Rua direita , esta rua não acaba aqui. — Projecto inserido nos Jardins Efémeros 2013
— Biblioteca Nacional de Portugal Catalogação na Publicação Aa. Vv. Rua Direita, esta rua não acaba aqui Viseu, Câmara Municipal de Viseu, 2013, _ _ págs. CDU: 711.5 + 725.2 + 747 (469.32) “2013”
— TÍTULO Rua Direita, esta rua não acaba aqui — AUTORES Texto Joana Astolfi, João Luís Oliva Fotografia Luís Belo Capa, infografia e design gráfico Nuno Rodrigues — DEPÓSITO LEGAL — EDIÇÃO Câmara Municipal de Viseu, 2013 — TIRAGEM 600 exemplares — IMPRESSÃO E ACABAMENTO Tipografia Beira alta — © Autores e CMV
Este livro é dedicado à Sandra Oliveira, Fernando Ruas e todos os lojistas da Rua Direita.
A RUA, LUGAR DE GENTE E DE VIDA
Mais ou menos directa, mais ou menos direita, a rua é via e símbolo de sociabilidade e comunicação com o outro e o quotidiano; lugar de convergência e conflito; confronto, consenso e compromisso; liberdade, diferença e opção. Lugar profano, secular. Lugar do tempo. Mas esta Rua Direita, palco e plateia de vida em passados remotos e recentes, esvaziou-se. De gente e, por isso, da própria vida, pelo menos como ela era. Muito longe vão medievais idades em que a também chamada «Rua das Tendas» ligava duas portas da cidade directa, por isso ou, depois, na aurora da modernidade, as suas casas cresciam em profundidade e altura, cada vez mais cheias, e era nervo social e comercial da urbe (Liliana Castilho*). Mas, ainda em 1968, «a Rua Direita de Viseu é [era], porventura, a que melhor conserva[va], ao mesmo tempo, a fisionomia e as funções tradicionais, que continua[va] a desempenhar no contexto moderno da velha cidade» (Orlando Ribeiro*). E, numa contemporaneidade ainda mais breve, ela mantinha-se fervilhante de miúdos que estreavam a vida na carica e no berlinde e lambiam com os olhos a montra de brinquedos do Bazar do Porto; e de gaiatas mais espigadotas que viajavam fantasias nos manequins do Borges-Noivas. As domésticas necessidades ou mais sofisticados anseios de consumo formigavam de gente a enormidade do comércio disponível e a rua, ela própria; e tascas e cafés pontuavam intervalos cigarrados mais ou menos longos. Ou, então, preocupações mais intelectuais e cosmopolitas levavam muitos a percorrer as escadas do Tempo Livre, livraria, galeria de arte, discoteca e bar (à maneira da Opinião, de Lisboa), em alternativa ou complementaridade ao associativismo mais ou menos bairrista do Orfeão de Viseu, umas dezenas de passos à frente. Hoje, nos quinhentos metros da que foi, até ao princípio do século XX, a rua com as casas mais altas de Viseu e ainda há bem pouco tempo tinha quase centena e meia de lojas abertas, residem pouco mais de… dez pessoas (Emília Amaral*). Várias, complexas e interligadas as razões. Desde estratégias políticas ou falta
