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Manejo Nutricional no Período Pós-Parto

NUTRIÇÃO

Gilson Dias, nutricionista e gestor técnico de bovinos leiteiros da Agroceres Multimix

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Manejo Nutricional no Período Pós-Parto

As vacas leiteiras modernas são resultado de inúmeros melhoramentos que as fazem verdadeiras máquinas de produção de leite, função que desempenham muito bem e está diretamente ligada à lucratividade da fazenda. No entanto, o período pós-parto traz consigo inúmeras condições, como aumento da sensibilidade a mudanças no ambiente, maior propensão a distúrbios metabólicos e quedas de imunidade.

É no período pós-parto que ocorre o maior índice de mortes e descartes involuntários por questões relacionadas à saúde dos animais. Não podemos nos esquecer que tudo o que vier a ocorrer no período pós-parto é reflexo do que acontece no período pré-parto e ambas as fases estão positivamente correlacionadas com o sucesso da próxima lactação.

A vaca, que hoje está gestante, passará a lactante, o que significa que muitas mudanças ocorrem num curto prazo de tempo. Conforme a data do parto se aproxima, as vacas vão diminuindo a capacidade de ingestão de energia liquida.

Enquanto, antes do parto, a demanda se mantém baixa, a vaca ainda permanece em balanço energético positivo. Logo após o parto a demanda por energia para lactação dá um grande salto. Em contrapartida, a capacidade de ingestão não acompanha tal demanda. Essa situação causa um fenômeno chamado de balanço energético negativo (BEN).

Nesse cenário, as estratégias nutricionais são uma importante ferramenta para atender às necessidades específicas dos animais neste período. Juntamente com o maior conforto possível, isso refletirá em melhora dos níveis de produção e, consequentemente, em maior produtividade para a fazenda.

Conseguir aproximar a composição dos alimentos ofertados no pré-parto e no pós-parto pode refletir em sucesso no que diz respeito à geração de maior atratividade dos animais pelo alimento e, consequentemente, aumento do consumo. Oferecer alimentos proteicos e energéticos, com forragens de alta qualidade no pré-parto, ajudará o animal a estar mais habituado a esse tipo de alimento após o parto, e isso se refletirá em amenização dos problemas de consumo, comuns no pós-parto.

Outro ponto positivo desse trabalho de aproximação dos alimentos oferecidos nas duas fases, diz respeito à adaptação ruminal. Os micro-organismos do rúmen demoram para se adaptar a alguns alimentos e quando, por exemplo, conseguimos manter a forragem pré-parto e pós-parto com qualidade similar, conseguimos ter maior capacidade de crescimento microbiano e, consequente adaptação dos microorganismos do rúmen.

Desta maneira, conseguimos aten-

der ao pré-parto de forma efetiva, maximizando o consumo, que vai se refletir positivamente no período pós-parto.

Exigências nutricionais

Quando formulamos dietas para o período pós-parto é muito comum termos a situação de lotes com animais em estágios diferentes de lactação, e a formulação das dietas é realizada com base na média do grupo.

Os animais em pós-parto imediato (entre a 1ª e 3ª semanas) têm ingestão de matéria seca reduzida, o que os leva a consumir menor quantidade de nutrientes, justamente quando apresentam grande demanda pelos mesmos, devido a condições fisiológicas como a involução uterina, e mesmo à maior propensão a infecções, como a mastite. Para suprir esta necessidade, suplementação mineral e vitamínica são fundamentais.

Nesta fase, a dieta precisa ser densa em atributos proteicos, fibra efetiva para manter a ruminação, além de suplementação mineral e vitamínica mais intensiva. Outro ponto ao qual devemos nos atentar são os carboidratos altamente fermentescíveis.

No pós-parto, a ingestão excessiva de carboidratos com alta fermentação como amido de alta degradabilidade, pode causar efeito negativo no consumo de alimentos. Isso pode ser evitado através do uso de fontes alternativas, ou mesmo através da diminuição da concentração desses carboidratos de alta fermentação.

Comportamento e manejo

No período imediato ao pós-parto a vaca ainda apresenta o úbere inchado, momento em que também ocorre a involução uterina. São situações que promovem algum desconforto ao animal e, por isso, é muito importante que tenha facilidade em encontrar o espaço para descanso. O ideal é manter a capacidade de lotação em torno de 90%.

