Oficina Gestão para o Voluntariado (apostila)

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OFICINA DE GESTÃO DO VOLUNTARIADO


SESC/RS Oficina de Gestão do Voluntariado Sesc/RS - Alexandre Ben Rodrigues e Luciana da Costa Basile (coordenação). Porto Alegre: Sesc/RS, 2017. 18p.; 29x21cm 1. Trabalho voluntário 2. Voluntário I. Rodrigues, Alexandre Ben II. Basile, Luciana da Costa III. Título IV. Sistema Fecomércio-RS V. Sesc/RS CDU 364.466

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APRESENTAÇÃO O Sesc/RS, por meio do Programa Sesc de Voluntariado, tem incentivado desde 2001 a participação da comunidade gaúcha em ações solidárias que gerem a promoção do bem-estar social. Nesta publicação, que disponibilizamos a todos os alunos da Oficina de Gestão do Voluntariado, procuramos oferecer conhecimentos básicos e ferramentas conceituais e gerenciais para auxiliar coordenadores e gestores de Entidades Sociais na implantação de projetos de voluntariado. Temos a convicção de que este material será uma fonte significativa de inspiração e conhecimento para todo aquele que vê no voluntariado uma oportunidade na sua vida! Bons estudos!

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SUMÁRIO 05 05 07

1. O CONCEITO DE VOLUNTARIADO O voluntariado no Brasil Legislação

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2. COMPREENDENDO O VOLUNTÁRIO Motivação Valores e princípios

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3. GERENCIANDO O VOLUNTÁRIO Recrutamento, captação e seleção Admissão, capacitação e integração Manutenção, reconhecimento, supervisão e avaliação Remanejamento e desligamento

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1. O CONCEITO DE VOLUNTARIADO Segundo as Nações Unidas, voluntário “é o jovem, adulto ou idoso que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a diversas formas de atividades de bem-estar social ou outros campos...”. Apesar de pensarmos em ações que beneficiam o outro (quem recebe), podemos afirmar que o voluntariado também traz benefícios para quem o pratica, uma vez que proporciona a descoberta de valores e atitudes solidárias e altruístas. Mesmo considerando essas duas vertentes (o ‘bem’ ao outro/ o ‘bem’ a si), há algo maior no voluntariado, pois é por meio de práticas voluntárias que produzimos a transformação social. Ou seja, a sociedade busca estratégias para enfrentamento dos problemas sociais por meio de práticas voluntárias organizadas. Conforme a International Association for Volunteer Efforts - IAVE, “trata-se de um serviço comprometido com a sociedade e alicerçado na liberdade de escolha. O voluntariado promove um mundo melhor e torna-se um valor para todas as sociedades.” Ainda nessa lógica, segundo o Manual de Procedimentos e Gestão Voluntariado do Mesa Brasil Sesc: “A ação voluntária, para ser eficiente e eficaz, deve compor um feixe de ações fundadas no princípio da solidariedade e deve estar em consonância com políticas públicas que favoreçam a inclusão social e a redução das enormes desigualdades de nosso país, conjugando esforços para o desenvolvimento e a justiça social, somando vontades, princípios, energias, sentimentos e solidariedades.” 1.2 O voluntariado no Brasil A história nos mostra que as primeiras ações voluntárias no Brasil estão ligadas à criação da Santa Casa de Misericórdia de Santos, em 1543, construída por meio de doações e que tinha como maior objetivo dar assistência aos imigrantes que aqui chegavam após meses e meses de viagem de navio (Sobolh, 2011). Além do atendimento de saúde, necessário devido a diferença de clima, os imigrantes precisavam de ajuda para sobreviver. Assim, além de ser o primeiro hospital do Brasil, a Santa Casa de Santos possui o mérito de ser a primeira instituição a ter ações voluntárias organizadas. Seguindo o modelo da Santa Casa de Misericórdia, instituições de assistência social foram surgindo no Brasil, todas de cunho religioso e baseadas em princípios da caridade cristã. Porém, é no século XIX que há o surgimento formal do voluntariado quando a sociedade brasileira se mobiliza para buscar combater as doenças contagiosas, epidemia da época. Além disso, a população se organiza para atender órfãos e deficientes, que surgem por conta de inúmeras mortes em consequência das doenças. Nesse período da história, os problemas sociais eram tratados como “desvios” e as pessoas necessitadas eram vistas como “em desgraça”. Assim, as famílias mais abastadas doavam seus excedentes aos que necessitavam. A seguir, segue texto da Revista Filantropia que apresenta um panorama da história do voluntariado no Brasil.

