Como Organizar Teatro em Sala de Aula

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Como Organizar Teatro em Sala de Aula Manual prĂĄtico para encantar alunos em classe

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texto Clovis Vieira fotos SĂ­lvia Ferrante


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“ O ser humano que não conhece Arte tem uma experiência de aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos à sua volta, da sonoridade instigante da poesia, das criações musicais, das cores e formas, dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida” Parâmetros Curriculares Nacionais - Arte

Fotos da capa: Sílvia Ferrante, no XXII Festival de Teatro Amador “Atílio Eduardo Gallo Lopes” em 2009; São João da Boa Vista-SP Foto acima: Gianelli, primeira formação do Grupo de Teatro Cena IV, 1975; foto de trabalho da peça “Ontem, Hoje e Primavera”

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Pensando bem: - Por que incluir teatro em minhas aulas? - O melhor texto é o infantil ou os meus alunos querem mais que isso? - Como orientar as reuniões teatrais? - Quem poderá me ajudar na montagem de uma peça?

Índice 1] 2] 3] 4] 5] 6] 7] 8] 9] 10] 11] 12] 13] 14] 15] 16] 17] 18] 19] 20] 21]

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Um livro de receiras - pág. 05 Em cena - pág. 07 Agradecimentos - pág. 9 1-Qual é o melhor momento para uma peça? - pág. 11 2-Como escolher o “texto certo”? - pág. 15 3-Estes alunos são os atores? - pág. 19 4-Como dirigir a primeira reunião de trabalho? - pág. 23 5-O que se deve esperar de um teatro assim? - pág. 29 6-Soluções que vêm da criatividade deles - pág. 31 7-Onde buscar socorro? - pág. 37 8-Que palavras são estas? - pág. 43 9-Planejamento - pág. 51 10-Uma atitude teatral - pág. 55 11-Dois exemplos - pág. 61 “Quantos Anos Eu Tenho?” - pág. 63 “Muros e Mensagens” - pág. 67 12-Apêndice - pág. 71 Theatro Municipal - pág. 73 Festival de Teatro “Atilio E. Gallo Lopes” - pág. 83 Sobre o autor - pág. 85 Sobre a fotógrafa - 87


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Um livro de receitas Um livro prático é como um livro de receitas. É abrir, ler e fazer...depois é só saborear o resultado. Assim funciona “Como Organizar Teatro Em sala de Aula”. O livro resulta de uma longa experiência do fazer teatral. E a concisão que ele traz é marca registrada do autor. O Clovis sempre foi assim: claro e direto no exercício de sua Arte. Para aqueles que foram dirigidos por ele no palco, ficava sempre a impressão de que ele sabia exatamente aquilo que se passava no interior de cada ator, assim como ele parece saber o que se passa nas cabeças de seus leitores:“Chega de tantas teorias do fazer artístico na sala de aula! Queremos a vida, a emoção, a criatividade, o prazer; queremos a prática!” Para você, que quer fazer teatro com seus alunos, a solução está nas suas mãos, neste livro que está lendo. Quando fomos convidados pelo Clovis para fazer este prefácio, ficamos felizes por inúmeras razões.

Entre elas, a oportunidades de relembrarmos as “montagens” da adolescência, nas salas de aula do antigo curso ginasial. A bem-dizer, nossos professores já sabiam da importância do ensino das artes nas escolas e anteciparam para nós (que sorte!) essa valorização das artes no ensino, agora trazida pelas recentes descobertas das neurociências. De lembrar também, quando criamos o grupo de teatro CENA IV - nossa imitação do O TABLADO - que mesmo em suas humildes proporções, atravessa mais de três décadas e acabou servindo para as primeiras experiências de alguns colegas que se tornaram excelentes profissionais das artes pelo mundo a fora. Não tínhamos Maria Clara Machado, mas o Cena IV tinha no Clovis um ator e diretor que produziu espetáculos inesquecíveis para todos nós, adolescentes que compartilhávamos a paixão pelo Teatro. Um pouco depois, criou sua Oficina de teatro, onde continuou a revelar talentos . Assim, nossa alegria também, ao saber de sua decisão em colocar a experiência do autor, diretor, encenador e professor em um livro para educadores desejosos de realizarem arte com seus alunos. Além disso, seu timing é perfeito: Arte e educação, Arte e escola é um assunto que está na onda deste novo século. Na França, por exemplo, aquilo que os franceses chamam de educação cultural, vem junto com a preparação artística. Nas escolas italianas, o aluno aprende e discute Arte ao lado de todos num aprendizado de conhecimento do patrimônio histórico cultural. Na Inglaterra, um projeto bem estruturado com uma visão crítica faz parte do currículo normal das crianças em idade escolar. Na Espanha, também estão presente a proposição das diferentes possibilidades artísticas e estéticas. Na Alemanha, a educação estética é uma tradição. Em nosso país, não é diferente, vivemos a aventura proustiana da busca de nosso tempo perdido em relação ao ensino das Artes em nossas escolas. Por isso, uma obra cujo objetivo seja o de auxiliar os professores na construção de mentes criativas sempre terá seu lugar de destaque. Entre elas, com certeza estará “Como organizar Teatro Em Sala de Aula”.

Zeza Freitas e Ronaldo Marin Fundadores, com o autor, do Grupo Cena IV

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Em Cena Como nossas crianças gostam de teatro em sala de aula! No inicio, em 1976, cheguei a pensar que todas, sem exceção, queriam mesmo”matar” minhas aulas! Depois, vi que muitas delas não tinham onde, nem como expressar aquele turbilhão de sentimentos e emoções que o período de adolescência gera. E, intuitivamente, elas “sabiam” que através da representação teatrall conseguiriam extravasar seus conflitos. Por isso, é que minha abordagem de um teatro para a sala de aula tem bases emocionais e interativas, alem de lúdicas e didáticas, é claro. Quando surgiu a idéia de escrever um manual com algumas orientações para o professor, optei por uma escolha mais “enxuta”, sem teorizações que - com certeza - você não leria. Mesmo assim, no capitulo Onde Buscar Socorro incluí uma serie de títulos, que contêm mais do que o necessário para você realizar um ótimo trabalho teatral com os seus alunos. Quando afirmo que meu teatro está ligado às emoções e a uma interação, quero dizer que:

a) se a criança, ou o adolescente, não está necessitando emocionalmente da representação, não vai mesmo se interessar pelo assunto e não estará disposta a se expor diante dos colegas da classe; b) inúmeras crianças “precisam” viver outros papéis diante de testemunhas num certo momento de sua vida, quando a família ou o círculo mais próximo de amigos não proporcionam oportunidades honestas; c) fazer teatro também significa pensar sobre a própria vida que temos nas varias áreas em que estamos inseridos e, dentro do possível, fazer nelas pequenas adaptações a partir dos insights que a atuação teatral proporciona. Mas tudo isto que estou dizendo também depende da boa vontade da direção da escola em que lecionamos. Nem sempre nossos diretores compreendem a extensão de um trabalho teatral em sala de aula e o proíbem, mesmo. O ideal será envolvê-los em seu trabalho. Insista sempre. Seus alunos jamais esquecerão você e suas deliciosas aulas! Clovis Vieira São João da boa Vista-SP Novembro de 1995

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Agradecimentos A produção deste manual de conduta para a criação de um teatro em sala de aula contou com a inestimável ajuda (e socorro!) de muitas pessoas amigas. Elas leram os originais, ofereceram preciosas sugestões e me emprestaram sua valiosa experiência em classe. A todas elas sou profundamente grato. Destaco a participação do Profº José Alexandre Ribeiro Dutra, que acrescentou aos originais deste livro sua inestimável sabedoria em tratar com crianças. À amiga Marta Almeida, incentivadora de extremo positivismo, que me impulsionou em todos os momentos. À diretora teatral Renata Cabrera. E à professora Vera Gomes Lourenço, que foi quem começou toda essa história de teatro em minha vida. Muito obrigado!

