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ARTE E EDUCAÇÃO PORTAS ABERTAS PARA A ARTE

Portas abertas para aarte

INSTITUTO COLLAÇO PAULO É INAUGURADO COM UMA EXPOSIÇÃO DE OBRAS DO PERÍODO 1850-1930 E ANUNCIA MARTINHO DE HARO, ELKE HERING E RODRIGO DE HARO PARA 2023

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textos URBANO MAYA SALLES fotos MARCO CEZAR

Pela primeira vez na his-

tória de Florianópolis um colecionador de arte decidiu investir seus próprios recursos na implantação de um espaço, sem fins lucrativos, para expor e democratizar o acesso ao seu vasto acervo, além de cumprir uma função educativa.

O responsável por esse marco na arte catarinense é Marcelo Collaço Paulo, 66 anos, médico oncologista e colecionador há mais de quatro décadas. O “Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação” foi inaugurado num imóvel da família à beira mar na Praia do Meio, em Coqueiros, no fim de julho, e desde então tem recebido um número expressivo de visitantes todas as tardes, de segunda a sábado, com entrada gratuita.

É a realização de um antigo sonho de Marcelo compartilhado pela esposa, Jeanine, sua parceira de vida e também colecionadora. O desejo havia sido revelado em primeira mão à Revista Mural em 2017, quando o casal apresentou no Museu de Arte de Santa Catarina (MASC) sua primeira exposição, “Sensos Sentidos”, com 117 obras selecionadas, num evento saudado pelo público em geral e estudiosos de arte como um dos mais importantes dos últimos tempos em Santa Catarina.

Desde o ano anterior, porém, Marcelo já havia começado a revelar sua coleção – ainda timidamente – ao emprestar obras para mostras no Museu de Arte Moderna (MAM) e na Pinacoteca de São Paulo, em São Paulo, entre outros.

E aí veio a pandemia. Marcelo manteve rígido isolamento social, dando suas consultas por vídeo. A situação começou a mudar no início de 2022, quando ele voltou a atender presencialmente seus pacientes e decidiu que havia chegado a hora de tirar seu projeto do papel.

A implantação do ICP evoluiu distante da curiosidade da imprensa. Quase um segredo. Quando a fundação do Instituto foi oficialmente divulgada, a sede já estava pronta e a equipe técnica formada. Como curadora-chefe, Marcelo escolheu a doutora em arte Francine Goudel. É dela a assinatura da primeira exposição da casa, “Mais Humano: Arte no Brasil de 1850-1930”, em cartaz até 21 de janeiro de 2023. Foi Goudel quem deu nome aos ambientes e escreveu os respectivos textos curatoriais. Também estão na equipe nomes como os da professora Joana Amarante, da museóloga Cristina Dalla Nora e da jornalista Néri Pedroso.

“Jovem Médico” (1881), óleo sobre tela (150x87 cm) do pintor catarinense Victor Meirelles. Além da beleza e relevância da obra, o quadro remete à profissão do fundador do ICP, o médico Marcelo Collaço Paulo “Flor de Manacá” (1922), óleo sobre tela (124x99 cm) de Georgina de Albuquerque. Pioneira num mundo dominado pelos homens, a pintora tem quatro obras na exposição e, em função do contexto histórico em que viveu, é a única mulher entre os 34 artistas selecionados para a temporada de abertura do Instituto Collaço Paulo

Marcelo desenha o cenário que sente agora com as portas abertas: “A pandemia gerou uma necessidade de libertação. Os visitantes estão chegando aqui felizes, depois de muito tempo trancados em casa”. E como não ficar feliz diante de tanta beleza? O passeio percorre um “roteiro” criado por Goudel. Além do hall, são cinco núcleos, cada um com paredes pintadas de uma cor que se harmoniza com as dos quadros – 77, no total, mais duas esculturas – de 34 artistas brasileiros e estrangeiros radicados ou com produção no País, de diferentes escolas do período, como o impressionismo e o simbolismo.

Um deleite visual raro, para ser degustado com calma, especialmente se guiado por Marcelo, que durante o tour vai informando em detalhes o contexto histórico e conta fatos relevantes e curiosidades dos artistas e suas obras. “Eu busco significados nos elementos de uma tela. O público, porém, pode ter um olhar diferente. A beleza da arte é justamente buscar interpretações.” Na entrada, ponto onde começa e termina a caminhada pela exposição, o primeiro deslumbramento: a tela “A Menina Pintora” (1883),

“Menina Pintora” (1883), óleo sobre tela (52x42cm) de Pedro Américo. A tela retrata Carlotinha, filha do artista, e simboliza uma homenagem à arte. É, pela ordem definida pela curadoria, o primeiro quadro da exposição, recebendo os visitantes no hall de entrada do ICP

do pintor clássico Pedro Américo. Segundo Marcelo, a garota retratada era a filha do pintor, Carlotinha.

