Etc - Jornal A Nação

Parte Integrante de A NAÇÃO 358 -­ 10 a 16 de Julho de 2014 -­ Não pode ser vendido separadamente

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TEATRO

Jovens actores encantados com Márcio Meirelles

E2 Teatro

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Nº 358 | De 10 a 16 de Julho de 2014

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» Um espectáculo “estranho”, assim caracteriza o próprio encenador brasileiro, Márcio Meirelles, a peça “Em Defesa das Causas perdidas - Uma carta para D. Quixote”.

A peça, montada no quadro do projecto KCena 2014, teve a sua estreia nesta terça-feira, 8, no Centro Cultural do Mindelo. Na obra, a cidade do Mindelo transforma-se em “La Mancha” de 16 jovens que chamam atenção para os problemas que cercam a ilha do Monte Cara, Cabo verde e o mundo inteiro.

A

pLetícia Neves

peça é baseasa mais na ideia que os jovens, participantes do KCena 2014, tinham sobre a obra de Miguel Cervantes “Dom Quixote de La Mancha”, do que propriamente no livro em si, já que, como conta Márcio Meirelles, “nenhum dos alunos teve a coragem de ler o calhamaço”.

Então, o texto final acabou por ser o resultado da fusão de ideias do próprio Márcio com as dos actores da peça e ainda com fragmentos de textos de Mia Couto (Murar o medo), José Régio (Cântico Negro) e José Mário Branco (Mudar de vida) e de uma entrevista do primeiro-ministro, José Maria Neves a um jornal da praça.

Contou ainda com a colaboração de outros encenadores como Sérgio Rivero, Graeme Poulleyn e Vinícius Bustani.

Contudo, o resultado acabou por cair no agrado daquele veterano do teatro baiano, que acredita estar à frente de um género inédito de peça. Isso apesar de só ter tido 20 dias para criar, encenar, preparar os actores que, embora integrem outros grupos de teatro, ainda têm pouca experiência de estar em cena. “É um espectáculo estranho, diferente, porque não tem uma história que lhe dá corpo; tem fragmentos de histórias, fragmentos de personagens, mas a peça é o discurso em si. É a

Cenas dos ensaios

EM DEFESA DAS CAUSAS PERDIDAS

Márcio Meirelles en primeira vez que eu consegui montar um discurso, nem mesmo na minha Bahia eu o consegui fazer, sem precisar ter uma história para lhe dar suporte”, sublinha Márcio. Tudo isto durante cerca de 50 minutos.

Entretanto, “Em Defesa das Causas perdidas - Uma carta para D. Quixote” mantém uma marca de que Meirelles não abre mão em todos os seus trabalhos: o acompanhamento musical ao vivo, com temas originais. Neste caso, ao som de ritmos tipicamente cabo-verdianos, como tabanka, funaná, morna, sanjon e mazurca, sob a direcção musical de Ana Azevedo. “O texto faz parte do som e eu não consigo trabalhar sem música, e agora fiz questão de trazer ritmos cabo-verdianos”.

Quanto à outra parte, o texto apresenta-se como um “manifesto”. “ É um teatro docu-

mental de jovens que estão a ver o mundo de uma outra forma. Apelo à consciência de que tudo está como está e que precisa-se fazer algo para mudar as coisas”, diz.

Jovens conscientes Quanto ao elenco, os elementos mostram-se mais conscientes dos problemas da La Mancha criado, mas também do “monstro” que é Márcio Meirelles, diz Suzilene Andrade.

“Trabalhar com o Márcio é excelente, porque, apesar da vasta experiência, não é uma pessoa que impõe; quer ouvir-te, quer ver o que temos para dar. Tanto assim é que, no início ,estávamos meio perdidos, mas acabou por correr tudo sobre rodas; é bom saber que cada um de nós contribuiu para a elaboração do texto”, afirma

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Teatro E3

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Mais apoio ao teatro Um pouco incómodo do pelo facto de a peça estre-­ ar-­se só no dia 8 de Julho, por falta de espaço que es-­ tava sendo ocupado pelas festividades da comemo-­ ração da independência, o baiano Márcio Meirelles apela por mais incentivo ao teatro mindelense.

“A gente teve que con-­ viver com isso porque numa cidade como Min-­ delo, com cerca de 80 mil habitantes e com 18 gru-­ pos de teatro, o apoio que a própria cidade confere ao teatro é muito pouco.

Mas um país que está in-­ vestindo em turismo, tem que investir em cultura e teatro é uma dessas ver-­

tentes. Não é só a praia, não é só natureza, porque praias lindas, todo mundo tem. A cultura de São Vi-­ cente é só aqui”, desabafa o encenador.

Ele mesmo quer fazer a sua parte e afirma es-­ tar de portas abertas para acolher na sua escola de teatro “Vila Velha”, no Salvador da Bahia, Brasil, alunos de todos os cantos de Cabo Verde. Essa mes-­ ma escola que no próximo dia 31 de Julho comemora 50 anos de existência. A li-­ ás, para vir a Cabo Verde Márcio Meirelles abdicou um pouco do espectácu-­ lo que está a ser montado para essa comemoração.

O texto sendo criado por meirelles e os alunos

ncena um “outro” Quixote Suzilene, com elogios que se estendem também à peça. “É um espectáculo com mensagens fortes e nós queremos chamar a atenção para as causas que precisam ser melhor vistas. É um despertar”.

Já Yannick Fortes, que já tinha participado no KCena 2013, com Graeme Pulleyn, diz estar perante uma forma de trabalhar diferente. “Meirelles só trabalhou com o que lhe demos e é bom ver a evolução que se produziu durante esse tempo. O resultado ficou muito bom, porque a carta não é propriamente para D. Quixote, mas para a cidade de Mindelo, que é o nosso La Mancha”, sublinha este jovem, que afirma ver os problemas agora com outros olhos.

“A peça é algo diferente do que se tem visto e que eu tenha feito, mais um discurso em que

comunicamos o tempo todo com o público. Posso dizer que deixamos de ser tão egocêntricos para passar a reparar melhor nos problemas da sociedade”, confessa.

De referir que projeto K Cena 2014, Projeto Lusófono de Teatro Jovem, fez com que, durante dois anos consecutivos, a cidade do Mindelo recebesse dois grandes encenadores. No ano passado, o luso-britânico Graeme Pulleyn veio para montar PanDemónio, inspirado no universo de Peter Pan. Este ano, foi a vez de receber o baiano Márcio Meirelles, que estreou no dia 8 de Julho, no Centro Cultural do Mindelo, com jovens do Mindelo, a peça “Em Defesa das Causas Perdidas – Uma Carta para Dom Quixote”, espetáculo inspirado no universo da obra “Dom Quixote” de Miguel Cervantes.

Yannick Fortes acredita estar muito mais cosnciente dos problemas

Suzilene Andrade é só elogios para a peça com para o encenador