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ARTIGO ABIT

UMA TRAJETÓRIA DE RESILIÊNCIA E SUPERAÇÃO NA CRISE PANDÊMICA

POR FERNANDO VALENTE PIMENTEL

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Osetor têxtil e de confecção, cujo PIB representa 5% do total da indústria de transformação e 1% do nacional, foi muito impactado pela pandemia, principalmente a partir do fechamento do comércio em 2020. As fábricas continuaram funcionando, mas reduziram suas atividades, por falta de encomendas do varejo, cujas vendas caíram. Apesar do choque, o setor mobilizou-se de modo rápido, produzindo máscaras, aventais e outros itens de proteção individual para profissionais da saúde e a população, cumprindo importante papel no enfrentamento inicial da Covid-19. 2020, as indústrias estavam rodando a plena carga. Sequer ocorreram as férias coletivas, normalmente adotadas no período.

O setor entrou em 2021 com o pé no acelerador, apesar do recrudescimento da pandemia, que, em março, provocou nova interrupção do comércio físico. A partir da reabertura, em abril e maio, fomos agraciados com um bom inverno. Quando este ocorre de maneira marcante no regime climático, impulsiona as compras e a produção dos artigos peculiares à estação e abre espaço para as coleções de primavera-verão, nossa grande temporada anual.

No triste cenário, com irreparáveis perdas de muitas vidas, o mercado começou a se ajustar, acelerando tremendamente a agenda digital. Porém, no segundo semestre, com a injeção na economia dos R$ 300 bilhões que o governo colocou nas mãos da população, houve uma recuperação, que ocorreu de modo mais acentuado no consumo de bens.

O setor têxtil e de confecção ganhou uma dinâmica forte, principalmente nas linhas de produtos para o lar, decoração, roupas de dormir e de conforto para quem estava em home office. Depois de uma queda brutal, começamos a subir a rampa. No final de

FOTO: DIVULGAÇÃO

Assim, o setor começou a recuperar a produção e os empregos. Em 2021, cresceu 8,5% no segmento têxtil e 10,9% no de confecção, ante 2020. O desempenho foi bem até setembro, quando começou a se observar retração. As pressões relativas aos custos de matérias-primas e fretes, dentre outros itens, a partir de meados do ano, tiveram consequência nas nossas atividades, bem como a interrupção nas cadeias de suprimentos. São vários fatores, ainda não normalizados. Houve, ainda, uma queda no consumo devido à inflação.

Em 2022, esses problemas mantiveram-se, agravados pela invasão da Rússia à Ucrânia e o lockdown na China. Porém, o varejo começa a se recuperar, devendo puxar a indústria. Nosso setor, entretanto, na comparação entre os primeiros quatro meses deste ano e de 2021, apresentou queda de produção de 19% no segmento têxtil e 13% no de vestuário. Nos últimos 12 meses, tendo como base abril, os resultados foram, respectivamente, de menos 7,5% e zero. Mas, o varejo cresceu 23%, performance que influenciará a indústria.

Nesse cenário, cabe salientar que, nos últimos 12 meses, nosso setor gerou cerca de 35 mil postos formais de trabalho, demonstrando resiliência. As exportações avançam, tendo crescido em torno de 14% no período, no qual os preços finais para o consumidor evoluíram em linha com a inflação, em torno de 12%. Entretanto, os custos do nosso setor, em média, subiram acima disso. Portanto, reduzem-se as margens das empresas.

Observamos agora que a economia continua permeada por incertezas e volatilidade, em decorrência dos fatores externos e internos, pressão de custos e dificuldades de repassá-los aos consumidores, devido ao aperto orçamentário das famílias. Porém, acreditamos que, ao final de 2022, haverá crescimento da confecção e melhor performance do varejo em relação ao ano passado. Para o segmento têxtil, a estimativa mais otimista é de produção igual à de 2021.

Persistem as dificuldades externas e internas que apontei anteriormente, acrescidas de um possível refreamento da geração de empregos, que já vai chegando ao limite depois do impulso dado pelo retorno da mobilidade social. Também merece atenção a nova onda da Covid-19, que, embora com letalidade bem menor, preocupa e mexe com o emocional e a psique das pessoas.

Nosso setor, entretanto, segue cumprindo seu papel perante o País e a sociedade. A despeito de todas as dificuldades inerentes à pandemia, não abdicou de sua agenda de governança ambiental, social e corporativa (ESG), aderência aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e aporte tecnológico e de conhecimento. Nesse sentido, teve forte apoio da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), que atuou na defesa e fortalecimento da atividade em todas as frentes, desde o engajamento cívico em favor de um ambiente melhor de negócios, passando por cursos, workshops, seu Congresso Internacional e campanhas em favor da moda e exportações, até parcerias com instituições técnicas e acadêmicas.

A travessia da tempestade no período pandêmico tem sido árdua, mas marcada por elevada capacidade de resistência e reação da indústria têxtil e de confecção, em meio a um dos cenários mais desafiadores da História.

Acreditamos que, ao final de 2022, haverá crescimento da confecção e melhor performance do varejo em relação ao ano passado.

*Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

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