Conceito n04

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revista de arte

ano 02 - #04

op art pop art arte povera minimalismo body art hiper realismo street art


editorial Chega a sua 4º edição a revista de arte Conceito. Nessa edição trataremos de alguns movimentos dos anos 50, 60 e 70, até Chegar algumas expressões da arte contemporânea. Essa edição trás matérias especial, escrita por nosso editor André Altmann, dos movimentos: op art, pop art, arte povera, minimalismo, body art, hiper realismo, street art. Também trás duas matérias especiais falando de Victor Vasarely e Andy Warhol. Além disso um artigo de Bruno Baader, sobre a Bienal e os pichadores, esse artigo foi escolhido pelo debate que existe hoje entre os astistas da Arte Urbana, sobre sua institucionalização, ou não. Esperamos que gostem! Boa Leitura!

p.04 - op art

pop art - p.10 arte povera - p.16


p.22 - minimalismo

body art - p.32

p.26 - hiper realismo

street art - p.36


op art,

a filha quase esquecida

Op art foi um termo empregado pela revista Times no ano de 1965. É a abreviação de optical art (ou em português arte óptica). Esse estilo explora alguns fenômenos ópticos para criar obras que pareçam “vibrar”. É definida como uma arte de "menos expressão e mais visualização". Formas, cores, tons, são alguns dos elementos gráficos utilizados para “brincar” com nossas percepções óticas. Essas pinturas volumosas, criam movimentos e interação entre o fundo e o foco principal. O pintor húngaro Victor Vasarely (1908-1997) é tido como o precursor da op art, surgida nos anos 30. Apesar de seu impulso inicial, a op art demorou a ter destaque, ganhando força efetivamente nas décadas de 1950 e 1960, segundo alguns autores isso se deve ao “caldeirão de movimentos” em que a op art surge, que vão desde o surrealismo à arte moderna. A primeira exposição de Op Art, foi organizada em 1965,. A mostra foi chamada "The Responsive Eye" (O Olho que Responde), no Museu de Arte Moderna de Nova York. Entre os principais expoentes da Op Art, estão Victor Varasely, Richard Anusziewicz, Bridget Riley, Ad Reinhardt, Kenneth Noland e Larry Poons. A exposição, no entanto, não teve muito sucesso. A Op Art esteve, durante um bom tempo, renegada aos meios considerados "alternativos" nos EUA e Europa. O período posterior à exposição não foi dos melhores para a Op Art, que quase caiu no esquecimento. referências uol educação - artes (http://educacao.uol.com.br/artes/op-art.jhtm) historiadaarte.com.br (http://www.historiadaarte.com.br/opart.html) unb - galeria (http://vsites.unb.br/fac/ncint/pg/galeria/opart.htm)


Victor Vasarely, Zebra (1938)


obras

Victor Vasarely, Pava (1977).

Victor Vasarely, Kezdi-Ga (1970).


Richard Anuszkiewicz, Templo do amarelo radiante.

Bridget Riley, Blaze 1 (1962).


victor vasarely Considerado o "pai da op art”, Victor Vasarely, nasceu em Pécs, na Hungria, 9 de abril de 1908, viveu até, Paris, 15 de março de1997. foi um pintor e escultor. Foi viver em Paris, em 1930. Lá trabalhou como designer gráfico em várias empresas de publicidade. Depois de um período de expressão figurativa, decidiu optar por uma arte construtivista e geométrica abstrata, tendo-se dedicado nos 13 anos seguintes ao aprofundamento de conhecimentos gráficos. Era fascinado por padrões lineares, isso o levou a desenhar utilizando grelhas lineares bicolores (pretas e brancas) e das deformações ondulantes, onde a sensação de profundidade e a multidimensionalidade dos objectos foram sempre uma preocupação constante. Depois, com a introdução da cor nos seus trabalhos vai permitir ainda um maior dinamismo, através do qual pretendeu retractar o universo inatingível das galáxias, a gigante pulsação cósmica e a mutação biológica das células. Os seus trabalhos são então essencialmente geométricos, policromáticos, multidimensionais, totalmente abstractos e intimamente ligados às ciências. Porém de acordo com alguns autores, é entre 1950-60 (período Black and White) que marca definitivamente o trabalho de Vasarely, uma vez que ao introduzir pela primeira vez a sugestão de movimento sem existir movimento real, cria uma nova relação entre artista e espectador (que deixa de ser um elemento passivo para passar a interpretar livremente a imagem em quantos cenários visuais conseguir conceber), desenvolvendo e definindo os elementos básicos do que será conhecido como Op Art -um estilo e técnica que permanecerá para sempre ligado ao seu nome. referências wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_Vasarely historiadaarte.com.br (http://www.historiadaarte.com.br/opart.html)


obras

Victor Vasarely, Supernovae (1959-61)

