Memória da Pedra, de Iezu Kaeru

1a edição EDIÇÃO DO AUTOR RECIFE, 2013

FERNANDO DUARTE

É da pedra ser Bruta Mas também ser Brita.

O que não for pedra é pó. É da pedra estar no caminho

É da pedra ser lisa

É da pedra aprontar o rumo.

Ou ser lousa.

SECRETÁRIO DE CULTURA DE PERNAMBUCO RECIFE, ABRIL DE 2013

É da pedra ser de atiradeira

É da pedra ser primeira

Tirar o leite da pedreira.

Ou derradeira ou de segunda.

Esta Pedreira é de deus.

É da pedra ser reles Ou rolar.

É da pedra ser rígida

É da pedra ser pesada

É da pedra ser rogada.

Ou ser pássara. É da pedra ser alicerce

Quem com pedra fere Será conferido na pedra.

Ou ali tudo cessou. É da pedra ser polida

A pedra pode ser concreto Toda pedra é abstrata.

Ou lidar com pedra é pó. É da pedra se pôr em assunto

Quem bate em pedra Soca só o pó.

É da pedra cicerar o discurso. É da pedra ser peso É da pedra ser piso. É da pedra parada criar musgo Da pedra rolante criar rock.

Ou pedra ou poeira.

Pedra é indecifrável.

Mas se é pedra é aparente.

Ser pedra para semente Ser fruto da pedra fria.

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Mina a água da pedra Mina de pedra jorra. É da pedra ter cor

A pedra é velha

Inscrições na pedra da caverna

É da pedra decorada.

A pedra é veio.

Pichações nos muros da indiferença.

É da pedra ser descanso

É da pedra fazer conta

É da pedra ser um grifo

É da pedra descarrego.

Com terço de contas se reza.

Pedralalepípedas são pedras clivadas.

Pedra magma é líquida

Por pedra no sonho

Se tira o pó

Nunca vi liquidação de pedra.

A pedra do sono.

A pedra é rasa.

Se é pedra já foi rocha

É da pedra ser indez É da pedra ser índice.

Quem coleciona pedra é pedreiro. É da pedra ser cálculo E não é rim ser pedra.

Ser pedra é crosta Na pedra pode ser Cristo.

A pedra do artista é pesada Mas mais é a do pedrutor. É da pedra ser filosofal É da pedra ser conceitual.

A pilha é alcalina

Se bate na pedra racha.

Empilhar pedra é quase tudo.

Ser poeta é pedreira

Pedra esmeril pó

Ser artista é P(R)Ó.

Pedra de gelo vira água.

Quebra a pedra o vegetal

O barro é um tipo de pó

É da pedra ser raiz.

A pedra é um tipo de berro.

Pedra com Pedra

O silêncio da pedra

Muro sem Muros.

Pedra Brota.

Rupestres URpestres.

Pedras são hierógrafos.

É constrangedor.

O barulho consta que é In(dor)lor.

Sísifo Se fudeu.

RICARDO PEIXOTO

CURADOR JOÃO PESSOA, MARÇO DE 2013

O POVO de PEDRA é quem detém os grandes registros da Mãe Terra. Estes grandes Mestres têm condições de transmitir aos buscadores da verdade grande parte do conhecimento relativo à história do nosso Planeta e à história de seus filhos. A missão das Pedras, o seu serviço na Terra, consiste em armazenar energia. O corpo de nossa Mãe Terra é constituído por rochas que se quebram e que se movem de acordo com as mudanças climáticas. Elas vão se rompendo, formando pedras menores, que mais tarde se tornam solo. As rochas detêm registros históricos e transportam energia eletromagnética na superfície da nossa Mãe. O Povo de Pedra coleta a energia e a armazena para uso posterior. O reino mineral é matéria densa, cujas qualidades magnéticas permitem às Pedras registrarem tudo aquilo que ocorre no planeta. *

SAIS de PEDRA.. no PRINCÍPIO... TUDO. diante da IMAGEM a HERANÇA dos nossos ANCESTRAIS PODER ABSOLUTO REFLEXÃO IMAGÉTICA LINHA transitória FIRMADA NARRATIVA dos ENSINAMENTOS. SAIS de LUZ

SAIS do TEMPO

O Povo de Pedra lhe pede que abra sua

PRECIOSO, audaz, ATENTO

ENERGIA VITAL OLHAR OCULTO

EXPOSTO sentimento

FRAGMENTO REVELADO pelo CONHECIMENTO divina RAZÃO MATÉRIA orgânica ECOA SILÊNCIO.

sonoro, escrito, impresso VERBO OBJETO

mente, já que um novo nível de entendimento está chegando até você.

Esse conhecimento está baseado nos Registros da terra e pode mudar a for-

PRESENTE

ma pela qual você vê a vida atualmen-

INFINITO espaço.