“A opção por essa obra no início da exposição é uma homenagem à pintura”, explica. Também é de Américo outro retrato de Carlotinha, “A Menina Espanhola” (1881), um dos seis quadros que o artista expôs no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 1884. Cinco ficaram no acervo permanente do museu e apenas esse ficou com a família porque retratava a filha. Só mais recentemente foi vendido. É um quadro com característica museológica.

“Vista de Florianópolis” (1914), óleo sobre tela (60x87cm), do catarinense Eduardo Dias. A tela é uma das expostas no ICP que exibem paisagens de Nossa Senhora do Desterro e da Florianópolis antiga “Passarinheiro” (1893), óleo sobre tela (33x24cm) do artista teuto-brasileiro Pedro Weingärtner. A pintura mostra um detalhe do antigo Rio da Bulha (hoje coberto pela Avenida Hercílio Luz), um ano antes de a cidade ter seu nome trocado para Florianópolis

Pedro Américo morreu na Itália. É o único artista brasileiro nas paredes do palácio em Florença que abriga a Galleria degli Uffizi, ao lado de gênios da pintura como Caravaggio e Botticelli.

Entrando à direita, o visitante inicia a circulação pelos cinco eixos de exploração concebidos por Goudel: “Personas & Personagens” (retrato), “Alegorias do Sensível – Nueza e Nudez” (nu), “Costumário” (cenas de costume), “Ainda-Vive” (natureza morta) e “Demorar no Horizonte” (paisagem).

Além de Américo, o Instituto reserva outras maravilhas da pintura clássica do século XIX, quando grandes artistas foram colocados de escanteio pelo modernismo e pelos movimentos políticos da época, que associavam o classicismo com a “velha monarquia” que viria a ser derrubada nos anos 1880.

É o caso do catarinense Victor Meirelles. Marcelo relata: “Ele morreu pobre e abandonado porque tinha sido bolsista da monarquia. Havia se tornado alguém do passado, ninguém queria saber das suas obras. Por causa da política, muitos artistas de grande qualidade acabaram sendo sacrificados, mas agora, com a releitura da pintura nacional, estão novamente tendo ressonância”.

Célebre autor de telas, como “A Primeira Missa no Brasil”, Meirelles é o artista com maior número de trabalhos na exposição. No total, 15. São dele 12 aquarelas pintadas na Itália nos anos 1860 com estudos de trajes de diferentes épocas. Graças à técnica apurada do artista, é possível identificar até o veludo, a seda e outros tecidos presentes nas roupas. Também de Meirelles são a tela “Jovem Médico”, selecionada pela relevância e pela relação com a profissão de Collaço Paulo, uma surpreendente natureza morta e um estudo para a “Batalha de Guararapes”.

Paisagens da antiga Desterro estão presentes em três telas; uma do autodidata Eduardo Dias em 1914, mostrando a cidade do ponto de vista do Hospital de Caridade, outra pintada pelo alemão Joseph Bruggemann por volta de 1860 e também no óleo sobre madeira de Pedro Weingärtner (1893) que retrata lavadeiras no antigo Rio da Bulha, hoje, coberto, no trajeto da Avenida Hercílio Luz. “É possível observar um menino com as roupas largas. Isso era quase que regra na época entre a população mais pobre: os filhos mais novos dependiam das roupas dos mais velhos, mesmo que elas não ficassem do tamanho certo”.

Weingärtner pintou o quadro numa parada na Desterro quando estava voltando de uma exposição no Rio de Janeiro para o Rio Grande do Sul, seu estado natal.

“Nu Feminino” (1910), óleo sobre tela (80,5x100cm) de Arthur Timótheo da Silva. A obra integra o núcleo “Alegorias do Sensível – Nueza e Nudez”. Arthur foi um importante pintor negro brasileiro, vencedor do mais cobiçado prêmio da época: uma viagem de estudos à Europa

A visita

Dessa viagem surgiu outro importante quadro em exposição até janeiro no ICP, “Os Revolucionários”. Sobre ele, Marcelo conta: “O artista queria voltar a Porto Alegre. Contratou um guia, pegou um cavalo e foi descendo para o Rio Grande do Sul. Quando chegou em Nova Veneza, encontrou os maragatos da Revolução Federalista. É um quadro histórico, e é a única pintura existente dos maragatos. Weingärtner teve que negociar com eles porque queriam degolar o guia acusando-o de espionagem”.