delas de requalificação e reocupação urbana, até aceleradas e radicais alterações de modelos e espaços comerciais, passando pelo conservadorismo reactivo com que os próprios actores encararam o cenário; e tantas são as causas de tal estado que a «culpa» de Judas é muito mais um puzzle de responsabilidades múltiplas: individuais e colectivas, institucionais e de estrutura. A acção agora realizada, na efemeridade dos próprios «jardins» de que faz parte, não tem a pretensão pueril de dar uma resposta global à situação. Talvez nem sequer de dar nenhuma resposta, mas formular uma simples pergunta; é que é das perguntas que parte tudo… E quer-se, através de uma intervenção estética e, sobretudo, da agitação por ela provocada, levantar a poeira do debate sobre estas questões sem a atirar para os olhos de ninguém. Perante poderes e cidadãos, expor, não esconder. Alertar, não silenciar. Desafiar e surpreender, não enrolar quietudes mornas. É que a volta completa que isto tudo tem de dar vai muito além da consideração das lojas e da actividade comercial. Até porque a sua ressurreição será o laico resultado de uma profunda e substantiva criação de condições para um efectivo (e afectivo) repovoamento residencial (cultural, portanto…) da rua; e não de pontuais e adjectivas intervenções de termo-lacado fachadismo. Em tempos de fácil deslumbramento tecnológico, não se quer aqui algo que seja comparável a um site virtual, com passwords e links, embora hoje isso seja um indispensável meio e pista de informação. Para que esta rua não acabe aqui, é preciso que ela seja um verdadeiro sítio, lugar real, com gente e alma, que sempre é o inexorável fim e meta da própria vida. João Luís Oliva
*referências expressas AMARAL, Emília, «Endireitar a Rua Direita», Jornal do Centro, nº 575, Viseu, 27 de Janeiro de 2012, pp. 6-7. CASTILHO, Liliana, «Espaços e Materiais na arquitectura doméstica da Rua Direita de Viseu no século XVI», Ciências e Técnicas do Património. Revista da Faculdade de Letras, I Série, vol. V-VI, Porto 2006-2007, pp. 115-128. RIBEIRO, Orlando, «A Rua Direita de Viseu», Geographica. Revista da Sociedade de Geografia de Lisboa, nº 16 (Ano IV), Lisboa, 1968, pp. 49-63.
Alfaiates e sapateiros, relojoeiros e padeiros, oculistas e dentistas, engraxadores, amoladores, cabeleireiros, barbeiros e confeiteiros, cervejarias, drogarias, livrarias, pensões e tascas. Panelas, tachos, dedais, plásticos, elásticos, pentes, pulseiras, anéis, carapaus fritos, selos, esfregões, vassouras, móveis, gaiolas, chapéus de palha, camisas e camisetas. Durante séculos, a Rua Direita de Viseu foi o ‘shopping center’ da cidade. Uma rua comprida e torta, com um comércio em cada porta. O ponto de encontro privilegiado de todo o distrito. Hoje, a Rua Direita de Viseu é uma rua triste. Uma rua esquecida. Uma rua arrumada para canto. Um espaço moribundo onde se multiplicam placas de “vende-se” e “arrenda-se”. “Isto já não dá para viver!” gritam os proprietários das lojas ao longo dos quase 500m da sua extensão. Hoje assiste-se à morte lenta desta artéria e de todo o seu comércio tradicional. O projecto ‘Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui’ é o ponto de partida para o renascer desta rua através da Arte. A rua transformou-se numa galeria onde as obras surgem inesperadamente nas montras, nas fachadas ou no interior das 15 lojas seleccionadas. Os lojistas da Rua Direita precisam de amor e as suas lojas merecem uma segunda oportunidade. Procurámos olhar para os produtos de cada loja como se fosse a primeira vez, olhar para além do pó para encontrar o potencial de cada espaço. Potencial = capacidade de transformação. As intervenções foram trabalhadas cruzando a arte com o