Victor Vasarely, Zebra (1977)


pop art A pop art foi um movimento surgido na Inglaterra em meados dos anos 50, mas ganhou força nos Estados Unidos, nos anos 60. Utilizava elementos da cultura de massa em seus trabalhos, por isso o nome “pop”, de popular. Tinha como objeto de discussão a sociedade de consumo. Alguns autores alegam que era uma critica direta a essa sociedade, outros falam que não passa de uma retratação dessa sociedade. Critica ou não, Marilyn Monroe, Monalisa (de Da Vinci) e até Che Guevara, viram objetos de arte. O que eles tinham em comum? Muito pouco, apenas o fato de serem imagens largamente divulgadas, massificadas e consumidas. E isso é outro fato importante, que para a os artista desse movimento, as pessoas ao serem amplamente massificadas se tornavam “impessoais”, apenas imagens. Sua iconografia era a da televisão, da fotografia, dos quadrinhos, do cinema e da publicidade. Ou seja utilizavam da própria linguagem dessa sociedade de consumo para se expressarem. Tem como artista de destaque: Roy Lichtenstein, apesar de ter sido Warhol, que utilizo as técnicas de quadrinhos em sua obra, foi Lichtenstein que levou essa linguagem a diante e conquistou o publico e mercado. Robert Rauschenberg, no início da década de 1950, criou as pinturas "combinadas", com garrafas de Coca-Cola, embalagens de produtos industrializados e pássaros empalhados. a Op Art, que quase caiu no esquecimento. Andy Warhol, ver matéria da página 00. referências uol educação - artes (http://educacao.uol.com.br/artes/pop-art.jhtm) historiadaarte.com.br (http://www.historiadaarte.com.br/popart.html) unb - galeria (http://vsites.unb.br/fac/ncint/pg/galeria1.htm)


Andy Warhol, Marilyn (1967)


obras

Andy Warhol,Triple Elvis (1963)

Andy Warhol, Portrait of Michael Jackson (1984)


Roy Lichtenstein, Girl with Hair Ribbon (1965)

Roy Lichtenstein, Girl at Piano (1963)


andy warhol

Andy Warhol era filho de operários imigraram da Eslováquia, para os nos Estados Unidos, na primeira guerra. Entrou no Instituto de Tecnologia de Carnegie, em Pittsburgh, aos 17 anos, onde se formou em Design. Mais tarde trabalhou como ilustrador para resvistas importantes, como, Vogue, Harper's Bazaar e The New Yorker. Em 1952, realiza na Hugo Galley, sua primeira mostra individual, onde exibe quinze desenhos baseados na obra de Truman Capote. Nos anos de 1960, Warhol começa a utilizar de conceitos de publicidade em suas obras de arte. Com cores fortes e brilhantes e tintas acrílicas, ele reinventa a pop art com a reprodução mecânica e seus múltiplos serigráficos são temas do cotidiano e artigos de consumo, como as reproduções das latas de sopas Campbell e a garrafa de Coca-Cola, além de rostos de figuras conhecidas como Marilyn Monroe, Liz Taylor, Elvis Presley, Che Guevara.

Ele também desenvolveu trabalhos nas áreas de musica e cinema, nos anos de 1970. Seus filmes undergrounds são hoje clássicos do gênero, são filmes conceituais, onde "nada acontece", como uma câmera parada filmando um corpo humano ou um edifício a partir de uma janela e chegam a atingir diversas horas de duração. Entre eles, se destacam Chelsea Girls, Empire e Blow Job (1964). Na música, ele participou de performances e ajudou e difundir a cena doglitter rock originária de Londres, através do grupo de rock underground Velvet Underground.Nessa época ele cunha a famosa e profética frase: “No futuro qualquer um será famoso por quinze minuto”. Morre aos 59 anos, com arritmia cardíaca, após uma cirurgia considerada de rotina. referências wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Andy_Warhol) uol educação - arte http://educacao.uol.com.br/biografias/andy-


obras

Andy Warhol, Campbell's Soup Can (1968)

Andy Warhol, PelĂŠ, Brazilian football player (1977-78)


arte povera Matérias inúteis produzem arte Arte povera (ou podre em português), foi um movimento que surgiu em 1960 na Itália. Esse termo foi dado pelo critico de arte Germano Celant, em 1967, ao ver uma exposição de alguns artistas do movimento.