SAIS EU que CONTA ENXERGA ESCUTA TU

te. Permita que estes professores se tornem os seus guias e descubra um novo mundo, que se abre para você.

Prepare-se para escutar os sussurros do reino mineral e seu próprio coração saberá reconhecer a verdade. *

diante MUNDO.

* de “AS CARTAS do CAMINHO SAGRADO”, Jamie Sams

LOURENÇO MUTARELLI

DESENHISTA E ESCRITOR SÃO PAULO, MARÇO DE 2013

Eu estava no Recife falando sobre pedras quando acidentalmente me sentei ao lado de Iezu. Trabalho uma oficina de textos e sempre parto dessa palavra: pedra.

Estimulo os alunos a desenvolverem textos a partir da relação de cada um com esse... mineral? O que é uma pedra? Esse é o exercício que proponho como ponto de partida. Como a sopa de pedra, no fim, um pretexto.

O encontro que tive com Iezu Kaeru poderia parecer acidental. Então tive contato com o seu trabalho. Há milênios o homem vem empilhando pedras. O que me tocou particularmente em seu trabalho é que ele nos apresenta essas imagens cotidianas: tudo o que Iezu retrata está a nossa volta. Mas a seleção do seu olhar transforma o cotidiano e nos faz lembrar que há algo místico que emana em tudo que nos rodeia.

As pedras de Iezu são como o monolito de Kubrick.

Em uma entrevista, Kubrick justifica o monolito de 2001, seu e de Arthur C. Clarke, da seguinte forma:

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“Tentei criar um experiência visual que ultrapassasse a comunicação verbal e penetrasse diretamente no

a grandeza do despercebido. Aguça nossa percepção e sensibilidade.

subconsciente, com um conteúdo emocional e filosófico. Quis que o filme fosse uma experiência intensamente objetiva que atingisse o espectador, a um nível

O que Iezu faz não precisa e nem pode ser explicado.

Deve ser visto e sentido.

profundo de sensibilidade como faz a música”.

Iezu empilha pedras.

Para mim é isso o que acontece quando contemplo a

Iezu empilha pedras como os antigos faziam.

obra de Iezu. Em suas máscaras de pedra e de pedra.

Iezu é um jovem ancestral.

Rocha ou gelo. Texturas, rachaduras, descascados

Iezu pode interpretar o silêncio e guardá-lo.

que se fazem hieróglifos.

Cada pedra que Iezu guarda é um monolito. É filosofal (a pedra filosofal que em árabe se dizia al kimia).

Porque só aquilo que não pode se expressar, de forma humana, pode guardar a lembrança. E essa é a memória. Nelas estão todas as memórias. As pedras de Iezu nos guardam e Iezu guarda as pedras. Iezu nos mostra a beleza do que olhávamos sem ver. Iezu nos faz ver

Iezu transforma o silêncio em música.

Essa música quase silenciosa.

O que Iezu faz para mim é a arte do silêncio.

Iezu é entre tantas outras coisas e formas um artista que segue a arte milenar do empilhamento de pedras.

E eu dormirei tranquilo enquanto houver alguém empilhando pedras.

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O CÉU COMEÇA NAS PEDRAS

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EU PEDRA

IEZU KAERU

Caminho por entre leões de mármore e abismos Debulhando pedras, recitando versos de aço.

Olhos de sangue, voz de terra: Sou metade amor e metade cansaço.

Caminho por arbustos e soluços Recitando poemas em que me disfarço de Minerva no crepúsculo.

Filho de Júpiter! Sou Perseu, sem pés alados ou escudo Perdido no tempo e no espaço.

Madrugada na alma, faz escuro no sonho.

O mistério é real e é real o que sonho.

Recife é morta, o silêncio esculpe ossos de pedra, empilha estrelas num céu inventado.

Uma pedra, é uma pedra, é uma pedra, é uma pedra.

O cheiro de asfalto me inebria por completo, iluminações graníticas – a noite segue com passos de Mercúrio.

Atravesso a ponte de ferro sem olhar para trás, é bonita e imunda a cidade.

Ela suja de poesia e dor o horizonte, onde solene e azul, equilibra-se um místico rinoceronte.

Amanhece e tudo agora É um imenso deserto.

Medusa lava seus olhos quentes na Aurora.

Em uma nuvem de pedra, ela penteia seus cabelos de cobra, enquanto se vê refletida em gotas gordas de orvalho.

Ao amanhecer, o Sol de Eos é um vulcão de serpentes sibilantes.

Amanheceu e tudo continua Um imenso deserto.

Medusa diante do espelho, chora lágrimas de concreto.