Outro aspecto fundamental é considerar um espaçamento mínimo de cocho, entre 60 e 70cm, que facilite o acesso ao alimento. A maior disponibilidade de cocho também é importante para contribuir com o consumo e, consequentemente, com a produção da vaca.

Lote específico

Nesse sistema, o ideal seria termos um lote específico para animais pós-parto e isso se deve a inúmeras razões. Uma delas é a possibilidade de especificar uma dieta baseada nos parâmetros já comentados neste artigo, ou seja: - mais rica e densa em minerais e vitaminas adequados para o período pós-parto, - com fontes proteicas mais nobres e específicas, que possam trazer efeito benéfico para o fígado e metabolismo em si, - além de fibra efetiva.

Basicamente, são atributos que, quando se tem um lote pós-parto específico, conseguimos dinamizar com mais eficiência, bem como oferecer espaçamento de cocho e maior área de descanso para os animais.

Vacas especiais têm necessidades especiais. Se conseguirmos agregar estratégias de entendimento sobre o período pós-parto, com uma nutrição específica para esses animais, aliando conforto e bem-estar, conseguiremos refletir em maior produção e, consequentemente, lucratividade na fazenda.

NUTRIÇÃO

Cristina Cortinhas, Supervisora de Inovação e Ciência Aplicada da DSM; Marcelo Machado, Gerente Técnico Leite LATAM DSM

Micotoxinas: um risco para a pecuária leiteira?

Com a crescente pressão pela procura por sistemas de produção e alternativas que melhorem a eficiência de produção, alguns problemas têm emergido. Para aumentar a produtividade, técnicas para melhorar a genética, o conforto dos animais e a nutrição têm sido utilizadas. Com isso, aumentou-se o uso de alimentos conservados, como silagens e fenos; de diferentes subprodutos e de alimentos energéticos, como o milho, na dieta das vacas para aportar suas necessidades por nutrientes. Porém, o que muita gente não vê é que esses alimentos também podem oferecer riscos aos animais. Um dos problemas mais clássicos é a deterioração desses alimentos e, com isso, o aparecimento das micotoxinas. Uma pesquisa realizada mundialmente pela DSM 2021, na América Latina, constatou cerca de 62% dos alimentos destinados aos animais, contaminado com micotoxinas.

Micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por muitos fungos filamentosos dos gêneros As-

Figura 1. Principais micotoxinas encontradas em amostras de milho, soja, DDGS e forragens no Brasil em 2021.

pergillus, Fusarium e Penicillium, que podem causar respostas tóxicas quando ingeridos. A contaminação por micotoxinas na nutrição animal é um problema mundial, pois causa imunossupressão, aumento na prevalência de diversas doenças, redução na eficiência produtiva e problemas reprodutivos. Mais de 500 diferentes tipos de micotoxinas já foram identificados, sendo 6 delas de maior relevância para a pecuária leiteira: Deoxinivalenol (DON), Fumonisina (FUM), Aflatoxina (Afla), Zearalenona (ZEN), Toxina T2 e Ocratoxina (OTA).

No Brasil, em levantamento realizado pela DSM em 2021 foi constatada a predominância de FUM no milho e DDGS (dried distillers grains – grãos secos de destilaria de milho), predominância de DON na soja e de OTA nas forragens, conforme descrito na figura abaixo (Figura 1).

Também foram avaliadas amostras de vários subprodutos, como: caroço de algodão, polpa cítrica, casca de soja, entre outros.

