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sábado, domingo e segunda-feira, 26, 27 e 28 de outubro de 2013

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Começou a contagem regressiva para dar adeus às dívidas A dica é usar o décimo-terceiro com inteligência para entrar em 2014 com o "pé direito". Veja como fazer isso sem abrir mão do clima festivo.

Karina Lignelli décimo-terceiro de Fernando Gonzaga, designer de cursos de educação à distância, já tem destino certo. Metade será para pagar uma das despesas obrigatórias de início de ano, o IPVA. Já a outra metade vai para... Pagar dívidas? Quitar o cheque especial? Abater financiamentos? Nenhuma das alternativas: o montante será destinado exclusivamente para curtir as festas de fim de ano ao lado da mulher, com quem se casou há um mês. Mas qual o segredo para começar 2014 (ou qualquer outro ano) no azul? Planejamento, a velha e boa recomendação dos especialistas em finanças pessoais. Ao contrário de grande parte das pessoas, que aguardam ansiosamente o abono de fim do ano para desafogar o orçamento, limpar o nome, reformar a casa, ou até extrapolar o tal "espírito natalino" comprando muitos presentes, há quem faça como Fernando: ao mesmo tempo em que se planeja para manter as contas fixas em dia, consegue usar o dinheiro extra de forma saudável. E de quebra, aproveita seus pequenos e merecidos prazeres depois de mais um ano de trabalho duro. M a s e s s a n ã o é a re g r a . "Quando chega perto do fim do ano, as pessoas pensam primeiro em gastar o décimoterceiro com presentes. É cultural. Mas se pessoa se empolga, consome o abono inteiro nisso. Resultado: já começa o ano no cheque especial e com dívidas no cartão de crédito. Por isso a palavra de ordem é ' planejamento", confirma Cláudio Gonçalves, professor do MBA de Gestão de Riscos da Trevisan Escola de Negócios. "Em um cenário de juros altos, puxados pela elevação recente da Selic - que sinaliza que veio para ficar e afeta o mercado de crédito - maior será a necessidade de planejar para não comprometer a renda só com o pagamento de juros". O palestrante Francis Brode Hesse, especialista em finanças pessoais, compartilha da mesma opinião. Segundo ele, é preciso planejar mais o orçamento para receber esse "algo a mais" - e não assistir o décimo-terceiro sumir em questão segundos. "Não se pode esquecer das despesas de janeiro, como IPVA, IPTU e material escolar, além de avaliar antes como comprar de forma consciente no período de festas para não recorrer ao cheque especial ou a empréstimos", orienta ele, que recomenda ao consumidor consultar os gastos fixos que realizou no início deste ano para ter uma ideia de quanto vai gastar no começo de 2014.

sempre: cheque especial não é renda adicional", ressalta. O professor da Trevisan lembra que o grande problema do consumidor é que ele é movido pela emoção - comportamento amplamente estudado pela psicologia econômica. "As pessoas pegam o décimoterceiro e simplesmente começam a gastar. Na euforia do momento pensam: 'no ano que vem eu resolvo'. Mas o ano que vem chega na virada de uma noite e, com ele, as contas para pagar. É quando chega a hora de acionar a tecla da racionalidade para evitar dor de cabeça mais adiante". Segundo Francis Hesse, não tem problema se o consumidor se organizar e comprar presentinhos mais simbólicos no fim do ano. "Não se pode penalizar os outros só porque existem dívidas ou outras prioridades. Mas é preciso conversar com todos da casa a respeito: não adianta só um economizar e o resto continuar gastando", afirma. Para Gonçalves, da Trevisan, consumir também é qualidade de vida, e a renda vinda do trabalho é o mecanismo que dá acesso a isso. "Mas consumir por impulso gera alto grau de endividamento num dia, para acordar inadimplente no outro", completa.

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Eu e minhas dívidas A frase, que nomeou a palestra de Francis Hesse na Expomoney, aponta para um problema que muitas pessoas enfrentam quando chega o momento de receber o abono: dívidas fora de controle que em geral levam à inadimplência. Por isso, especialistas são