Após visitar os núcleos, a viagem pela exposição termina no hall com a visão da notável tela “A Visita”, de Eliseu Visconti. Ela retrata a filha do artista chegando na casa de Teresópolis e abraçando sua esposa. Visconti é considerado o maior impressionista brasileiro. Mais um nome de primeira grandeza, para fechar o passeio.

A exposição recebeu logo nos primeiros dias muitas visitas ilustres, como a do artista catarinense radicado em São Paulo, Walmor Corrêa. Ele veio conhecer o novo espaço e aproveitou para convidar o colecionador a visitar a retrospectiva de sua obra que esteve em cartaz até 18 de setembro no MASC.

“Raios de Sol” (1935), óleo sobre tela (80x65cm) de Eliseu Visconti, considerado o mais importante impressionista brasileiro. A paleta de cores do quadro inspirou os elementos de comunicação visual do Instituto, com ênfase no azul. A tela retrata os jardins da casa do artista em Teresópolis

“Ao Sol” (1886), óleo sobre tela (117x278cm) de Henrique Bernardelli. Nascido no Chile, o artista veio morar com a família no Rio Grande do Sul nos anos 1860. Ele foi professor na Escola Nacional de Belas Artes. O quadro foi pintado em Capri, quando Bernardelli estudava na Itália

“Anticoli” (1899), óleo sobre tela (41x90cm) de Pedro Weingärtner. Exibe uma cena campestre em Anticoli Corrado, nos arredores de Roma. O pintor gostava da luz da região, e usava com frequência o local como cenário de suas pinturas. Este quadro foi pintado em Roma. Weingärtner estudou na Alemanha e na Itália

Arte e educação

O ICP tem dois pisos. No térreo, ficam as obras de arte em exposição e toda a seção administrativa, onde, longe da visão dos visitantes do dia a dia, há trabalhos de pintores catarinenses já falecidos, como Eli Heil, Luiz Henrique Schwanke e Meyer Filho. Na sala de reuniões, os móveis, nobres, são de jacarandá da Bahia. Embaixo, foi montado um espaço multicolorido para receber turmas, principalmente de crianças e jovens estudantes de colégios públicos e privados que agendem visitas. A dinâmica é assim: depois de conhecer a exposição conduzido por um mediador, o grupo visitante desce e encontra, no chamado “ateliê imersivo”, papéis, pincéis, tintas e até um banheiro projetado para os pequenos lavarem com facilidade as mãos. As visitas terão duração de 90 minutos, 45 deles reservados para o percurso expositivo e a outra metade do tempo para as atividades no andar inferior.

“A Visita” (1927), óleo sobre tela (115x89cm) de Eliseu Visconti. Retrata a filha do artista, Yvone, visitando a mãe na Serra Fluminense. A tela é a última na sequência criada pela curadoria para a exploração dos núcleos da exposição

Com o objetivo de promover o conhecimento das artes visuais, Marcelo faz um convite: “Estamos abertos para parcerias que contribuam com nossas ações educativas. Minha grande expectativa é ver as crianças chegando”.

Instituto Collaço Paulo

Rua Desembargador Pedro Silva, no 2568 – Coqueiros Telefone (48) 3025-4058 @institutocollacopaulo

O que vem por aí

A exposição “Mais Humano” é a primeira de muitas que virão daqui para frente no novo espaço em Coqueiros. Após seu término, todos os quadros agora exibidos voltarão aos locais, não revelados, onde Marcelo guarda seu precioso acervo.

Parte da coleção está nas paredes da residência do colecionador, no Centro de Florianópolis. “Durante décadas, as pessoas que iam no meu apartamento adoravam o que viam. Essa é a sensação que temos aqui no Instituto. Na realidade, é quase como se eu estivesse trazendo minha coleção de casa e convidando a compartilharem essa alegria comigo.”

A agenda do ICP para 2023 já está definida, e será inteiramente dedicada à arte catarinense. Pela ordem, acontecerão três exposições: Martinho de Haro, Elke Hering e Rodrigo de Haro.