design e com a arquitectura. Criámos tensão entre o antigo e o contemporâneo, sempre evidenciando o intervalo entre o ‘antes’ e o ‘depois’. Todas as peças são únicas e exclusivas e surgem de um click conceptual ligado à verdade de cada loja. Cada loja passa a ser muito mais do que um espaço de comércio para ser um happening, uma experiência, um momento que faz pensar e que traz um sorriso aos lábios. Todas as lojas que integraram o projecto têm uma história para contar e uma verdade só sua que serviu como inspiração para o nosso trabalho e que foi respeitada, reinterpretada e celebrada. Joana Astolfi
ficha artística e técnica do projecto
Concepção e Curadoria Joana Astolfi Colaboradores Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel, Sandra Oliveira, João Luis Oliva, Liliana Rodrigues, Nuno Rodrigues, Dona Alda Alunos de Arquitectura da universidade católica de Viseu João Almeida, César Pereira, Tiago Frutuoso, Sérgio Rodrigues, Vitor Sousa, Kátia Valverde, Rita Joana Monteiro, Ricardo Duarte, Rui Ferreira, Pedro Vieira, Joana Martins, Vanessa Monteiro, Diogo Pinto, Ricardo Silva, Daniela Páscoa, André Alves, Ricardo Costa, Ricardo Afonso fotografia Luís Belo Agradecimentos Dr. Fernando Ruas, Filipa Santos Guerra, João Rocha, Carlos Cruz, Francisco da Cria Verde, António Carvalho, Hugo Pessoa, Bárbara Osório, Dora Mariano, João Filipe, Hotel Palácio dos Melos, Dona Irene das Nandita Miudezas, Sr. Honésimo e Paulo Domingues da Sapataria Paulo Domingues, João da Foto Batalha, José Manuel da Sapataria Égê, Dona Eunice da Casa Eunice, Dona Maria do Bazar Litos, Carlos da Marisqueira, Andreia e Verónica da Drogaria Cedofeita, Sr. Alberto da Casa Sol, Dona Carmo da Casa Joaninha, Sr. Arnaldo da Casa Tininha, Sr. José Alcides, Sr. Jorge e Dona Alda da Tinturaria ‘A Nova Económica’, Sr. Joaquim e Dona Carmen da Livraria Cami, Sr. António da Casa Guimarães
O Processo Para conhecer um lugar é preciso comer, dormir e acordar nesse lugar. Não é possivel fazer um projecto com esta escala social sem um envolvimento profundo emocional. É difícil falar sobre arte contemporânea com uma geração que tem uma bagagem visual tão diferente da nossa. O processo foi intenso e, por vezes, envolveu confrontos de gerações, mentalidades, e posturas. O que encontrámos na Rua Direita foi um autêntico livro de reclamações. Um misto de impotência, conformismo e culpabilização mútua. A verdade é que nem tudo ia mal na Rua Direita. Para mudar é preciso força de vontade. É preciso combater o medo. É preciso arriscar. Esta transformação tem que se dar de dentro para fora. Temos que sair da nossa zona de conforto e pisar o terreno, meter a mão na massa, sujar as mãos. Foi um processo feito na raça. Alguns comerciantes acreditaram no projecto desde o início e até participaram na construção das suas peças. Mas a maior parte teve que ver para crer. A resistência inicial de muitos transformou-se num abraço. Passear esta rua após a conclusão do projecto, sentir a dinâmica que estas 15 intervenções trouxeram à rua, a conquista da cumplicidade com os lojistas envolvidos no projecto, tudo isto faz-nos crer que nunca devemos deixar de sonhar . ‘É preciso que algo mude para que tudo continue na mesma’ como afirma Giuseppe di Lampedusa.
