Afirmativa 35

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negro votava política

não

Por Rejane Romano, da Redação

Durante muito tempo o negro não teve acesso às decisões sobre a sociedade. O mesmo não só tinha o seu voto vetado, mas também sequer era considerado como um ser humano propriamente dito. A participação do negro na política é bastante recente. Mesmo os negros alforriados não tiveram acesso às decisões políticas no Brasil. Quem decidia tudo era a elite branca. Não só o escravo foi excluído, mas também os homens livres pobres, inclusive os brancos. A Constituição de 1824 estabelecia um sistema de eleições indiretas, onde os eleitores eram classificados de acordo com os bens possuídos, segundo a renda anual. Mesmo após o abolicionismo, a situação do escravo liberto permaneceu imutável. A proclamação da República, em 62

Afirmativa Plural • Edição 35

1889, não mudou a situação política e social do povo negro e pobre. As eleições eram decididas pelo maior ou menor poder dos coronéis. Os “votos de cabestro” - a força - e os “eleitores fantasmas” eram comuns em eleições geralmente fraudulentas. A I República fomentou um clima desfavorável à atividade do negro na política. Daí surgiu uma imprensa própria para estes cidadãos, nascida nas primeiras décadas do século XX: O Menelik, em 1915, A Rua, em 1916, O Alfinete, em 1918, A Liberdade, em 1919, A Sentinela em 1920, O Getulino e o Clarim d’ Alvorada, ambos em 1924. Nessa época, se falava em organização e conscientização dos “homens de cor”. Essas iniciativas contribuíram posteriormente para a articulação de um grande movimento de massas: a Frente

Negra Brasileira. O negro começava a construir seu próprio espaço de atuação com o objetivo de influir no jogo político. Fundada em 16 de setembro de 1931, a Frente Negra Brasileira expressava as inquietações e ansiedades do negro que, nesses anos, manifestavase com vigor contra o preconceito racial e por sua elevação à cidadania. Essa organização buscava congregar todos os grupos existentes no meio negro e estimulá-los a enfrentarem os tabus e preconceitos, se organizando coletivamente para defender seus interesses específicos. A Frente Negra chegou a publicar o jornal A Voz da Raça, em 1933, cuja sede ficava na Rua da Liberdade em São Paulo, Capital. Com esses objetivos, em 1936 a Frente Negra se registrou como partido político. O golpe de 1937 colo-


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