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Vivendo a cultura da reciprocidade

encontro Nacional do vides Brasil

realizou-se no dia 28 de maio de 2022 em modalidade on-line, o Encontro Nacional VIDES BRASIL, em preparação ao XII Congresso Internacional VIDES com o tema: “VIDES – Cultura de Reciprocidade – Fundamentos da Casa Comum e Jovens Protagonistas da Mudança”. O encontro contou com a participação dos palestrantes Altemar Socorro Rocha, Mestra em Educação e Gestora Pedagógica, Eduardo Mariano, Administrador e Fundador do Exchange do Bem, Ex-aluno de Uruguaiana e Roberto Malvezzi, Assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica –REPAM. Como Moderadora da Mesa, a Prof.ª Dr.ª Giseli do Prado Siqueira e como Apresentadora do evento, a Ex-Aluna Salesiana Isadora Lina Prudente Pinto.

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Altemar Socorro Rocha iniciou sua fala trazendo alguns conceitos e definição da expressão “Cultura da Reciprocidade”. A reciprocidade é uma particularidade de enorme valor na sociedade porque, de acordo com a psicologia social, as relações mútuas contribuem para a conservação de normas sociais. O conceito de reciprocidade está presente em várias culturas e religiões e é apresentada como uma norma imprescindível para uma convivência saudável. A reciprocidade é essencial para a definição das normas morais e éticas que orientam nossas ações. O princípio da reciprocidade é o que determina a chamada Regra de Ouro: “não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você”. Na sequência, pontuou e desenvolveu os seguintes itens: reciprocidade: acordos de cooperação, essencial para a qualidade das relações, o cuidado dos próprios interesses e os do próximo. Mencionou, com muita proprie- dade, a Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, e trabalhou a dimensão da ecologia Integral: “tudo está interligado”. O ser humano não está dissociado da Terra, da Natureza. Cuidar da natureza é cuidar do homem. A relação deve ser de respeito e glória para ambos. Relação mútua entre homem e natureza: o homem oferece o cuidado da natureza para poder usufruir da matéria-prima ofertada. Quais são os apelos que hoje nossos irmãos nos pedem? É necessário assumirmos uma relação de cuidado, de reciprocidade. Ressaltou a necessidade da formação das juventudes com mais consciência do seu papel ético e de cidadão na comunidade. Formar jovens protagonistas para essa mudança de mentalidade. Como me comprometo com os projetos de mudanças, com as redes de cooperação? Hoje, na contemporaneidade, como educar (me educar) para a reciprocidade, complementaridade? E concluiu: é necessário não ficar somente no “diagnóstico”, nas palavras. É necessário agir! Que as pessoas falem, escutem, mas, sobretudo, se proponham agir, respeitando as diferenças, porém, oferecendo à sociedade o que cada um tem de melhor.

Eduardo Mariano abordou o tema “Jovens, Protagonistas da Mudança”, trazendo a cosmovisão de sua experiência pessoal: memórias de sua juventude, etapa estudando em escola salesiana, onde havia sempre o incentivo para o voluntariado por meio de gincanas e atividades diversas. Iniciou sua carreira no mercado financeiro, e achou que tinha encontrado seu objetivo de vida. Porém, ao visitar o Nepal como voluntário, passou a enxergar uma outra perspectiva de vida: querer fazer do mundo um lugar melhor. Tal decisão o fez repensar a própria carreira e seguir no ramo do voluntariado. Tentou ingressar na UNICEF e em órgãos da ONU, mas, sem sucesso. Revendo sua trajetória de vida chegou à seguinte conclusão: como estimular outras pessoas? Como ajudar mais pessoas? Busca de um propósito maior de vida. Assim, ele criou a Exchange do Bem, uma empresa social que tem o objetivo de conectar voluntários a projetos sociais no mundo. Visitam os projetos para saber se é um bom ambiente para receber os voluntários, suas necessidades, suas diferenças culturais. Plataforma de formação de voluntários. Empresa social, “agência de viagem” que associa a prática de voluntariado em 16 países. Partilhou que, a partir de sua experiência pessoal, passando por crise existencial, teve a possibilidade de mudar sua trajetória, aproximando pessoas a novas experiências sociais, culturais, estimulando, assim, a mudança do mundo. Na sua conclusão disse que não basta somente perceber as mazelas da vida, viver reclamando, é necessário fazer mais. E pode ser algo simples! Essa questão é “responsabilidade de todos nós para vivermos em um mundo melhor”. Portanto, é importante o envolvimento da família, da cultura do entorno, para o estímulo do protagonismo. O jovem é despertado e precisa ter apoio para seguir com as propostas de mudança. O palestrante levantou a reflexão de que as pessoas não precisam jogar a responsabilidade para os outros. Podemos nós mesmos nos comprometer e fazer mais. Ele também ressaltou a importância da figura dos pais como incentivadores para o voluntariado, reforçando que no Brasil essa cultura não é bem desenvolvida.

