Yellow Magazine 53

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Mulher

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Fabiana S. Reis Jornalista e pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior

A importância da

J

á é de praxe da publicidade em geral, comemorar massivamente o dia das mães neste mês de maio. Estamos acostumados. Levamos automaticamente a questão para o lado dos presentes e lembrancinhas. Mas a data merece uma reflexão mais ampla. Minha geração reclama muito dos pais e das mães, porque talvez tenha sido a primeira permitida a fazer isso. Reclama que foram autoritárias, insensíveis, exigentes, que se esqueceram de quando eram jovens. E elas sempre dizem: um dia você vai ser mãe, vai entender o que estou dizendo. Nem chega a tanto. Quando se cresce um pouco mais e se tem uma carga maior de responsabilidade, nem é preciso ter filhos para compreender os erros cometidos pelos pais. Uma das minhas lembranças mais queridas da infância envolve uma boneca chamada “roqueira”. Não se fabrica mais, mas ela era muito engraçada. O corpo dela era todo maleável, o cabelo era de lã azul e ela tinha velcro nas mãos, o que permitia que fosse colocada em diferentes posições. Eu tinha quatro anos e fui passar uns dias na casa de uma tia, em outra cidade. Quando voltei, a “roqueira” estava sentada na minha cama, de pernas cruzadas, com as mãos juntas sobre os joelhos e com certeza, minha mãe é que tinha “brincado” com ela. Eu era muito

pequena, mas até hoje me lembro da sensação de “a minha mãe sentiu a minha falta”. Outra coisa de que me lembro com saudade é que quando chegava perto da hora de dormir ou quando eu estava triste ou brava, minha mãe sentava na cama em “posição de índio” e me colocava naquele vão entre o tronco e as pernas. Ela dizia “vem para o meinho”. E ali no “meinho” a vida era um pouco mais fácil. Hoje em dia, quando as coisas se complicam, eu penso em como seria bom ainda caber no “meinho”, para que a vida se tornasse, outra vez, um pouco mais fácil. Mas, além de não caber mais ali, minha mãe também está a mil quilômetros de distância, então, não tem jeito mesmo. Estas coisas me fazem pensar sobre a importância da mãe para o desenvolvimento do ser humano. Muitos dos monstros cruéis que tiram vidas sem piedade são pessoas que não tiveram mãe ou que tiveram uma relação complicada com ela. A mãe é alguém que, por mais que cometa erros ensina a pessoa a ser humana. É ela quem apresenta o mundo ao pequeno ser e mostra a ele como viver em sociedade. Caso ela falhe neste sentido, ele talvez nunca seja sociável. Mas em alguma coisa elas sempre acertam, ou então não haveria tantas pessoas boas no mundo, para fazer contraponto às que são más. 24 Yellow Magazine | Maio/2011

Diariamente a vida de milhares de mães ao redor do mundo é mutilada pela perda de filhos de maneira brutal. Impossível não lembrar nesta hora das mães de Realengo, no Rio de Janeiro, que no mês passado tiveram os filhos arrancados de seu convívio por um psicótico, cuja mãe biológica sofria de esquizofrenia, enquanto era viva. Estas mães, de braços vazios, jamais terão suas feridas curadas, embora talvez um dia, elas parem se sangrar. Como estas há tantas e tantas mães com histórias tristes, de filhos mortos pelo tráfico, pela violência urbana, no trânsito e doméstica, pela fatalidade, pela doença, pela depressão, pelos motivos mais diversos. Para estas, a data será de dor e talvez, ao encontrarem o conforto no abraço de outros filhos, no carinho dos amigos ou na fé, tenham a tristeza amenizada. Para as demais, que a data seja alegre, comemorativa e intensa, afinal, ser mãe é certamente um dos maiores privilégios concedidos às mulheres. Quem nos criou certamente sabia que a vida não seria nada fácil, com tantos afazeres, exigências, com tanta exploração e desvirtuação de valores. E quem sabe por isso, nos deu esta tarefa intransferível de conceber a vida como presente supremo da existência. Como filhas e como mães é nosso dever aproveitar a data ao máximo. Então, aproveite!


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