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De olho na transformação social

Do CoMBate à FoMe à proteção do meio ambiente, é a tecnologia que tem habilitado o surgimento de organizações que endereçam questões diversas desse ecossistema. O tema foi debatido em painel mediado por Malu Gaspar, jornalista de O Globo, e participação de Gilson Rodrigues, presidente do G10 Favelas; Daniela Leite, fundadora do Comida Invisível; Jesaias Arruda, head of IT & Operations na Bemol; Rene Silva, editor-chefe do jornal Voz das Comunidades; Joe Paul, CEO do Byte Back; e Maria Siqueira, cofundadora diretora de Operações do Pacto Contra a Fome.

Enxergar e atender à população que está à margem tem sido foco de pessoas como Gilson Rodrigues, do G10 Favelas. “Apesar de estarmos em bolsas de pobreza, essa população movimenta alguns milhões de reais; são 14 mil favelas no Brasil e o potencial de consumo dessas favelas é de R$ 200 bilhões”, destacou Rodrigues, lembrando que os aplicativos de carro não chegam às favelas e que as mulheres empreendedoras da favela têm mais dificuldades para acesso ao crédito. Ele ressaltou que a internet tem sido fundamental para proporcionar oportunidades às pessoas e uma ferramenta importante para causas sociais. É também por meio da tecnologia que Daniela Leite está no combate à fome. Com o Comida Invisível, ela aproxima quem tem alimentos a quem precisa deles. “O desperdício de alimentos é um dos principais problemas do mundo. E no Brasil não é diferente; o Brasil é um dos dez países que mais desperdiçam alimentos, algo na ordem de 26 milhões de toneladas, enquanto a gente tem 33 milhões de pessoas em situação de fome”, contou.

Na mesma linha, Maria Siqueira, do Pacto contra a Fome, disse que usa tecnologia de armazenamento e análise de dados para fomentar as ações e chamar a atenção para iniciativas. “O primeiro objetivo é tornar úteis e acessíveis os dados sobre a fome, integrando indicadores de segurança alimentar de diferentes bases de dados públicas. “O dado de 33 milhões foi colhido pelo terceiro setor. As informações são difusas e inacessíveis. Precisamos de diálogo com setor público e privado para garantir acesso a informações”, apontou.

Se a conectividade e a tecnologia parecem impres- mercado de 110 milhões de pessoas economicamente ativas. “É uma fração pequena dentro do todo. Quando alcançarmos massa crítica, será preciso uma segunda fase de maturidade dos algoritmos de crédito. O Open Finance vem para isso, mas precisa ganhar escala”, apontou Leandro Vilain, sócio da prática de Financial Service da consultoria Oliver Wyman.

Para o Banco Central, os números já são um sinal de sucesso do novo modelo. “O crescimento desse compartilhamento de informações é impressionante, especialmente, porque se trata de um projeto de longo prazo. E ainda não temos casos de uso bem definidos, aplicações revolucionárias. Então, é olhar para o sistema e ver que temos 4 bilhões de chamadas por mês, que o PIX tem 3 bilhões de transações mensais e temos 20 milhões de consentimentos. O potencial é enorme”, afirmou o chefe do departamento de Regulação do Banco Central, João André Calvino Marques Pereira.

Para Pereira, o Open Finance vai demonstrar a mesma familiaridade e facilidade com a qual se pede, hoje, trans- porte ou comida. “Quando os casos de uso começarem a aparecer, as pessoas vão sentir o benefício. O Open Finance não é um produto. É uma infraestrutura sobre a qual os casos de uso são construídos”, detalhou.

Para Priscila Faro, conselheira da Abranet para Open Finance e head de Regulação Fintech do Mercado Pago, um dos desafios é utilizar essas informações compartilhadas para levar mais serviços para o cliente, de uma forma que traga mais benefícios. “A premissa do Banco Central foi justamente empoderar o cliente, para que ele tome a decisão mais acertada, comparando as suas instituições de relacionamento”, disse.

André Sonnenburg, CIO do app Me Poupe Web!, mostrou-se otimista com relação às inovações e falou sobre a expansão do Open Finance para a América Latina e a integração com a criação de moedas digitais. “Eu acredito na melhora da sociedade, e isso tem a ver com a educação financeira.” • (com informações de Luis Osvaldo Grossmann) cindíveis, o que fazer quando a internet não chega aonde precisa? É esta questão que Jesaias Arruda, da Bemol e vice-presidente da Abranet, quis resolver ao colocar internet em diversas comunidades da região Amazônica. “Temos acompanhado o que é inclusão digital pura. Temos projetos em cidades que, depois da internet, mudaram: o comércio foi bancarizado, passou a ter acesso ao Pix, anuncia nas redes sociais”, destacou Arruda.

É também a tecnologia que conecta as comunidades e que permitiu que Rene Silva fundasse o jornal Voz das Comunidades, para justamente mostrar o lado da favela que a grande mídia não mostra. “Assim como na Amazô- nia e em várias áreas do Brasil, muitas partes da favela não têm acesso à conexão e nem acesso ao sinal do celular”, disse, contando que, por causa disso, na pandemia, para informar a população os desafios foram ainda maiores e foram utilizados carro de som, faixas e cartazes.

Para Joe Paul, do Byte Back, muitos dos problemas enfrentados no Brasil são globais. É preciso, segundo ele, garantir que as pessoas tenham acesso à internet, porque, se não tiverem, estarão desconectadas do mundo em uma era digital crescente. Mas não basta apenas o acesso, é preciso ter os aparelhos tecnológicos apropriados e habilidades digitais (leia entrevista exclusiva na página 18).•