Disse muitas palavras ao longo da minha vida, mas falta-me aquela que paira dentro de mim. É essa que eu quero dizer, que quero perceber, que intento descobrir…, mas as letras escapam e escondem-se e nunca as consigo juntar para formar a palavra que procuro.
Assim me vou inventando e reinventando, a ver se engano a palavra e a apanho distraída. Ando nisso há muitos anos, como garimpeiro frenético pesquisando ouro ou diamantes, insistindo uma e outra vez, fracasso atrás de fracasso, mas nunca desistindo.
O garimpeiro acredita atá à loucura. Pode ser que a gema lhe caia um dia nas mãos febris ou que a pepita amarela cintile, deslumbrante, entre o odiado entulho que o tem enlouquecido te tanto escavar e esgaravatar com as unhas gastas e os dedos em carne viva.
Cada risco, cada linha, cada letra… lavradas sobre a concessão do papel, afigura-se com esse mítico sertão que a pena, qual picareta em riste, procura ferir com mestria, à espera de encontrar a palavra diamante ou ouro...