O movimento ganha mais força no anos de 1970, seus artistas assim como a pop art, tem como tema de suas obras a sociedade de consumo. Porém esse movimento é claramente mais critico, questiona a economia capitalista e seu consumismo desenfreado, tentando trazer reflexões sobre a acumulação de riquezas pessoais.

Essas obras de arte desafiavam os padrões vigentes, buscavam tratar das propriedades dos elementos utilizados, que poderiam sofrer transformações com o passar do tempo. Por exemplo, a oxidação do metal.

Os principais artistas desse movimento foram: Michelangelo Pistoletto; Jannis Kounellis ; Giovanni Anselmo; Giuseppe Penone; Giulio Paolini; Luciano Fabro.

referências uol educação - artes (http://educacao.uol.com.br/artes/arte-povera.jhtm) wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_Povera)


Michelangelo Pistoletto, Venus dos Trapos (1967)


obras

Michelangelo Pistoletto, Venus dos Trapos (1967)


Michelangelo Pistoletto, Donna Accovacciata (1962/74)


obras

Giovanni Anselmo, Senza titolo (1968)

Giovanni Anselmo, Torsione (1934)


Giulio Paolini, Larte e lo spazio, quattro illustrazioni per uno scritto die Martin Heidegger (1983)


minimalismo O minimalismo é um movimento que surge no final dos anos 50 e começo dos anos 60, em Nova York, ele vai na contramão do expressionismo abstrato. Para isso o minimalismo procurava através da redução da forma e da produção de objetos em série, que se transmitisse ao observador uma percepção fenomenológica nova do ambiente onde se inseria. O movimento enfatiza assim formas elementares, em geral de corte geométrico. A pintura minimalista usa um número limitado de cores e privilegia formas geométricas simples, repetidas simetricamente. Suas vertentes se desenvolvem dentro da pintura e da escultura, os trabalhos não tem “sentidos escondidos”. A realidade é exposta como ela é, no ponto de vista deles, os objetos de arte, são simplesmente objetos materiais e não veículos portadores de idéias ou emoções. Importante destacar que foi esse movimento que mudou o “eixo artístico” da Europa para os Estados Unidos. Os minimalistas tiveram clara influencia dos construtivistas russos, pois esses, foram os primeiros a decompor e recompor as formas, paralelos ao escultor romeno Constantin Brâncuşi. O minimalismo foi composto de “fases”, a mais importante foi a segunda, representada por artistas como Sol LeWitt, Frank Stella, Donald Judd e Robert Smithson, cuja produção tendia ultrapassar os conceitos tradicionais sobre a necessidade do suporte: procuravam estudar as possibilidades estéticas a partir de estruturas bi ou tridimensionais. referências itau cultura (http://www.itaucultural.org.br/) brasil escola (http://www.brasilescola.com/artes/minimalismo.htm) wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Minimalismo)


Donald Judd, Ohne Titel - Stack (1968-69)


obras

Donald Judd, Sem tĂ­tulo,(1961-69)

Tony Smith, Caixa preta (1963-65)


Kasimir Malevitch, Quadrado preto sobre um fundo branco, (1913)

Frank Stella, Hyena Stomp (1962)


