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pública: 5 de setembro de 2012 11

praça pública

Carta ao diretor

Os professores merecem dignidade A educação exige todos os cuidados porque influi sobre toda a vida, era assim que o filósofo latino Séneca se referia à importância que deveria ser dada à educação pelo Estado. Sendo a cultura ocidental seguidora da cultura greco-romana, dos seus valores e dos seus ideais e sendo a educação um dos pilares fundamentais para a própria “saúde” do Estado é por isso um imperativo que os nossos governantes cuidem dela, cuidem particularmente dos seus professores e dos seus alunos. Aproxima-se o início de um novo ano letivo e várias interrogações pairam no ar sobre o futuro de muitos professores em resultado de diversas alterações introduzidas pelo Ministério da Educação no modo de funcionamento e da organização das escolas. O que é certo é que assistimos a mais um ataque à classe docente que em virtude dos formação dos mega-agrupamentos, do aumento da carga letiva semanal dos professores, das reformulações nos tempos letivos das disciplinas e do fim do ensino noturno em muitas escolas deixou milhares de docentes fora do sistema, ou seja, desempregados, docentes estes que têm 10, 15 e até 20 anos de serviço nas escolas públicas e que agora se viram excluídos da sua atividade que vinham exercendo nas escolas portuguesas e outros ainda sem componente letiva e com o seu futuro profissional em causa. Futuramente, muito dificilmente estes docentes deverão voltar ao sistema, pelo que, o nome que se pode aplicar a este cenário é de despedimento coletivo sem que estes docentes tenham direito a qualquer tipo de direitos. Uma das grandes revoluções feitas pelo Ministério na escola pública mas realizada tardiamente, em pezinhos de lã, para a qual eu próprio já chamava a atenção há um ano atrás e tendo visto muito poucos arautos da educação a pronunciarem-se sobre isso, talvez por ser um tipo de ensino dado ao esquecimento por várias instâncias, tem a ver com a desvalorização do ensino noturno. A possibilidade dos alunos trabalhadores estudantes continuarem a prosseguir os seus estudos em horário pós laboral, a partir deste ano letivo, só vai ser possível em escolas de referência, diminuindo assim drasticamente o número de escolas em Portugal com oferta educativa em horário pós laboral. Muitos alunos deixam de ter, perto dos seus locais de residência, escolas que ofereçam cursos em horário pós laboral, pelo que, vão ser obrigados a percorrerem grandes distâncias para as escolas de referência para assim prosseguirem os seus estudos e completar por exemplo o 12º ano de escolaridade. A acrescentar a este facto o Ministério da Educação deixou passar o ano letivo anterior sem informar as escolas que tipo de ofertas formativas poderiam ter para este ano e que cursos poderiam ministrar, quando finalmente

em 10 de agosto publicou a Portaria nº 242 que legisla a organização e funcionamento do ensino recorrente por módulos capitalizáveis, ensino este que já fora iniciado em Portugal em 2004 e que agora é de novo possibilidade de oferta. Este regresso tem a ver com o fim anunciado dos Cursos das Novas Oportunidades (cursos EFA) permitindo apenas e residualmente em algumas escolas públicas a abertura de cursos de dupla-certificação. Apesar do ensino recorrente ser de novo uma oferta no entanto só é possível frequentar cursos científico-humanísticos deixando o Ministério da Educação de fora os cursos tecnológicos que tinham sido uma outra modalidade no Ensino Recorrente anterior. Para além deste leque reduzido de escolas e de ofertas educativas no ensino noturno há ainda a acrescentar outras dificuldades patenteadas na obrigatoriedade de um número mínimo de 30 alunos para a abertura de uma turma. Já a tinha sinalizado como uma das razões para o aumento de professores com horário zero e de facto este empobrecimento que o Ministério da Educação está a imprimir ao ensino noturno resultou simplesmente na deslocação dos professores do ensino noturno (professores do quadro e geralmente dos mais antigos) para horários do ensino regular diurno arrastando por inerência outros muitos docentes para horários zero. É realmente clara qual a filosofia do governo e do Ministério para a educação em Portugal que é a filosofia da redução do número de professores para consequentemente se reduzir a despesa pública e assim se conseguir as metas orçamentais. Quando o Estado e a sua democracia não valoriza e não cuida os seus professores como está a acontecer em Portugal o que se pode esperar é um desprestígio da classe, uma desmotivação global, um ensino com menos qualidade e uma escola pública a desmoronar-se. O imperador D. Pedro II sabia muito bem da importância dos professores e do seu papel para o engrandecimento social e cultural de uma nação afirmando: “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”. O que os professores deste país reclamam já não é o descongelamento das carreiras ou os cortes dos seus ordenados e subsídios, o que os professores deste país reclamam neste momento do Estado é mais respeito e dignidade e a recuperação do seu prestígio porque ainda é uma das poucas profissões que os portugueses admiram e confiam. Eugénio Oliveira, professor da Escola Secundária D. Sancho, presidente da Associação Portuguesa de Ética e Filosofia Prática