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História do voluntariado no Brasil ¹ A evolução da ação voluntária no país passa por quatro momentos bem definidos: benemerência, Estado de bem-estar social, voluntariado “combativo” e integração do Estado com a sociedade civil. Benemerência O nascimento formal do voluntariado teve origem no século XIX, com o enfoque na benemerência. Na época, os problemas sociais eram entendidos como “desvios” da ordem dominante e atribuídos a indivíduos “em desgraça” que, por não terem a oportunidade de se reintegrarem à sociedade, necessitavam da caridade organizada. Assim, famílias mais abastadas, com boas intenções, distribuíam seus excedentes entre os necessitados. Nesse contexto social paternalista, rigoroso e excludente, o “voluntariado de benemerência” era responsabilizado pelas condições de vida da população. Embora desenvolvesse políticas muito interessantes, foi uma época que favoreceu o individualismo em prejuízo das iniciativas voluntárias ou associativas. O voluntariado “combativo” A década de 1960 propiciou irreversíveis transformações de comportamento, politizando e polemizando todas as relações ao extremo, inclusive as pessoais. Com a queda do Estado do bemestar social, o movimento voluntário viu-se questionado politicamente e sem direção clara. O movimento ainda foi influenciado por uma corrente contestatória e libertária, presente em quase todos os movimentos sociais de origem popular da época. Com a mudança da sociedade, grupos de pessoas lideraram a participação ativa nas questões sociais e inúmeras organizações sociais foram criadas, caracterizando uma atuação voluntária de ação social. Surge o voluntariado “combativo”, muitas vezes distante de seus ideais básicos. Parecia um movimento “desorientado”, “espontâneo”, principalmente jovem e sem perspectivas de uma consolidação institucional que pudesse desenvolver sua identidade. A ação se baseava no pressuposto de uma mudança de ordem social e situava-se, muitas vezes, no âmbito do protesto. O modelo dos anos 1980 Na metade da década de 1980, com a democratização da América Latina e dos países em desenvolvimento, o neoliberalismo surgiu como concepção político-econômica cultural no Ocidente. Os Estados ajustaram seus orçamentos e diminuíram lentamente os financiamentos da assistência social, transferidos para os empreendimentos privados ou para as mãos dos antigos beneficiados. A resposta foi o nascimento de um voluntariado que veio preencher os espaços deixados pelo Estado e que se esforçou para diminuir as necessidades daqueles que ficaram fora do sistema. A questão deixou de ser responsabilidade exclusiva do Estado, e a sociedade civil passou a ser corresponsável, inclusive pela atuação de organizações sociais, fundações e empresas. O trabalho voluntário começou a ser debatido como peça-chave nessa abordagem de intervenção nos problemas sociais, tanto pela possibilidade individual de ação participativa nos problemas da sociedade quanto pela ação privada ¹ Texto extraído da Revista Filantropia (ISSN 1677-1362), nº 67

