimes perfeições do Altíssimo, do Todo-Poderoso. O juízo de Deus é então acionado por uma ira santa e justa, e por isso o seu juízo é verdadeiro, correto, justo, cabível, perfeito. Por que o juízo de Deus é perfeito? Porque é executado com autoridade. Deus é o juiz do seu mundo. Como Criador, Ele nos possui, é o nosso proprietário, tem o direito de dispor de nós; tem o direito de fazer leis para nós e aplicá-las, recompensando o cumpridor e sentenciando o transgressor. Nos estados modernos os poderes de legislar e julgar estão separados, mas com Deus não, Ele legisla e julga. O juízo de Deus é ainda perfeito porque Ele ama a justiça e a honestidade, Ele não é um juiz frio e imparcial, que veja o mal triunfar sobre o bem e seja incapaz de sentir indignação, como fazem os juízes da terra, que aplicam a pena sem sentir nenhuma ojeriza pela transgressão cometida, o que constitui uma monstruosidade. As Escrituras não deixam nenhuma dúvida quanto ao amor de Deus pela justiça e seu ódio 7


pela iniqüidade. O juízo de Deus é ainda perfeito porque o seu tribunal é inerrante, não há a mínima possibilidade de se dar uma sentença equivocada, injusta. Nesse tribunal não há júri; o Juiz tem a responsabilidade, sozinho, de interrogar, questionar, detectar as mentiras, penetrar os subterfúgios e esclarecer a situação real, legítima. No juízo, Deus usa a sua onisciência e sabedoria, perscrutando, sondando os corações e descobrindo toda a verdade. Nada lhe escapa. Um outro aspecto pelo qual o juízo de Deus é perfeito é que Ele mesmo executa a sentença. O juiz moderno dá apenas a sentença, a força policial é quem a executa. Inúmeros são os casos em que a sentença judicial é expedida, mas não é cumprida porque não há força para executá-la, ou porque o condenado subornou a força que executaria a sentença contra ele, ou ainda por quaisquer outros motivos. Mas com Deus, não! Após a sentença, Deus mesmo a executa. Não há a mínima possibilidade de o condenado deixar de sofrer a penalidade imposta. O juiz não aceita suborno, não julga pela aparência, não favorece o rico porque é rico, nem favorece o pobre porque é pobre. O rico e o pobre serão julgados independentes da sua condição social e financeira. Deus não julga considerando o réu, mas considerando o triunfo da justiça. Por tais motivos, o juízo de Deus é absolutamente perfeito, invariavelmente perfeito.

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Deus julga os ímpios: Não há situação mais desgraçada sobre a face da terra do que a situação dos ímpios, daqueles que não crêem na Palavra de Deus, não conhecem a Palavra de Deus, não dão ouvidos à Palavra de Deus, rejeitam autoridades, advertências, rejeitam os pregadores da Palavra, não se dão por avisados, não crêem que Deus é juiz, que Deus julga, sempre ouviram (até dos próprios pregadores evangélicos) que Deus é Pai, amigo, ajudador, aquele que ama apesar das nossas fraquezas e pecados, enfim, vivem como se Deus não existisse, no entanto, estão todo tempo na rota de colisão com a tempestade assoladora do juízo divino. Quando lhes falamos sobre o juízo de Deus e eles imediatamente fecham a cara e balançam a cabeça, numa recusa clara pela idéia absurda do Deus julgador. Dizem que esse deus é o deus medieval, pintado pela literatura religiosa que impunha o terror de Deus nas mentes dos ignorantes fiéis a fim de fazê-los voltar às práticas religiosas tendo em vista o esvaziamento dos templos medievais e o enfraquecimento político e militar da religião oficial. De fato, tendo essas informações na mente, adquiridas nos livros de história geral e, entrando num templo evangélico, e ouvindo que Deus lhes ama apesar do que fazem e do que são, a única reação a sentir é um largo sorriso nos lábios, a continuação na vida pecaminosa e o prosseguimento na estrada larga que conduz ao inferno eterno. Dessa forma, multidões inteiras 9