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“A Ilha de Ouro” fanto) in ( o ã ress p x E t’ r A o Teatr

“Tudo de Mim” o (juvenil) Teatro Ar t’Expressã

“No mundo de hoje, muito pouco tempo temos para - algumas vezes - olharmos para dentro de nós e pensamos: ‘quem somos?... como somos...” Desconhecemos, muitas vezes, quantas infinidades de coisas somos capazes de fazer com a bela linguagem do nosso corpo e quantas coisas belas e lindas existem dentro no nosso Eu”. Ruth Gouvêa - Professora de Expressão Corporal

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1- Qual é o melhor momento para uma peça? A decisão de montar uma pequena peça na sala de aula deve ser tomada em conjunto com a maioria dos alunos. Esta é uma boa forma que arrebanhá-los para o trabalho que virá. Quando eles também decidem que querem uma peça teatral você terá maiores garantias de participação e interesse, resultando num espetáculo mais divertido. É importante que seus alunos se divirtam fazendo teatro. Isso garante diversão para o público. Mas esteja preparada – quando vinte alunos se interessarem em formar uma equipe para a montagem no final é bem provável que apenas cinco ou seis deles continuem com você. Não desanime, não perca as esperanças. Os que permaneceram do seu lado merecem e esperam todo o seu empenho. E, além disso, em pouco tempo, alguns dos que se foram, voltam. O melhor é decidir-se pela montagem de um texto quando:

1- O excesso de matéria já extenuou os alunos. Ao perceber isso, proponha uma pequena peça teatral. Assim, eles perceberão que você também sabe e pode “entrar no jogo deles”. 2- A matéria está em dia e os alunos merecem um prêmio. É claro que esta “prêmio” é um presente de grego, pois ele traz muito trabalho pela frente. Mas, o que se busca é a alegria que uma montagem de uma pequena peça teatral, ou leitura de texto, proporcionam. Neste caso, estabeleça o porquê deste prêmio, para que seus alunos ampliem sua própria consciência de valores 3- A escola gostaria de uma imagem mais atuante junto ao publico. Teatro supõe emoções, mesmo que básicas e, por isso, oferecer às outras escolas, creches municipais e a entidades assistências um pequeno espetáculo teatral (geralmente de fundo moral), eleva em muito o conceito de sua escola junto à opinião publica. Neste momento, esforce-se por convidar o pessoal da imprensa - eles estão sempre dispostos a divulgar trabalhos assim. Fora da escola e de sua sala de aula talvez seja preciso fazer adaptações para outros palcos e espaços, talvez seja impossível levar o cenário ou a sonoplastia - prepare seus alunos para situações assim.

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Qual é o melhor momento... 4- Você precisa (e seus alunos também) dar uma espairecida no maçante dia a dia escolar e uma leitura de texto teatral, na ultima meia hora de aula, pode operar milagres no humor! Se for um texto cômico, então, você se surpreenderá! Uma leitura e uma marcação de cena com atuação mais exagerada dos alunos, reforça a comédia. Cultive o hábito de relaxar e divertir-se em companhia da classe; ela terá sempre prazer em receber você para uma aula.

Quando nos envolvemos num trabalho assim, nossas emoções mais básicas podem aflorar e os alunos ficam surpresos em saber que você “é igual a eles”, com sentimentos, desejos e anseios. Nesta hora trabalhe para aumentar o respeito que eles têm (ou deveriam ter) por você.

5- Você está precisando fortalecer sua autoridade junto aos alunos. Autoridade também significa concessão. Quando você permite que haja esses momentos, eles entenderão o seu poder de abrir e fechar oportunidades lúdicas. E mais: se não há problemas que um lado divertido de sua personalidade seja exposto, sugira a montagem.

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“Lisístrata” Colégio Integral

“Os livros que mais têm durado não dispunham de tamanhos recursos de atração. Neles, era a história, realmente, que seduzia. São as crianças, na verdade, que delimitam o que é uma Literatura Infantil com a sua preferência. Costuma-se classificar como Literatura Infantil o que para elas se escreve. Seria mais acertado, talvez, assim classificar o que elas leem com utilidade e prazer. Não haveria, pois, uma Literatura Infantil ‘a priori’, mas ‘a posteriori’”. Cecília Meireles, Escritora, Poetisa, Cronista

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2- Como escolher o “texto certo”? Após o primeiro ou segundo mês de aulas, você já conhece a sua clientela. Embora cada aluno seja diferente do outro em múltiplos aspectos, a classe tem a estranha capacidade de se comportar como um todo, em diversas situações. Observe esse comportamento usando de habilidade para aproveitálo e de harmonia para mantê-lo sob o seu controle. Para que toda a classe se envolva num trabalho assim, seria ótimo se todos os alunos pudessem opinar sobre as características de um futuro texto teatral a ser montado. O mesmo deve ser considerado, quando da união de vários colegas-professores, no aprendizado de varias matérias ao mesmo tempo, através do teatro.

Escolha assim o seu texto: 1- Procure por autores tradicionais para conhecer o que e como escrevem. Em bibliotecas municipais ou particulares há, com certeza, peças clássicas ou que fizeram muito sucesso junto ao público. A decisão por um texto adulto ou infantil será guiada pelo que você conhece da clientela, embora uma consulta ao seu grupo ajude a iluminar este caminho; crianças e jovens apreciam uma boa história que tenha ação e conflitos - é aqui que eles ”encontram a si mesmos”. 2- Faça cortes em textos teatrais conhecidos, para que o trabalho que ele exigirá caiba no tempo de duração da aula. Por vezes, alguns trechos contem exatamente a mensagem que você procura para aquele momento para a sua classe. Não tenha medo de “profanar” uma peça de Shakespeare, por exemplo. Como certeza ele ficaria feliz com a sua interferência, para que mais pessoas possam conhecer seus textos. Crianças e jovens apreciam histórias consistentes, que tenham emoções. 3- Escreva um pequena peça teatral, com base em sua realidade pessoal ou - melhor ainda - na realidade de sua classe de alunos. É sempre muito interessante ver a si mesmo num palco, sendo representado por outra pessoa (será que nós aguentamos isso?). Se você não tem facilidade para escrever, arranje co-autor. Um texto que mostre a própria classe a si mesma poderá trazer interessantes insigths.

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“Destinos” Colégio Dom Bosco

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Escolher o “texto certo”...

4- Convoque alunos criativos para redigir um texto exclusivo, ficcional ou baseado em fatos. É isto o que fazem os cronistas - a partir de um pequeno acontecimento no dia-a-dia, esse pessoal criativo é capaz de contar um punhado de histórias. Seus alunos não serão exceções. Muitos deles têm talento para a escrita e precisam apenas ser orientados. Confie neles.

E mais: partes de sua matéria, ou de colegas-professores, podem ser transformadas em texto teatral! Assim, seus alunos verão aquele trecho complicado da historia, ou uma equação matemática, ”em pessoa” ali na frente...

5- Transforme em teatro (com a ajuda dos alunos) letras musicais de sucesso, poemas conhecidos, dito populares engraçados ou mesmo provérbios. Este pode ser momento ideal para cristalizar textos com raciocínios abstratos. Só o exercício de fazer um letra de musica transforma-se em texto teatral, já colabora para uma compreensão muito maior do seu conteúdo.

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“A Ilha de Ouro” o (infanto) Teatro Ar t’Expressã

“Todas as pessoas são capazes de atuar no palco. Todas as pessoas são capazes de improvisar. As pessoas que desejarem são capazes de jogar e aprender a ter valor no palco. Aprendemos através da experiência e ninguém ensina nada a ninguém. Se o ambiente permitir, pode-se aprender qualquer coisa, e se o indivíduo permitir, o ambiente lhe ensinará tudo o que ele tem para ensinar. Talento ou falta de talento tem muito pouco a ver com isso”. Viola Spolin, Diretora. Professora e Teórica Teatral

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3- Estes alunos são atores? Como já disse anteriormente, é provável que você fique com apenas cinco ou seis alunos, dos vinte que demostraram “vivo interesse” em participar da peça. Pode ser que entre os ‘dissidentes’ muitos deles voltem, quando os ensaios apresentarem um lance interessante. Alguns poucos alunos maldosamente “pagam para ver” a perseverança do professor, mas sucumbem diante da sua força realizadora.

Aí estão os seus atores:

1- Aninha é tímida e jamais se exporia diante dos amigos? Conheço muitos alunos que adorariam viver personagens através dos quais pudessem se expressar, mas não têm coragem para se oferecer. Alunos assim, por sua formação, esperam ser chamados. Cabe a você perceber isso e fazer o convite, mesmo que um “não” seja a resposta num primeiro momento, pelo medo que eles têm da reação da classe. Fale em particular com esses alunos. 2- Cláudio é o seu “pior” aluno, não se interessa pela matéria e tumultua sua vida sempre que pode. Pessoalmente, acredito que não haja alunos difíceis, mas sim personalidades especiais que exigem muito mais de nós. Ele não terá problemas afetivos em casa? Será que não lhe faltam atenções carinhosas de outras pessoas? O palco pode ser o melhor canal por onde ele extravazará as suas impressões do mundo e o apoio que ele vem recebendo de alguns colegas para ser o “pior” aluno, tem bases muito frágeis. No entanto, não entre em conflitos com aqueles. 3- Raquel parece ter nascido para isso, pois tem senso artístico. Frequenta shows, cinema, teatro! Se ela ainda reunir em sua personalidade uma certa dose de maturidade, melhor ainda. Ela será o seu braço direito na montagem de um pequeno espetáculo e saberá que é você quem está no comando. Preste atenção se alunos assim não estão intimidando aqueles que também têm vontade de participar, mas não se julgam suficientemente “bons”.

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Estes alunos são atores... 4- Julinho parece ”neutro” em classe, mas é inteligente e demostra disposição para os esportes e maratonas que a escola promove. Faca o convite, fale sobre um possível personagem que é “a cara dele”; explique sobre os horários de ensaios e a importância de sua participação - aqui também é hora de falar sobre a disciplina que todos do grupo esperam de cada um: evitar atrasos para os ensaios, encarar o empenho de cada ator ou atriz com respeito e sem brincadeiras que possam desmotivá-los etc...