Lojas intervencionadas
Nº 12
Nandita Miudezas
69
Sapataria Paulo Domingos
81
Foto Batalha
99
Sapataria Égê
120
Casa Eunice
139
Bazar Litos
148
A Marisqueira
151
Drogaria Cedofeita
165
Casa Sol
180
Joaninha
200
Casa Tininha
234
José Alcides
248
Tinturaria A Nova Económica
250
Papelaria Cami
256
Casa Guimarães
Lgยบ Mouzinho de Albuquerque
256 250 248 234 200
165 151 148
139
120
99 81 67
12
Rua
Fo r
mo
sa
Rua Direita
180
NANDITA Miudezas, 12 Lojista Dona Irene
Ilustração Liliana Rodrigues
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel, João Almeida e César Pereira
Montagem / Apoio Carpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Viseuropa
Nandita é o nome da filha da Dona Irene, de 86 anos, proprietária desta loja que vende as pantufas mais bonitas e confortáveis do mundo. Quando entrámos neste espaço pequenino, pouco cuidado, abandonado e degradado, sentimos que a Dona Irene já tinha (quase) desistido. O potencial para transformar o espaço tornou-se logo evidente. Quisemos destacar as pantufas e os chinelos artesanais que a Dona Irene vende. A nossa intervenção baseou-se na criação de uma bancada de 2 degraus em madeira que serve simultaneamente como banco corrido, expositor para as pantufas/chinelos e montra da loja. Recuperámos a parede de fundo da bancada expositiva com uma ilustração do ‘Manual das Pantufas Nandita’ desenhada à mão pela Liliana. Criámos um tapete inspirado nas pantufas, um tapete que pode ser calçado, uma peça única. Criámos ainda um logotipo e um slogan para a loja , ‘Ora ponha aqui o seu pézinho’.
antes Dona Irene
depois Pantufas + etiqueta
depois Montra
antes
depois
depois Tapete Pantufa
Sapataria Paulo Domingos, 69 Lojista Paulo Domingos, Sr. Honésimo
Montagem / Apoios Carpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Visotela, Pedroso & Osório, Viseuropa, A Vidreira
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Fernando Nobre, Rita Monteiro e Ricardo Duarte
Quando visitámos os pisos superiores da loja do Paulo e do seu pai, o Sr Honésimo, e eles nos mostraram a sua colecção de milhares de sapatos, autênticas raridades que vêm desde os anos 50, sentimos que tínhamos que prestar homenagem à história desta família. Daí surgiu a criação de um ‘cemitério’, um ‘tesouro desenterrado’ que destaca a vida dos milhares de sapatos e de clientes que passaram por esta casa. A instalação consiste numa caixa de terra com os sapatos inseridos na vertical como lápides. Os espelhos nas faces interiores da caixa multiplicam o número de sapatos. A iluminação da peça foi feita através da suspensão de 24 cabos com lâmpadas de vigília. Os sapatos expostos nas paredes envolventes do espaço foram anulados através de cortinas brancas, permitindo o ‘respiro’ da peça. Quando montámos esta peça, foi feito um minuto de silêncio.
depois
antes
foto Batalha, 81 Lojista João Batalha
Fotografia Luís Belo
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel, André Alves, Ricardo Duarte
Montagem / Apoios Carpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Visotela, Viseuropa
A Casa Batalha sobreviveu ao seu fundador, o Sr Batalha, e já vai na sua 3ª geração. Quando subimos ao 1º piso da loja, encontrámos uma galeria de vitrines antigas com um enorme potencial para aqui fazer uma exposição de fotografias de todo o projecto. Recuperámos as vitrines e desafiámos o fotógrafo Luís Belo para fotografar o ‘antes’ e o ‘depois’ de cada loja da Rua Direita. Na montra da loja convidámos o publico a ‘espreitar’ para dentro de algumas lojas da Rua Direita.
sapataria égê, 99 Lojista José Manuel de Figueiredo Concepção Joana Astolfi, Fernando Nobre, Kátia Valverde
Montagem / Apoios Carpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Pedroso & Osório, A Vidreira Agradecimento Programa Leonardo da Vinci
A sapataria Égê estava sempre fechada. No interior um caos, caixas e caixas de sapatos empilhadas, sapatos a granel espalhados pelo chão, uma loja esquecida. Até que um dia encontrámos o Sr Zé Manuel, uma figura conhecida e enigmática da cidade, estimado por todos os lojistas da Rua Direita. Apaixonámo-nos pela personagem, pelas suas histórias, pela sua bondade e delicadeza. O Sr Zé Manuel pediu-nos ajuda e confiou-nos a chave. Entregou a loja nas nossas mãos de coração aberto. O conceito para este espaço partiu das centenas de caixas de sapatos que se encontravam espalhadas aleatoriamente pela loja, sem qualquer ordem. Primeiro, tivemos que ‘arrumar a casa’. A nossa intervenção baseou-se na ‘limpeza visual’ do espaço e na criação de uma etiqueta Égê para identificar e catalogar cada par de sapatos. Além da organização do espaço, achámos também fundamental trazer o Sr Zé Manuel de volta para a sua loja através da criação de uma zona de ‘sala de estar’ no interior do espaço. Intervimos nas montras, expondo os sapatos em cabos de enxadas e de vassouras, destacando um sapato com a foto do Sr Zé Manuel estampada na sola de couro. Criámos também uma nova imagem gráfica para a sapataria que aplicámos numa tabuleta de rua, em cartões de visita para o Sr Zé Manuel e em merchandising da loja (escovas de sapatos, sacos, etc). Esta loja precisava de amor.
