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Pé na estrada, terço na mão

Tempos difíceis de se escrever sobre qualquer coisa, mas tentaremos trazer conforto para nossa comunidade. Recentemente, visitei Oujda (Marrocos) numa missão humanitária. Devo admitir que não fui a missa, mas em um dia que sai mais cedo do hospital, fui caminhar pelo mercado da cidade com os demais voluntários da ONG. Todos queriam procurar lembrancinhas da cidade e presentes para seus familiares como qualquer turista numa cidade de cultura tão diferente da nossa. Quando terminamos a sessão compras e caminhávamos para o hotel por fora do mercado para cortar caminho, minha amiga Rania (moradora de Oujda) me mostrou a medina da cidade e depois mostrou um prédio discreto ao lado e disse que ali era a igreja católica. Achei tão legal a proximidade dos dois templos, parei, tiramos uma foto e retornamos para nossos afazeres. Não sei dizer como é essa igreja porque não entrei nela, na verdade, nem sei o nome dela porque não me atentei. Nesse pé na estrada, tenho pouco a falar sobre o prédio construído naquele local, mas tenho muito a dizer sobre o terço na mão.

Quando essa missão humanitária foi se aproximando do fim, muitos de nós já estávamos aflitos pelo retorno para casa porque várias cidades do mundo estavam anunciando o fechamento de suas fronteiras. Nossa coordenadora trabalhou dias incansavelmente para adiantar os voos das quase cem pessoas que estavam ali. Meu voo seria um dos últimos de todos os voluntários e sairia do Marrocos direto para o Rio de Janeiro. Algo me dizia que por mais que desejasse voltar logo para casa, seria melhor permanecer no Marrocos por mais dois dias para retornar nesse voo direto. Sendo assim, permaneci lá com a coordenadora e mais 4 meninas da América do Sul. Quando estávamos aguardando nossos voos, começaram a cancelar vários outros por causa do fechamento de fronteiras, entramos nos aviões às 16:50 e às 17 horas fecharam o aeroporto. Decolei para o Brasil, bem a tempo... vários voluntários ficaram “presos” em outros aeroportos por dias esperando reagendamento de voos.

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Ao chegar no Brasil, precisei ficar em casa. Enquanto isso, vários amigos médicos já estavam sendo afastados do trabalho pela suspeita de COVID 19 e o temor foi tomando conta do meu coração, afinal sou humana e fraca. Nesse deserto espiritual, conversando com Rania (minha amiga

marroquina, lembra dela?) sobre meus receios nesse momento, afinal como profissionais de saúde nós duas teríamos que nos expor no combate a essa doença, decidimos rezar juntas (eu aqui às 15 horas), ela lá no Marrocos às 11 horas. Compartilhamos nossa experiência no Instagram e no dia seguinte mais amigas nossas se uniram nessa corrente de oração. Nesse momento, lembrei daquela imagem da Igreja Católica ao lado da Medina... hoje eu, ela, nossas amigas e tantos outros no mundo somos igreja lado a lado, zelando uns pelos outros, zelando pelo bem comum porque independentemente de quais orações fazemos, temos um único objetivo o bem de nossos irmãos no Brasil, na Itália, no Marrocos, na China e em toda terra em que a misericórdia de Deus habita.

Giselle Lopes Pereira Pascom Loreto

Você já viveu uma experiência parecida? Encontrou em suas andanças uma igreja ou uma devoção local, que pode ser indicada a outros “viajantes”? Partilhe conosco, enviando texto e foto para a nossa coluna Pé na Estrada, Terço na Mão, pelo e-mail: pascom@loreto.org.br.

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