Em qualquer caso, tudo depende mesmo de motivação. Crie um clima favorável ao teatro em sua aula, discuta sobre atuações em novelas de TV, pergunte quem da classe faria melhor este ou aquele personagem conhecido por todos. Um ponto a discutir: alunos que participam de uma montagem teatral merecem tratamento especial em classe, merecem condescendência em provas e exames? Todos os nomes destes ”alunos” são fictícios. Alguns de nós temos a sorte de encontrar pela frente pessoas muito complicadas para lecionar, que reúnem em si vários dos itens citados. São desafios! Em muitas vezes, não temos sequer opções de dizer não a eles - procure enfrentar seus desafios com bom humor. Conhecendo seus alunos, ficara mais fácil distribuir os papeis da peça: quem será o Lobo? Quem será o Lenhador?

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“Lisístrata” Colégio Integral

“... nunca se permita representar exteriomente algo que você não tenha experimentado intimamente e que nem ao menos lhe interessa. Um papel construído à base de verdades cresce, ao passo que fenece o que se baseou em clichês. (...) Em cena, é preciso agir, quer exterior, quer interiormente. Não atuem de um modo geral, pela ação simplesmente, atuem sempre com um objetivo. No teatro, toda ação dever ter uma justificação, deve ser lógica, coerente e real”. Constantin Stanislavsky, diretor teatral

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4- Como dirigir a primeira reunião de trabalho? Muito bem! Seu grupo está organizado, o texto foi escolhido, as personagens já foram distribuídos e até a data da primeira (viu só, a primeira!) apresentação está marcada. Mas como uma peça toma corpo? Stanislavski, o grande nome do teatro, diz que o diretor é “os olhos e os ouvidos da platéia”, isto quer dizer que você é quem decide o quê e como sua plateia verá o pequeno espetáculo que esta nascendo ali. Não se apavore, você não é uma profissional do ramo! Tudo isso é apenas lazer e seria bom se todos se divertissem.

O que fará o restante da classe? a) Peça-lhes para escrever uma redação sobre o que está acontecendo naquele momento. Os fatos estão ali, basta descrevê-los com alguns detalhes e até mesmo com alguns diálogos que não os da peça. Esta redação poderá valer pontos; b) Sugira-lhes que revejam sua matéria para uma futura prova ou trabalho em classe; só não vale interromper você com perguntas ou dúvidas peça-lhes que anotem itens poucos compreendidos da matéria que estão revendo; c) Libere-os para estudarem matéria de outros colegas-professores, reunindo-os ou não em pequenos grupos, desde que não tumultuem sua reunião com o elenco. Isto poderá se tornar um fator de integração entre seus colegas mestres; d) Combine, em aula anterior, que esses aluno tragam de casa e leiam um livro literário para um futuro trabalho, ou apenas por lazer. Se as coisas estiverem bem, creio que não haverá problema em trazerem revistas de historias em quadrinhos: afinal o seu elenco também está fazendo algo divertido, de que gosta;

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A primeira reunião de trabalho... e) Eles podem participar, em sub-grupos, como atentos ouvintes nessas reuniões teatrais, com direito a sugestões e opiniões. Cada sub-grupo opina, por escrito, sobre cada setor da peça. Apenas tome cuidado com as possíveis críticas vinda deste grupo, que ficou de fora do elenco; f) Divida-os em sub-grupos e cada um terá a incumbência de levantar questões sobre a peça ao longo dos ensaios; um sub- grupo trabalhará sobre o momento histórico que descrito no texto teatral e poderá sugerir elementos do cenário; outro terá de levantar o vocabulário mais complicado e desconhecido do texto; e assim por diante.

Como “cuidar” do grupo teatral? a) Fique atento a que eles não se sintam especiais, superiores, dotados de um talento único. É difícil manter o equilíbrio entre os extremos, mas você consegue; lembre-os de que é um trabalho em equipe e que todos dependem de cada um; b) Logo na primeira reunião, informe a importância do trabalho que estão realizando. Para eles, trata-se de um prazer associado à cultura; é um fato divertido que lhes dará popularidade na escola e eles devem se preparar para as muitas brincadeiras de mau gosto que podem surgir de outros colegas. Para o público, é uma surpresa! A plateia não conhece o texto final, nem a marcação de cena. Se alguém cometer um erro... ninguém saberá disso! O público vem disposto a levar a sério tudo o que se passa no palco, principalmente o esforço do grupo. O público merece todo o nosso respeito.

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“Quando as crianças inventam os seus próprios jogos dramáticos, permita a representação de muitas personagens e temas que você não aprova. Desta forma, aliviam-se problemas pessoais e familiares e os efeitos de assistir a filmes anti-sociais e ouvir rádio violento podem ser ‘descarregados’. Deve-se notar que a representação terapêutica dessa natureza simples é, em grande parte, inconsciente”. Peter Slade, criador do Jogo Dramático Infantil

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A primeira reunião de trabalho... c) Antes desta primeira reunião, leia o texto para conhecer os detalhes. Daí conte-o ao grupo como se fosse uma história, incluindo alguns diálogos - seu elenco precisa visualizar o todo e ouvir os diálogos já com algumas entonações de voz. Ao tomar contato com o texto teatral antes, você poderá sugerir sobre cenário, figurinos e, mesmo, a forma de atuação dos seus atores; d) Entregue uma cópia do texto a cada ator e atriz e faça uma leitura corrida. Neste momento, insista em que não adicionem entonações de voz nem emoções; e) Na segunda leitura - logo após - já faça as marcações de cena trocando idéias com o elenco e com o restante da classe se for o caso. Quando as marcações estiverem aprovadas pela maioria, repita-as algumas vezes para a memorização de todos. O mesmo deve acontecer com as entonações de voz, nos diálogos;

f) Peça- lhe que, ao decorarem o texto em casa, se lembrem das marcações de cena, das entonações de voz, dos movimentos e dos gestos seus e dos outros colegas-atores; isto é muito importante! g) Anote todas as dúvidas que surgiram durante esta e outras reuniões e procure resolvê-las pedindo ajuda a todas as pessoas que conhecem um pouco de teatro. Lembre-se, no entanto, que o espetáculo é seu! Ninguém deve “meter o bedelho” com aquela ideia que deu tão certo uma vez... Quanto antes o texto for transformado em atuação, ali na sua frente, mais rapidamente os alunos vão “pegando” o sentido de representação teatral. É na repetição das cenas que você pode fazer as correções para a montagem idealizada. Aqui, procure não fazer muitas modificações, ou senão o seu elenco não memorizará qual é o jeito certo. Cuidado, tambem, para não programar muitos ensaios - os alunos querem representar o mais rápido possível!

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5 - O que esperar de um teatro assim? No Palco:

Nas Emoções:

As atuações de seus alunos serão baseadas em experiências pessoais. Muito provavelmente, nenhum deles terá frequentado um curso teatral; serão comuns os exageros baseados no que veem em telenovelas ou em espetáculos teatrais por eles assistidos.

Integração: O teatro é magico e pode agir de maneira surpreendente entre alunos e professores e diretoria e funcionários e outras escolas.

Ou, ainda, entonações de voz “cantadas “, sem a menor expressão dramática. Está tudo bem, não estamos participando de um concurso. E mais: eles poderão trazer de casa conflitos pouco ou mal resolvidos e você corre o risco de precisar conter alguns ânimos exaltados em pleno ensaio.

Realização: O teatro é um poderoso materializador de sonhos, no qual pequeno papeis, humildes atuações e singelos textos podem “salvar” um aluno, podem tranquilizar emoções confusas, podem equilibrar relacionamentos. Prazer: O teatro é canalizador de muitas coisas boas insuspeitas . Ele fará com que você descubra aspectos novos em sua personalidade e na de seus alunos. Ele atrairá um novo naipe de pessoas para o seu círculo. Ele libertará você e seus alunos para uma nova visão da vida e das pessoas.

Melhor que seja assim e não no dia da estreia . Sua vivência e auto-conhecimento serão preponderantes. É sempre bom lembrar que seus alunos estão ali porque querem divertir-se, ao mesmo tempo em que optaram por esta oportunidade de auto-expressão.

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“Todo homem é potencialmente criador, mas a pressão do meio, os aspectos culturais, os valores morais, as condições sócio-econômicas e as limitações psicológicas tendem a restringir consideravelmente a criatividade do indivíduo, chegando mesmo ao ponto de destrui-lo por completo. O próprio ensino escolar (antes do advento da reforma de 1971) encarrega-se disto”. Paulo Coelho, Teatro Criativo.

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6- Soluções que vêm da criatividade deles Teatro, mesmo sintetizado para apresentações em salas de aulas, continua a ser teatro. Ele contém muitos elementos, quase infinitas ramificações e, para a nossa utilização, o mais simples é investir mais em texto e em atuações, para buscar os nossos objetivos lúdicos e didáticos. No entanto, alguns grupos de alunos podem render muito e você deve aproveitar! Cada elemento novo que é acrescentado valoriza o trabalho, fortalece o espetáculo, cria profunda dimensões psicológicas no publico.

