Viver Bem 11

Page 57

Fotos: Ramón Vasconcelos

“Sentia-me mal, angustiada por achar que dizendo ‘não’ eu perderia ou desagradaria alguém. Mas descobri, principalmente com a ajuda de terapia, que o ‘não’ para o outro pode ser o ‘sim’ para mim”

57

Luciana Lopes, advogada

Poucos devem discordar que a palavra “não” é uma das mais ouvidas pelas pessoas desde a mais tenra idade. Curiosamente, mesmo ouvindo esta infinidade de negações, passar a dizer “não” nem sempre é tão fácil e corriqueiro como escutá-lo. E o pior: às vezes dizer um “sim” para alguém pode significar um “não” para si próprio. Certamente que toda criança precisa de limite para aprender sobre as suas próprias possibilidades e os direitos dos outros, porém o que se constata, segundo a psicóloga e terapeuta holística Amarilis Castro, a Dak, é que, desde cedo, não existe um critério por parte dos pais para se dizer “não” para o filho. Ora eles dizem “sim”, geralmente quando estão de bom humor, e ora dizem “não”, dependendo de seu estado emocional. Com isso, a criança não consegue acreditar no modelo que os pais representam justamente porque são instáveis. Obtendo retorno de seus pedidos de maneira intermitente e sem compreender as razões do “sim”

e do “não” recebidos, as crianças tendem a desenvolver um comportamento de manipulação, que provavelmente carregarão para a vida adulta. Para Dak, o presente momento da história é marcado pela falta de noção de limite e pela “cultura de extremos”, quando as relações humanas são marcadas pela polaridade repressão ou permissividade. “O principal desafio está relacionado à dificuldade dos pais de serem verdadeiros com seus filhos. Eles não observam suas próprias emoções e passam a agir sem critério. Outra situação comum é descarregar a agressividade nas crianças. A falta de equilíbrio não contribui para a formação de seres humanos com bom senso, capazes de identificar os momentos de se dizer “sim” e “não”, da forma correta, na vida futura”, analisa. A advogada e estudante de psicologia, Luciana Lopes, 30, viveu, principalmente no período da adolescência, esta dificuldade de negar algum pedido por medo de desagradar e, até mesmo, de perder a afeição das pes-

soas queridas. “Sentia-me mal, angustiada por achar que dizendo ‘não’ eu perderia ou desagradaria alguém. Mas descobri, principalmente com a ajuda de terapia, que o ‘não’ para o outro pode ser o ‘sim’ para mim. Então, dizer ‘não’ passa a ser positivo. Acho que o segredo é mudar o foco. Hoje, creio que melhorei em 90% este comportamento em minha vida”, relata, destacando que a forma de negar algo é importante. “Não é preciso ser grosseira para dizer ‘não’”, resume. As conseqüências de uma infância sem “nãos” de bom senso podem ir de comportamento antissocial, dificuldade em fazer suas próprias escolhas até dependência de álcool e outras drogas. Além disso, a criança pode desenvolver um comportamento de permissividade, sempre renunciando as suas vontades. Nas relações interpessoais, ceder é necessário, mas ceder sempre, anulando seus próprios desejos por causa do outro, pode trazer conseqüências psicológicas, especialmente se esta dinâmica começar na infância. EM REVISTA


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.