Viver Bem 11

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Fotos: Ramón Vasconcelos

“A gente percebeu através do esquecimento. Ela vinha ficando repetitiva e contava a mesma história várias vezes” Edinara Pinheiro, secretária

“Vovô não está bem. Passou a perder tudo, óculos, chave do carro, caneta. E ficava irritado: “Quem pegou meus óculos? Quem foi o desgraçado?”– gritava ele. Continuava a recordar perfeitamente as histórias que tinham se passado há muitos anos, mas não se lembrava do que ocorrera há poucos minutos. Um dia, sumiu por horas e foi encontrado no banco da pracinha, olhando o nunca (...)”. A passagem faz parte da cartilha “O que está acontecendo com o vovô – o que os jovens e crianças podem e devem saber sobre a doença de Alzheimer”, elaborada pela Associação

Brasileira de Alzheimer - ABRAZ. O grupo não governamental auxilia famílias e cuidadores de pacientes com esse problema a entender a doença e a lidar com ela da melhor forma possível. O drama vivido pelo avô de Ana, na ficção, é o mesmo de 18 milhões de pessoas no mundo, segundo a ABRAZ. Estima-se que, no Brasil, a quantidade de idosos com essa doença corresponda a 1,2 milhão. A secretária Edinara Pinheiro, 39, conhece bem os sintomas da doença. Há 11 anos, descobriu que a sua mãe, dona Edite, com 73 anos, estava com Alzheimer. “A gente percebeu através

do esquecimento. Ela vinha ficando repetitiva e contava a mesma história várias vezes. Começou a perder pequenas coisas em casa, como dinheiro e contava coisas da infância”, conta. A geriatra Vanessa Giffoni explica que quanto mais avançada for a idade, maior risco de desenvolver a doença. “Entre os idosos de 60 a 65 anos, menos de 1% vai ter a presença de Alzheimer. À medida que você vai aumentando, a cada meia década vivida, a proporção dobra. De modo que na faixa etária de 90 a 95 anos de idade, 40% de idosos terão a presença de Alzheimer”.

Ação do Alzheimer no organismo A doença de Alzheimer ocorre no cérebro e se trata de uma doença degenerativa, de lenta progressão e irreversível. Não tem cura e, assim como outras doenças que levam à demência, age de forma silenciosa e causa a morte dos neurônios, células fundamentais ao sistema nervoso, que formam redes responsáveis por inúmeras tarefas, como aprendizado, memória, comando dos músculos, re-

conhecimento dos cheiros, imagens. “Uma proteína que é tóxica começa a se depositar no cérebro, entre os neurônios, e o primeiro lugar em que ela se deposita é a região da memória e das funções intelectuais: raciocínio, pensamento, planejamento, orientação em termos de espaço, cálculo (...) Funções que o ser humano, quando fica independente, precisa delas”, comenta a geriatra.

Vanessa Giffoni, geriatra EM REVISTA

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