Teremos cenários? Quem vai desenhá-los? Quem vai executá-los? Eles caberão na sala de aula? Bem, o nosso palco é a frente da lousa principal da classe e ali não cabem muitas coisas, não é? Opte por uns poucos elementos essenciais, que informem sobre a época ou o local onde se passa a ação. Ou, ainda, delimite no chão da classe o “quarto”, uma ”varanda”... tudo invisível, tudo para ativar a imaginação e a criatividade do grupo e do publico. Comece a utilizar em cena, já no segundo ensaio, o que a equipe de cenário decidiu; aqui seus colegas-professores de história e de Educação Artística poderão colaborar, fazendo a integração de disciplinas.

Teremos sonoplastia? Quem vai criá-la? Quem vai executá-la? Como ela estará presente na hora do espetáculo? Ela é mesmo necessária? Até um pequeno CD player poderá criar um clima mais intenso numa fala, numa cena... O que você precisa é de alunos que conheçam músicas clássicas, ou instrumentais - por conterem passagens descritivas, sem vocalizações -, para criarem a trilha sonora de peça. Logo no segundo ensaio a trilha sonora já deve estar presente para que o grupo se adapte a ela; seu colega professor de Educação Artística “entra em cena” novamente.

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Soluções que vêm da criatividade deles... Teremos figurinos? Quem os desenhará? Quem os pagará? Eles são mesmo necessários? Fantasias de carnavais passados podem ser reaproveitadas! Na minha infância eu usava e abusava das roupas dos meus pais - saias serviam como capas de super-heróis, sobretudos me transformavam em detetives... Em geral, os adereços podem contar muito da personalidade dos personagens que os usam: uma echarpe, um chapéu diferente, luvas estranhas etc. Utilize-os em todos os ensaios para que os atores criem desenvoltura com seu uso. Estudos Sociais e História são disciplinas que poderão esclarecer melhor sobre costumes de outras regiões, países e épocas.

Faremos apresentações... ... em outras salas de aula? Em outras escolas? Aceitaremos convites municipais ou de entidades assistenciais? Não deixe que o trabalho tão suado e tão bom brilhe apenas uma vez. O sucesso e o aplauso nos fazem muito bem, principalmente quando os merecemos. Apenas tenha a certeza de que haverá boas condições para uma atuação razoável, sem que o essencial do trabalho se perca. Procure conter o ânimo do seu elenco - apresentar-se fora da escola é algo muito excitante.

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Soluções que vêm da criatividade deles...

Contra-regra Quando se fala em apresentações fora da escola de origem de um grupo teatral, é importante se lembrar do contra-regra. Muito antes de todas as decisões anteriores tiverem atingido um objetivo, preocupe-se em eleger o contra-regra. Este importante membro do grupo é quem coordenará todos os itens. O contra-regra anda pelos ensaios de prancheta na mão, com a relação completa de tudo o que compõe o cenário, a relação de todas as peças do figurino de cada personagem e a relação de quem é quem na montagem. O contra-regra é aquele que vistoria se tudo está nos seus lugares, se a trilha sonora já está pronta e se uma cópia veio para o ensaio etc, etc, etc. É o contra-regra quem lhe diz como as coisas realmente estão.

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“Ele é Fogo” o Teatro Nova Geraçã “É um tanto difícil a gente imaginar crianças fazendo teatro, atuando, representando papeis com clareza, seguindo um texto de uma história etc. No entanto, é muito comum ver-se crianças brincando, inventando histórias e personagens, colocando-se em situações que sua imaginação criou. Tecnicamente, essa brincadeira é donominada ‘jogo dramático’ - um jogo que é necessário e natural na criança, construindo mesmo uma das maneiras de ela conhecer o mundo e as pessoas que nele vivem.” Marcos F. Sampaio, ator e arte-educador

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7- Onde buscar socorro? Alguns professores vão querer, com certeza, chegar mais longe no assunto Teatro. Esses mestres gostariam de oferecer mais aos seus alunos, gostariam de aprimorar talentos ainda em estado bruto. Ou, simplesmente, vão querer melhorar em muito seu pequeno espetáculo teatral. Pois, aqui está algum material de excelente qualidade, que poderá prestar ajuda.

TEATRO I, II, III, IV e V de Maria Clara Machado, cinco volumes contendo sua produção teatral. São textos infantis famosos em todo o país: “Pluft, o Fantasminha”, por exemplo, ou “A Bruxinha Que Era Boa”, entre muitos outros. O JOGO DRAMÁTICO INFANTIL de Peter Slade. Ideal para mestres que trabalham com crianças de várias idades. Ali estão separadas, por capítulos, atividades com crianças de todas as séries, em forma de jogos dramáticos, onde se oferecem apenas alguns elementos e as crianças devem complementá-los com sua criatividade e atuação. IMPROVISAÇÃO PARA O TEATRO de Viola Spolin. Excelente guia de técnicas de ensino e direção teatrais, recheado de muitas dezenas de exercícios, que reproduzem as várias situações que o ator irá encontrar no palco. Eu próprio utilizei o método com meus alunos no teatro. O TEATRO NA EDUCAÇÃO de Paulo Coelho. Editado em 1973, o livro apresenta o Teatro Criativo do autor. Fala de experiências práticas e criativas através do teatro. Contém inúmeros exercícios que podem ser usados por seus alunos para melhorar sua atuação e fazer saltar a criatividade de cada um.

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“O Gorpe” eatro Cia Vira Volta de T

“Lisístrata” Colégio Integral

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Onde buscar socorro... PERIPEÇAS EM UM ATO de Martha Rosman. Vinte e seis interessantes diálogos curtos, sem qualquer indicação de como são as personagens, ou o cenário, ou o clima geral. A direção terá o trabalho de “destrinchar” todo o necessário para uma montagem. Mas vale a pena. Editora O Tablado – Av. Lineu de Paula Machado, 795 ZC20, Rio de Janeiro-RJ.

CADERNOS DE TEATRO – Nº 51 e 52 editado por O Tablado, de Maria Clara Machado. Nestas edições, há indicações de como construir o cenário.

CEM JOGOS DRAMÁTICOS de Maria Clara Machado e Marta Rosam. Um verdadeiro compêndio de “pecinhas” teatrais que os jovens apreciam muito. Nelas, seus alunos encontrarão as mais variadas situações, muitas delas vindas de situações reais e adaptadas, onde eles terão que usar a criatividade e a expressão total de suas personalidades. Mesma editora acima.

200 EXERCÍCIOS E JOGOS PARA O AUTOR de Augusto Boal. A obra contém exercícios para aquecimento físico, ideológico e vocal, jogos de integração do elenco e muito mais para grupos que desejam levar a sério, e de maneira correta, a atuação teatral.

CADERNOS DE TEATRO – Nº 94 e 96 editados por O Tablado. Ambos os livretos trazem inúmeros exercícios de iniciação ao teatro, bem como jogos de integração e jogos dramáticos que os alunos adoram, justamente por proporcionar oportunidades de auto-expressão.

JOGOS TEATRAIS de Maria C. Novelly. Completa obra sobre o trabalho do professor com alunos de teatro. O livro apresenta, em detalhes, todas as etapas da realização de uma montagem teatral com grupos ou em salas de aula. Um caderno de atividades, no final do livro, esquematiza visualmente a lista de atividades do grupo, as personagens, um rol de ideias a serem desenvolvidas e uma entrevista em que cada aluno questiona o outro sobre os itens pertinentes ao texto escolhido.

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“Destinos” Colégio Dom Bosco

ha “Pluft, o Fantasmin tos Cabral EE Antonio dos San

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Onde buscar socorro... JOGOS TEATRAIS NA ESCOLA de Olga Reverbel. Obra que apresenta soluções para o relacionamento entre os alunos, para o desenvolvimento da espontaneidade, da imaginação. Ensina a trabalhar o espaço cênico, apresenta em esquemas visuais soluções para improvisão do cenário, da sonoplastia, etc. Dezenas de fotos ilustram os trabalhos desenvolvidos. UM CAMINHO DO TEATRO NA ESCOLA de Olga Reverbel. O livro inicia-se com um histórico do teatro na educação através dos tempos. Depois, apresenta diversas teorias sobre a Expressão, a Criatividade etc. Em seguida sugere uma série de atividades e técnicas de expressão teatral e diversos jogos dramáticos para a sala de aula, separados para alunos a partir da pré escola.

TEATRO DA JUVENTUDE Editado pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, são os cadernos teatrais criados em 1965 por Tatiana Belinky. Feitos para as escolas, eles são distribuídos gratuitamente e vêm recheados de texto teatrais escolhidos para as diversas faixas etárias, além de artigos sobre escolha de textos, direção, figurino, maquiagem etc. Fui apresentado a estes cadernos pela professora Vera Gomes Lourenço, na década de 1960, quando fiz parte do TESS – Teatro de Estudante Secundário Sanjoanense. OBS.: é possível que algumas destas publicações já estejam esgotadas em livrarias; quem sabe, elas podem ser encontradas em “sebos” ou com colecionadores.

