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Terça-feira, 31 de julho de 2012 /jornaldefatorn
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Pela primeira vez, o homem que tentou abusar de uma menina de 12 anos e depois a matou estrangulada fala à imprensa; detalha o crime cometido
A frieza de um assassino Marcoa Garcia
Em aproximadamente 40 minutos, mostra toda a sua frieza. Não altera o tom da voz. Mantém-se sereno, linear. Conta tudo do início e tenta justificar o crime que cometeu Andrey Ricardo
Da Redação redacao@defato.com
U
m homem extremamente frio. Essa é a definição mais simples sobre a personalidade de Poliano Cantarelelle Fernandes da Silva, 35, que foi preso na quinta-feira passada por tentar abusar sexualmente e depois matar Cinthia Lívia de Araújo, de 12 anos. Ele resume o ato que cometeu como uma vingança contra a mãe e uma das irmãs da vítima. Ele manteve relacionamento amoroso com as duas e se julga explorado financeiramente. Para se vingar, resolveu matar Cinthia. Na primeira entrevista concedida a um veículo de comunicação, Poliano conta detalhadamente o crime que cometeu e chocou a população norte-rio-grandense. “Vou explicar a você do início”, disse, logo no começo da conversa com a equipe, que durou aproximadamente 40 minutos. Ele é trazido à reportagem por dois agentes penitenciários. Vem sem camisa, ainda molhado depois de um banho. Pela aparência, é difícil remetê-lo às imagens do corpo de Cinthia, encontrada morta em um poço, na quinta-feira passada, 26, em Tibau. A princípio, diz que já falou tudo à polícia (em seu depoimento). A HISTÓRIA DELE Depois de uma breve conversa, sente-se confiante para falar à reportagem. A conversa acontece na presença de agentes, praticamente na porta da cela que ele tem passado seus últimos dias, isolado dos demais presos – em sua maioria, revoltados com o crime que ele confessa ter praticado. Ao invés de ir direto ao crime, ele começa a contar sua história. É casado, tem 35 anos e ganha a vida como caseiro. Faz também limpeza de piscinas. É natural de Mossoró, mas mudou para Tibau há nove anos. Na época, era casado. Sua esposa morreu e hoje ele tem um filho de 14 anos dessa sua relação. MÃE E FILHA Depois de passar por alguns endereços, acabou indo parar em uma casa próxima à casa da família de Cinthia, há
aproximadamente três anos. Foi nesse período que se envolveu primeiramente com Jadina Larisse de Araújo, que hoje tem 19 anos, e é a irmã mais velha (são três irmãs e três irmãos). Na época, Jadina tinha entre 15 e 16 anos. Manteve um namoro com ela que durou aproximadamente um ano e meio. Conta que acabou porque a menina não queria nada sério. Logo depois, passou a namorar a mãe, Vânia Maria de Araújo. Passou um ano e meio – o fim do relacionamento é recente. A VINGANÇA Durante aproximadamente três anos, período que viveu com a filha e depois a mãe, Poliano se diz explorado financeiramente. Conta que bancava as despesas da família, que continuava lhe procurando, mesmo após o fim do relacionamento com as duas. Hoje, ele convive com uma mulher de 32 anos, que está no quarto mês de gravi-
dez – é de risco. Conta ainda que a Vânia, a mãe, teria oferecido ainda outra filha para ele – não explica bem essa parte. Se sentindo explorado, ele diz que resolveu se vingar. “Queria colocar um ponto final naquilo”. Encontrou Cinthia na rua, sábado, e a ideia veio à mente. A OPORTUNIDADE Ele define o momento que encontrou com a garota, que lhe pediu R$ 5,00, como “a oportunidade de ser ressarcido”. “Deu a angústia de eu querer me ressarcir. Ela ia passando e eu decidi aproveitar a oportunidade”, conta, referindo-se ao assassinato da menina, que foi levada para uma casa na praia das Manuelas, que estava fechada. Questionado sobre a intenção nesse momento, não sabe se explicar claramente. Diz que tentou beijar a menina e que ela resistiu. É aí que ele a pega com força e agarra em seu pescoço (repete o gesto). A