Marcelo conviveu desde jovem com Martinho e foi um dos amigos mais fiéis de Rodrigo até sua morte, em julho do ano passado. Ele ressalta que Martinho era um gênio, que no fim dos anos 1930 foi estudar na França, escolhido por um júri de notáveis, e precisou antecipar sua volta para o Brasil por causa da eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Depois de Martinho, o ICP será ocupado pela obra da blumenauense Elke Hering, morta em 1994. No total, serão cerca de 100 trabalhos, entre esculturas em bronze e cristal, e desenhos. “Fui comprando pensando num dia fazer uma exposição. A Elke era uma artista excepcional, de vanguarda. Era uma pioneira que ocupou espaço e enfrentou o machismo, uma mulher que nos anos 1950/1960 estudou em Berlim e Munique”, elogia Marcelo.

Elke, aliás, era mãe da também artista Rafaela Hering Bell, apontada pelo colecionador como uma de suas colaboradoras ao lado de Helena Fretta, Bernardo Boiteux, Myrine Vlavianos e outros parceiros importantes. “Eles me ajudam muito para conseguir obras para o meu acervo.”

Marcelo também adquire peças oferecidas por marchands de outros estados e, com frequência, em leilões de arte. Muitas obras vêm de espólios familiares ou de comerciantes que vendem uma parte do que têm e guardam outra. Segundo o colecionador, muitas vezes as negociações duram um longo tempo: “Tenho um quadro de Arthur Timótheo que levei quase cinco anos para conseguir”.

Depois de Elke, 2023 reservará ainda a primeira grande exposição de Rodrigo de Haro, filho de Martinho, após sua morte. “Costumo dizer que sua obra e seus enigmas serão estudados pelos próximos 200 anos!”, prevê. Junto com a exposição, será lançado um livro no qual o professor da UFSC, Raul Antelo, escreveu sobre cada um dos mais de 20 desenhos indicados para o estudo por Marcelo. “Ele é um ensaísta maravilhoso, de padrão internacional. Nos textos, encarou com brilhantismo o desafio, complexo, de buscar decifrar a mente de Rodrigo.”

Marcelo faz uma reflexão quando fala das perspectivas futuras do seu Instituto. “A pandemia fez todos nós pensarmos na finitude. Como todo colecionador, sou também um preservacionista e gostaria muito que minha família levasse esse nosso sonho adiante para que ele tenha uma vida longa. Minha esposa já é minha principal parceira. Agora, estou muito feliz vendo meus filhos já conectados com nosso projeto. A arte tem um poder transformador e libertador, e isso é o mais importante de tudo.”

Bicentenário da Independência e centenário da renovação daCatedral

PRINCIPAL TEMPLO CATÓLICO DE FLORIANÓPOLIS FOI “MODERNIZADO” EM 1922

textos CARLOS DAMIÃO fotos MARCO CEZAR e REPRODUÇÕES A Catedral Metropolitana de Florianópolis

completou 100 anos de “modernização” no dia 7 de setembro de 2022.

O processo de transformação da antiga Igreja Matriz de Desterro começou em meados da década de 1910, para culminar com seu novo formato arquitetônico em 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do centenário da Independência do Brasil.

A transformação física foi radical e preservou apenas dois aspectos da igreja original, construída entre 1753 e 1763, conforme projeto do brigadeiro Silva Paes – então presidente (governador) da província de Santa Catarina.

Ainda no século 18 e, depois, no século 19, a igreja ganhou novos elementos arquitetônicos, que não representaram alterações significativas em seu formato.

Comemoração

Para assinalar o centenário, na data a Arquidiocese de Florianópolis programou uma Missa pontifical de dedicação do altar a Santa Catarina de Alexandria, copadroeira da Catedral, e na mesma cerimônia, a bênção do templo centenário.

Além disso, uma sessão solene com entrega de troféus aos amigos da Catedral no Lira Tênis Clube, e na sequência, um jantar de confraternização no mesmo local.

CRONOLOGIA

1673 Data de fundação de Desterro, pelo bandeirante paulista Francisco Dias Velho. O marco da fundação do povoado foi a construção da capela dedicada a Nossa Senhora do Desterro. 1712 Em 5 de março foi criada a Paróquia de Nossa Senhora do Desterro. Também em 1712, a vila foi elevada à categoria de freguesia. 1726 Em 24 de fevereiro foi adotada oficialmente a denominação de Nossa Senhora do Desterro para a freguesia. No dia 23 de março do mesmo ano a freguesia desmembrou-se de Laguna. 1753/73 Período de construção da nova igreja, com projeto do brigadeiro e engenheiro Silva Paes, então presidente da Província (governador). A igreja construída por Silva Paes sofreu alterações tanto no século 18, quanto no seguinte, século 19. 1908 Ano em que a matriz foi elevada à categoria de Igreja Catedral (Sé Episcopal). No mesmo ano, em 19 de março, foi criada a Mitra Metropolitana de Florianópolis, ou seja, a Diocese de Florianópolis. 1910 Ano do início da mais radical mudança arquitetônica, com a finalidade de adequar a igreja às comemorações do centenário da Independência. 1922 Em 7 de setembro foi inaugurada a “nova Catedral”, totalmente diferente do modelo arquitetônico original. 1942/46 Novas intervenções na construção, com acréscimos laterais, como a casa paroquial e a sacristia voltada para a Rua Arcipreste Paiva. 2005/10 Restauração completa da igreja, com intervenções em seu interior e exterior. 2021/22 Nova pintura externa.

