Flores no teu coração

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FICHA TÉCNICA Edição: edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro) Título: Flores no teu Coração Autor: Humbah Aguiar Arranjo de Capa: Patrícia Andrade Paginação: Nuno Almeida Revisão: Patrícia Espinha 1ª Edição Lisboa, Setembro 2016 ISBN: 978-989-8821-20-1 Depósito Legal: 405042/16 PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

www.sitiodolivro.pt

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Flores No Teu Coração

Dedicatória: Ao meu filho Gabriel Aguiar com amor e carinho, quando nasceste salvaste a minha vida. À Doutora Mimi D’Àlva, Milú Aguiar, Hodji Torres e à prima Felismina, por fazerem-me sentir amparado.

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Flores No Teu Coração

Prefácio

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A

o ler-se a poesia de Humbah Aguiar brota no leitor uma extraordinária carga de saudade, de amor e de encontro que nos prende a todos os seus poemas, traduzidos em imagens sensuais e objeto de desejo que brilham aos olhos do leitor. Reside nesta particularidade muito do encanto literário em apreço. A linguagem poética não carece de classificações, é universal na manifestação de pensamentos e na qualidade com que os eleitos da poesia a moldam. A descrição íntima da atmosfera amorosa que o poeta cria de forma admirável leva-nos ao clímax com este maravilhoso poema carregado de amor, de afeto e imaginação, onde o foco central é a mulher amada, e não foi por acaso que deu o título ao livro. O Poeta tem necessidade de amar, faz parte da sua natureza. Flores no teu coração1 Não deixes passar mais um verão/nem que o inverno endureça teu peito/porque o agricultor do teu coração/está aqui/sou eu. Sob esta forma de liberdade poética, o Poeta presenteia-nos com um poema de afeto e amor paternal, onde está bem explicito o sentimento que nutre pelo seu progenitor. Meu velho2

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Nunca me faltou um bom carinho de pai/Nunca me faltou com o seu abraço amigo. A poesia de Humbah Aguiar está fora dos trâmites clássicos. Neste livro, que é uma viagem de prazer constante de leitura, o poeta oferece-nos com a beleza dos seus poemas o patamar mais alto do amor, da saudade e do desejo, não caindo na poesia fácil. Não sou crítico literário, mas sim poeta, por isso olho para os seus versos com uma sensibilidade diferente de quem faz análise e crítica literária. Os poemas são belos e de grande sensibilidade. Realço estes versos: Vais sentir vibração,/no teu coração,/onde semearei flores. No poema Sonhei com a terra3, o poeta revela o sentimento que nutre pelo seu País. A minha terra/o meu país/ A minha terra/lá onde nasci/lá onde o sol nasce mais cedo. O poeta compõe em todos os seus versos uma paisagem interior vibrátil e oferece ao leitor uma química da escrita que se materializa na face dos seus poemas. Carlos Fernando Bondoso.

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A nossa história

A nossa história A minha história contigo, é longa. Neste momento, parece que nunca nos separámos.

Eu cheguei e foste a primeira que vi Eu sei, que fui o primeiro que viste Eu sorri e tu cabisbaixa também sorriste Eu disse-te que eras minha namorada Eu sei, não ouviste Leste-o no meu olhar E namorámos sem nos tocar Eu era teu e tu eras minha Nós nos protegíamos Em silêncio nos amámos. Com o tempo As nossas idades separaram-nos Tu namoraste outra pessoa, e sofreste Eu namorei outra pessoa e sofri. Agora, noutro mundo, noutro tempo, As nossas idades nos querem unir Lembramo-nos de nós.

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Quando eu te procurei Tu deixaste-te encontrar E as nossas frases são desculpas. O que destino separou, agora uniu. Fazendo com que os nossos corações, não se controlem e chorem de emoções. Esta história, ao parecer romance, ela, em si, é realidade. Não sendo inventada, Ela, em si, é o nosso amor de verdade. S.Tomé, 1995 Ao nosso amor...

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Era apenas uma criança

Mãe, eu era só uma criança.

Embora agisse como adulto, eu ainda era criança. Cheio de esperança, eu tentava desvendar o mundo dos adultos, mas eu era só uma criança. Quando as mães d’outras crianças, dão-lhes beijinhos, é nessa hora que eu me sinto sozinho, sem o teu carinho... Eu era apenas uma criança. Eu nunca compreendi, porque é que você não está aqui comigo. Eu nunca compreendi, porque é que eu não estou aí contigo... Mãe, eu era só uma criança. Era apenas uma criança. Lisboa, 1997 À minha Mãe.