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“Tudo de Mim” o (juvenil) Teatro Ar t’Expressã

“A Ilha de Ouro” o (infanto) Teatro Ar t’Expressã

“O papel da plateia deve se tornar uma parte concreta do treinamento teatral. Na maioria das vezes, ela é tristemente ignorada. Tempo e ideia são gastos com o lugar do ator, do cenógrafo, do diretor, do técnico, do administrador etc, mas ao grupo maior para o qual seus esforços estão voltados, raramente é dada a mínima consideração. A plateia é considerada como um bando de xeretas a ser tolerado pelos atores e diretores, ou como um monstro de muitas cabeças que está sentado, fazendo julgamentos.” Viola Spolin, professora teatral

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8- Que palavras são estas? Ao longo destas páginas, por força do hábito, utilizei um vocabulário específico, o jargão teatral. Acredito que o uso de algumas palavras explica melhor o que acontece num palco. Por isso, a minha sugestão é que você também passe a utilizá-las. Seus alunos poderão ficar mais motivados, usando uma nova coleção de vocábulos.

REPRESENTAR Significa desempenhar um papel em espetáculo teatral. PAPEL O mesmo que personagem, um ser ficcional (ou não) que será representado no palco por um ator ou atriz. Personagens principais ou protagonistas – proto (principal) agonista (ator) são aquelas em torno das quais gira o assunto da peça. Personagens coadjuvantes são aquelas que dão suporte às principais, vivendo histórias paralelas às vividas pelas principais.Personagens secundários só existem em função dos personagens principais, são aquelas que dão apoio às ações dos protagonistas e/ou antagonistas. Observação: A palavra personagem vem do grego persona que significa ser através de, ou seja, ser quem não somos através de uma composição corporal e psicológica (como se colocássemos uma máscara para ser outro). MONTAGEM TEATRAL É o processo que inclui a escolha do texto, a distribuição dos papéis, pesquisas, ensaios e, finalmente, a apresentação a um público.

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“O Gorpe” eatro Cia Vira Volta de T

“Lisístrata” Colégio Integral

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Que palavras são essas... TEXTO TEATRAL Trata-se de uma história contada com diálogos, onde as rubricas descrevem as ações, a época e a personalidade das personagens. Alguns autores teatrais incluem em seus textos indicações de cenários, de sonoplastia, de figurinos, etc. LEITURA DE TEXTO É, muitas vezes, o primeiro contato com o texto teatral. Reúna seus alunos em círculo, distribua aleatoriamente as personagens e promova uma leitura sem entonações (conhecida por leitura branca), apenas para conhecer a peça – isto é uma leitura corrida. Numa segunda leitura é que começam a ser definidos os demais elementos que comporão o espetáculo. MARCAÇÃO DE CENA São os movimentos dos atores pelo palco. Também são os seus gestos. Em alguns casos. A famosa indicação que “não se deve ficar de costas para o público” somente é válida se o ator, ou a atriz, irá dizer, se ele es-

tiver de costas. Para facilitar, desenhe a marcação de cena para melhor visualização e memorização por seus alunos. FALA Uma frase da personagem. Todo o texto que o ator decorou e fala com entonação durante o espetáculo. CENA Temos duas definições: Divisão entre as ações que se passam no espetáculo e local onde ocorrem os diálogos. CORTES EM TEXTOS TEATRAIS Há, pelo menos, três tipos de cortes: a) quando você opta por apenas um trecho mais interessante da peça teatral, descartando o restante; b) quando você elimina do texto teatral partes excessivas para a realização do seu trabalho ou que não lhe interessam naquele momento; c) quando você elimina o final da peça para que seus alunos criem desfechos. TEXTO FINAL Trata-se do texto que o público ouvirá, após os cortes e as adaptações que foram feitas. (Geralmente usa-se o termo Adaptação livre de...(nome de quem adaptou o tesxo) no programa do espetáculo para que o público saiba que é uma obra inspirada e não na íntegra, sem cortes e acréscimos)

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“Destinos” Colégio Dom Bosco

“Ele é Fogo” o Teatro Nova Geraçã

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Que palavras são essas... PALCO É o local onde se desenrola a peça que foi montada. No nosso caso, é a parte da frente da sala de aula, diante da lousa principal. Aqui ele será maior se afastarmos as carteiras em direção ao fundo da classe.Existem vários tipos de palcos, os mais conhecidos são a Caixa Italiana (o teatro convencional que vemos na maioria das cidades), de Arena semicircular e aberto. CENÁRIO É o apoio visual que informa sobre a época ou local em que a peça se passa. Poderá ser um grande pano cobrindo o fundo, sobre o qual pode haver desenhos de paisagens ou outros. Este pano tem a função de cobrir os bastidores (no nosso caso, a lousa) e delimitar o espaço da ação. Seus elementos são cadeiras, mesas, janelas falsas, que completam a informação ao público.

SONOPLASTIA E TRILHA São efeitos sonoros (chuva, ventos, multidão) trilha (músicas compostas por um músico ou maestro para o espetáculo) que darão aquele clima mais realista ao que se passa no palco. Em muitos casos, o SONOPLASTA complementa uma intenção do diretor que os diálogos não conseguem A sonoplastia também amplia o sentido de uma cena, além de intensificar emoções. O TÉCNICO-SONOPLASTA será aquele que durante as apresentações coloca os sons e músicas no momento exato, ensaiado com o diretor e elenco. ILUMINAÇÃO Todo o recurso de equipamentos de luz que ambientalizam o espetáculo, O ILUMINADOR cria a e efeitos de dia, noite, pôr-do-sol, e, sentimentos como por exemplo quando uma personagem está com raiva ele poderá utilizar a cor vermelha sobre o cenário e ator para dar à platéia uma sensação mais tensa. Contudo, é o TÉCNICO-ILUMINADOR que executará a iluminação durante as apresentações. FIGURINOS São as roupas que as personagens usam em cena. No caso de um texto de época, a utilização de figurinos especiais é muita bem-vinda. Às vezes, um pequeno adereço ou detalhe informa mais sobre uma personagem.

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ADEREÇOS DE CENA São todos os objetos que não são cenários e nem figurinos, mas que complementam como: chapéus, copos, bolsas, vasos etc. LABORATÓRIO Processo em que os atores executam jogos teatrais (que podemos encontrar em muitos livros; veja a pág. 37) para criação das personagens. Para sermos um velho, por exemplo, temos que andar, falar e sentir como velho, desde o andar lento até a voz fraca e frouxa, portanto o laboratório é a única fonte para conseguirmos convencer a nós e a platéia de que realmente nosso personagem é um velho. DRAMATURGO Aquele que cria e escreve peças teatrais.

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9- Planejamento É você quem decidirá quantas aulas mensais destinará ao teatro. Mas, como sugestão, parece útil a todos que uma aula semanal, no período de 1 mês, seja o suficiente para a montagem de um pequeno espetáculo. Isto delimita os prazos e, obrigatoriamente, simplifica todos os itens da montagem teatral. Quando você tem apenas um mês para planejar e realizar uma apresentação, todo o supérfluo é dispensado.

1º encontro

- O texto já foi escolhido anteriormente. - Faça a distribuição das personagens entre os alunos, com os comentários que achar necessários, na tentativa de levantar a personalidade de cada uma; - Oriente e troque idéias com o pessoal da técnica - cenário, sonoplastia e figurino, a partir da personalidade das personagens; - Faça duas primeiras leituras do texto e peça ao elenco que decore o seu papel;

- Veja que o contra-regra fique atento a estes movimentos e já esteja organizado sua relação dos itens que compõe o espetáculo.

2º encontro - Faça uma checagem com o pessoal da técnica. Dê os retoques finais para não haver mais modificações em cenário, sonoplastia e figurino; - Faça uma checagem com os atores a respeito de duvidas no texto e marcação de cena; - Faça o primeiro ensaio, sem interferir em nada, porém anote o que gostaria de melhorar. Não seja exigente; - Faça o segundo ensaio, introduzindo os elementos da técnica e as modificações que você julgar necessárias, com a aprovação do elenco; - É hora de fazer e distribuir os convites para a apresentação.

3º encontro

- Converse com o pessoal da técnica para que ele se ‘afine’ com o contra-regra e nada falte na hora da apresentação; - Realize o primeiro ensaio do dia com toda parte técnica presente; cenários no lugar, atores vestidos com o figurinos e sonoplastia entrando na hora certa. Anote os problemas deste ensaio; - Para garantir que o texto será ouvido pelo público, vá até o fundo da sala (ou o fundo de um teatro, quando for o caso), e sente-se de costas

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Planejamento... para o elenco. Assim, você avaliará o volume de voz e as entonacções de cada ator e atriz, aproveite para fazer correções; mas lembrese de que isto é lazer. - Faça uma rápida reunião com o elenco e a parte técnica e discuta os problemas anotados. - Passe para um segundo ensaio e preste atenção se os problemas foram resolvidos; - Se houver tempo, passe um terceiro ensaio, sem nenhuma interferência sua.

centração num lugar isolado, para acalmarem-se. Pode-se aproveitar este momento para uma passada geral no texto na voz baixa; - Seu elenco não deve mais depender de você para nada. Você estará na plateia , aproveitando o espetáculo; - Terminada a apresentação, elenco e técnica devem deixar em ordem a classe (ou o local onde aconteceu o espetáculo), retirando dali todos os vestígios teatrais.