menina cai desmaiada. Ele ainda verifica a respiração dela. Respirava fraco. Nessa hora, entrando em contradição com o que havia dito no início, sobre a ideia da vingança, diz que pensa em levála para casa. Mas fica preocupado com o que os outros irão pensar. “Vão querer saber o que eu tava fazendo com ela na casa...”, diz, justificando sua decisão. Logo a ideia mudou. Queria agora se livrar do corpo da menina. Escolheu o poço. Abriu, viu se tinha água, e jogou a menina. Tampou o poço e voltou para casa, por volta das 22h30, como se nada tivesse acontecido. Nessa hora, a família de Cinthia já estava desesperada, vasculhando toda cidade. APÓS O CRIME Como morava praticamente em frente à casa da vítima, acompanhou de perto toda a angústia dos seus familiares. Chegou a falar com
a mãe da garota por telefone. Viu quando surgiram os boatos sobre a menina ter sido encontrada na zona rural de Mossoró etc. Sua única preocupação era com o corpo, que logo seria achado. “Fiquei com aquele receio a semana todinha... Uma hora alguém ia lá no poço pegar água e ia ver o corpo”, conta, sem demonstrar remorso. Na verdade, sua única preocupação era em ser descoberto. Acreditava que estava sendo investigado desde o primeiro dia. DESAFIA A POLÍCIA Quando o corpo enfim foi localizado, na manhã de quinta-feira, Poliano praticamente esteve na cena do crime. Como trabalhava cuidando de várias casas, diz que precisou voltar lá, em uma casa próxima. “Fiquei como daqui (mostra o canto que está) ali, uns vinte metros...”, diz, acrescentando que fez seu trabalho, vendo de longe
a multidão que se aglomerava na casa onde havia deixado o corpo de Cinthia. Voltou para casa e logo depois embarcou em um táxis para Mossoró. Diz que não queria fugir. Era viagem programada. Ele percebe a desconfiança do repórter e diz que tem provas. RELAÇÃO FAMILIAR Já no fim da conversa, é questionado pela reportagem sobre a reação dos seus familiares. Não teve contato com ninguém. Desde quando foi preso, está em uma cela isolada da Cadeia Pública de Mossoró. Falou apenas com o advogado. Sobre a família, diz: “É um constrangimento muito grande”, fala, acrescentando que chegou a saber que os moradores tentaram matar seu filho e sua companheira, ainda na quinta, após a sua prisão. Não demonstra, no entanto, preocupação. Fala friamente sobre isso. Demonstra preocupação mesmo com sua casa, que foi destruída. Pede para ver fotos. O FIM DA RAIVA Por fim, a reportagem questiona a ele sobre a raiva que havia mencionado no início da entrevista. É questionado sobre ter alcançado seu objetivo, quando matou Cinthia para se vingar da irmã e mãe dela. “Mediante essa situação, a gente se arrepende de tudo. Fui além do que eu queria ir. Não tenho mais raiva delas não. Acabou tudo aqui agora. Não vou mais ver nenhuma das duas”, explica, dando a entender que sua intenção, “se livrar das duas”, teria sido alcançada. Sobre o futuro, fala que irá cumprir sua pena e mostra (pouco) medo de ser punido pelos presos (por enquanto é isolado). REVOLTA DOS PRESOS Poliano está sendo mantido em uma cela isolada. Não tem acesso a nada – até mesmo para evitar um suicídio. Enquanto conversava com a reportagem, presos gritavam: “bota ele aqui”; “veste uma sainha nele”; “traga essa menina pra cá”. As frases, segundo os agentes penitenciários, representam o pensamento da maioria. A cadeia tem hoje 161 presos. Muitos já disseram que vão se vingar se tiverem oportunidade. A direção tem mantido o preso isolado, mas sabe que não terá como fazê-lo até o julgamento, que pode demorar vários anos. Estupro não é tolerado e se for contra criança, menos ainda. Veja vídeo sobre o assunto no site www.defato.com