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para o bem público. Foi um voluntariado de muitas conquistas concretas, de muitas ações assistenciais de atuação primária, que agiu para reduzir problemas latentes. A caminho de uma nova cultura A década de 1990 abre as portas para um novo voluntariado, que supera o anterior e considera o voluntário como um cidadão que, motivado por valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento de maneira espontânea e não remunerada em prol de causas de interesse social e comunitário. O movimento Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, criado em março de 1993, constituiu-se em fato de extrema relevância para revitalizar uma consciência adormecida na sociedade brasileira. Sua proposta foi deixar de esperar por ações estruturais que não estariam ao alcance do cidadão e estimular o gesto imediato para quem tem fome, partindo para ações emergenciais como um primeiro passo. A partir dessa ação, outras surgiram com a mesma proposta: fazer com que a sociedade tomasse iniciativas imediatas para resolver seus problemas e, ao mesmo tempo, pressionasse o Estado para que ele cumprisse seu papel de formular políticas públicas. Outro fato marcante na história do voluntariado no Brasil foi a criação do Programa Voluntários, do Conselho da Comunidade Solidária, em dezembro de 1996. O programa incentivou a constituição de uma rede nacional de Centros de Voluntariados. Hoje, a rede conta com cerca de 60 centros, localizados nas principais cidades do país. São organizações autônomas e independentes financeira e administrativamente, que buscam atender às necessidades da região onde estão inseridas.

“O voluntário somente tem sentido quando não esquece o horizonte da emancipação (...) O voluntariado não é um álibi para diminuir os compromissos do Estado, mas para exigi-los. (...) A ação voluntária requer reciprocidade: não é orientada simplesmente para a assistência do outro, mas para o crescimento de ambos, embora as suas contribuições sejam diferentes.” García Roca

1.3 Legislação Para combater as experiências negativas que algumas entidades sociais tiveram com ‘voluntários’, em fevereiro de 1998, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei que dispõe sobre o serviço voluntário. A lei, além de estabelecer a distinção entre empregado e voluntário, protege as organizações contra a ação trabalhista de quem tentava forjar um vínculo empregatício com a instituição com a qual colaboravam.

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LEI Nº 9.608, DE 18 DE FEVEREIRO DE 1998 Art. 1º Considera-se serviço voluntário, para os fins desta Lei, a atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa. (Redação dada pela Lei nº 13.297, de 2016) Art. 2º O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições de seu exercício. Art. 3º O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias

Para fazer valer a Lei, a entidade social deverá solicitar ao voluntário a assinatura do Termo de Adesão ao Serviço Voluntário, documento que regerá as atividades junto à organização.

Dica:

Não há um padrão de texto para o Termo de Adesão, porém é importante conter: - Correta identificação do prestador e tomador de serviços voluntários; - Indicar a natureza dos serviços e as condições para o seu exercício; - Conter a Lei Nº 9.608 no verso; - Ser emitido em duas vias; - Ser assinado pelo responsável da instituição e pelo voluntário; - Ser assinado por duas testemunhas; - Ser arquivado e conservado por 3 anos após o desligamento do voluntário. A vigência do Termo de Adesão não é predeterminada por nenhum aspecto legal. Recomendamos que ao fim da relação entre o voluntário e instituição, faça-se constar no termo de adesão uma anotação referente à finalização da prestação de serviço.

Cabe lembrar que a Lei autoriza o ressarcimento de despesas feitas pelo voluntário, desde que estas sejam expressamente autorizadas pela entidade social. É recomendável que entidade social construa um Regimento Interno que normatize a ação voluntária. Assim, o grupo de voluntários da organização social deve estar sujeito às regras e normas da entidade.

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Apesar do voluntariado não ser remunerado, ele requer responsabilidade, interesse e profissionalismo. Assim, com o regimento interno, a entidade se respalda quanto as questões que possam garantir a qualidade do serviço, como, por exemplo, pontualidade e assiduidade; participação em reuniões, treinamentos e eventos; uso de telefone e demais equipamentos da organização etc. Quanto mais claras e especificadas as normas, menos “mal-entendidos” poderão advir. Esse documento entregue ao novo voluntário servirá como instrumento de consulta permanente.