O dia da apresentação - O pessoal da técnica deve montar o cenário e a aparelhagem de som com antecedência, para detectar possíveis problemas; - Cerca de uma hora antes, tudo deve ter sido feito e ter a aprovação do contra-regra. Cada ator fica responsável por trazer e cuidar do sue próprio figurino e os adereços que usa em cena; - Muitos grupos amadores fazem uma con-

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10- Uma atitude teatral Uma das propostas deste manual é tentar quebrar a “dureza’ de alguns alunos e pessoas. É buscar o nosso “lado suave”, que muitas vezes fica sufocado entre diretores escolares intransigentes, colegas de trabalho já estressados e alunos sem nenhum interesse pelo estudo.

segurança para você sua imagem de pessoa emocionalmente saudável, pensei em algumas atitudes teatrais muito gostosas e engraçadas;

Todos esses são sintomas tratáveis (como muitas possibilidades de cura!), se cada um de nós apresentar comportamentos inesperadas em sala de aula, ou na sala dos professores, que representem emoções opostas às que encontramos pela frente.

2- Combine de antemão com um ou mais alunos, para você e eles entrarem na sala de aula numa intensa discussão, “pofundamente concentrados”, até obter o mesmo objetivo anterior;

É por isso que lanço o desafio: assuma de vez uma atitude teatral! Surpreenda ! Dê uma de “maluco”, mesmo! O máximo que poderá acontecer será os seus alunos ou seus colegas de trabalho caírem na risada e, no momento seguinte, compreenderem suas intenções de mudar aquele clima tenso e desagradável que havia ali. Para que tal aconteça, com alguma

1- Irrompa classe a dentro, logo no inicio da aula, fantasiado de algum personagem da história ou de personagem pertinente àquele momento de sua matéria escolar. O objetivo é nivelar, concentrar e unificar a atenção de todos e, daí em diante, manter o controle sobre ela;

3- Entre na classe “dialogando” loucamente trechos musicais, receitas de bolo, bulas de remédio... seus alunos vão se surpreender com o professor que têm diante deles; 4- Procure melhorar sua entonação vocal, para dar ênfase a certas palavras ou frases, até mesmo imitando o tom de voz de personagens de telenovelas, filmes ou desenhos animados, que seus alunos irão identificar de pronto; ou, ainda, explicar alguns trechos ou frases de sua matéria, através de sussurros misteriosos, que despertem a curiosidade de todos.

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Uma atitude teatral... 5- Faça o mesmo com o seu gestual ao dar aulas. Atitudes amplas e rodopios ao explicar uma elipse ou a viagem de Pedro Álvares Cabral, marcam muito mais a sua explicação do que mapas e ilustração dependuradas no quadro negro;

Dai, você me diz: “- Eu jamais terei coragem de fazer uma dessas coisas sugeridas aí acima !” E eu respondo:”- Talvez você tenha razão!” Para pôr em pratica uma ou mais destas atitudes teatrais não é preciso coragem; é preciso um tanto de inconsequência, um pouco de loucura saudável... Porque você conhece muito bem as emoções que o mantém aprisionado nesses anos todos e que o tem amarrado em comportamentos que o distanciam de seus colegas e alunos, no convívio diário. Ao adotar uma dessas “loucuras” aqui descritas, você vai estranhar no inicio; mas elas modificarão definitiva e positivamente seu ponto de vista sobre o mundo em que vive. E as pessoas farão o mesmo sobre você. E isso vale a pena !

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11- Dois exemplos Um dia, a professora de Música e de Educação Artística, Glorinha Aguiar, encomendoume uma peça infantil para um novo livro seu. Ela queria pecinhas curtas que os próprios alunos pudessem organizar em sala de aula. Pensei que fazer isso que seria um desafio muito bom, porque eu havia escrito muitas redações, quando aluno. Depois, foram crônicas diárias em alguns jornais em que trabalhei e, finalmente, textos publicitários para uma emissora de F.M.

Escolhi duas daquelas pecinhas para mostrar como exemplo de montagem. Os dois trechos que vem a seguir, estão com a marcação quase pronta, para que você tenha uma noção melhor de como fazer o seu próprio espetáculo. Porém, elas não têm um final! Por que não as utiliza como ponto de partida, para seus alunos inventem o meio e o final de cada um delas? A brincadeira pode começar agora!

Decidi-me por atender o seu pedido! Depois de terminada uma peça, eu relia no que tinha acabado de escrever e já encontrava falhas ... voltava para a máquina de escrever (bons tempos!) e começava tudo de novo. Porem, é assim mesmo que se aprende.

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no Fundamental. si n E o d s o n lu a : o Indicaçã de 10min. Duração em torno gens: sete. Número de persona e palhaços. d s a si ta n fa : o n ri u Fig a circense. im cl e d s ca si u m : ia Sonoplast ção especial a in m u il a m u : o çã Ilumina po. será decisão do gru s de cena devem to n e m le e s o : o ri á Cen res de um circo, com o id st a b s o r ra b m le elhos, adereços, sp e , m e g ia u q a m poupas, icadeiro etc... p m u n is ve sá u s to elemen

Quantos anos eu tenho?

- Quarta- feira (entra cabisbaixo e triste, caminha até o centro do palco e senta-se numa banqueta) Ah!, puxa vida! Lá no picadeiro eu acabei de fazer um punhado de graça e todo mundo riu, (levanta-se) Só eu que não ri! A gente que não deveria ficar feliz no dia do próprio aniversario?(senta-se novamente; mãos no queixo) acho que sou um palhacinho encren-

cado mesmo...faço todo mundo rir, mas eu mesmo não dou uma risada de felicidade. -Sexta- feira (entrando feliz) Oi. Quarta-feira! Meus parabéns! O sábado me contou que hoje é seu aniversario, que gostoso, hein! (indo em direção à frente do palco) Aposto como você não vê a hora de começar a ganhar aquele montão de presentes, não é mesmo? (vira-se para trás e vê o que o amigo nem se mexeu na baqueta) Mas... o que é isto? Você não está feliz, não? Não gosta de ganhar presentes? (tenta fazer uma graça) Então, passa para mim, que eu aceito tudo o que você ganhar. Ah! Já sei - você está com medo de ficar velho (ri muito dessa piada, cai no chão de tanto rir ) Quarta-feira Não! Não é isso (levanta-se) eu adoro ganhar presentes. (vai até à boca de cena) Todo mundo gosta, quer ver: (vai até à boca de ceana) Oi, criançada (para o publico) quem aí gosta de ganhar presentes? Quem? Viu só?! Sexta-feira Ah, então você está com medo de ficar velho e com os cabelos brancos!( rir novamente, cai no chão) Quarta-feira Não, você errou de novo. (fica triste; o amigo percebe) é que eu não sei

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Quantos anos eu tenho? quantos anos estão fazendo hoje! - Sexta-feira (assustado , paralisado) Não! Não mesmo! Ai, que dor de cabelo! (vai à boca de cena) Garotada, vocês ouviram? Ele não sabe quantos anos tem! (e começa a perguntar para algumas crianças na plateia as suas idades) - Quarta-feira (chegando até à frente e o interrompendo) Mas, você disse que foi o Sábado quem lhe contou que eu faço aniversario hoje, não foi? - Sexta-feira - (meio em dúvida) É, acho que foi o Sábado. Mas ele é tão preguiçoso para se lembrar das coisas, datas de aniversário... Então, será que foi o Domingo? Não, o Domingo não foi porque ele não fala com palavras... Já sei! Eu não vou deixar você ficar triste desse jeito. (vira-se para o fundo do palco e começa a gritar). Segundafeira venha aqui! Sábado! Quinta-feiraaaaa...Ei, Domingo, chega mais! Terça-feira,

venha aqui! Venha todo mundo aqui! (o palco é invadido por mais cinco palhacinhos. Fazem a maior algazarras, dão piruetas, cumprimentam-se todos ao mesmo tempo, podem ‘invadir’ a plateia, se for conveniente)

Respondendo perguntas 1) Por que o Domingo não fala com palavras? Como ele fala? 2) De que modo cada palhacinho tentará descobrir a idade de Quartafeira? Os palhacinhos descobrirão a idade dele? 3) Somente o Quarta-feira é quem tem uma dúvida? 4) Caberia alguma outra personagem neste texto? 5) Como esta peça termina? 6) Onde e com quem conseguir fantasias de palhaço? 7) Como ‘transformar’ a sala de aula (o palco) em um bastidor de circo? 8) Como os palhaços reais andam e se corportam no picadeiro? 9) O que os outros atores fazem, enquanto um colega está dizendo as suas falas? O que significa “roubar a cena”? 10) O que fazer se a plateia não interagir com os atores?

