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Genética | Ovinos de carne

ENTREVISTA A UM PRODUTOR DE BERRICHON DU CHER UMA RAÇA COM FORTE APTIDÃO MATERNAL

HÁ CINCO ANOS, NUNO LOBINHO DECIDIU INVESTIR NUM REBANHO PURO DE BERRICHON DU CHER PARA VENDER COMO GENÉTICA. NA SUA EXPLORAÇÃO, SITUADA EM BARRO BRANCO, CONCELHO DE BORBA, TEM ATUALMENTE 40 FÊMEAS E 4 MACHOS EM REGIME EXTENSIVO PERMANENTE QUE VENDE AO DESMAME ENTRE OS 3 OS 4 MESES DE IDADE. Por RUMINANTES Fotos FG

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Nos próximos anos tenho as encomendas preenchidas, diz-nos Nuno Lobinho. Há cinco anos decidiu introduzir um rebanho de ovelhas Berrichon, sem grandes certezas, pois só tinha tido contacto com a raça na exploração dum criador vizinho e pela internet. Os animais que vende são essencialmente para cruzamentos industriais. “São vendidos ao desmame por volta dos 3,5-4 meses, se eu tivesse mais área, e mais tempo, tinha só reprodutores para vender numa idade mais avançada.”

Para onde vende os animais?

Atualmente vendo para o Alentejo em particular para Mértola, Espanha, e tenho as próximas encomendas para os Açores.

Porque se tornou criador de genética e não de carne?

Já tive outras raças para obter machos e fêmeas puras para genética, e não se adaptaram bem. Vi a Berrichon Du Cher e gostei muito da morfologia. Comprei os primeiros animais em Espanha, mas depois optámos por ir a França, com outros criadores, onde existem as linhas que achámos mais adequadas trazer para Portugal. Lá, comprei 10 fêmeas e 2 machos numa primeira vez, e depois outras 10 fêmeas e outro macho também da mesma casa. Foi nas visitas a França que percebemos a importância da parte maternal, além da cárnica. Como eles dizem “Num país onde não houver uma boa linha maternal, é escusado introduzirem animais só com aptidão cárnica.”

Porque escolheu esta raça?

Por várias razões: a aptidão maternal, a adaptação ao clima, a facilidade de partos, o tamanho dos borregos à nascença e o seu desenvolvimento. São animais que não necessitam de estar estabulados, tanto podem estar em produção intensiva como extensiva. Têm uma boa adaptabilidade às nossas condições. Nesta parcela, por exemplo, o grande problema de verão são os picos, mas passo com o corta-matos e elas comem tudo.

Nuno Lobinho (com a sua filha) confia o trabalho de pastoreio aos seus 6 cães Border Collie.

Como seleciona os seus animais?

Sobretudo pela parte maternal (partos duplos, qualidades maternais, peso ao desmame). Temos que ter animais mais corpulentos à vista, mas eu sou mais apologista da linha maternal. Como só introduzo a ração aos borregos aos 30-31 dias, peso os borregos aos 30 dias e avalio a aptidão leiteira das mães.

Quantos partos tem por ano?

Já tive 3 em 2 anos. Atualmente tenho 1 por ano: um lote vai parir em janeiro e o outro em março. Divido em 2 períodos porque vou repescar as ovelhas que não ficaram prenhes à primeira cobrição, o que não tem acontecido com frequência porque a fecundidade tem sido boa. Tenho os carneiros sempre separados. Quando os junto com as ovelhas há o efeito do macho e a sincronização dos cios. Antes de os introduzir desparasitoos. Se for uma altura em que há menos comida, dou-lhes um alimento com mais energia e proteína para fazer o flushing cerca de 8 ou 12 dias antes e vitaminas AD3E.

Compra sempre os reprodutores em França?

Sim. Normalmente faço uma seleção dos meus, com o cuidado de não haver consanguinidade.

E as fêmeas?

Já comprei muitas fora, mas agora quero começar a ficar com algumas.

Quando compra os carneiros, que fatores procura?

Prefiro animais de linha maternal e reparo na morfologia — não quero carneiros que tenham os ossos muito grossos —, prefiro-os longilíneos e com cabeças mais pequenas para evitar problemas de parto. Nunca tive problemas a esse nível, são animais que parem e ficam logo no campo, principalmente se o tempo estiver bom, mesmo se forem partos duplos. Prefiro fêmeas de partos duplos e olho também aos ganhos médios diários e ao peso ao desmame.

Como comercializa os seus animais?

Já vendi para Espanha, mas hoje em dia a procura no nosso país é tanta que, por agora, quero vender cá para divulgar mais a raça e arranjar mais criadores. Quero que se sintam tão satisfeitos como eu.

O seu cliente habitual compra os animais para cruzamento industrial ou para genética?

Tenho muita gente interessada em fêmeas, para genética e para fazer efetivos, mas também tenho muitos criadores que têm outras raças e compram só machos para pôr nas explorações porque adaptam-se bem e não causam problemas de parto. Além disso, o Berrichon Du Cher, como deriva de uma raça Merina, adapta-se muito bem ao extensivo, pode andar como uma Merina sem problemas.

Como é o maneio alimentar?

Baseia-se no pastoreio e nos fenos. Compro feno, 12 fardos grandes por ano de boa qualidade e têm chegado para o ano todo. Não dou ração, exceto na altura antes dos partos e na iniciação dos borregos após a avaliação aos 30 dias. Estes animais estão sempre com a cara na terra, deixam tudo limpo, são pouco selectivos.

Já pensou em fazer presunto de borrego?

Tenho isso em perspetiva, com o Berrichon Du Cher ou com animais cruzados.

Qual o valor de partida para um animal puro desta raça?

Depende muito. Há animais destes que chegam a valer quase 10.000 euros. Eu também já fiz a experiência de deixar animais até aos 8 meses e depois vendê-los mais caros (600 a 700 euros).

Para mais informações, contacte: Nuno Lobinho | Email: nunolobinho @sapo.pt Tel. 965 450 333

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