Pelos Quatro Cantos da Ca(u)sa Domingos Peixoto

Velha Matriz Muitos anos à frente da Paróquia de S. Adrião, o senhor “Arcipreste” padre Joaquim Fernandes viu concluir-se um dos seus grandes “empreendimentos”, cujo foi a construção da Igreja Matriz Nova. Há muito planeada – e projetada, creio – para os terrenos onde veio a ser edificada – quase a última das quintinhas e quintais existentes (ao tempo) no interior da Urbe de Vila Nova –, foi erigida com o patrocínio dos paroquianos, instituições e câmara liderada por Agostinho Fernandes. Assim nasceu uma bonita e útil centralidade na cidade, como que a “unir” um trio de instituições de luxo: Paços do Concelho e Tribunal, Universidade Lusíada e Hospital! A funcionalidade da Matriz Nova, do Centro Paroquial, da Creche Mãe e da Residência Paroquial naquele agrupamento de edificações é, por demais evidente, o que deve proporcionar enorme orgulho ao seu mentor e impulsionador. Tardou mas valeu a pena. Porém – e há sempre um senão – nem tudo está a decorrer, do meu ponto de vista, da melhor maneira; creio, aliás tenho a certeza, que o empenho do senhor “Arcipreste” não visava colocar ao “abandono” a Velha Matriz. Diga-se, em abono da verdade, que esta é uma igreja muito bonita, tem muitos pequenos altares caraterísticos da antiguidade, que lhe “emprestam” um sentimento mais contemplativo, com um amplo espaço junto ao Altar Mor, que permite que todos os participantes nas celebrações tenham uma vista total para o altar celebrante – o que não acontece com algumas das mais modernas –, e usufruam de algum conforto, à exceção do frio no In-

verno. Mas “encastrada” naqueles edifícios não permitia a criação de serviços de apoio e solidariedade social tão tradicionais da Igreja Católica e imprescindíveis às populações, como hoje se torna muito evidente. Mas eu falava em “abandono” e, até agora, apenas referi aspetos positivos. É que há algum tempo, num velório, contemplando e interiorizando a beleza do seu interior, os meus olhos chocaram-se, incrédulos, com a degradação em que se encontram uma parte significativa da cobertura, parede e um altar ali ao pé, admitindo que, pelo exemplo, os danos possam estar a tomar posse de todo o edifício. Como sou frequentador – com alguma assiduidade – das cerimónias da Matriz Nova e não me lembrando de ouvir quaisquer referências ao problema ainda mais preocupado fiquei! Bem sabendo que o momento não é propício para “investimentos”, não posso ignorar que a resolução tardia do problema pode não ser possível sem enormes dispêndios e sempre com prejuízos irreparáveis, pelo que aqui fica o apelo para que quem de direito meta mãos à obra, solicitando apoio aos paroquianos, famalicenses em geral e instituições públicas e privadas para cercear o quanto antes o agravamento da degradação. Como frequentador desde adolescente das celebrações e sacramentos ali ministrados “sinto-me na obrigação” de colaborar, o que farei sem qualquer pejo. Uma forma de dignificar a continuidade da sua actividade seria, para além da missa e velórios, realizar ali actividades contemplativas e culturais como concertos de caris mais religioso e outras a que o espaço é propício. pub


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