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Onde nos encontramos neste encerramento do ano de 2021

Nuno Vieira

Este número do Algarve Médico que encerra o segundo ano de pandemia pretende-se que seja um reflexo da atualidade, desde “novo” normal, em que a covid-19 ainda faz parte do quotidiano mas já não vivemos em função dele. Embora saibamos, pelas projeções de que dispomos, que o inverno ainda nos fará estar de olhos postos nos números da pandemia, queremos com este número, onde a covid-19 já não está diretamente presente, instalar alguma normalidade no meio desta anomalia em contínuo.

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Achámos por isso interessante revisitar o passado e confrontar o caminho percorrido desde essa outra pandemia presente na memória já de poucos, e escrita para sempre na história mundial - a pneumónica. Publicamos “Saúde numa comunidade – Loulé na primeira metade do século XX” que extrapolado, podemos considerar que traça também o retrato da saúde de um país. E neste artigo damos conta de uma leitura da exposição.

Deste confronto, e dos cerca de 100 anos que nos separam verificamos que por um lado, a ciência e a medicina evoluíram de uma forma tremenda, que nos coloca hoje numa situação muito mais confortável, ou melhor, dispondo de mais e melhores armas para lutar nestas “guerras”. Entretanto deixamos para a próxima oportunidade a abordagem do confronto entre estas pandemias em concreto, que serão certamente, as melhores caracterizadas na história da humanidade. Por outro lado, vemos retratada uma realidade que ainda hoje está muito presente. A doença, ou se preferirmos, a falta de saúde, acentua em larga escala as desigualdades sociais e económicas. E neste aspeto, 100 anos ficam a parecer pouco tempo. Esta evolução que sentimos e se apresenta mais ou menos rápida, com mais ou menos mudanças, é também o tema central do trabalho que publicamos em Perspetivas: “Mas Continuaremos sendo nós próprios. A família hipermoderna”. Como sabem, esta é uma rubrica onde os autores propõem aproximações por múltiplos ângulos, tendo sempre a medicina em plano de fundo.

Neste número apresentamos uma hipótese daquela que poderá ser uma realidade com que nos poderemos confrontar, nós medicina em particular e sociedade em geral. Acerca das possibilidades criadas com a progressão da compreensão dos mecanismos genéticos das várias patologias, o autor traz-nos uma visão que nos põe a pensar acerca da nossa progressão para um mundo distópico e sem que tenhamos muito bem a consciência do que estamos a fazer. Num registo romanceado, num texto que corresponde aos dois primeiros capítulos de um livro recentemente publicado, é-nos dada uma visão de um mundo onde a medicina no seu gélido caminhar do acumular de conhecimento, não se interroga acerca do que estamos a propiciar. E é na nossa ausência de sentido escrutinador do que estamos a construir que focamos a nossa atenção: terá de ser assim?