Materiais de apoio: Termo de Adesão Regimento Interno

2. COMPREENDENDO O VOLUNTÁRIO Ao pensar na implementação do voluntariado na entidade social e no resultado que ele trará, é importante que os envolvidos nesse processo conheçam quais os motivos que levam as pessoas a serem voluntárias. Vários são os possíveis motivos, como: solidariedade, amor ao próximo, vontade de ser útil a alguém, vontade de fazer diferença etc. Conforme o Manual de Procedimentos e Gestão Voluntariado do Mesa Brasil Sesc “...a resposta pode ser tão variada quanto os sonhos e as expectativas de vida de cada ser humano do nosso planeta, pois cada voluntário terá a sua motivação pessoal, mesmo que em um primeiro momento ela não fique tão clara e visível nem mesmo para o próprio voluntário”. Conhecer as variadas motivações é também compreender o reconhecimento que o voluntário espera, o que é extremamente compreensível. “Nada relacionado aos recursos financeiros, mas sim a uma via de mão dupla onde o voluntário, além de doar talento, carinho, tempo, dedicação etc., também recebe novas experiências, oportunidades de aprendizado, prazer de se sentir útil, criação de novos vínculos de pertencimento, afirmação do sentido comunitário. Por isso, conhecer, entender e aceitar a motivação de cada voluntário pode ser a chave do sucesso para um projeto de voluntariado, mesmo que isso signifique abrir mão de um ótimo potencial voluntário”. (Manual de Procedimentos e Gestão Voluntariado do Mesa Brasil Sesc)

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2.1 Motivação A motivação é a inspiração que nos leva a tomar uma decisão ou realizar uma ação. Na sua essência é algo puramente individual e subjetivo, dialogando com nosso mundo interior e com a leitura que fazemos da realidade que nos cerca. Podemos destacar algumas das principais motivações que encontramos quando falamos sobre voluntariado (DOMENEGHETTI, 2001): Fortalecimento da cidadania: A possibilidade de influir na construção de uma sociedade mais justa, igualitária motiva pessoas que acreditam ser responsabilidade de cada um participar da busca de soluções para os problemas sociais. Fazer a diferença: A sensação de realização, de sentir que está contribuindo de alguma forma para a melhoria da qualidade de vida, de estar fazendo a diferença pode ser a motivação de muitos voluntários. Desenvolvimento pessoal: Adquirir experiências pessoal e profissional, desenvolver novos talentos e habilidades, estabelecer novos contatos, fazer novos amigos, obter crescimento da autoestima, da liderança, da autoconfiança, também são motivações que levam as pessoas ao voluntariado. Retribuição de algo que recebeu: Colaborar com entidades sociais que atendem pessoas necessitadas pode ser uma forma de retribuir pelo que se recebeu em algum momento importante da nossa vida. Motivações religiosas: Preceitos de religiões que incentivam o trabalho e o amor ao próximo muitas vezes são a mola propulsora para atuação voluntária. 2.2 Valores e princípios Nossa motivação está sempre ancorada em valores e princípios que nos constituem enquanto indivíduos. Eles são o guia que orienta nossa ação no mundo e precisam ser explicitados, para os outros e para nós mesmos, no momento em que nos lançamos ao trabalho voluntário. Alguns exemplos: promover a igualdade de gênero; ser solidário com o outro; ter uma postura de otimismo e confiança no seu potencial e no potencial do outro; ser responsável e comprometido etc.

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NA SUA OPINIÃO, QUAIS VALORES E PRINCÍPIOS SÃO IMPORTANTES PARA O TRABALHO VOLUNTÁRIO?