antes
depois
casa eunice, 120 Lojista Dona Eunice
Montagem / Apoios Custódio Santos Guerra, Visotela
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Rita Monteiro
Quem disse que as flores de plástico não têm vida? Sempre quis fazer uma instalação com flores falsas, lembram-me a casa da minha avó. Ela tratava-as como se estivessem vivas quando lhes limpava o pó. O interior da loja da Dona Eunice parecia um jardim de plástico, um mundo sobrecarregado de cor e variedade de flores. Uma loja com muita informação e sem espaço físico para intervir. Viemos para a rua e habitámos uma parede de pedra lateral, junto à montra da loja, com uma ‘green wall’, uma ‘parede verde’, de 4 metros de altura, feita com ramagens e plantas falsas. Queríamos trazer o verde para a rua, anulando a cor. Suspendemos um regador por cima da peça, transformando-o num candeeiro que, de noite, ‘rega’ a peça com luz.
depois depois Merchandise
antes
bazar litos, 139 Lojista Dona Maria
Montagem / Apoios Custódio Santos Guerra, Viseuropa, Visotela
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Diogo Pinto, Ricardo Silva
A loja da Dona Maria, tal como a da Dona Eunice, destacava-se pelo excesso de informação, cor e luz que normalmente abunda numa loja de brinquedos. O nosso conceito para este espaço foi criar um ‘playground’ interactivo, transformando o chão num quadro de escrever gigante onde as crianças pudessem desenhar e brincar. Recuperámos as vitrines da loja, pintando-as e iluminando-as para destacar os seus conteúdos. Na rua, à entrada da loja, pendurámos um baloiço e substituímos o nome da loja impresso no toldo por letras de madeira.
antes
depois
a marisqueira, 148 Proprietário Carlosa
Grafismo Liliana Rodrigues
Concepção Joana Astolfi, Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel, Tiago Frutuoso, Sérgio Rodrigues
Montagem / Apoios Custódio Santos Guerra, Visotela, Mediaspot
Pouca gente sabe que ‘A Marisqueira’ existe na Rua Direita. A entrada para o restaurante faz-se através de um corredor no vão de escadas de um prédio. Este restaurante/casa de pasto serve comida caseira portuguesa em conta, feita com muito amor por uma família unida que luta pela sobrevivência do seu restaurante. O nosso conceito partiu da vontade de convidar o público a entrar na Marisqueira. Trouxemos a praia para a Rua Direita. Criámos um cenário ligado à pesca no corredor da entrada, trazendo o mar para o tecto através da suspensão de uma rede de pesca gigante repleta de conchas e peixes. Cobrimos o chão de areia e habitámos este espaço com ‘mobiliário’ de praia (guarda sol, cadeiras de praia, baldes e pás). Criámos também uma instalação sonora com o som do mar. O lado irónico desta intervenção é que neste restaurante não se serve marisco! Na grande sala de refeições do restaurante, habitámos a parede principal deste espaço com uma exposição de 22 quadros com imagens alusivas à arte de comer. Estas imagens baseiam-se na transformação da comida em ‘objet d’art’ uma outra forma de olhar o que comemos.