hiper realismo O hiper-realismo, não é um recuo à tradição realista do século XIX, esse “novo realismo” se apropria da técnica da fotografia. Tendo como base a fotografia a realismo da pintura e da escultura é levado ao extremo. Porém ela não é apenas uma cópia da fotografia, ela “eleva” a imagem além, o objetivo é criar uma “nova realidade” não presente na fotografia original. Apesar de se apropriar de algumas técnicas do fotorrealismo, o hiper-realismo não utiliza imagens sem contexto, limpas de qualquer carga social, política ou emocional, os hiperrealistas sublinham este aspecto, dando um significado narrativo a cada imagem. Gottfried Helnwein é um dos representantes desse estilo, ainda vivo e talvez um dos mais falados nos dias de hoje, é austríaco e conhecido por trabalhar em diversos meios. A infância é um tema recorrente nos seus trabalhos que se focam na perda de inocência e no sofrimento desta faixa etária, além dos trabalhos com personagens de banda desenhada. Os auto-retratos são também bastante perturbadores, pois em nenhuma das imagens é possível ver o rosto do artista, já que surge frequentemente amarrado Outro exemplo vivo é o escultor Ron Mueck, conhecido por suas obras gerarem espanto nos espectadores. Devido o grau de realismo que é encontrado nos pormenores de corpos humanos, que são tema principal de sua obra. Outros exemplos são Chuck Close. Jerry Ott, Glennray Tutor, Sam Jinks e David Jon Kassan, entre outros. referências itau cultura (http://www.itaucultural.org.br/) wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hiper-realismo) obvious (http://obviousmag.org/archives/2009/12/hiperrealism o_arte.html)


Ron Mueck, Big Man (2000)


obras

Ron Mueck, Mask II (2001-02)


Gottfried Helnwein, Os Desastres da Guerra 13, (2007)

Gottfried Helnwein, Os Desastres da Guerra 21, (2007)


obras

David Jon Kassan , Balance

David Jon Kassan , Self Portrait


Diego Gravinese, Milk girl


body art A body art (ou em português arte do corpo), é uma vertente de arte contemporânea que toma o corpo como meio de expressão ou o m a t e r i a l i za n e l e a o b ra , a s s o c i a d o normalmente a performance. O corpo do artista é tomado para ser suporte para realizar as intervenções, normalmente envolvendo dor e agonia. A body art é um movimento que é de oposição ao mercado internacionalizado da arte, onde são questionados o fato de pensar arte apenas como pintura e escultura. Alguns atores relacionam o estilo e sua posição, com a “entrada” de novos atores sócias nas artes, como os negros, mulheres, homossexuais e etc... O estilo se apropria de algumas experiências pioneiras dos surrealistas e dadaístas, do uso do corpo como meteria de arte. E também de certa práticas antigas como as pinturas corporais e tatuagens. Principais artistas: Bob Flanagan; Bruce Nauman; Chris Burden; Dennis Oppenheim; Gina Pane; Marina Abramovic; Mona Hatoum; Piero Manzoni; Stuart Brisley; Vito Acconci; Yves Klein; Youri Messen-Jaschin; Rudolf Schwarzkogler, Este ultimo , suicida-se, aos 29 anos, diante do público, numa performance. referências itau cultura (http://www.itaucultural.org.br/) wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Body_art)


Marina Abramovic, Luminosity (Performance original 1997, por 2 horas na Sean Kelly Gallery)


obras

Marina Abramovic, Lips of Thomas (1975)

G端nter Brus, Aktion Ana (1964)


Gina Pane, Le Lait Chaud (1972)

Rudolf Schwarzkogler, (1965).


street art Street art ou (arte urbana, em português), é uma expressão que engloba toda manifestação artística feita na rua, ou em espaços públicos, em contra partida das manifestações de “galeria”, de caráter institucional ou empresarial. O movimento sempre teve um caráter “underground”, onde as obras normalmente eram feitas sem permissões. Ela começou com grafismos e pichações. São utilizadas técnicas de do Graffiti ao Estêncil, stickers, cartazes lambe-lambe. Também são realizadas intervenções, instalações, flash mob, entre outras. A expressão Strert Art surge inicialmente associada aos pré-urbanistas culturalistas como John Ruskin ou William Morris e posteriormente ao urbanismo culturalista de Camillo Sitte e Ebenezer Howard. Dois artistas que são considerados importantes para a “street art” começar a ser encarada com arte, e não vandalismos ou coisas do gênero, foram Keith Haring (1958 – 1990), que começou a ganhar notoriedade ao desenhar a giz nas estações de metro de Nova York. E Jean Michel Basquiat (1960-1988), que pintava na rua no começo de sua carreia , antes de ganhar notoriedade na mídia. Atualmente Banksy, o francês JR, o italiano BLU, e os brasileiros “Os Gêmeos”, são nomes de destaque desse movimento. Atualmente também existe uma discussão entre os artistas desse movimento, da “institucionalização” ou não dele. Alguns afirmam que é uma face de transição, outros afirmam que é uma cooptação e que o movimento agora perde “suas raízes”. referências wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_urbana) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Michel_Basquiat) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Keith_Haring)


