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Agricultura regenerativa

AGRICULTURA REGENERATIVA | PASTAGENS DEL SOL AL SUELDO 15 MESES DEPOIS

CONDICIONADO PELAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DA SUA EXPLORAÇÃO, MARCADAS POR VERÕES EXTREMAMENTE SECOS E PROLONGADOS E PELA ESCASSEZ DE CHUVA, MANUEL DIE DEFENDE A IMPORTÂNCIA DE MANTER O SOLO COBERTO DE VERÃO PARA CONSEGUIR REGENERAR AS PASTAGENS. 15 MESES DEPOIS DE O TERMOS ENTREVISTADO, FALOU-NOS SOBRE NOVAS ESTRATÉGIAS PARA CONTORNAR AS DIFICULDADES INERENTES À "TREMENDA SAZONALIDADE NA QUALIDADE E QUANTIDADE DOS PASTOS."

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Por André Antunes, agricultor e médico veterinário; Ruminantes | Fotos FG

Voltámos a falar com Manuel Die, veterinário criador de bovinos de carne em regime extensivo na Herdade de vale do Grou, em Campo Maior. Passados 15 meses da última entrevista (Ruminantes nº39, outubro de 2020), quisemos saber como tem evoluído o negócio e a regeneração das pastagens.

Que descobertas tem feito e que estratégias têm resultado melhor na busca por estabelecer espécies perenes nas pastagens naturais da herdade?

O que tenho verificado é que, na maioria dos casos, a pauta de pastoreios que é usada para as anuais não é suficiente para as perenes se instalarem. É necessário um período de repouso do pastoreio substancialmente mais longo para aparecerem de forma espontânea e, depois, igualmente longos períodos para a manutenção. Tenho algumas zonas que estiveram em repouso quase dois anos, pelo menos duas primaveras, e foi aí que tive melhores resultados. Noutras zonas, seis meses de repouso não foram suficientes para a instalação. Pelo menos, é isso que indicam as minhas experiências.

Em relação à manutenção de cobertura ou resíduo, durante o Verão, para proteger o solo. O que opina?

O ideal é que exista cobertura do solo no verão, para diminuir a temperatura junto ao solo e reduzir a evaporação. É um tema complicado, por exemplo, por vezes

o pasto de cobertura tombado também acaba por limitar o primeiro crescimento outonal. Pensando nas perenes, sim, é sempre bom ter um bom "chapéu" durante o verão.

Pensa fazer uma experiência nova no próximo verão que consiste na implantação de uma cultura de cobertura por sementeira direta tardia, com o objetivo de melhoramento dos solos e apoio à instalação de perenes. Em que consiste?

Sim, a ideia é atrasar a sementeira para evitar a concorrência inicial com as anuais nativas e apoiar a instalação com rega nas fases iniciais, já que nessa altura (maio-junho) as condições de humidade e temperatura não possibilitam a instalação em sequeiro puro.

Tem feito um esforço grande para a comercialização de carne de vitela, o que não é muito comum no Sul de Portugal. O que o levou a tomar essa decisão?

A produção de carne de vitela está mais adaptada às nossas condições. Isso tem a ver com a dificuldade de engordar os animais com erva, dada a tremenda sazonalidade na quantidade e qualidade dos pastos. Para uma engorda de qualidade é necessária alguma estabilidade ao longo do ano na produção forrageira e, aqui, essa relação só existe do final do inverno até ao início do verão. Uma forma de dar a volta a isso é ter um período de abate curto, em que se sacrificam animais com pouco peso - a vitela após desmame ou com desmame um pouco mais tardio - animais jovens, portanto. Para que produtores, como eu, não tenham de passar por processos de engorda complicados, passase diretamente da cria para a mesa. Deste modo evita recorrer-se a fatores externos como feno, silagem, concentrados ou movimentações dos animais para pastos melhores.

Fale-nos do projeto de transumância em Burgos. Como surgiu a ideia?

A ideia surgiu de modo a poder descansar os pastos dos animais no verão e aproveitar zonas de melhores pastos no Norte da Península - neste caso uma mata de carvalhos de utilidade pública que necessita muito do impacto animal. É uma parceria com a alcaldia de Agés. O maior custo envolvido é o transporte. A primeira fase do projeto está já em curso e consiste no estabelecimento de uma manada de animais rústicos adaptados. Depois, começaremos a fazer a transumância. Agora tenho lá cerca de 80 animais. Em junho partirão animais daqui para lá, que voltarão em outubro/novembro. Adicionalmente ao descanso de pastos no verão, aqui a ideia é atrasar o início do pastoreio no outono, evitando o risco de sobrepastoreio quando tudo está a nascer.

Porque escolheu a raça asturiana Casina?

Por ser uma raça de montanha, pequena, precoce e muito rústica. Além disso, são animais mansos de maneio fácil. A ideia é depois cruzá-los com a minha manada de Aberdeen-Angus x Mertolenga. Pretendo, no futuro próximo, fechar a minha vacada a genética externa e começar a selecionar só a partir de dentro.

Excelente trabalho! Obrigado e até breve! Boa sorte no caminho da regeneração!

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