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Com que roupa eu vou?

Em ano de Eleições e Copa do Mundo, usar a camisa da Seleção Brasileira vira dilema

POR PEDRO BUENO

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representação de patriotismo. Apoiador do movimento conservador, desde criança considera o uniforme um ícone patriota, assim como o ato de hastear a bandeira e cantar o Hino Nacional nas escolas. “Uso a camisa da Seleção Brasileira e outros símbolos por amor ao país, mesmo tendo abandonado o futebol porquetudoviroucomércio”.

Já Julia Stocco, estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFU, se posiciona contra o atual presidente da República. Desde 2018, ela tem evitado usar a camisa amarela e prefereouniformeazuloubrancoparaaépoca da Copa do Mundo. “Eu sou do Mato Grosso e lá o conservadorismo é predominante. Você vai ao mercado e vê pessoas com a camisa da Seleção com nome de político. Eu não querocorreroriscodesermalvista”,afirma.

Desde 1998, dois eventos que movimentam a sociedade brasileira são realizados no mesmo ano. As últimas seis edições da Copa do Mundo ocorreram menos de quatro meses antes das Eleições Presidenciais. Já o mundial de 2022, realizado no Qatar a partir de 21 de novembro, será depois das eleições, que acontecememoutubro.

A escolha do presidente da República e a possibilidade do hexacampeonato são conectadosporumobjeto:acamisaamareladaSeleção Brasileira. O futebol brasileiro é conhecido ao redor do mundo pela 'amarelinha', que faz parte do Brasil desde a década de 1950, após o famoso Maracanazo. No atual cenário nacional, ganhou outro sentido: o fortalecimento do movimentoconservador.

A conexão da política com o esporte teve o seu auge em território brasileiro durante a Ditadura Civil-Militar. Depois do Golpe de 1964 e a criação do AI-5, em 1968, o país vivia um dos momentos mais conturbados da história. Em 1970, a seleção conquistou o tricampeonato mundial. Naquela época, a vitória do time foi usada para promover o governo, sendo vista como alienação pela elite intelectual epelosmovimentosdeesquerda.

O jornalista e historiador do futebol, Celso Unzelte, afirma que essa estratégia é usada em vários contextos políticos, em todo o mundo: “A Alemanha, por exemplo, quando sediou a Copa de 1974, ainda estava marcada pela Segunda Guerra Mundial e as pessoas tinham muito mais medo de demonstrar publicamente os símbolos nacionais do que em 2006,quandoopaísvoltouasersede”.

Usar ou não a camisa da Seleção Brasileira?

O eletricista Oracil Fagundes não pretende acompanhar a Copa do Mundo, mas vê os símbolos brasileiros como uma importante

Apesar de compartilhar o mesmo posicionamento político, Glauco Júnior, graduando em Engenharia Civil na UFU, tem uma opinião diferente em relação ao uniforme. Movido pela paixão pelo futebol, ele se nega a abandonar o símbolo e segue usando a amarelinha: “As cores estão relacionadas, primeiro, ao nosso hino, e não a qualquer candidato, conjunturaoupartido”.

Se reapropriar dos símbolos nacionais tem sido uma das preocupações das alas progressistas no Brasil. Para o representante do movimento da Juventude do PT, Lucas Piaia, essa reflexão não pode ficar restrita apenas aos períodos eleitorais ou de Copa do Mundo. “Contamos comoapoiodeumapartedasociedade, o que mostra que existe espaço para, desde já, começarmos a fazer o resgate de símbolos,comoacamisaamarela”.

Seja por paixão, convicções políticas ou ritos supersticiosos, a amarelinha carrega diversos significados que extrapolam grupos e gerações. Para Celso, resgatar a camisa amarela como um símbolo de todos os brasileiros é uma questão temporal: “Na minha infância, eu tinha uma certa rejeição dos símbolos que haviam sido apropriados pelo governo ditatorial. Isso, depois, foi ressignificado, assim comoaconteceucomaAlemanha”. 