são julgadas a cada instante e condenadas pela justiça divina, que não pode deixar a sua santidade ser desrespeitada sem que a sua ira seja despertada. As Escrituras mostram com fartura esse atributo perfeito do Senhor: “Não fará justiça o juiz de toda a terra?” (Gn 18.25); “O Senhor, que é juiz, julgue hoje entre os filhos de Israel e os filhos de Amon” (Jz (11.27); “Mas Deus é o juiz” (Sl 75.7); “Levanta-te, ó Deus, julga a terra” (Sl 82.8); “Deus, o juiz de todos” (Hb 12.23). Esse não é um assunto apenas de ameaça, ou teórico. A Bíblia apresenta, em cada página da história da salvação, a realidade do julgamento divino. Deus julgou Adão e Eva, expulsando-os do jardim e amaldiçoando sua vida na terra (Gn 3), e por causa dessa maldição, a morte - física e espiritual - imposta a Adão e Eva, passou a todos os homens (Rm 5.12). Deus julgou o mundo corrompido dos dias de Noé enviando o dilúvio para destruir a humanidade inteira (Gn 6-8). O dilúvio caiu e todos pereceram, todos sem exceção: velhos, jovens, adolescentes, meninos, meninas, crianças, bebês, o juízo caiu sobre todos, com justiça, com perfeição, com propriedade. Havia criança que tinha acabado de nascer quando começaram os primeiros pingos da chuva. Enfatizo as crianças para mostrar que todos nascemos na iniqüidade, que somos, por natureza, filhos da ira, e por isso o juízo de Deus é justo, perfeito. Deus julgou as duas cidades da planície, Sodoma e Gomorra, destruindo-as 10


completamente por meio de uma catástrofe vulcânica, onde, só três pessoas, sobreviveram, Ló e as suas duas depravadas filhas. Por que então elas não morreram? Porque Deus resolveu estender a sua paciência sobre elas por mais algum tempo! E, quer dizer, que as criancinhas que existiam em Sodoma e Gomorra foram tragadas no vulcão de uma forma justa, da parte de Deus? Sim, de forma absolutamente justa, pois todos já nascemos culpados. Deus julgou os egípcios, mandando contra eles o terror das dez pragas (Ex 7-12), exatamente como havia ameaçado em Gn 15.14, quando disse: “Mas também eu julgarei as gentes a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas”. Deus julgou os israelitas incrédulos e ímpios, dentre todo o povo, porque adoraram o bezerro de ouro, e usou os levitas para executarem o seu juízo (Ex 32.28). Deus julgou Nabucodonosor e Belsazar, ambos por impiedade. A Nabucodonosor foi dado tempo para que corrigisse a sua vida, a Belsazar não, foi fulminado instantaneamente, e isso não porque tivesse cometido um pecado mais hediondo, mas porque Deus não lhe outorgou oportunidade de arrependimento e correção. Nínive, a grande Nínive, era a capital da Assíria, um país fora dos limites de Israel, um país que não estava na aliança de Deus, um povo estranho. Cem anos antes, quando a cidade estava mergulhada no caos moral e espiritual, e a despeito de ser uma cidade de gentios, sem nenhum 11


vínculo com o Deus da aliança, o profeta Jonas foi destacado por Deus para anunciar-lhe o juízo. O profeta foi e pregou e ela se arrependeu no pó e na cinza e Deus suspendeu o juízo que havia anunciado. Agora, cem anos depois, a cidade volta ao caos da corrupção e o profeta Naum é destacado para anunciar-lhe novo juízo, que aconteceu sem misericórdia, cujo toque de trombeta começou com a declaração do perfeito caráter de Deus: “O Senhor é Deus zeloso; o Senhor é vingador e cheio de ira; o Senhor toma vingança contra os seus adversários e reserva indignação para os seus inimigos. O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder e jamais inocenta o culpado; o Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés” (Na 1.2,3). As narrativas do julgamento divino não estão confinadas apenas ao Velho Testamento. No Novo Testamento, semelhantemente, o julgamento caiu sobre os judeus que rejeitaram Cristo, “Portanto vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos” (Mt 21.43), caiu sobre Herodes, pelo seu orgulho, “Em dia designado, Herodes, vestido de traje real, assentado no trono, dirigiulhes a palavra; e o povo clamava: É voz de um deus, e não de homem! No mesmo instante um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou” (At 12.21-23). Outro que sofreu o duro juízo de Deus foi Elimas, que se opôs tenazmente à 12


