Tronco da jurema

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seguinte: numa determinada noite, em um dos terreiros da aldeia, a luz da lua, ou da fogueira, se a noite é escura, reunem-se todos os 'Praiás', todas as 'Cantadeiras'. Tudo pronto, ouvem-se, vindo de dentro da caatinga, no rumo do local em que fica o rancho dos 'Praiás', toques de gaita de taquara, imitando canto de pássaros. Como resposta àqueles toques, uma das 'Cantadeiras' vibra o maracá de um modo especial. A seguir em passos apressados, obedecendo, porém, a um ritmo estabelecido pelos seus maracás e o da cantadeira, um após outro, entram os 'Praiás' no terreiro da dansa, fazendo evoluções em todo ele e ficando, por fim, a dansar em frente das 'Cantadeiras'. Enquanto a 'Cantadeira' canta, os 'Praiás' dansam, soltando, de momento a momento, uns expressivos gritos que elevam ou diminuem o diapasão da toada e o ritmo do sapateado. (...) Muitas vezes, em meio às dansas, os 'Praiás' transmitem às suas 'mães', ou sejam, às 'Cantadeiras', boas e más notícias. Quando isso acontece, aquelas, em exortações, lhes pedem que tornem reais as boas e evitem a realização das más. As toadas são, em geral, evocativas e invocativas, tendo cada uma um ritmo próprio. Em regra as festas duram toda a noite, nelas tomando parte, em certas ocasiões, o elemento feminino. Naquelas a que eu assisti, por exemplo, já pela madrugada, entoaram as 'Cantadeiras', toadas evocativas de caçadas, pescarias, etc., e que foram dansadas tendo cada 'Praiá', como par, u'a mulher.

Terminadas

essas

toadas,

os

'Praiás'

sairam

pelo

terreiro,

convidando as moças que deviam ir aquela madrugada às caatingas buscar os 'Umbús' para a festa da tarde. As convidadas, deixando o terreiro, foram se preparar para ir aos 'Umbús'. Isso, porém, não fez que as danças terminassem. Estas duraram até pela manhã.(OLIVEIRA, 1942:161-2) (grifo nosso)

A

coleta

dos

umbús

era

feita

longe

da

aldeia

pelas

mulheres escolhidas. Os "Praiás" íam ao seu encontro, enquanto elas apanhavam os umbús, acompanhados de dois tocadores: um com um apito de rabo de "tatu-peba" - portanto, semelhante ao aruí dos índios ela....

Kiriri; A

e

seguir

outro

com

voltavam

uma

"flauta

todos

para

de a

taquara"

aldeia,

as

-

sempre

mulheres

enfeitadas de flores e com os cestos de umbú à cabeça. Uma vez na aldeia, os homens e mulheres que fariam parte da festa pintavam-se os bustos de "tauá-branco". Outrora, diz OLIVEIRA, pintavam-se em todo o corpo, pois andavam desnudos. Os homens ostentavam, quase todos,

"capacetes

de

ouricuri".

Em

seguida,

realizava-se

a

"corrida do umbú". Os cestos enfileirados eram colocados no mesmo lugar e posição, perpendicular ao sentido Este-Oeste, onde antes houvera o flechamento, e os homens disparavam em sua direção, com


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