Os Gemeos, DON’T BELIEVE THE HYPE!


obras

Keith Haring , Crack is Wack Playground


Jean Michel Basquiat

TAOIM, Muro de BrasĂ­lia-DF.


obras

Banksy, One nation under CCTV

Banksy


JR, Street Art na Franรงa

BLUE, Muro pintado no FAME Festival


a bienal,

os pichadores e as práticas do capitalismo Por Bruno Baader

Está acontecendo a 29ª Bienal de São Paulo. O evento conta com diversas obras de inúmeros artistas, dos mais variados ramos da arte. No entanto, a luz do tempo não afastou a sombra da polêmica da última Bienal, quando pichadores, revoltados com a “exposição do vazio”, invadiram o evento com latas de spray e picharam as paredes e vidros do salão, localizado no Parque do Ibirapuera. Naquela ocasião, os pichadores foram perseguidos e acabaram sendo vítimas da truculência dos seguranças do evento. Dois dos pichadores foram presos. Mas a arte, assim como a vida, é dinâmica e o capitalismo – muito bem representado pelo elitismo de eventos culturais como as Bienais – também. A 29ª Bienal, com o tema “Há sempre um copo de mar para o homem navegar”, tenta apagar da memória coletiva os estigmas de repressão da 28ª Bienal e abre espaço justamente para os algozes de outrora: os pichadores. O evento, este ano, conta com um mural onde estão expostas algumas pichações que também podem ser encontradas nas ruas de São Paulo. Além disso, o visitante pode assistir a diversos vídeos de variadas ações dos pichadores – entre elas, a invasão da 28ª Bienal – em televisões de LCD penduradas, imitando quadros. O espaço aberto (ou conquistado?), à primeira vista, pode ser visto como algo positivo, uma vez que isso pode ser uma tentativa de transformação da arte popular em arte reconhecida. No entanto, a iniciativa, na verdade, expressa a típica prática do capitalismo que a Bienal muito bem representa: assimilar tudo aquilo que o combate, transformando isso em mercadoria. A pichação é arte. Arte marginal não é menos arte que “outras artes”. Da mesma forma que os Renascentistas eram vítimas de perseguição por questionar os dogmas de sua época (dogmas religiosos que defendiam o tabu em relação à


forma humana), os pichadores o são por questionarem os dogmas de nossa época (dogmas burgueses que defendem a soberania da propriedade privada), ainda que não recorram a um discurso organizado para expressar esse questionamento de forma consciente. Apesar da perseguição e da criminalização, a pichação é mais parte do cotidiano das pessoas do que qualquer outra arte visual estática e pode ser muito melhor degustada por quem está se dirigindo à Bienal do que por quem lá está. Basta olhar para os prédios, muros, viadutos e outras “telas urbanas” disponíveis democraticamente a céu aberto, de graça para todos. Além disso, quem degusta a pichação na Bienal degusta uma arte “menos artística” – se é que é possível fazer uma hierarquização da arte – porque as pichações presentes nos murais da Bienal não contaram com a acrobacia comum a quem busca o pintar no impossível. Não contam com o questionamento recorrente entre transeuntes: “Como conseguiram escrever ali!?”. Não contam com a essência da pichação, que é o já citado questionamento à soberania da propriedade privada. Enfim, a pichação legalizada presente na 29ª Bienal é arte, mas uma arte despida de sua essência, uma arte sem porquês, que revela seu potencial de mercadoria. Por outro lado, os intelectuais que freqüentam a Bienal podem se portar com a pompa de uma aristocracia liberal e defensora dos princípios democráticos. José Jobson, em um artigo sobre o livro Senhores e Caçadores do historiador Edward Thompson, defende que a elite e suas leis têm que parecer justas e algumas vezes até sê-lo para serem respeitadas e manter seu domínio sobre os outros. Essa é a tentativa da elite organizadora, patrocinadora, colaboradora e freqüentadora da Bienal, mostrando para todos o quão tolerante pode ser e, de quebra, se defendendo do maior risco à hegemonia da arte burguesa e elitista: a invasão do salão (o mundo da aristocracia contemporânea) pelas ruas. fonte passa palavra (http://passapalavra.info/?p=32287)


André Altmann 2º ano - Programação Visual - Matutino Portfólio 04 - História da Arte 2


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