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3. GERENCIANDO O VOLUNTARIADO Ao implementar o voluntariado, é fundamental que a entidade social possa garantir a articulação deste com a estrutura organizacional como um todo e com os projetos/atividades realizados nas diferentes áreas. Segundo o Manual de Procedimentos e Gestão Voluntariado do Mesa Brasil Sesc, ao desenhar ou criar um projeto de voluntariado é bom lembrar também de: • Incluir objetivos claros que contribuam para o êxito do projeto em questão e da missão da instituição; • Colocar em igualdade de condições o serviço voluntário e o trabalho remunerado, uma vez que ambos têm importância significativa no êxito da missão e, portanto, devem ser bem planejados; • Considerar as motivações, necessidades, interesses e habilidades dos voluntários; • Oferecer aos voluntários a oportunidade de serem produtivos e de usufruir do respeito das pessoas com as quais trabalham; • Conhecer as áreas de ação da instituição; • Prever delegação de responsabilidades; • Complementar e enriquecer o trabalho do pessoal remunerado. Porém, nunca substituí-lo. Na concepção do projeto de voluntariado devem ser contemplados os seguintes aspectos metodológicos e organizacionais: Descrição clara do serviço voluntário a ser realizado • O que precisamos fazer? • Por que este serviço é importante? • Como se encaixa essa tarefa na estrutura da instituição? Compromisso e envolvimento das equipes remuneradas • As equipes devem colaborar no desenho do programa, bem como na alocação dos voluntários. • Esclarecer sempre dúvidas e temores de “concorrência”. Recrutamento de voluntários bem planejado • Determinar o tipo de talentos específicos que se quer recrutar. • Definir as características/atributos: faixa etária, profissão, habilidades, preferências. Seleção criteriosa • Entrevistas pessoais. • Questionários, fichas de inscrição. • Termo de Adesão. Compromisso e responsabilidades. Período de adaptação e treinamento adequados • O voluntário precisará de: - Informações detalhadas. - Orientação e treinamento. - Experiências práticas com voluntários antigos. - Tempo para absorver a cultura organizacional.

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Supervisão do trabalho • Estar sempre disponível para responder perguntas. • Diretrizes claras. • Mostrar apreço e reconhecimento. Registro das ações • Arquivo das entrevistas, termos de adesão. • Registro das horas trabalhadas. • Avaliações de desempenho. Reconhecimento e valorização dos voluntários • Agradecer sempre. • Reconhecer méritos. • Prêmios simbólicos ou eventos especiais. Avaliação sistemática levando em consideração: • Confiabilidade. • Relações interpessoais. • Qualidades pessoais e habilidades específicas.

Todas essas premissas que se traduzem em atividades deverão ser realizadas pela pessoa que for responsável pela coordenação do projeto de voluntariado da instituição. Manual de Procedimentos e Gestão Voluntariado do Mesa Brasil Sesc.

Um pequeno exercício para ajudar: 1. Peça aos funcionários remunerados que façam uma lista do que teriam gostado de realizar na semana anterior mas não puderam fazer por falta de tempo. 2. Peça também para mencionarem os projetos ou atividades que gostariam de começar se tivessem mais tempo. 3. Analise a lista para verificar quais dessas tarefas poderiam ser realizadas por voluntários.

DICA: Utilize o modelo de projeto para construir o seu projeto de voluntariado!

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Antes de planejar um projeto de voluntários, precisamos saber... Por que se realiza o trabalho? (Diagnóstico da realidade) O que deve ser feito? (Objetivos) Como deve ser feito? (Estratégias) Onde será feito? (Lugar) De que forma será feito? (Método) Com que recursos se conta para a sua execução? (Recursos) Quando será feito? (Tempos de realização/etapas) Com quem será feito? (Equipe) Para quem será feito? (Beneficiários) Material de Apoio: Diagnóstico por funcionário Descritivo de função 3.1 Primeira etapa: recrutamento, captação e seleção Recrutamento Onde e como encontrar pessoas que queiram ser voluntárias? Como convidá-las a participar? Conforme o Manual de Procedimentos e Gestão Voluntariado do Mesa Brasil Sesc, não são poucos os indivíduos que gostariam de dedicar parte de seu tempo livre para realização de algum tipo de serviço voluntário, mas não sabem como nem onde fazê-lo. Por outro lado, os voluntários desejam encontrar serviços, mas quem são essas pessoas? • Aposentados; • Pessoas que estão em uma fase de transição em suas vidas; • Pessoas que estão mudando de profissão; • Membros de diversas igrejas, grupos de autoajuda, das associações de bairro; • Pessoas em recuperação de uma doença, dependência química ou trauma emocional; • Pais que desejam participar das atividades de seus filhos; • Adultos que desejam estar em contato com crianças; • Pessoas que desejam praticar um hobby ou interesse particular. Todos eles constituem fontes de voluntariado! Captação A instituição, antes de qualquer coisa, precisa saber qual público quer captar, que tipo de voluntários irá atender às suas necessidades. Só assim pode-se determinar onde e que tipo de estratégias utilizar. Os métodos de captação de voluntários podem ser diversos e é aconselhável que a entidade esteja sempre divulgando o seu trabalho, com vistas à captação de novos voluntários, pois sempre existem novos projetos a serem implantados, objetivos a serem ampliados ou desejo de se atender a um público maior.