'Vermelho controlado'

unânimes em recomendar ao consumidor que priorize o pagamento dessas contas com o décimo-terceiro salário. "Mas é preciso listar todas as pendências, desde as de maior valor (sobre a qual incidem juros mais altos, como o rotativo do cartão de crédito) até as de custo menor", recomenda Hesse. O especialista diz que, com os juros subindo, tomar um empréstimo para

quitar dívidas se torna mais crítico. "Só se for um consignado (que cobra juros mais baixos) para eliminar as dívidas mais altas. Por isso o fim de ano é um bom momento para resolver esse problema", diz. Cláudio Gonçalves, da Trevisan, lembra que, se a pessoa se desequilibrou por falta de planejamento, a ideia é aproveitar o abono para renegociar as dívidas por ordem de

prioridade, começando pelo cheque especial. Segundo pesquisa realizada pelo Procon juntos aos bancos, em outubro, a taxa mínima do cheque especial foi de 4,41% ao mês e a máxima de 10,59% . A média dos bancos pesquisados é de 8,18% ao mês, o que, no ano, equivale a 156,86%. "Esta taxa é uma 'violência' ao bolso do consumidor", afirma, reforçando a importância de

refletir o quanto da renda pode ser perdida em juros por falta de planejamento. "Sair desta 'forca' financeira para uma situação melhor é simples e não requer muita sofisticação. O ideal é não contar com o valor total que entra de dinheiro para pagar essas dívidas – e assim ter condições de honrar as parcelas –, reservar 20% para emergências e usar só o que sobrar. E lembrar

Cálculo mental é armadilha icar endividado é ruim. Mas chegar ao superendividamento – ou seja, quando as dívidas fugiram totalmente do controle e é praticamente impensável sair do "poço sem fundo" da inadimplência – é muito pior. Para quem vai entrar em 2014 em uma condição financeira que nem o décimo-terceiro salário pode minimizar, todo cuidado é pouco. Apesar de o superendividamento ser gerado pelas mais diversas situações, ele é o resultado da atitude do consumidor de gastar muito além da sua capacidade mensal de pagamento. Vera Remedi, coordenadora do Programa de Apoio ao Superendividado do Procon-SP, afirma que, em geral, as pessoas se iludem fazendo cálculos mentais equivocados, e a psicologia econômica dá uma noção disso. A pessoa ganha R$ 2 mil, mas gasta R$ 100, R$ 200, R$ 500. Na cabeça dela, porém, esses R$ 2 mil nunca diminuem. "A renda fica fixada e a pessoa esquece que, com despesas fixas com aluguel, transporte e alimentação, o

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valor líquido que tem diminui para R$ 1,5 mil. Quando o consumidor não faz o planejamento adequado, se baseia em cálculos mentais. O resultado é que ele perde a noção de onde está indo o dinheiro e do que vai fazer para controlar essas despesas", afirma. Segundo Vera, cartões de crédito, cheque especial e empréstimos no caixa eletrônico são os caminhos mais curtos utilizados para quem precisa de dinheiro no curto prazo. E isso faz a bola de neve aumentar ainda mais. "É uma postura do mercado oferecer crédito sem orientação adequada para depois renegociar a dívida. Não dá para colocar a culpa só no consumidor", explica a coordenadora. Vera recomenda bater na tecla do planejamento, colocar os gastos do início do ano na ponta do lápis e – para quem tem muitas dívidas em aberto – avaliar se é necessário mesmo gastar com presentes. A orientação da coordenadora para o consumidor evitar o superendividamento é aproveitar o décimo-terceiro para quitar pendên-

Paulo Pampolin/Hype

Fernando Gonzaga: contas em dia cias à vista, já que esta condição pode gerar uma redução no valor total da dívida. "Pior do que está, não pode ficar. Mesmo negociando, só assuma o que cabe no orçamento mensal para não comprometer despesas básicas, como uma conta de luz." (KL)

O designer Fernando Gonzaga segue a máxima de que consumo é qualidade de vida. Se uma das principais regras da saúde financeira é poupar, Fernando lembra que a prática comum no seu cotidiano quando jovem mudou hoje, aos 33. Segundo ele, a vida levou-o a fazer escolhas, como comprar moto para gastar menos tempo no trânsito, pagar faculdade para melhorar o salário, financiar apartamento... "Aí veio casamento, lua de mel... e a fatura do cartão foi lá para o alto!", diverte-se. Despreocupado, ele diz que, apesar de todas as contas, incluindo as que resultaram da festa de casamento e da viagem para Cancún, consegue manter seu orçamento em um vermelho controlado. "Planejamos muito e tentamos economizar ao máximo. Agora estamos em uma zona confortável: a maioria das contas está paga, temos uma reserva para quitar o que falta, e o resto (as passagens) estão parceladas em três vezes", conta ele. O designer garante que consegue equacionar as dívidas e despesas fixas, para aproveitar o abono de forma positiva, e diz fazer o planejamento de tudo sem entrar no rotativo do cartão de crédito. Com a ideia de voltar a poupar daqui a um tempo, Fernando não deixa de fazer o que gosta só para guardar dinheiro. Se o orçamento apertar, não hesita em pagar as pequenas despesas com o cartão. "Abrir mão disso só para econ o m i z a r n ã o d á . Po u p a r é bom, mas se te impede de viver não vale. Já pensou se eu deixar de ir no cinema só para guardar dinheiro na poupança? Isso não é viver!", brinca.


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