pregação que Paulo fazia ao procônsul Sérgio Paulo, homem sedento da Palavra de Deus, At 13.4-12 [..]. Expus apenas uma seleção dos incontáveis casos de julgamento citados pela Bíblia. Irmãos, há uma dificuldade muito grande de nossa parte em entender que o intervalo de tempo compreendido entre a queda e o último dia é um lapso de tempo de juízo. Tudo aquilo que não vier sobre nós em forma de juízo é mero favor, legítima graça, pura misericórdia. Tudo o que deveria vir sobre nós era apenas juízo e nada mais. Todos somos contaminados pelo vírus do ‘merecimento’ e por isso reclamamos tanto, murmuramos tanto, mas reclamamos de barriga cheia. Se tudo o que deveríamos receber era o juízo de Deus, então nossa vida deveria ser uma exultação só, pelas muitas benesses que recebemos da divina mão, mas não tem sido esse o nosso comportamento, parece até que estamos mal acostumados. A Palavra, no entanto, nos adverte: “Deus te pedirá conta” (Ec 11.9) e mais: “Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas quer sejam más” (Ec 12.4). Como é triste a situação dos que não crêem, como é triste andar em trevas! Como disse Pedro: “Se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador? (1 Pe 4.18). O ímpio sofre os juízos de Deus na carne, nas finanças, na saúde, na vida social, na vida comercial, na vida íntima. Deus os atormenta com os seus severos juízos, “O Senhor transtorna o caminho 13


dos ímpios” (Sl 146.9), eles não dormem em paz, gastam o tempo planejando o mal, são angustiados, não têm paz com Deus, as suas consciências os acusam de dia e de noite, “para os ímpios, diz o meu Deus, não há paz” (Is 57.21). Deus julga os crentes: Pensar que Deus não julga ou julgará os crentes é ser menino na fé, é estar tomando leite como criança, e creio que este não é o caso de nenhum de nós. “O Senhor julgará o seu povo” (Hb 10.30), e ainda, “importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo” (2 Co 5.10), ou ainda, “horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.31). Os crentes que não têm intimidade com as Escrituras descrêem totalmente da doutrina do juízo de Deus. Pensam que os julgamentos de Deus são coisa do Velho Testamento e que hoje estamos no tempo da graça (desconhecem até que a graça começou imediatamente após a queda) e que por isso essa história do juízo de Deus sobre os homens, e especialmente sobre os crentes, é história fantástica para amedrontar mentes incautas e ignorantes, mas, se examinarmos o Novo Testamento, mesmo superficialmente, não teremos nenhuma dificuldade de enxergar que a ênfase que o Velho Testamento dá ao juízo de Deus é ampliada, intensificada, no Novo. Todo o Novo Testamento contém a certeza da chegada do dia do juízo e clama contra o pecador para que fuja da ira vindoura. Essa foi a 14


mensagem de João Batista, de Jesus e dos apóstolos. São fartas as expressões “dia do julgamento”, “o dia da ira”, “a ira vindoura”, “O juiz que está à porta” (Tg 5.9), “preparado para julgar os vivos e os mortos” (1 Pe 4.5), “O justo juiz” que dará a Paulo a sua coroa (2 Tm 4.8); Jesus Cristo foi constituído por Deus “Juiz de vivos e mortos” (At 10.42); Deus “estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou” (At 17.31); “No dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens de conformidade com o meu evangelho” (Rm 2.16). Deus julga parcialmente ímpios e crentes e haverá o dia do juízo final. Os ímpios são julgados e condenados, os que crêem são julgados e disciplinados. Escrevendo à Igreja em Corinto, Paulo exortou os irmãos a realizarem o autojulgamento, para evitar que Deus o fizesse, porque se Ele fosse fazê-lo, iria discipliná-los para que não fossem condenados com o mundo, 1 Co 11.31,32 [..]. Ambos, então, ímpios e crentes, são julgados com finalidades diferentes: o primeiro é condenado e o segundo disciplinado. Só e somente nesse caso é que o provérbio é verdadeiro: “Deus ama o pecador e odeia o pecado”. Deus ama o pecador convertido e, porque odeia o pecado na sua vida, considera o pagamento que Jesus fez na cruz e disciplina o crente transgressor. No caso do ímpio, não, o seu pecado recai sobre a sua própria cabeça, e a penalidade também. 15


