Catálogo da exposição de fotografias de Luanda

Luanda 34 anos depois M.Margarida Pereira-M端ller

2

@ 2008 M.Margarida Pereira-M端ller

3

4

Há 34 anos, mais precisamente no dia 23 de Abril de 1974, parti para Luanda, na viagem de finalistas da escola que frequentava, o Instituto de Odivelas. Mais de três décadas depois, também em Abril, voltei a Luanda.

Não era uma viagem saudosista, mas sim uma viagem de descoberta. Três décadas sem ir a qualquer lugar são como ir a um lugar novo. Muito mais quando tanto se passou – a independência, a guerra, a paz.

Cheia de curiosidade, entrei no avião que me levaria a Luanda. Aterrámos debaixo de chuva. À chuva saímos do avião e fomos para a camioneta que nos levaria para o terminal. À chuva saímos da camioneta e... à chuva ficámos. O terminal para mostrar os passaportes estava cheio e as pessoas acumulavam-se na rua, à chuva no meio de poças enormes de água que havia no chão. A aventura podia começar.

Há que ir para Luanda com o espírito e a mente bem abertos. Logo para começar, é um país tropical, e ainda por cima com as condicionantes pelas quais tem passado o povo angolano. Sim, é verdade, a cidade é um caos com muito trânsito, muito comércio nos passeios e no meio das ruas, muitos buracos, muitos edifícios esburacados e esventrados e muito lixo espalhado – apesar de termos visto dezenas de varredores. Mas há que olhar só para as belezas. Por exemplo, deliciar os nossos olhos na baía e marginal, a Avenida 4 de Fevereiro, o cartão de visita da capital angolana com belos edifícios, como o majestoso edifício do Banco Nacional de Angola, que ainda mantém o brasão de Portugal na fachada. De edifícios novos em Luanda sobressaem a sede da Sonangol, toda de vidro e que fica toda iluminada durante a noite, e o hotel Presidente da cadeia Méridien.

História de Luanda A origem do nome Luanda vem de Axiluandas, singular Muxiluandas, que significa “homem da ilha/mar” nativos da ilha do Cabo. Foi em 1575 que Paulo Dias de Novais, capitão-mor do Reino de Portugal, desembarcou na ilha do Cabo onde encontrou uma população nativa bastante numerosa. Um ano depois, reconhecendo não ser “o lugar acomodado ideal para a capital da conquista”, avança para terra firme e funda a vila de São Paulo de Luanda, tendo logo de seguida lançado a pedra para a edificação da igreja dedicada a São Sebastião, a 25 de Janeiro de 1576, no lugar onde hoje é o Museu Central das Forças Armadas (morro de São Miguel).

Só cerca de três décadas depois, com o aumento da população europeia e o consequente aumento de edificações, a vila a passa a cidade.

A 24 de Agosto de 1641, Luanda é atacada por uma frota holandesa comandada pelo almirante holandês Pedro Houtbeen. A 15 de Agosto de 1648, Portugal restaura a soberania portuguesa da colónia, por intermédio de uma investida conduzida por Salvador Correia de Sá e Benevides.

Uma estátua deste nobre português encontra-se actualmente na Fortaleza, à volta dum círculo enorme no chão que em tempos foi um relógio de sol, ao qual falta agora o pau que faz a sombra e indica as horas. Junto a Salvador Correia de Sá e Benevides encontram-se quatro estátuas de outras personagens ilustres da História de Angola, que estavam antigamente espalhadas pela cidade: Paulo Dias de Novaes (fundador de Luanda em 1576); Vasco de Gama; Paulo Alexandrino da Cunha (governador de Angola no período 1846-1855); D. Afonso Henriques e Luís Vaz de Camões.

Do cimo do morro onde está a Fortaleza, tem-se uma maravilhosa vista sobre a cidade.

Os muros exteriores estão bem pintados de branco. A Fortaleza, utilizada para defender a entrada da baía, que banha a cidade, de ataques navais e proteger a população contra a invasão de outros povos, como os holandeses, ingleses, espanhóis e outros exploradores da época, alberga actualmente o Museu das Forças Armadas que foi criado após a saída dos portugueses em 1975. Logo na entrada está a estátua de D. Diogo

5

Cão, primeiro português a pisar solo angolano. No largo adjacente está exposto um acervo bélico, que inclui tanques, carros de combate e pequenos aviões bimotores de origem russa.

O edifício central é – ou era – uma maravilha, totalmente forrado no seu interior por azulejos mostrando cenas da História de Portugal e de Angola e da vida animal angolana. Que tesouro ali estava! Que pena ter-se estragado e assim perdido! Que pena que o Governo Português ou alguma instituição privada portuguesa – Gulbenkian, um banco, Galp, … - invista na recuperação destes azulejos.

Numa área coberta do museu, podemos ver armas diversas, carros de combate blindados e de transporte – entre eles o jipe soviético e um carro de passeio que foram usados pelo líder da Independência de Angola, Agostinho Neto - , munição, canhões de vários calibres, fuzis, espadas e outros artefactos utilizados por combatentes cubanos e angolanos nas Guerras da Independência de Angola e contra o apartheid na África do Sul. Uma volta pela cidade Depois da Fortaleza fomos dar uma volta pela cidade. Vamos vendo belas casas coloniais – agora num estado lastimoso – e os majestosos edifícios coloniais do estado novo – agora a precisarem de grandes renovações.

