Hoje Macau 8 FEV 2013 #2790

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a 8.2.2013

familiar da directora da Galeria 57, cheguei facilmente ao relacionamento com a Lina Costa e Sousa. Era uma época de alguma transição cultural onde muitos dos meus amigos e gente que eu conhecia, fazia vídeos, pinturas, artes experimentalistas, enfim, exemplos de liberdade maior de expressão, o que muito me sensibilizou. Apesar de durante o dia exercer funções profissionais de intervenção social, como os meus horários eram por turnos diferenciados, nos tempos mais livres atirei-me de cabeça para o mundo das artes. É aí que conheço a Lina, começo a visitar a galeria enquanto espectador, íamos conversando, fazendo tertúlia, até que numa ocasião, em conversa sobre pintura e pintores, apresento um pintor amigo que visita a Galeria 57. A partir daí, desenrolou-se tudo, ganhámos amizade e admiração, e começámos a trabalhar em conjunto até hoje, já lá vão uns 13 anos.

a Galeria 57

lação ais”

cuja tese foi as Relações Interprofissionais de Saúde Mental, fruto de um completo trabalho de campo, por exemplo junto de equipa médica profissional em Saúde Mental no Hospital de Leiria. Apesar de muito do seu tempo ser dedicado à organização das mostras da Galeria 57, dirigida por Lina Costa e Sousa, continua a estudar. É verdade (risos). Preparo o doutoramento em sociologia. Voltando às artes. Leiria foi a cidade vital na sua definitiva ligação às artes. Vou para Leiria em 1994 por ter aberto na altura uma Comunidade Terapêutica da instituição onde trabalhava. Como já era amigo de um

entrevista

www.hojemacau.com.mo

As artes plásticas ou belas-artes, são as expressões que mais aprecia no mundo artístico criativo? Realmente são. Se bem que a minha arte primeira foi a música, sempre a minha grande paixão. Continuo sendo um grande ouvinte de música e apreciador de concertos, mas não tenho qualquer vocação para executante ou cantor. Tal como o cinema, claro. Gosto das artes em geral, da performance de quem cria, de quem faz, mas o meu directo e já algo longo envolvimento é com a estética. De modo que as artes plásticas são o meu campo artístico digamos que preferencial. Das várias viagens que tem feito a Macau, sensibiliza-o as artes plásticas que observa? E, já agora, por ser o outro lado da sua vida, a questão social local também lhe tem chamado a atenção? Tenho gostado de ouvir e ler algumas notícias sobre políticas sociais em Macau que me parece estarem a desenvolver de forma muito positiva. Soube que a Caritas local organiza a distribuição de cabazes de comida a pessoas carenciadas. Gosto de um projecto assim. Se tiver oportunidade, durante esta ou a próxima viagem a Macau, tentarei conhecer melhor a organização, as acções que desenvolvem, e saudar o presidente da Caritas. Ao mesmo tempo soube que um casino teve atitude semelhante atribuindo cabazes a famílias necessitadas. Outro tema que

eu sei que anda a ser bastante falado aqui, é a violência doméstica. Sei que o debate está a desenvolver-se e a tentarem-se conclusões relativamente à prevenção desse tipo de violência bem como apoio às vítimas. É um assunto muito importante, tenho muito interesse em depois saber que tipo de políticas foram concebidas para combater, evitar e prevenir este tipo de crime. Falar-se nisso, com profundidade, já é importante.

Gostava de saber o que se pensa localmente sobre a relação do mundo do jogo com as questões sociais, o que se pensa sobre a prostituição, sobre o HIV. Estas linhas, custe ou não dizer, cruzam-se ou podem cruzar-se muitas vezes O mundo do jogo tem aspectos que provavelmente também o sensibilizarão. Sem dúvida! Gostava de saber o que se pensa localmente sobre a relação do mundo do jogo com as questões sociais, o que se pensa sobre a prostituição, sobre o HIV. Estas linhas, custe ou não dizer, cruzam-se ou podem cruzar-se muitas vezes. Por curiosidade profissional e como docente, já tentei saber uma série de números e outros elementos sobre estas matérias no cenário de Macau, mas não tenho tido grande informação. No campo da prevenção da toxicodependência sei que existem estruturas com trabalho feito, nomeadamente a ARTM, o Desafio Jovem, o IAS. Mas sobre as questões relacionadas com a adição ao jogo é que muito gostava de estar informado com mais profundidade. Que tipo de formação têm, neste aspecto, os directores de casinos e outros responsáveis, que ideia possuem ou lhes é fornecida sobre multiculturalidade, sobre tipos de prostituição, o HIV. Esses profissionais devem estar muito bem preparados nestas matérias. Nas artes, tem apreciado obras de autores orientais... Sempre que posso, obviamente. Aprecio imenso as obras dos novos autores chineses,

neste caso, mas incluindo os de outras cidades da China que tenho visitado. Noto algumas mensagens de contra-cultura através da arte, a irreverência artística sobre alguns padrões estabelecidos. Mas sobressaem valores culturais orientais, naturalmente. De resto, é nítida a influência dos artistas plásticos chineses em termos internacionais. Tenho vários exemplos, mas dou este: a Galeria 57 levou em 2008 a Portugal o pintor Hang Qing, de Hong Kong. Foi um enorme sucesso, muito público e críticas excelentes. Pelo que tenho observado em Xangai ou Pequim, actualmente os artistas plásticos chineses são de grande talento, imensa evolução no sentido estético e não só, também na criatividade, deixando os tradicionais modelos dos passarinhos, das folhas, das montanhas, dos ideogramas, tudo muito bonito, muito bem elaborado, mas que se repetia até à exaustão. Hoje pub

os artistas chineses estão num patamar mundial imparável. O que sente no momento de desmontar uma exposição? Sinto que é um desfragmentar de um profundo trabalho, sentindo-me eu próprio desfragmentar. Principalmente quando as exposições são curtas. Quando são por períodos longos, até nos sabe bem ter a enorme trabalheira de arrumar tudo aquilo e começar logo nos trabalhos criativos da montagem da próxima exposição. Quando observa um trabalho de arte pela primeira vez, ainda mantém o mesmo olhar expectante dos primeiros tempos? Apesar de boa parte da minha vida quotidiana ser também por entre obras de arte e autores, tudo isso, mantenho a mesma ingenuidade na observação de tudo, a mesma vontade, o mesmo entusiasmo. Claro que se vou ver

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trabalhos de um artista de que conheço a obra e o trajecto, é natural que vá com alguma ideia preconcebida. Por outro lado, quando acontece ser convidado a ir ver trabalhos de alguém que não conheço e, por exemplo, me enviou fotografias das obras pela internet, com intenção de eu lhe dar a minha opinião sobre se merece ser exposto ou não merece, eu fico com alguns problemas íntimos, pois não quero ser pretensioso, evito ser envolvido nesses convites. Quando são pessoas mais chegadas, ou amigas de amigos meus, dou a minha opinião com mais à vontade, prevenindo que posso não dizer o que o autor deseja ouvir. É dessa ingenuidade que eu falava há pouco. Nos outros casos, que acontecem com frequência, inclusivamente com deslocações pagas, sinceramente eu evito, principalmente quando não estou procurando novos artistas nesse momento.


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