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Revista Confidências

MEIO AMBIENTE

ENTRE A REALIDADE E SONHO

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População itabirana vive em meio ao descaso com a Fonte da Água Santa e a expectativa de criação do Cinturão Verde

Fotografia: Lucas Lima Torres

PARQUE DA ÁGUA SANTA

Equipe de Produção

Colégio Nossa Senhora das Dores

Direção: Irmã Maria da Glória Alves Fonseca

Coordenação Geral: Luciene Aparecida Alvarenga

Orientação: Rosemary Pires Duarte Lage Costa

Textos: Estudantes da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Nossa Senhora das Dores

Editoria: Henrique Macedo, Cynthia Camilo, Gabriela Oliveira e Bruna Alves

Professoras responsáveis: Débora Ianusz (Literatura), Dora Lage (Matemática) e Margarida Gandra (Língua Portuguesa)

Foto da capa: Lucas Lima (foto vencedora do concurso de fotografia uma das atividades do projeto)

Foto da contracapa: Juliana Oliveira (2ª colocada no concurso de fotografia)

Seleção dos textos: Margarida Gandra e Débora Ianusz

Revisão: Equipe da Editoria, Margarida Gandra e Débora Ianusz

Diagramação: Ana Clara Simões

Arte (CD e capa do CD): Valquíria Machado Gomes

Apoio técnico, organização do concurso de fotografia e divulgação da revista: Cíntia C. Figueiredo e Tatiane R. Moura

Organização do sarau e guia turístico: Ângela Maria Inácio

Público: Comunidade escolar

Itabira-MG

Setembro de 2010

ENTRE O EFÊMERO E O DURADOURO

A cidade do minério e a passagem do tempo

Por MarjorieeAnnaClaraSantiago

Ahistória da nossa cidade começou por volta do século XVIII, com a chegada do bandeirante Francisco Albernaz, que iniciou uma evolução política e a exploração mineral. A descoberta do ouro no Pico do Cauê e a implantação de uma indústria de ferro e de duas fábricas de tecido trouxeram pessoas de várias regiões do Brasil, devido à promessa de riqueza que o ouro traria Nessa época a sociedade ainda era fechada, casamentos eram arranjados com a finalidade de conservar a riqueza das famílias, mas por fim percebeu-se que seria mais proveitoso o casamento entre famílias diferentes Essa era a época dos vestidos longos e espartilhos, dos bailes e passeios à tardinha em parques e ruas com grandes casarões. Apesar das viagens ao exterior serem raras, o retorno dos viajantes era comemorado com festa e pompa; todos ficavam curiosos com os costumes diferentes do exterior

Das empresas que aqui se instalaram a Vale do Rio Doce foi a que mais cresceu e mudou a paisagem itabirana, com os seus novos meios de extrair o ferro e de transportálo Desde então a cidade ficou conhecida como ―berço da Vale do Rio Doce‖. Itabira se viu cortada por trilhos e maravilhada com o desenvolvimento que o ferro traria Toneladas e mais toneladas eram retiradas, não apenas de ferro, mas também do ouro que foi descoberto em outros pontos da cidade algumas décadas depois. Com a extração constante de minério, aos poucos, o Pico do Cauê foi diminuindo e tornou-se uma grande depressão e a busca por novos recursos fez-se necessária. Com isso, vilas e bairros começaram a ser destruídos em favor da mineração. A cidade ainda é a terra de Carlos Drummond de Andrade, que levou o nome da cidade muito além do Brasil, pois a poesia de Drummond percorreu todo o mundo, devido ao seu talento inegável ao escrever. Sua história sempre esteve vinculada ao nome da cidade desde que sua escrita começou a ser observada e ultrapassou a barreira do reconhecimento.