Roberto Malvezzi iniciou o tema “Fundamento da Casa Comum” relatando que se deparou com a realidade na medida em que adentrou o interior do nordeste. Ali, a Diocese fazia o possível para melhorar a situação do povo, mas muitas mazelas eram comuns, como o difícil acesso à água potável. Isso o levou a estudar formas para melhorar a Casa Comum e destacou a necessidade de a Igreja abraçar a questão ambiental. Fez referência a alguns pensamentos do Papa Francisco em relação ao diálogo com os Povos Indígenas e Ribeirinhos. Ele conta que, em determinado momento de discussão com esses povos, abordando sobre a Ecologia Integral e a necessidade de conexão com a natureza, um dos jovens presentes levantou uma reflexão de extrema relevância: “isso é muito importante para os que são brancos. Nós já vivemos assim. Para vocês, cada um tem uma alma. Para nós, indígenas, não. Para nós existe uma grande alma, que está presente em cada ser. Eu não posso derrubar uma árvore, pois se eu derrubá-la, estou derrubando minha irmã. Se eu precisar derrubar tenho que pedir desculpas e me comprometer de plantar outra em seu lugar. A reciprocidade é isso: o compromisso pessoal de ajudar a refazer o que ajudei a destruir”. Para os povos originários isso é natural. Atualmente as questões ambientais são tão óbvias que passam despercebidas. Pessoas se preocupam com dinheiro, com estudo, trabalho, mas não se lembram de se preocupar com o meio ambiente. Uma outra dimensão de sua fala versou sobre o relato de experiências de vida, o despertar da Igreja para a necessidade do cuidado ecológico, assim como as perspectivas diferentes do meio ambiente: visão indígena, imersão cultural que leva à necessidade de adaptação. Neste sentido Roberto pontuou com bastante propriedade: estamos acostumados a viver e não questionar sobre as relações estabelecidas com o meio ambiente. É necessário despertar para a cultura da reciprocidade, estimulando a prática desses debates no ambiente escolar, como também provocar reflexões contínuas das relações dos homens entre si, com a natureza, com a cultura.

Os palestrantes foram questionados sobre o que impede e o que favorece a educação para a cultura da reciprocidade. Diversos pontos foram colocados como o problema da falta de humildade e responsabilidade em lidar com o outro, com o diferente, a necessidade de entender que constantemente estamos em relações de dois ou mais elementos. Entender que somos um dos elementos na relação – não o único – que fazemos parte de um todo. A cultura da solidariedade, mesmo que seja inata, precisa ser trabalhada. Quando nos organizamos em grupos ou equipes, nosso alcance é muito maior. A solidariedade está na natureza, da mesma forma que a competição. Estimular a solidariedade é um desafio, uma cultura a ser trabalhada. Em seguida, o debate contribuiu com a reflexão sobre a transformação da realidade. Começar, propor e desafiar foram os verbos escolhidos pelos participantes ao colocarem seus pontos de vista. O palestrante Eduardo afirmou que muitas pessoas perguntavam, traziam ideias grandiosas, mas difíceis de serem executadas rapidamente, o que desanima. Começar seria o ponto chave. No dia a dia existem diversas oportunidades de colocar-se em ação, e aos poucos desenvolver melhor as grandes ideias. Para Altemar, a transformação da realidade vem pelo propor. Propor projetos e incentivar a participação dos jovens, e ter coragem de se colocar a serviço. Já Roberto levantou o “desafiar”. Segundo ele, na tarefa educativa, o desafiar, o questionar é fundamental.

A roda de conversa está disponível no Youtube, no Canal da Inspetoria Nossa Senhora Aparecida (https://www.youtube.com/ watch?v=tpfVhorpC3w)