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O que está na boca do povo

Conhecidos como pod ou vape, os cigarros eletrônicos tornaram-se os queridinhos dos jovens

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Quando o farmacêutico chinês Hon Lik desenvolveu o primeiro cigarro eletrônico comerciável, em 2003, certamente não imaginaria que quase duas décadas depois o dispositivo, de 5 a 10 cm, seria tão popular e motivo de debates. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), os cigarros eletrônicos, semelhantes a uma caneta, são compostos por diferentes concentrações de nicotina - substância que leva de 7 a 19 segundos para atingir o cérebro -, aromatizantes e demais compostos químicos. Sua tecnologia está entre a bateria, o atomizador e, em alguns casos, num painel de controle para fazer algumas configurações.

Concebidos sob a premissa de ajudar as pessoas a parar de fumar, um recente estudo contradiz a alegação. Publicado na revista científica Plos One, o artigo “Role of e-cigarettes and pharmacotherapy during attempts to quit cigarette smoking: The PATH Study 2013-16” (Papel dos cigarros eletrônicos e da far- les que usaram outro método, ou nenhum, foram semelhantes.

De acordo com o “Relatório Covitel”, realizado pela Vital Strategies em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), um em cada cinco jovens brasileiros de 18 a 24 anos, usa cigarros eletrônicos, ou seja, 19,7%.

Antonio Cecílio Neto, estudante universitário, conta que, no seu entorno, fumar sempre foi um ato muito comum. Fumante desde os 16 anos, Antonio migrou do cigarro tradicional para o cigarro eletrônico por achá-lo mais agradável: “Quando surgiu [o cigarro eletrônico], a informação era de que ele era bem melhor do que o cigarro tradicional. Se era ou não, não sei, mas pelo menos não é fedido e é muito mais agradável que o cigarro tradicional.”

No meio universitário, Antonio acredita que o dispositivo ganhou de vez os jovens devido ao autojulgamento. “[O cigarro tradicional] tem toda aquela visão de ser uma coisa ruim, foram neurobiológico da nicotina. Segundo ela, não é exatamente uma sensação de alívio e relaxamento que a substância provoca, mas sim os dois processos que nos ajudam a entender o motivo dessa impressão. macoterapia durante as tentativas de parar de fumar: The PATH Study 2013-16), revelou que dos 2.770 fumantes acompanhados pela pesquisa, 1/4 usava o cigarro eletrônico como método para parar de fumar. Questionados se conseguiram abandonar o vício por meio do cigarro eletrônico, 9,6% dos usuários relataram sofrer abstinência do cigarro. Além disso, as taxas entre eles e aque- anos e anos de campanha contra. O pod não. Está começando agora as campanhas de alerta, assim, as pessoas não se julgam.” Para ele, a rotina agitada e estressante das universidades, faz que o uso do cigarro eletrônico propicie grande alívio e relaxamento.

Anna Carolina Ramos, professora de psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), detalha o funcionamento

O primeiro está relacionado ao foco: “Quando as pessoas preisam realizar alguma tarefa, mas estão dispersas ou cansadas, fazem uso de alguma substância para conseguir desempenhar tal tarefa”, relata a professora. O segundo está relacionado ao alívio da síndrome de abstinência da própria nicotina. Isso significa ue, ao as pessoas fazem uso contínuo dela e, posteriormente, param por um tempo, passam a sentir muita vontade de retornar para a nicotina - o que é normal. A falta da substância desencadeia reações ansiosas no corpo e, quando a ultiliza novamente, a falta é “corrigida”.

Em momentos estressantes, como períodos de provas, é o cigarro eletrônico que mais faz companhia para Antonio: “O estresse é, com certeza, algo que me faz fumar muito mais.”

Para Hugo Palhares, psicólogo que atua na área analítica comportamental, geralmente as pessoas se conectam a uma substância que proporcionará alguma melhora no aspecto cognitivo delas. Dessa forma, a droga, no caso a nicotina, traz uma certa segurança. No entanto, quanto mais rápido esse efeito passa, mais você vai querer usar, porque as pessoas aprendem que é aquilo que oferece alívio. “Se o efeito fosse prolongado, as pessoas não teriam tanta vontade de continuar utilizando. Como no cigarro, em 10 minutos passa o efeito e [a pessoa] tem que fumar novamente, vai criando uma relação de dependência muito maior. Quanto mais vezes somos expostos, mais nosso corpo aprende sobre o processo.” Com venda e importação proibida no Brasil desde 2009 pela ANVISA, o dispositivo - alvo de inúmeros estudos mundo aforareacende um velho problema do país: o hábito de fumar. Ciente dos possíveis efeitos que o uso do cigarro eletrônico pode causar aos fumantes, Antonio compreende a importância da fiscalização e a informação correta sobre o uso dele. "O vício não é fácil, a vontade de fumar é como sentir fome. Temos que levar informação para as pessoas que têm esse vício e mostrá-las como isso pode ser prejudicial.” 