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Essa terra minha

Quando construíres arranha-céus, quando tiveres construído autoestradas e metros; Fabricas, fumaças para o meu céu, detritos para o meu rio, para o meu mar. Então, essa terra já não será minha.

Já não haverá nos céus da minha terra papagaios e falcões, já não haverá nas estradas do meu lucham4 crianças jogando o jogo’garrafa. Já não o sabor do konkón5, já não haverá camarão izê. Não haverá peixinhos com fruta-pão, macacos e javalis, porque não haverá ôbôs6. Quando o mar, o rio forem lembrança, peixes criados em cativeiros, papagaios em jaulas, as crianças deixarem de fazer bola-de-trapo, carro de arame, fisgas e jogarem videogames,  Vilas.   Peixe muito saboreado pelos são-tomenses. 6   Floresta virgem. 4 5

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Aí, essa terra não será mais minha Será tua, essa terra minha. Quando as pessoas deixarem de dormir nuas, deixarem de dormir à sombra das bananeiras, e o clima for do ar-condicionado. Quando as nossas mães deixarem de: De fazer dos rios tanques de roupa, de cozinhar no fogão a lenha, aquela comida, já não será minha. Será tua, essa comida minha. Quando vestirem alta-costura, só ouvirem ópera Dançarem valsas e tangos, e os batuques se calarem. Essa gente não será minha, essa terra não será minha. Essa terra minha, toda tua. Nem flores, nem pedras sol, chuva mar, terra vento, ar.

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Nem gente, nem bicho Nem céu, nem lua. Será tudo teu. Eu não serei eu. Essa terra toda minha, já não minha, será, toda tua. Lisboa, 02-04-1997

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Ausência Quatro e meia da manhã, penso o sol não ter nascido nem o galo ter cantado. Na aurora, as orvalhadas das flores se assemelham às minhas lágrimas, que não temem em cair pelas flores como cristais, que deslizam pelo meu rosto. Choro em silêncio a tua ausência, numa saudade atormentada e sem esperança. Perco-me nas lágrimas como perdem as folhas as orvalhadas ao chão. Cada gota que cai perfura-me o coração, como na tua cirurgia as agulhas, deixando em mim um vazio em chagas. Peço ao dia que não nasça Peço à noite que permaneça escura, quão escura está a minha alma. Quando não me obedecem, sou escuridão que anda de dia e morte que vagueia na noite.

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Quem me dera ter ido pra onde foste, no mesmo dia e hora em que foste. Só assim, talvez, pudesse estar contigo. Agora, a minha cobardia me faz duvidar, se te encontrarei. Pior que moribundo que sou, era procurar-te e não te encontrar. Então permaneço aqui, sem forças para sair, sem ânimo para ficar. Lisboa, 2005 Tenho saudade tuas, Pai.

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Meu velho Nunca me faltou um bom carinho de pai Nunca me faltou o seu abraço amigo. Meu pai foi minha mãe Meu pai foi meu irmão O meu melhor amigo nas horas difíceis. Filho, se queres ser respeitado, tens que estudar. Não dês ao mundo a maldade que ele te dá. Luta, luta e luta... Unidos e fortes, até ao final... O velho às vezes era duro, puxava do cinto e dava o corretivo que ele achava certo. Depois se escondia no quarto e eu via as lágrimas nos olhos se esforçarem pra não caírem. E aí era eu, que abraçava meu velho... Nunca me faltou um bom carinho de pai Nunca me faltou o seu abraço amigo.

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Meu pai foi minha mãe Meu pai foi meu irmão O meu melhor amigo, nas horas difíceis. Lisboa, 2005 Queria agora poder agradecer-te, como um dia me disseste que sentiria essa mesma necessidade.

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Flores No Teu Coração

Ná méndu solê fá

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Bô ça ku méndu, ku méndu di bila solê, magi bô pô na méndu di bila solê. Pund’un ça ku bô, tlentlú kloçom buê, bô ça kuami ni lemblança Xi bô ça xtlada Libôguê Kaminhá fiô kôKô. Na tê méndu fá, pund’un ça ku bô Bô pô na piá mu fá, magi un ça ku bô, tlentlú kloçom buê. Un ça ku bô, bô ça kuami ni lemblança Nê motxi, nê aúa matu, ka blagâ lemblança sé, ku bô tê gimu. Nê motxi. Pund’un ça ku bô, tlentlú kloçom buê. Bô ça cuami, ni lemblança

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Tradução para Português na página 21. :: 19 ::

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