Deus julgou e disciplinou Moisés, quando este feriu a rocha que Deus havia apenas mandado tocar nela e, por isso, não gozou o privilégio de entrar na terra prometida, conduzindo o povo. Deus julgou Arão e Miriã, irmãos de Moisés, por terem se insurgido contra a autoridade de Moisés, fazendo-os ficar leprosos. Deus julgou e disciplinou Davi, pelo seu adultério com Bate-Seba, pelo seu orgulho em levantar o censo de Israel, pela sua frouxidão disciplinar no lidar com a sua família, levou-lhe o filho que tivera com Bate-Seba, mandou a praga sobre Israel, que em apenas uma manhã dizimou setenta mil judeus, enfrentou o incesto e o estupro do seu filho Amnom contra sua filha Tamar, o assassinato do seu filho Amnom pelo seu filho Absalão, o adultério do seu filho Absalão com as próprias esposas do rei em plena praça pública de Jerusalém, e ainda viu o seu rebelde e amado filho Absalão ser devorado pela espada de Joabe, o seu ministro da guerra. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo, pois Deus julgará o seu povo. Recentemente vimos sobre o julgamento e a disciplina impostos ao desobediente profeta Jonas e também à nação de Israel que, tendo sido avisada que se desobedecesse seria deportada para nações estrangeiras como último castigo para a impiedade, e, finalmente, depois de repetidas admoestações feitas pelos profetas, Deus julgou a sua própria nação, cumprindo sua ameaça: o reino do Norte, Israel, caiu vítima do cativeiro assírio e o reino do sul, 16


Judá, foi deportado para a Babilônia. No Novo Testamento Deus julgou e disciplinou Ananias e Safira por terem mentido ao Espírito Santo de Deus. Julgou e disciplinou os crentes da Igreja em Corinto, que foram atingidos por doenças fatais em alguns casos, por causa da sua grosseira irreverência em relação à ceia do Senhor. Não temos tempo nem espaço para narrar todos os juízos de Deus sobre os crentes, mas esses são suficientes para relembrar os poderosos feitos do Senhor contra a impiedade, contra o pecado, contra as agressões efetuadas contra a sua perfeita santidade, e também são suficientes para mantermos sempre acesa na memória a lembrança de que Deus julga, de que Deus é juiz, de que Ele é perfeito juiz. Conclusão: Diante do exposto, você crê no julgamento divino? Você crê em Deus como Juiz? Ou será que você só crê em Deus como Pai bondoso, amoroso, gracioso, misericordioso, como pregam todos os falsos profetas por aí afora? Você sabe que crendo ou não no juízo de Deus você já foi atingido por ele, é atingido por ele, e ainda será? Será que nós não estamos enxergando que muitas das nossas dificuldades não são meras provas, mas legítimas disciplinas por causa do justo juízo de Deus sobre nós? Somos prontos para dizer que toda dificuldade que passamos é resultado de provação. Pode ser, mas nem 17


sempre é. Na maior parte dos casos é pura disciplina mesmo, e principalmente em se tratando de crente reformado. Irmãos, ser reformado, crer nas poderosas doutrinas da soberania de Deus sem nem fazer cara feia é talvez o maior privilégio que um crente pode experimentar nessa vida, mas, em contrapartida, coloca-nos numa posição em que Deus e os céus cobram, na ponta do lápis, cada ensino proferido, cada ensino aplicado no coração de cada um de nós e, quando somos medidos, geralmente somos achados em falta e por isso somos disciplinados por Deus. Muitas e constantes são as exortações, as admoestações, que são proferidas desse púlpito, todas com a finalidade de fazer com que evitemos o julgamento e a disciplina. E não podemos olvidar as admoestações, fazer ouvidos de mercador, pelo contrário, precisamos repercutir sobre cada ensino aprendido, meditar, discutir, orar, para que o Espírito de Deus se digne aplicá-los nos nossos corações. Muitos de nós estamos sendo disciplinados por questões de mera irresponsabilidade, de mera negligência, e outros estão sendo disciplinados por causa de erros graves e indevidos. Temos sido atrasados em tratar com amor, em perdoar, temos sido atrasados no estudo particular da Palavra, temos sido atrasados em meditar sobre todas as riquezas que o Senhor tem nos transmitido, temos sido atrasados na generosidade para com o Senhor e por isso o 18