antes Entrada
depois Entrada
antes Sala de jantar
depois Sala de jantar
drogaria cedofeita, 151 Lojista Andreia e Verónica
Montagem / Apoios Custódio Santos Guerra, Visotela
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Vanessa Monteiro, Liliana Rodrigues
As drogarias são espaços que nos permitem ‘sonhar alto’ na criação de intervenções artísticas, dada a estética, a cor e a forma dos produtos que vendem. Escolhemos uma vitrine de rua à entrada da loja e recriámos a imagem de um dos produtos com maior força visual - o pincel de barbear - usando centenas de rolhas que funcionam como ‘pixeis’. Ao lado da instalação, criámos um display de dezenas de pincéis para realçar e destacar o produto que nos inspirou a criar esta peça. As rolhas, afinal, não servem só para tapar garrafas e frascos! Criámos também um merchandising para esta loja que consiste no packaging dos objectos mais típicos desta drogaria com um sticker que identifica a loja através do slogan ‘Cedofeita, Not Made in China’. Obrigado às ‘irmãs Cedofeita’ por nos terem acompanhado nesta viagem.
antes
depois montrA
depois MERCHANDISE
casa sol, 165 Lojista Sr. Alberto
Grafismo Liliana Rodrigues, Daniela Páscoa
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Daniela Páscoa
O Sr Alberto é exemplar na organização da sua loja e no mimo que lhe dá. Aqui encontra-se a agulha no palheiro! Tal como na Drogaria Cedofeita, queríamos celebrar o produto da loja, mostrando-o de uma forma nunca antes vista. Criámos a peça ‘Banho de Lã’ que consiste num chuveiro em que a água é representada pelos fios de lã azul. Uma peça única que fala por si. Criámos também um novo produto para a Casa Sol, o ‘Kit de Tricot’, que consiste num novelo de lã, 2 agulhas de tricot e um livrinho que ensina a tricotar.
casa joaninha, 180 Lojista Dona Carmo
Montagem / Apoios Visotela
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel
A Casa Joaninha vende fogões, lareiras e salamandras. Nada melhor do que um fósforo para ascender o rastilho da criatividade! Escrevemos a palavra ‘AMOR’ com fósforos de cabeça vermelha e a palavra ‘MEDO’ com fósforos queimados. Uma peça delicada que envolveu um trabalho minucioso e muitas horas a queimar fósforos! Esta peça é um statement das duas forças que dominaram o projecto da Rua Direita: o amor que tínhamos para dar e o medo dos lojistas.
casa tininha, 200 Lojista Sr. Arnaldo
Montagem / Apoios Custódio Santos Guerra, Visotela
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Joana Martins
Nesta loja de roupa interior decidimos homenagear as míticas cuecas de gola alta. Trouxemos a loja para a rua através da criação de um lustre gigante, suspenso no eixo da rua, forrado com um estendal de inúmeras cuecas. Criámos uma montra luminosa que celebra o produto da loja de uma forma inédita e humorística.
José Alcides, 234 Lojista José Alcides
Montagem / Apoios Carpintaria Casanova, Viseuropa, Drogaria Cedofeita
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel
O Sr. José Alcides é um dos homens mais simpáticos e charmosos da Rua Direita. Foi a partir dos aventais de diversos padrões que se vendem nesta loja, que nasceu a Dona Josefina, mulher da limpeza, que agora habita a montra desta loja. Esta peça tem uma forte componente cenográfica, criando uma montra viva para a Casa José Alcides. Viva a Dona Josefina!