Atualmente, nossa cidade ainda se encontra em desenvolvimento, continuamos a ter a história presente em nossas vidas, pois está entrelaçada com seus maiores protagonistas: um poeta e uma mineradora. Continuamos vivendo em uma sociedade fechada, mas ainda assim calorosa. Aprendemos a conservar o passado que está escrito e gravado na forma da mais linda poesia, entretanto, devemos ainda ficar atentos quanto ao futuro da cidade para manter viva toda essa história

Fotografia: Ana Clara Simões

Por GéssicaKaroline,VictorBlasques,MarjorieSophie, Sabrina,SamyrHenrique,ThiagoPennaeRafaelJosé

Fonte: Atlas de Itabira, Prefeitura Municipal de Itabira, 2006

Itabira antes do Minério

Por CamillaCoelho,PollyanaeBreno

A história de Itabira traz consigo algumas fases marcantes na sua evolução. Entretanto, embora toda a vitalidade de suas raízes tenha como pano de fundo a exploração dos recursos minerais, pode-se entender seu desenvolvimento em duas fases distintas: uma diz respeito a uma exploração pouco profissional, mais voltada à busca do ouro até a sua exaustão; outra, mecanizada, com progressiva atuação industrial, que fortaleceu o município e fez emergir uma das maiores mineradoras do mundo Além do ouro e do minério, vale lembrar que ainda hoje o subsolo de Itabira é um dos maiores depósitos de esmeraldas do planeta.

Para maior evidenciação, tomemos por base a cidade antes da Vale e depois da Vale Isso remonta aos anos de 1942, quando da fundação da antiga Companhia Vale do Rio Doce. Mas, pensemos em uma sequência, para melhor definir a cidade antes da exploração industrial Pesquisadores confirmam que por volta de 1700 a região já era frequentada por bandeiras advindas de São Paulo. Essa versão se confirma na expedição à região pelos irmãos Albernaz, no ano de 1720, que, estando na região de Itambé, avistam um pico e atraídos pela sua saliência, se deslocaram a ele, encontrando ouro em abundância nos rios que o circundavam.

Posteriormente, foi se formando um arraial, cujo centro político administrativo era a antiga Vila Itabira do Mato Dentro Nesse formato de constituição, vários valores culturais se introduziram na região. Um exemplo disso foi a caracterização de um ponto de referência de transeuntes Isso se deu em Ipoema, distrito de Itabira, que se notificou como ponto de convergência de tropeiros, que por lá se estabeleciam temporariamente, conduzindo seus rebanhos e comércio de especiarias Apenas em 1848, Itabira é elevada à categoria de cidade, através de um decreto provincial Essa condição consolida o status de sua importância política na região.

Em 1900 a Companhia Estrada de Ferro Vitória Minas é fundada Entretanto, apenas em 1943 os trilhos da Vitória Minas atingem a cidade e em 1944 chega à base da mina de ferro do Cauê. É interessante informar que uma empresa antecedeu a Companhia Vale do Rio Doce Chamava-se Itabira Iron Ore Company Em primeiro de junho de 1942 Getúlio Vargas assina o decreto lei que cria a Companhia V ale do Rio Doce, que encampa a Itabira Iron e a Estrada de Ferro Vitória Minas Desse ponto, ao arranque econômico que se sucedeu no município

Atualmente, vão se escasseando os testemunhos dessa transformação ocorrida, devido ao tempo passado. Entretanto, existem alguns itabiranos, que se não viveram o período anterior, podem ilustrar um pouco o cotidiano do começo do período da exploração industrial. Esse é o caso de Francisco Marconi Gonçalves. Nascido em 1941, ou seja, bem no período marco das transformações, ele destaca a siderurgia já existente na cidade e as fábricas de tecido, embora em fase decadente. ―Lembro-me perfeitamente do trânsito e acampamento dos tropeiros no comércio do Sr. Said Jabour e do Sr. João Moura, no bairro do Pará, que tinham máquinas de beneficiamento de café e arroz. Ficavam na minha rua‖.

Francisco Marconi Mendes - foto fornecida pelo entrevistado.

A vida era muito simples. A criançada circulava pelas ruas, sempre em busca de diversões. Futebol no Clube Atlético Itabirano, no campo da Chacrinha, no campo da Garajal. Soltar pipa no alto da antiga Caixa D‘Água, localizada no Pará de cima. De repente, Marconi solta uma pérola. ―Só vim a usar sapato com freqüência quando fiz o exame de admissão para entrar no ginásio Isso aos dez anos Até então, a meninada circulava descalça pela cidade‖