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Ensino Médio. Indicação: alunos de min ais Duração: cerca de 20 quatro principais, m s: en ag on rs pe de Número tragédias gregas. um coro como nas ra os principais; pa s un m co as up ro Figurinos: o coro. togas ou becas para de egorianos, trechos gr os nt ca a: ti as pl Sono musica clássica. a, de frente para o éi at pl na os m ta es Cenário: portal (sem a porta) um da er qu es à os palco- vem agonal à boca de di o çã si po a m nu , fixado em pé ) de praticável (tablado um tá es a it re di À , cena cará o coro. duas alturas onde fi

Muros e mensagens

Alfa (entrando tenso, procurando por algo. Estanca no centro do palco, à frente; fala com fundo da platéia) Oi, pai, Oi mãe. Vocês estão aí? Eu quero falar com vocês. (pausa) Oi pai. Venha aqui me ouvir, por favor ( pausa). Eu estou sozinho e não sei como sair daqui. Não estou vendo

nenhuma porta, nem janela. (triste) Eu ainda não perdi o medo do escuro... Eu só vivo mentido que não tenho mais medo. Beta (entrando apressado, olhos arregalados, procurando) Consegui falar com eles? Alfa (desanimado) Não, Ninguém respondeu até agora . Beta (triste e impaciente) Mas, eu pensei que eles iriam querer falar com agente! Alfa Você errou. Eu acho que eles não querem falar com a gente. (irritado) Pior é que eu não quero falar com mais ninguém, além deles. Gama e Delta (entram também apressados e, com gestos, perguntam se alguém respondeu. Alfa e Beta respondem, com gestos, que ninguém respondeu). Beta (tentando ver o fundo da platéia) Será que eles estão lá? A gente nunca sabe se eles estão ou não. Quando eu quero ouvir suas vozes, só escuto

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Muros e mensagens seus gritos e broncas! Coro (os alunos entram muito unidos uns aos outros, indo até o praticável como se deslizassem na ponta dos pés. Ao se colocarem, desatem a falar - ao mesmo tempo - palavras incompreensíveis, misturadas, emitindo zumbidos e gritos) Gama (animado, olhando para o batente da porta) Ei, olha só, eles estão do outro lado. Pai! Mãe! Delta (tenta avançar em direção ao batente da porta e sente que não pode atravessá-lo. Fala para o fundo da platéia) Pai, Mãe, deixa-me entrar aí . Está muito frio neste lado. Aqui ninguém conversa comigo! Coro (aumentando o volume de voz e erguendo a mão direita, como que empurrando o aluno)

Alfa (decidido) Espere aí - vou atravessar do outro lado. (seus amigos tentam evitar isso, mas Alfa se solta deles e atravessa a porta. Do outro lado ele se transforma em seus pais) Vocês querem fazer silêncio, porque eu estou pensando! Por que vocês ficam aí pedindo coisas, choramingando besteiras nos meus ouvidos? E estou ocupado. Eu vivo ocupado. As pessoas exigem o meu tempo, o mundo inteiro exige o meu tempo!

Respondendo perguntas 1) Por que Alfa não consegue falar com seus pais? 2) Que local é este onde as personagens estão? 3) O que representa o Coro, nesta peça? 4) Caberia alguma outra personagem neste texto? 5) Como esta peça termina? 6) Onde e com quem conseguir os elementos de cena? 7) Como ‘transformar’ a sala de aula (o palco) em um bastidor de circo? 8) Como se corportam pessoas em situação igual à da peça? 9) O que fazer se os atores/atrizes se emocionarem muito em cena? 10) O que fazer se a plateia interagir com os atores?

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12 - ApĂŞndice

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Palestra de Sérgio Milliet, em 1940, sobre pintura moderna, ocorrida na Sala da Sociedade de Cultura Artística, atual Sala de Múltiplo Uso “Dilo Giannelli”

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Theatro Municipal de São João da Boa Vista As fotografias que compõem este livro foram feitas no interior do Theatro Municipal, um monumento arquitetônico localizado no centro de São João da Boa Vista, estado de São Paulo. Ele foi construído em 1913 e inaugurado em 8 de novembro de 1914, projetado pelo arquiteto italiano J. Pucci e erguido por Antonio Lanzac. Historiadores relatam que a história do Theatro Municipal começou em 1911, quando jovens sanjoanenses retornaram dos estudos na Europa e nos Estados Unidos dispostos a incentivar a cultura em sua terra. Eles teriam procurado em São Paulo uma construtora que montava casas de diversões pelo interior do estado.

Naquele ano, em 15 de setembro, o vereador Joaquim Lourenço de Oliveira propôs a isenção de impostos por dez anos a quem construísse um teatro na cidade. A proposta foi aceita pela Câmara de Vereadores em 15 de abril de 1912 e aprovada a seguinte lei: “Concede favores e garantia de juros ao major José Evangelista de Almeida, ou empresa que organiza, para construir um teatro nesta cidade. A garantia será de 8% de juros, sobre o capital de 80 contos de réis pelo prazo de dez anos”. A partir de então José Evangelista de Almeida, gerente da Casa Bancária, iniciou a captação de capital em forma de ações, assim como o empréstimo em debêntures. Em 24 de fevereiro de 1913, uma sessão realizada no Centro Recreativo Sanjoanense, fez surgir a Sociedade Anônima Companhia Theatral Sanjoanense, com a presença de 113 acionistas, tendo como presidente o Tenente Coronel Joaquim Cândido de Oliveira. Em maio de 1913, o projeto do Theatro foi apresentado pelo arquiteto J. Pucci, que já havia construído o Teatro São Paulo, na capital da estado. Ele assim expôs o seu projeto aos acionistas: “O prédio ocupará uma área de 1.130m², tendo de frente 22,6m e 50m de fundo. Compreenderá uma plateia para 480 cadeiras de 1ª e 2ª classes, 22 frisas e 30 camarotes. Nos altos, uma galeria para 500 pessoas. O palco cênico, que é mais elevado do que o corpo principal, medirá 22,60m de largura e 16m de fundo, no qual existirão 11 camarins para artistas e cabine para aparelhos elétricos. O arco do proscênio

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Platéia do Theatro na peça “Branca de Neve”, em 22 de novembro de 1940

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Theatro Municipal... terá 11m de abertura e 8m de largura. Todo o edifício será servido por aparelhos sanitários dos mais modernos. O pano de boca subirá inteiro e será movido por aparelhos especiais, os mais modernos em uso. O local reservado à orquestra terá lugares para 30 músicos. O edifício ficará isolado por duas passagens laterais de 4,15 metros. Na parte superior haverá um salão nobre, com um bar superior, para 50 mesas e também um bar inferior. Terá bilheteria, sala de administração e toalete para senhoras.”

Com a aprovação do projeto, assentou-se a pedra fundamental em 13 de maio de 1913. No local, bem na base da primeira coluna de ferro, foram depositados documentos e moedas da época. Para construir o prédio foi necessário importar da Europa toda a estrutura metálica, que compreendia a sustentação dos mezaninos, as tesouras do telhado e pilares aparentes. Estes foram pré-fabricados e numerados na Bélgica, sendo apenas montados no local. A fiscalização e execução da obra ficaram a cargo do construtor Antonio Lanzac. O Theatro Municipal de São João da Boa Vista foi inaugurado em 8 de novembro de 1914. Na ocasião, foi apresentada a peça “Uma Causa Célebre”, da Companhia Santos Silva. A baixa frequência, no entanto, determinou, em 1929, a instalação de um ringue de patinação no Theatro. Na década de 1930, foi criada a Sociedade de Cultura Artística, que tinha como sede o lugar do antigo bar superior. Visava à prática da cultura através de saraus promovidos pelos artistas locais, que se apresentavam declamando, cantando, tocando diversos instrumentos e representando. Essa sociedade dispunha de enorme biblioteca, com os mais diversos tipos de literatura e poesia, e também um piano de cauda. Para as sessões, a Sociedade de Cultura Artística convidava artistas e autoridades famosos da época. Estes registravam suas impressões sobre a cidade em um livro de ouro que trazia, entre outros, os nomes de Rangel Pestana, Guilherme de Almeida, Pedro de Toledo, Altino Arantes, Túlio de Lemos,

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Festa Junina no interior do Theatro Municipal, nos anos 1930

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Theatro Municipal... Maria José Dupré, Caruso Neto, poeta esse que denominou São João da Boa Vista como a “Cidade dos Crepúsculos Maravilhosos”. O Theatro recebeu, também, palestra de Sérgio Milliet sobre pintura moderna na Sala da Sociedade de Cultura Artística, atual Sala de Múltiplo Uso “Dilo Giannelli”. Em junho de 1930 apresentou-se em concerto o Conjunto Artístico do Maestro VillaLobos, destacando a interpretação de “Campanella”. O pianista Souza Lima executou brilhantemente a “Dança dos Negros”. Em 10 de agosto de 1930, a Sociedade de Cultura Artística apresentou a Caravana Acadêmica da Faculdade de Medicina de São Paulo.