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Além disso, é preciso garantir o número de voluntários atuantes, pois as pessoas desgastam-se, têm novas preocupações ou oportunidades e, muitas vezes, surgem mudanças que impedem a continuidade de dedicação a uma determinada causa social. Finalmente, temos a saída natural após um longo período de serviços realizados. É compreensível e, até certo ponto, normal que os voluntários procurem “novas paradas”. Existem também tarefas que, por serem determinadas, extinguem-se ao serem cumpridas. Para alcançar essas pessoas, é preciso lançar mão de todos os instrumentos da comunicação. Vale fazer: • Propaganda na televisão, rádio, jornais, seja paga (se houver verbas), seja espaço conquistado (por releases, assessoria de imprensa); • Folhetos informativos, enviando-os a associações e entidades, públicas ou privadas; • Posters e materiais visuais chamativos; • Faixas de propaganda e o próprio “boca a boca”; • Redes sociais.

SEMPRE devem ser destacados: 1. O título do projeto de voluntários 2. Algumas frases sobre o serviço da instituição 3. O número de telefone e o contato para mais informações

Seleção A seleção de um voluntário é de extrema importância, pois não basta apenas receber as pessoas que se oferecem como voluntárias. É importante que, ao ser acolhida, essa pessoa, além de ter as suas motivações como voluntária atendidas, possa também atender às necessidades da entidade social. É preciso que a entidade social escolha um de seus colaboradores para realizar esse processo e que estejam claros quais os objetivos e tarefas a serem preenchidas pelos voluntários, facilitando assim a seleção.

A melhor maneira de conhecer uma pessoa é ouvindo e não falando, e com isto ter condições de avaliar o perfil do candidato, diminuindo a possibilidade de se selecionar voluntários apenas atendendo a aspectos pouco criteriosos e carregados de valor subjetivo, tais como: amabilidade, sociabilidade e desenvoltura.

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PRESTE ATENÇÃO! Um processo de seleção deficiente pode prejudicar outros voluntários ou causar problemas ao serviço das equipes profissionais e até aos beneficiários.

Importante saber: Ao apresentar com clareza as tarefas que os voluntários devem realizar, é possível que eles mesmos desistam no momento da seleção, o que resultará num ganho de tempo e energia para todos.