Ladrilho e órgão

Cura da Catedral há 10 anos, sacerdote há 41 anos, padre Davi é um dos quatro padres que atuam na Catedral. Seu sonho é resgatar o ladrilho original do templo, substituído por um piso mais moderno em 1987.

Outro plano é recuperar o órgão da igreja, que completa 100 anos em 2024. O órgão de tubos Speith Orgelbau foi fabricado em Rietberg, Alemanha, e tem 126 exemplares similares espalhados pelo mundo, três ou quatro no Brasil, sendo o da Catedral um deles.

A transformação

A “grande reforma” inaugurada em 1922 entregou à comunidade uma nova igreja, com estas alterações: a nave foi ampliada, as torres foram alteradas e foram acrescidos os alpendres neoclássicos na parte frontal. Dentro do alpendre central foi preservada a bela portada de cantaria da construção original projetada por Silva Paes. Outra característica preservada foi o arco no fundo do altar, construído originalmente sobre uma coroa de pedra. O cura da Catedral, padre David Francisco Coelho, explica que as igrejas eram normalmente construídas em pontos altos da topografia dos povoados, em geral usando pedreiras como bases (o que facilitava e dava segurança à construção).

Espaço Museal

Ainda na programação do centenário da Catedral consta a abertura do Espaço Museal, agregado ao Salão Paroquial, onde funcionou durante muitos anos o Cine Roxy.

O Espaço Museal é constituído por peças sacras, documentos, fotografias e outras imagens, além de painéis que reconstituem a história da Catedral.

A história da Catedral Metropolitana, desde seus primórdios, no século 18, é a própria história da comunidade central de Florianópolis. A cidade surgiu e cresceu em torno da igreja.

A Catedral é o marco zero da cidade. Todas as ruas têm a numeração dos imóveis baseada na distância a partir da igreja. Por exemplo: Rua Tenente Silveira, 200. Significa que o prédio em questão fica a 200 metros da Catedral.

Suas celebrações religiosas são marcantes na história da cidade, destacando-se entre as mais importantes a Procissão anual do Senhor dos Passos, a Semana Santa, a Procissão anual de Corpus Christi e a Procissão anual dedicada a Santa Catarina de Alexandria (25 de novembro).

Todas as celebrações, das missas às procissões, são marcadas pelo som melodioso dos sinos do templo católico. São sete sinos no total, que já formaram o maior carrilhão de sinos do Brasil. Um deles foi doado pelo imperador Dom Pedro II em 1872. É o sino chamado de São Joaquim, que fica logo abaixo do relógio.

Fuga para o Egito

Outra característica importante da Catedral é a escultura Fuga para o Egito, esculpida em madeira pelo tirolês Ferdinand Demetz. As visitas de turistas e moradores à igreja sempre incluem a apreciação da magnífica obra artística, representando Maria, José e Jesus Cristo em sua viagem para o desterro (Egito), em busca de segurança.

Cemitério

Nos subterrâneos da Catedral estão os restos mortais (ossos) de muitos moradores da ilha dos séculos 18 e 19 – inclusive, supostamente, açorianos e seus descendentes mais imediatos. Não há comprovação, mas é possível que tenha sido enterrado no templo o próprio brigadeiro Silva Paes.

Enterrar os mortos no interior das igrejas e nos seus entornos era um costume muito comum até cerca da metade do século 19. Mas essa tradição foi abolida por razões sanitárias, devido ao grande número de doenças provocadas pela putrefação dos cadáveres (os miasmas).

Dois expoentes da Igreja Católica foram sepultados no interior da Catedral: o primeiro e o segundo arcebispo de Florianópolis, Dom Joaquim Domingues de Oliveira (1878-1967) e Dom Afonso Niehues (19141993). Dom Joaquim foi arcebispo entre 1927 e 1967, sendo substituído por Dom Afonso, entre 1967 e 1991.

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