Passámos pelo Largo 1º de Maio com a sua enorme estátua de Agostinho Neto, acenando ao povo, e com o jardim envolvente, impecavelmente tratado, pela Praça das Heroínas, dedicada às mulheres angolanas que lutaram contra os colonos portugueses, pela praça da Rainha Ginga, com a estátua dessa mulher que, segundo o Sr. Virgílio, o nosso condutor, tinha ludibriado os portugueses no século XVII. Quem foi esta mulher? De seu nome Nzinga Mbandi Ngola, a rainha Ginga, também conhecida por Jinga, Zhinga, Rainha Dona Ana e Rainha Zinga, era a indomável e inteligente soberana (1624-1663) do povo Ginga de Matamba e Angola. Nascida em Cabassa, interior de Matamba, conseguiu juntar vários povos na sua luta contra os invasores portugueses e resistiu até ao fim sem nunca ter sido capturada, tornando-se conhecida pela sua coragem e argúcia. Do grupo étnico Mbundu, era filha do rei dos mbundus no território Ndongo, hoje em Angola, e Matamba. Ainda hoje é reverenciada como exemplo de heroína angolana pelos modernos movimentos nacionalistas de Angola. A sua vida tem despertado um crescente interesse dos historiadores, antropólogos e outros estudiosos do período do tráfico de escravos. A sua resistência à ocupação dos portugueses do território angolano e o consequente tráfico de escravos tem sido motivo de intensos estudos para a compreensão de seu momento histórico, caracterizado por sua habilidade política e espírito de liderança desta rainha africana na defesa de sua nação.

Se Luanda tem muitos musseques, também tem bairros bem tratados, como a zona das embaixadas, onde só há belíssimas moradias, muitíssimo bem tratadas; à frente, há uma guarita com a bandeira do país em questão. Neste bairro, está também a futura casa do presidente Eduardo dos Santos, para quando se retirar das lides… É um verdadeiro palácio, com uma espectacular vista sobre a baía e a cidade.

Não muito longe, está num óptimo estado – a comparar como resto da cidade – o lendário Miramar, o cinema ao ar livre de Luanda, com uma fantástica vista sobre a cidade.

Igrejas Luanda tem ainda muitos edifícios históricos coloniais, laicos e religiosos, como a Câmara Municipal, e muitas igrejas, entre as quais destacamos a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, construída em 1679, e actual Sé de Luanda, com as suas duas torres e ladeada de palmeiras, a Igreja de Jesus, barroca, de 1636, ou a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, do século XVII, com o Convento do Carmo.

6

Alguns são os museus de Luanda, mas, além do Museu das Museu das Forças Armadas de que já falámos, destacamos o Museu Nacional de História Natural, no Largo do Kinaxixe, que mostra o universo da fauna e da flora angolana, o Museu Nacional de Antropologia e o Museu Nacional da Escravatura, no município da Samba em Luanda, onde se podem ver instrumentos de coerção e imobilização como algemas, pesos e dispositivos de madeira, pias baptismais, palmatórias, armas de caça, zangais e flechas. Adstrito ao Ministério da Cultura, o Museu da Escravatura funciona num espaço em existiu uma igreja denominada "Capela da Casa Grande", datada do século XVII, local onde os escravos eram baptizados antes de embarcarem para as colónias. Mesmo perto, funciona o mercado de artesanato, um local de paragem obrigatória para quem quer comprar objectos angolanos de madeira ou belíssimos quadros com as cores fortes de África.

7

A marginal

8

9

10

11

EdifĂ­cios pĂşblicos E Monumentos

12

13

14

15

16

17

A fortaleza

18

19

20

21

22

23

24

25

Cenas de rua

26

27

28

29

A Ilha

30

31

32

33

Mussulo

34

VNos arredores há que visitar a ilha do Mussulo; na realidade, não se trata de uma ilha, nas de uma restinga acompanhada por diversas ilhotas, com belíssimas praias, algumas desertas, com águas límpidas.

35

36

37

38

39

Miradouro da Lua

40

41

42

43

Foz do Kwanza

44

Tendo tempo, vale a pena ir até à Barra do Kwanza, a 71 km de Luanda. No caminho há que parar no Miradouro da Lua, um local quase irreal, com falésias de diversas cores a que a erosão foi dando formas diversas.

O rio Kwanza, com mais de 1000 km de extensão é o maior rio angolano. A zona da barra é lindíssima e pode aperceber-se da imponência de todo este curso de água.

A estrada até à barra está num estado muito aceitável. Depois de se passar por muitos musseques, sai-se da cidade. A paisagem melhora de imediato, lembramo-nos que estamos num país tropical. Estávamos no campo, sempre ao lado do mar. Havia bastante menos lixo, mas muitos carros abandonados, esventrados, escavacados. À beira da estrada, vendedores de frutas e legumes oferecem os produtos das suas sanzalas.

Após uma hora de viagem, chega-se à barra do Kwanza. Na ponta, uma pousada antiga está agora abandonada, sem portas nem janelas. Mas, a uns metros, um ressort novo, dum sul-africano, com bungalows virados para o rio, um restaurante à beira do rio convidam ao descanso. Há possibilidade de fazer passeios de barco rio acima, um rio de grande caudal, ladeado de densa floresta tropical.

45

46

47

48

49

50

Com o apoio da AAAIO