Caso o candidato a voluntário não atenda às expectativas, a entidade social deverá sentir-se tranquila para contraindicar candidatos que não preencham os requisitos preestabelecidos. É importante salientar que poderão se adaptar melhor em outros locais, em outras atividades, minimizando, assim, um problema maior. Por isso, esse retorno deverá ser feito de maneira simples e natural, sem constrangimento. 3.2 Segunda etapa: admissão, capacitação, integração Admissão O primeiro passo para a admissão é apresentar ao voluntário a Lei do Serviço Voluntário para que tome conhecimento de seus direitos e deveres, além do Termo de Adesão ao Serviço Voluntário, que equivale ao contrato de trabalho numa empresa. Esse documento deve ser assinado por ele no seu primeiro dia de trabalho voluntário. Deverá ser apresentado também o Regimento Interno, com orientações gerais, regras e normas. Capacitação Conforme o Manual de Procedimentos e Gestão Voluntariado do Mesa Brasil Sesc, “dentre os fatores importantes para o sucesso da equipe de voluntários, está a capacitação. Não só pelos motivos de torná-los aptos para o desempenho de tarefas, mas também porque um voluntário bem orientado e treinado é mais confiante, mais seguro e isto faz com que ele aproveite bem o seu tempo, tornando mais produtivas as suas horas de dedicação”. Quanto ao que informar ao voluntário, podemos citar: • Instituição: missão, objetivos e dados que permitam ao voluntário entender o que é e como funciona a instituição. • A função ou atividade que será desempenhada: trata-se de ensinar e treinar o que o voluntário irá exatamente fazer, podendo contar com voluntários mais experientes. Integração Com o propósito de preparar adequadamente os profissionais para acolher os voluntários, alguns pontos poderão ser trabalhados com eles previamente, como: • Os benefícios da participação voluntária para o público beneficiado, para a organização e para a comunidade; • Quais as atividades voluntárias serão desenvolvidas; • Quem será o responsável pela coordenação dos voluntários.

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A motivação dos funcionários de uma organização para trabalhar com voluntários pode ser mantida se o coordenador do voluntariado reforçar constantemente a importância do serviço do voluntário e fomentar a inter-relação e a participação entre os funcionários e os voluntários. 3.3 Terceira etapa: manutenção, reconhecimento, supervisão e avaliação Manutenção do voluntário Voluntários motivados e inspirados energizam uma organização. Os voluntários ficam motivados a mudar o mundo quando são tratados com flexibilidade e respeito. A motivação é o principal ponto, pois o voluntário não busca algo concreto ou material. Tratam-se de questões abstratas, como: • A satisfação de contribuir com a diminuição do sofrimento ou das injustiças; • A realização em trazer alegria ou contribuir com a autossuficiência de outras pessoas; • Sentir-se um agente transformador; • Sentir-se respeitado, visto com dignidade e como exemplo pelos demais. Assim como ele não recebe nada material em troca e não mede os esforços feitos com salários, o que o irá motivar são também coisas de ordem subjetiva: • Ver que está conquistando seus objetivos; • Sentir-se aceito, aprovado, valorizado; • Ser tratado com respeito, dignidade. Outras questões podem ser consideradas nesse processo, como: • Apresentar os resultados da organização, apontando sempre para o voluntário onde a sua participação fez a diferença; • Manter sempre o voluntário ocupado com atividades que sejam necessárias para a organização; Reconhecimento Conforme o Manual do Sesc, outro fator que é absolutamente importante para a manutenção da motivação é o sistema de reconhecimento. As necessidades por recompensas variam de pessoa para pessoa. Alguns necessitam mais do que outros da aprovação do seu serviço, porém, todas se sentem lisonjeadas quando, de alguma forma, o seu esforço é reconhecido. Mas nem toda forma de reconhecimento surte os mesmos efeitos nas pessoas. Alguns voluntários sentem-se melhor quando os seus esforços são valorizados num círculo restrito de colegas, no serviço ou na comunidade. Outros apreciam ver a sua história no informativo da instituição, servindo como exemplo para suscitar novas ações. Outros, ainda, gostam de se sentir elos de uma corrente, membros de um time, daí a valorização do serviço em equipe ser mais importante. Parte do sucesso da estratégia de valorização e reconhecimento é descobrir qual a maneira mais