RECIFE, MAIO DE 2013

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A PEDRA É A TESTEMUNHA DA TERRA

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NÃO TEM ALTURA O SILÊNCIO DAS PEDRAS

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RITUAL DE FOGO E PEDRA Todas as fotografias e esculturas reproduzidas neste livro são de autoria de Iezu Kaeru, exceto as imagens desta página (registro do ritual de abertura da exposição Memória da Pedra em abril de 2013 na Torre Malakoff - Bairro do Recife) gentilmente cedidas pelo estimado fotógrafo Matheus Britto.

As esculturas presentes na exposição e no livro foram criadas seguindo a técnica stone balancing, que consiste no empilhamento de pedras sem utilizar qualquer recurso além da gravidade para mantê-las equilibradas umas sobre as outras.

MUITO OBRIGADO!

Fundarpe, Secretaria de Cultura de Pernambuco, Fernando Duarte, Ricardo Peixoto, Lourenço Mutarelli, Enaile Lima, Caramiolas Projetos Afins, Moa Lago, Luiz Pessoa, Júlio Cavani, Zianne Torres, Fátima Bulcão, Maria Fachini, Dani Acioli e A Ponte Comunicação, poeta Manoel de Barros, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Fábio de Melo, Esdras de Andrade, Marcelo Campello, Igor Medeiros, Gabriel Mascaro, Leta Vasconcelos, Cia de Foto, Denise Coelho, Fred Perman, Ralsineide Souza da Iquine, Celinha e Gustavo da Jeporu, Rivaldo Varela e Edmilson da Foto Varela, Manoel Molduras, Rosa do Armazém Belém, Sérgio e Mário da Acinol, E-Placas, Gráfica Iprint, Gráfica Moura Ramos, Gráfica Santa Marta, Microart, Eduarda Alves, Dimas Carneiro, Hélio Rodrigues, Pollyana Queiroz, Dona Eliane e Seu Vicente, Kob e Dani, Zilene e José Carlos, Tiane, Amélia, Luciano, Auçuba, Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia Recife, Bruna Rafaella Ferrer, Danielle Marinho, Luciana Rabelo, Costa Neto, Matheus Britto, Diario de Pernambuco, Folha de Pernambuco, Jornal do Commercio, Revista Continente, Rede Globo Nordeste, Tatiana Meira, Julya Vasconcelos, Bernardo Dantas, Renato Contente, Ingrid Melo, Bárbara Buril, Hélia Scheppa, Russo, Admilson, Mony Graf, Marilene, Laura Buenos Aires, Peter Riedel, Michael Crab, Leandro Inocencio, Ildefonso Vista, Bill Dan, Adrian Gray, Kent Avery, aos rock-balancers ao redor do mundo e a todos aqueles que contribuiram de maneira luminosa para a realização deste trabalho, seja com uma palavra amiga, uma sabedoria, sangue, suor ou lágrimas. O homem sonha e Deus realiza.

INCENTIVO

FICHA TÉCNICA

Iezu Kaeru

Luiz Pessoa

CONCEPÇÃO \ FOTOGRAFIAS \ ESCULTURAS \ COORDENAÇÃO \ PRODUÇÃO

EDIÇÃO DE VÍDEO

Manoel de Barros \ Fábio de Melo \ Domínio Público

Caramiolas Projetos Afins Multimídia PRODUÇÃO EXECUTIVA \ ADMINISTRAÇÃO

FRASES

Aponte Comunicação

Ricardo Peixoto CURADORIA

COMUNICAÇÃO

Zianne Torres

Júlio Cavani \ Zianne Torres

DESIGN

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO

Poruu

Moa Lago \ Estevão \ Ivan \ Mamede \ Iezu Kaeru \ Cícero \ Otoniel

TRILHA SONORA

MONTAGEM

Cia de Foto \ Iezu Kaeru

Eduarda Alves \ Dimas Carneiro \ Hélio Rodrigues \ Pollyana Queiroz

TRATAMENTO DE IMAGENS

EDUCATIVO

Fernando Duarte \ Ricardo Peixoto \ Lourenço Mutarelli TEXTOS

Iezu Kaeru \ Zianne Torres VÍDEO

APOIO

Foto Varella AMPLIAÇÃO DAS FOTOS

Gráfica Santa Marta IMPRESSÃO DO LIVRO

SÉRIE HIERÓGLIFOS pp. 16-24, 28-61 SÉRIE EU PEDRA pp. 64, 65 SÉRIE PELE DO TEMPO pp. 68-85 SÉRIE MILAGRE DAS PEDRAS pp. 5, 9, 13, 88-93, 96-103

www.iezukaeru.com iezukaeru@gmail.com

Este livro foi editado em 2013 por ocasião da exposição Memória da Pedra, de Iezu Kaeru. A designer Zianne Torres utilizou no projeto gráfico a família tipográfica Helvetica Neue desenhada por Max Miedinger e comissionada pela Linotype. A pré-impressão, a impressão, a encadernação e o acabamento foram realizados pela Gráfica Santa Marta com tiragem de 1000 exemplares, impressos sobre papel couché fosco 150g/m2.