A política na cidade sempre foi quente ―Embora não seja uma pessoa muito ligada a questões de política, eu acompanhei de perto um acontecimento extremamente curioso na época. O Sr. João Cunha era filiado à UDN e a richa com o PTB era muito grande Em uma noite, em frente a sua residência, colocaram uma bomba, que causou estrago nas janelas em sua casa e em um bar que ficava situado na parte inferior a sua residência.‖ Para exemplificar a temperatura das discussões, Marconi diz que presenciou muitas trocas de ofensas entre famílias opositoras em sua rua

A religiosidade também era característica da sociedade Segundo Marconi, como criança, percebia certa competição entre os freqüentadores da Paróquia do Rosário e os adeptos da Paróquia da Saúde. Ele não sabe explicar o motivo, ―mas havia uma certa competição em torno das festividades promovidas pelas paróquias e sempre uma disputa por um troféu imaginário de qual era a melhor.‖

Mas, o que marca muito todo esse período é o início da dependência da cidade em relação à Companhia Vale do Rio Doce Para se ter um exemplo disso, até mesmo a energia era subsidiada pela Vale Marconi conta que ―até as dez da noite, a usina da vale ajudava a fornecer luz para a cidade. Após isso, a luz da prefeitura, como chamávamos, não era suficiente para que as rádios funcionassem com eficiência e vi muitas vezes minha mãe ligar o transformador para acompanhar as programações.‖

Como quase todo jovem da cidade, o sonho era ingressar na vale e lá fazer carreira, pois não haviam muitas opções de emprego na cidade Por uma obra do destino, Marconi teve seu sonho realizado no ano de 1962, lá permanecendo até a sua aposentadoria em 1991. Ele acompanhou grande parte do crescimento da empresa e da sua relação com os destinos da cidade O fato é que a região e seus recursos minerais propiciaram uma cidade, que hoje se preocupa intensamente com a possibilidade de exaustão desse processo industrial. É como pensar que todo esse desenvolvimento pode ter o mesmo destino dado ao famoso Pico do Cauê, ou seja, sua extinção.

Certamente, a cidade criou outros mecanismos de sobrevivência e oportunidades, mas, a possibilidade de retirada da Vale, com o fim da exploração do minério, pode significar uma nova transformação, já que o impacto econômico da cidade será muito grande. É o caso de se perguntar se a cidade e seus moradores estão preparados para novos tempos, onde a fartura dos recursos minerais já não existirá.

Por Géssica,VictorBlasques,Marjorie,SabrinaSouza,Samyr,ThiagoeRafael

Itabira, revivendo sua história, projetando seu futuro.

Quem caminha pelo centro histórico de Itabira, cidade hoje, com cerca de cem mil habitantes, e observa verdadeiramente sua arquitetura, pode ter uma boa demonstração do que foi a história de sua construção.

Casarões e igrejas de 1891 ―contam‖ que, naquela época, ainda em Itabira do Mato Dentro, a vida de numerosas famílias girava em torno de uma economia voltada para o tropeirismo, o comércio, e a indústria, como as fábricas de tecidos Girau (1816) e Pedreira (1888).

‘Confidências de um Itabirano’, poema exposto no mirante do Pico do Amor

A partir de 1941, o município passou a se chamar “Presidente Vargas”. Quatro anos depois, após uma forte e movimentada campanha promovida pela população, Vargas voltou a se chamar Itabira, fazendo jus à sua riqueza original, geradora do pregresso: a tal ―pedra que brilha‖ que no aspecto econômico teve seu desenvolvimento garantido pela extração do minério de ferro.

Tal feito foi alvo de inspiração para o poeta maior Carlos Drummond que deixou sua terra natal para anunciá-la ao mundo. ―Itabira é apenas um retrato na parede‖. Em versos, contou a sua história, vivida desde a infância.

O impulso econômico, através da presença da Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale, trouxe realmente grandes realizações para a população nas áreas culturais, educacionais, de saúde e turismo.

Em pauta, nos dias atuais, o que se discute é: e o futuro da cidade? Como garantir a sustentabilidade diante de um recurso não renovável? Como preservar a vida e garantir a diversificação da economia?

É importante acompanhar os feitos dos políticos que comandam o destino do município. Mais importante é que façamos nossa parte, agindo e contribuindo para que a cidade sobreviva e cresça ainda mais.

Fotografia de Bruna Alves Sá

Procópio

Por HenriqueMacedo,CarolinaFonsecaeSabrina