As micotoxinas se tornam uma preocupação ainda maior quando observamos que sua ocorrência raramente é de forma isolada e que, com isso, efeitos sinérgicos ou adicionais podem ocorrer. Durante muito tempo se pensou que as bactérias do rúmen tinham a capacidade de inativar os efeitos das micotoxinas. Essa afirmação é em parte verdadeira, pois existem grupos de bactérias ruminais com a capacidade de degradar micotoxinas; porém, o alto consumo de dieta aumenta a taxa de passagem, o que leva a uma redução no tempo para que ocorra a detoxificação no rúmen e, consequentemente, redução na degradação das micotoxinas. Além de consumir maior quantidade de alimento, uma vaca mais produtiva muitas vezes tem uma dieta mais “desafiadora”, com maior quantidade de energia e, com isso, ocorre redução no pH ruminal, alteração na microbiota e redução ainda maior na detoxificação no rúmen. Dessa forma, se torna evidente que não somente o nível de contaminação da dieta é fator determinante para a ocorrência de uma micotoxicose (nome que se dá à doença causada pela ingestão de alimentos contaminados por micotoxinas), mas outros fatores como: consumo e tipo de dieta; tipos de micotoxinas e interações entre elas, são também muito importantes.

Como principais efeitos das micotoxinas temos: Aflatoxina - reduz a produção de leite, é imunossupressora, hetpatotóxica, carcinogênica e em humanos tem poder carcinogênico, mutagênico e hepatotóxico; Fumonisinas – reduz o consumo, produção de leite, ganho de peso, é hepatotóxica, e acentua o balanço energético negativo; Zearalenona – causa problemas

Também foram reprodutivos, como aumento de casos avaliadas amostras de vários subprodutos, como: caroço de algodão, polpa cítrica, casca de soja, entre outros. de aborto, atrofia testicular, ninfomania, dificulta a fixação embrionária, As micotoxinas se tornam dificulta o retorno ao cio; Deoxinivalenol – reduz o consumo, reduz a mouma preocupação ainda maior quando observamos que sua ocorrência raramente é de forma isolada e que, com isso, tilidade ruminal, reduz a produção de proteína microbiana, aumenta os casos efeitos sinérgicos ou adicionais podem ocorrer.Durante muito tempo se pensou que as bactérias do de deslocamento de abomaso e a ocor-rúmen tinham acapacidade rência de diarreias; Toxina T2 – reduz de inativar os efeitos das micotoxinas o consumo, causa perda de peso, causa . Essa afirmação é em parte verdadeira, pois existem gastroenterite e hemorragia intestinal, grupos de bactérias ruminais com a causa má formação fetal, é imunotócapacidade de degradar micotoxinas; porém, o alto xica e hematotóxica; Ocratoxina A – é consumo de dieta aumenta a taxa de passagem, carcinogênica, hepatotóxica, nefrotóo que leva a uma redução no tempo para que xica, e imunossupressora. ocorra a detoxificação no rúmen e, consequentemente De forma geral, a redução no con, redução na degradação das sumo de dieta, redução na taxa de rumicotoxinas. Além de consumir maior quantidade de alimento, minação, aumento na ocorrência de uma vaca mais produtiva diarreias, redução na produção de leite muitas vezes tem uma dieta mais “desafiadora” e aumento nos problemas reprodutivos , com maior quantidade de energia e, com isso, são os sintomas mais observados das ocorre redução no pH ruminal micotoxicoses. , alteração na microbiota e redução ainda maior na detoxificação Para auxiliar no combate contra as no rúmen. Dessa forma, se torna evidente que não somente micotoxinas surgiram os adsorventes o nível de contaminação da dieta de micotoxinas. Esses adsorventes elié fator determinante para a ocorrência de uma micotoxicose minam as micotoxinas por adsorção (nome que se dá à doença causada pela ingestão de alimentos contaminados por micotoxinas) e os mais comumente encontrados do mercado são os adsorventes inorgâ-, mas outros fatores como: consumo e tipo de dieta; tipos de micotoxinas e interações entre elas, nicos (minerais), argilas organofílicas (exemplos: alumínio silicato e bento-são também muito importantes. Como principais efeitos das micotoxinas temos: Aflatoxina nita) e adsorventes orgânicos (paredes de leveduras). Porém, diversos testes in reduz a produção de leite, é imunossupressora, hetpatotóxica, carcinogênica vitro demonstraram que os adsorventes mais comuns têm boa eficácia con-e em humanos tem poder carcinogênico, mutagênico e hepatotóxico;Fumonisinas–redu tra a Afla e baixa contra a DON, ZEA e FUM. Por esse motivo, outras tecnoz o consumo, produção de leite, ganho de peso,

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