tinturaria a nova económica, 248 Lojistas Sr. Jorge, Dona Alda
Montagem / Apoios Carpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Viseuropa, Visotela, Pedroso & Osório, Cria Verde
Concepção Joana Astolfi, Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel, Ricardo Afonso, Ricardo Costa, Ricardo Duarte, André Alves
Esta loja divide-se em 2 espaços: a lavandaria, onde trabalha a Dona Alda que abraçou o projecto da revitalização deste espaço desde o início, e o pátio que era uma lixeira a céu aberto. A lavandaria foi completamente remodelada: paredes, chão e tecto. As paredes foram descascadas revelando a pedra original deste espaço. O chão foi substituído por um jogo de xadrez de azulejo preto e branco, típico das ‘laundrettes’ americanas. O tecto foi descascado para revelar as tábuas e barrotes de madeira que fazem parte da verdade do espaço. Foi criado um sistema de suporte para a roupa através de tubos de ferro galvanizado que celebram a circulação da água nas lavandarias e simultaneamente incorporam a iluminação do espaço.
antes
depois
O pátio da lavandaria foi um trabalho de limpeza exaustiva. Quilos e quilos de lixo e sucata foram retirados e transportados para a rua. A tangerineira que habita o pátio foi podada para permitir a entrada de luz e a circulação dentro do espaço. Nela foram também pendurados candeeiros em cerâmica para iluminar o pátio de noite. O telhado de lusalite do alpendre foi substituído por tábuas de madeira. De repente o espaço ganhou amplitude e começou a respirar. Dezenas de plantas foram colocadas dentro do pátio transformando-o num jardim interior. O chão foi coberto com gravilha branca. Foi criado um sofá de almofadões em cima de paletes com tecidos cedidos pela Pedroso & Osório. O pátio recebeu ainda um casal de passarinhos e mobiliário em madeira para exterior emprestado pelo horto da Cria Verde. Este espaço tem todo o potencial para vir a ser o ‘Café Laundrette’ da Rua Direita! Vale a pena uma visita!
antes
“E nas tardes de Verão, as pessoas vinham sentar-se debaixo da larga sombra e admiravam a grossura rugosa e bela do tronco, maravilhavam-se com a leve frescura da sombra, o suspirar da brisa entre as folhagens perfumadas. Assim foi durante varias gerações”... na Rua Direita! (‘A Árvore’, Sophia de Mello Breyner Andresen)
depois
papelaria cami, 250 Lojistas Sr. Joaquim, Dona Carmen
Montagem / Apoios Carpintaria Casanova, Pedroso & Osório, Foto Batalha
Concepção Joana Astolfi, Wiktoria Szawiel
A Papelaria Cami foi durante todo o processo o quartel general deste projecto, a nossa base, a nossa casa. O Sr Joaquim e a Dona Carmen estiveram sempre presentes e passaram a ser família. A intervenção conceptual na montra desta loja tem um ‘twist’ que se manifesta através do posicionamento das lombadas dos livros viradas para dentro da loja e não para fora como é habitual. A muralha de livros exposta na montra celebra o passar do tempo através do amarelado das páginas. A curiosidade que esta peça desperta convida o público a entrar na loja para ver as lombadas dos livros que constituem esta muralha. No interior da loja foi criado um espaço de leitura com dois bancos construídos com livros empilhados e amarrados por 2 cintos e uma almofada no topo. Há quanto tempo não lê um livro?
casa guimarães, 250 Lojistas Sr. António
Montagem / Apoios Carpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Viseuropa
Concepção Joana Astolfi, Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel, João Filipe
Esta é a última montra da Rua Direita. Daí o slogan ‘Esta Rua Não Acaba Aqui’ escrito com milhares de pregos que ao longe permitem a leitura da frase que celebra este projecto. Uma peça que se destaca pelas dezenas de horas passadas a martelar pregos e pela sua força visual. Esta rua começa e acaba aqui!
antes
depois
apoios
Para que esta rua não acabe aqui, é preciso que ela seja um verdadeiro sítio, lugar real, com gente e alma, que sempre é o inexorável fim e meta da própria vida. João Luís Oliva
Este livro não acaba aqui. www.facebook.com/RuaDireitaEstaRuaNãoAcabaAqui