No final de agosto de 1930, o Theatro recebeu uma opereta em três atos do maestro Mascagni, integrante da Companhia Clara Weiss. Faziam parte da orquestra Gina Bianchi, Emílio Amoroso, Giuseppe Campanelli, Luigi Della Guardia e doze professores do Centro Sinfônico de São Paulo, sob a direção de Antônio Belardi. Em 1937, a maioria das ações da Companhia Teatral de São João da Boa Vista foi comprada pelo Dr. Joaquim José de Oliveira Neto. Foram adquiridas poltronas novas e modernos equipamentos da Philips. O Theatro entrava em uma nova fase, passando a funcionar como cinema. Aconteciam quatro sessões: matinê, vesperal e duas sessões noturnas. Anos depois foram abertos outros cinemas na cidade, com poltronas mais confortáveis e equipamentos sofisticados. A concorrência nos preços, as dificuldades na exibição de filmes nacionais e o advento da televisão fizeram o Theatro entrar em decadência como cinema. Após tentativa frustrada de transformá-lo em salão de bailes populares, acabou fechado por alguns anos. Na reabertura, em 1945, foi encenada a peça “Um Retrato de Mulher”. No ano seguinte apresentava-se a consagrada pianista sanjoanense Guiomar Novaes. Uma reforma, em fevereiro de 1967, fez o Theatro perder parte de suas características arquitetônicas antigas. Mudanças inadequadas, que in-

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Theatro Municipal... cluíram a retirada das frisas e camarotes, descaracterizaram-no. Cogitou-se vender o prédio para, no local, ser construído um supermercado. Em 26 de agosto de 1981, o então prefeito Nelson Nicolau declarou o Theatro Municipal de utilidade pública. No ano seguinte, já com parte das dependências deteriorada, recebeu em palco improvisado, a comediante Dercy Gonçalves. Na oportunidade, a artista chamou a atenção para o péssimo estado de conservação do prédio histórico. Em 1983, os jornais da cidade noticiaram que o Theatro seria demolido.

Em 5 de janeiro de 1984, a primeira parte do prédio foi comprada pela prefeitura pelo valor de CR$ 45.000.000,00 (quarenta e cinco milhões de cruzeiros). O palco só teria 6 metros, deixando para o proprietário, Dr. Oliveira Neto, a outra parte do palco e o restante do terreno no fundo do Theatro O pagamento foi feito em duas parcelas de 10 milhões de cruzeiros e mais 10 terrenos na Vila Santa Edwirges, em São João, no valor de 25 milhões de cruzeiros. A segunda parte do prédio foi adquirida por CR$ 100.000.000,00 (cem milhões de cruzeiros) pelo prefeito em exercício, Sidney E. Beraldo, em 28 de maio de 1985. Após a compra do prédio, realizou-se pesquisa de opinião pública, quando a população manifestou o desejo de ver o prédio restaurado. Foi nomeada pela prefeitura uma equipe de profissionais para a elaboração do projeto de restauração e reciclagem. O grupo foi a São Paulo entregar o trabalho ao Condephaat, que iniciou o processo de Tombamento de Theatro. Em 13 de abril de 1986, montou-se uma exposição com todos os projetos no foyer do Teatro. Na ocasião, o governador Franco Montoro e o secretário estadual de Planejamento, José Serra, visitaram o Theatro e se comprometeram em destinar dois milhões de cruzados à restauração. Em 19 de janeiro de 1987, o Teatro Municipal de São João da Boa Vista foi tombado pelo Condephaat.

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Theatro Municipal... Em janeiro de 1998, o então prefeito Laert de Lima Teixeira criou a Fundação Oliveira Neto, com o objetivo exclusivo de arrecadar recursos para as obras do Theatro. Uma das primeiras ações da diretoria (1998/2000 - 2000/2003), foi o cadastramento da entidade no Ministério da Cultura para o recebimento de benefícios previstos na Lei Rouanet.

No ano 2000, o prédio recebeu uma série de melhorias, dentre as quais a conclusão da Sala de Múltiplo Uso, a instalação do ar condicionado da sala principal, colocação de forro e término do sistema de proteção contra incêndio. O IPHAN possibilitou a restauração dos gradis em metal, compra das poltronas da sala de múltiplo uso e o complemento do forro de gesso das frisas e camarotes. O resultado financeiro de uma campanha da Fundação Oliveira Neto, foi empregado na execução do revestimento das paredes, dos pisos dos camarins e da escada de emergência. Também foram substituídas as madeiras da curva da ferradura e de apoio dos gradis. O governo do estado de São Paulo repassou R$ 250 mil no final daquele ano. O montante foi utilizado na recuperação do piso da sala principal, curva de visibilidade da galeria, poltronas da plateia e galeria, cadeiras para as frisas dos camarotes, pintura interna e externa. AMITE A Associação dos Amigos do Theatro Municipal foi constituída em 20 de abril de 2003. Suas atribuições são: promover a popularização do Theatro, realizar eventos com a participação de grupos e escolas locais, organizar a agenda de espetáculos do Teatro em parceria com o departamento de Cultura e Turismo e entidades culturais do município. fonte: Wickpédia

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Festival de Teatro “Atílio Eduardo Gallo Lopes” Sílvia Ferrante aproveitou a realização deste festival municipal para obter as imagens fotográficas - dos ensaios e das apresentações dos grupos - que complementam as informações deste manual. O festival de teatro “Atílio” existe com o objetivo de valorizar os artistas locais e facilitar a descoberta de novos talentos da dramaturgia. O evento visa a apresentação de espetáculos apenas com atores e atrizes amadores e grupos independentes de teatro, e já se tornou uma tradição na cidade.

Atílio Sanjoanense, nascido em 1953, Atílio foi ator de teatro estudantil nos grupos GAMA e TESS, além de excelente atleta. Sagrou-se campeão brasileiro de natação em 1971. Vai para Londres, onde fixa-se na Cia Shakespereana de Teatro, como ator e bailarino. Em 1983, ganha prêmio como ator no Festival Mundial de Amadores, em Medelin, na Colômbia. Ele recebe o prêmio das mãos do cineasta Roberto Rosselini. De volta a Londres, inicia carreira profissional na Lindsay Kemp Company. Viaja pela Europa, apresentando-se em teatros, circos e em praça pública. Faz tournê pelo Japão. Em Roma, participa de filmes com o diretor inglês Derek Jarman. Em 23 de junho de 1990, morre em Londres.

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Sobre o autor Clovis Vieira é sanjoanense, nascido em outubro de 1952. É professor de Língua Portuguesa, pela Fundação de Ensino “Octávio Bastos”. Desde a década de 1970, até o momento, escreve para jornais e revistas de sua cidade natal; entre os jornais está o centenário O Município, onde sua pauta é Arte, Cultura, Educação e Turismo. Desde 1973, quando estudante do Ensino Médio, está ligado ao teatro feito em sala de aula, escrevendo, atuando e dirigindo. Tem registro de ator profissional. Frequentou cursos de Direção Teatral, na capital do Estado, e de Coreografia Aplicada ao Teatro (ministrado por Célia Gouvêa) pelo SESC, também em São Paulo. Participou na criação de diversos grupos teatrais amadores em sua cidade natal. Dirigiu e participou como ator em “Enquanto Houver Espetáculo”, composto por poemas de Cecília Meireles, que abriu a I Semana Guiomar Novaes, em 1976.

s Santos

foto: Rogério do

Criou e manteve a “Oficina de Arte”, escola de iniciação teatral que realizava apresentações em praças e em creches municipais de sua cidade e de cidades daquela região. Da “Oficina...” saíram alunos hoje formados em Artes Cênicas pela Unicamp-SP. Converse com o autor: outubro52@gmail.com

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Sobre a fotógrafa Desde sua infância, a sanjoanense Silvia Ferrante mostrou inclinação artística. Em 1976, participou da abertura da primeira Semana Guiomar Novaes como atriz. Uma de suas grandes paixões é a Fotografia, tendo realizado exposições fotográficas em sua cidade natal. Entre elas: “Faces” e “Todo Dia É Dia de Índio” a partir de imagens captadas em uma comunidade indígena. Em abril de 2010 abriu a exposição “O Outro Lado da Visita (Orides Guia)”, com fotos realizadas no Cemitério São João Batista, de São João da Boa Vista-SP Um de seus trabalhos de destaque foi ilustrar as crônicas de Clovis Vieira no livro virtual (e-book), chamado “Trans-Figura-Ações”, que pode ser baixado da internet. Em outubro de 2009, foi classificada entre 7.230 concorrentes no concurso de fotografia da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, chamado “África em Nós”. A foto classificada fez parte de uma exposição da Secretaria e consta no catálogo de fotos do projeto.

Auto-retrato

Além disso, tem longa carreira musical como cantora, compositora e produtora. Também escreve poemas, muitos deles premiados em concursos literários. Converse com a fotógrafa: silviaferrante@uol.com.br

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Pensando bem: - Por que incluir teatro em suas aulas? - O melhor texto é o infantil ou os seus alunos querem mais que isso? - Como orientar as suas reuniões teatrais? - Quem poderá lhe ajudar na montagem de uma peça?

Um livro de receitas Um livro prático é como um livro de receitas. É abrir, ler e fazer... depois é só saborear o resultado. Assim funciona “Como Organizar Teatro Em sala de Aula”. O livro resulta de uma longa experiência do fazer teatral. E a concisão que ele traz é marca registrada do autor.

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