Comunicação Não-Violenta – Marshall B. Rosenberg

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PERDOANDO A NÓS MESMOS Passamos do processo de enlutar para o perdão a nós mesmos. Voltando a atenção àquela parte de nós que escolheu agir daquela maneira, levando à situação atual, nos questionamos: “Quando me comportei da maneira da qual agora me arrependo, qual de minhas necessidades eu buscava atender?” Acredito que os seres humanos estão sempre a serviço de necessidades e valores. Isso é verdadeiro tanto se a ação atender à necessidade quanto se não atender a ela, e tanto se acabarmos comemorando a ação quanto se nos arrependermos dela. Perdão a nós mesmos na CNV: conectar-nos com a necessidade que estávamos tentando atender quando tomamos a atitude da qual agora nos arrependemos. necessidade tentando satisfazer quando tomamos a atitude nos arrependemos. Quando escutamos a nós mesmos com empatia, ouvimos também as necessidades subjacentes. O perdão a nós mesmos ocorre no momento em que essa conexão empática acontece. Somos então capazes de reconhecer que nossa escolha foi uma tentativa de servir à vida, mesmo que o processo de luto tenha nos mostrado como ela falhou em atender a nossas necessidades. Um aspecto importante da autocompaixão é sermos capazes de ter empatia por ambas as partes de nós mesmos: a parte que se arrepende de uma ação passada e a parte que executou aquela ação. Os processos de luto e perdão a nós mesmos nos libertam no sentido do aprendizado e do crescimento. Conectandonos a cada momento com nossas necessidades, aumentamos nossa capacidade criativa de agirmos em harmonia com elas. A LIÇÃO DO TERNO DE BOLINHAS Eu gostaria de ilustrar os processos de luto e perdão a nós mesmos lembrando um acontecimento pessoal. No dia anterior a um importante seminário, comprei um terno leve cinza-claro para usar no evento. No final do concorrido seminário, um enxame de participantes me abordou pedindo meu endereço, autógrafo ou outras informações. Com a hora de outro compromisso se aproximando, apressei-me em atender às solicitações dos participantes, assinando e rabiscando em muitos pedaços de papel à minha frente. Enquanto saía correndo pela porta, enfiei minha caneta — sem a tampa — no bolso de meu terno novo. Uma vez lá fora, descobri, para meu horror, que em vez do lindo terno cinza-claro, eu agora tinha um terno de bolinhas!


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