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adequada de homenagear seus voluntários, sobretudo aqueles que realmente se destacaram, sem diminuir o serviço dos outros. Afinal, as políticas de reconhecimento e valorização devem servir como estímulo e não como instrumento de competição. Formas de valorização e reconhecimento: • Divulgação das ações do voluntário ou de determinadas equipes de voluntários nos veículos de comunicação da organização (boletins, murais, vídeos, jornais, revistas, intranet); • Indicação de voluntários para falarem com a imprensa; • Distribuição de pins e camisetas; • Envio de cartas de agradecimento assinadas pelo gestor da instituição; O reconhecimento deve ser: • Personalizado • Baseado nas necessidades e desejos do voluntário • Merecido • Imediato • Contínuo • Criativo • Inovador • Divertido • Variado • Focado • Amplamente divulgado Supervisão e avaliação A supervisão das atividades e a avaliação do desempenho apoiam-se, de modo geral, sobre os direitos e deveres do voluntário e deverão estar baseadas em critérios claros relacionados aos objetivos definidos no projeto de voluntariado. É sempre interessante dar oportunidade ao voluntário de fazer a sua autoavaliação, assim como de discutir e apresentar as suas contribuições acerca do processo de trabalho em espaços de reunião de equipe. Uma forma de gerenciar o voluntariado de modo a predefinir uma avaliação sistemática é optar por Termos de Adesão com prazo determinado. Estabelece-se um prazo e, no término deste, é realizada uma avaliação que poderá resultar em: • Renovação do contrato: as partes estão satisfeitas, o voluntário continuará a colaborar na mesma situação. • Renegociação da relação: a avaliação poderá determinar o estabelecimento de novas metas com prazo determinado para realização de nova avaliação, ou concluir pelo remanejamento do voluntário no próprio programa, ou ainda, por seu desligamento. Instrumentos sugeridos: Ficha de Avaliação Periódica do Voluntário Ficha de Autoavaliação do Serviço Voluntário

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3.4 Quarta etapa: remanejamento e desligamento Remanejamento do voluntário Se em algum momento o coordenador de voluntários entender que o voluntário será mais bem aproveitado em outra função ou que, para evitar algum tipo de conflito é melhor que ele seja posicionado em outra área ou atividade, deverá tratar o assunto com cautela.

Mas cuidado: - Consulte o voluntário sobre o assunto, expondo a necessidade da organização, pois a mudança não pode acontecer sem a concordância do voluntário; - Deixe claro que o remanejamento seja fruto exclusivamente da comparação entre as necessidades da função e o desempenho do voluntário, sem que para isso ocorram antipatias ou simpatias e outras manifestações de cunho pessoal.

Desligamento Uma das coisas difíceis de aceitar é que a relação de serviço voluntário acaba. O término da relação entre o voluntário e a organização social é uma etapa que não se pode ignorar, pois pode acontecer por motivos inerentes a ambas as partes e deverá ser visto com normalidade.

Desligamento pela Instituição Social O desgaste natural da relação ou o término da atividade desempenhada também pode culminar com o desligamento provisório ou definitivo do voluntário. Em todos os casos, mas principalmente neste, é importante que fique claro o motivo do afastamento do voluntário, para a manutenção de uma boa relação e talvez até um possível retorno. Caso o voluntário não se adapte a instituição, o melhor é ajudá-lo a perceber isso de um modo objetivo, sugerindo outras organizações ou um tipo de serviço voluntário mais apropriado suas capacidades.

Solicitação de Desligamento pelo Voluntário. Qualquer motivo alegado deve ser respeitado e aceito. Importante saber: • Recomendamos que o fim da relação entre o voluntário e a instituição aconteça de comum acordo, fazendo constar no Termo de Adesão uma anotação assinada por ambas as partes, referente a essa finalização da prestação do serviço voluntário. • Não se deve esquecer o agradecimento pela dedicação e pela contribuição dadas à organização. • Não é necessário a utilização de Termo de Desligamento/Desistência.

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Referências bibliográficas: DOMENEGHETTI, Ana Maria. Voluntariado. São Paulo: Esfera, 2001. SESC. Manual de Procedimentos e Gestão Voluntariado do Mesa Brasil Sesc / Cláudia Márcia Santos Barros (coordenação). Rio de Janeiro: Sesc, Departamento Nacional, 2007. SOBOLH, Telma. Voluntariado, a possibilidade da esperança: cenário do trabalho voluntário no Brasil. São Paulo: Sociedade Brasileira Israelita Brasileira, 2011.

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sesc-rs.com.br/acaosocial/voluntariado

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