Senhor nos tem tratado conforme aquilo que temos entregado para a sua obra, temos agido sem fé, sem muita oração. É possível que estejamos tendo uma confissão de pecados superficial diante de Deus, como se Ele ficasse satisfeito com qualquer tipo de confissão e não nos impusesse nenhuma disciplina por isso. É possível que estejamos sendo avarentos para com Deus, numa completa ignorância espiritual de que tudo aquilo que possuímos, na verdade, pertence a Ele, e por isso Deus esteja nos tratando a conta-gotas ou ainda esteja nos dando muitas posses, mas que estão sendo armazenadas em sacos furados, que não retém os grãos, ou em cisternas rotas, que não retém as águas. Como está o nosso relacionamento familiar? Tem havido respeito mútuo, tem havido amor do marido para com a esposa, tem havido submissão da esposa para com o marido, tem havido a prática da honra para com os pais por parte dos filhos? Como está o nosso relacionamento conjugal? Será que o nosso leito conjugal está sendo imaculado, ou muitos de nós temos procurado um comportamento bestial e antinatural, semelhante aos homens do mundo, que não têm o mínimo temor do Senhor? Sobre esses recai o juízo de Deus, inevitavelmente. Irmãos, Deus julga cada um de nós, individualmente, e também nos julga como Igreja, corporativamente. Julga a nossa indiferença para com a sua obra, para com a sua 19


Igreja, para com os cultos. Deus julga a nossa preguiça, a nossa ociosidade, a nossa relaxação. Deus julga a nossa indisposição em visitar, em acudir, em consolar. Deus julga o nosso preterir a sua Palavra e a nossa preferência para com os entretenimentos do mundo. Deus julga as nossas palavras indevidas e torpes, as nossas conversas vãs. Deus julga os nossos pensamentos, a cobiça, os nossos atos ocultos. Deus sonda todas as coisas. Deus conhece mentes e corações. É impossível que Deus não julgue. Se não o fizesse estaria em desacordo com a sua santidade e com a sua ira. Deus julga porque é santo, três vezes santo. Ele julga porque é Deus, porque é perfeito. É inevitável que Ele não julgue, e o resultado do juízo é a disciplina sobre os que crêem e a condenação sobre os que não crêem. Muitas vezes lamentamos tais e tais situações, tais e tais problemas, tais e tais angústias, e, basta uma reflexão nas páginas das Escrituras e saberemos logo qual é a causa. Não pensemos no juízo apenas como coisa do futuro. Não! O juízo de Deus é presente. Deus está constantemente sentado no trono da graça, que também é o trono do juízo. Todos, sem exceção, estamos sob disciplina, uns, menos severa, outros, mais severa. Quais são as nossas dificuldades e problemas? Todos sabem quais são os seus, cada qual. Pois, dentre todos eles, os que não forem objeto de provação são objeto de disciplina, e eles doem! Uns, duram pouco, outros, duram 20


por muito tempo e outros, ainda, duram tanto que só vão dar trégua por ocasião da nossa morte! Que fazer, irmãos? O juízo tem a finalidade de condenar os ímpios e de disciplinar e corrigir os filhos. Enquanto a correção não for acontecer, o juízo persistirá. Será que não estamos naquela terrível condição de estar sempre a pedir misericórdia a Deus o dia todo e não fazer nenhuma resistência, nenhuma oposição ao pecado? Na nossa luta contra o pecado, temos resistido até o sangue, como falou o escritor aos hebreus? Muitos de nós preferimos ficar pedindo misericórdia o tempo todo a fazer uma dieta séria, um tratamento de choque, de diligência contra o pecado, usando a espada do Espírito, a Palavra de Deus. Muitos preferem pecar e depois pedir misericórdia a lutar com unhas e dentes contra o pecado que tenazmente nos assedia. Essa postura é perigosíssima! Irmãos, Deus é puro e santo e nós não somos nem uma coisa nem outra. Vivemos debaixo da sua graça e mesmo assim não a temos aproveitado o quanto devíamos no combate ao pecado. Estamos sujeitos ao pecado o dia inteiro e não temos nos empenhado em combatê-lo como poderíamos. Os que crêem já fugiram da ira vindoura e devem fugir da disciplina presente, através de uma vida de extrema vigilância. Os que não crêem estão expostos à ira presente e à ira vindoura e, somente a pregação do Evangelho e a graça de Deus poder livrá-los dessa situação. 21


Deus é santo e por isso a sua ira é despertada quando pecamos e, por ser despertada, o Juiz se levanta e julga. Temamos e tremamos diante daquele que detém todo o poder no céu e na terra: Deus, o Juiz. AMÉM.

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Este sermão faz parte de uma série de mensagens do Pr. Edson Rosendo de Azevêdo sobre o “Conhecimento de Deus”, ministradas na Primeira Igreja Batista Reformada em Caruaru, no ano de 2001. Para baixar a série completa em áudio acesse: http://procurandoverdadebiblica.blogspot.com/p/c onhecendo-deus.html Para outras mensagens do pastor acesse: http://reformadoscaruaru.blogspot.com/

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