150 | Revista Viva S/A | Novembro 2013

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Cinema

Revista Viva S/A

O cinema e a gastronomia

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As bebidas do cinema

Tom Cruise, Cocktail

H

É possível unir os prazeres da boa mesa com o do cinema

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á algum tempo escrevi com Nilu Lebert, uma amiga especializada em culinária, o livro O Cinema vai à Mesa (Melhoramentos), com receitas que foram apresentadas em filmes e que podem ser repetidas em casa, dando aos leitores a chance de ter a sensação dos personagens. O critério da escolha foi principalmente o prazer. Não quisemos incluir filmes que unissem a violência ou a morte à culinária. Deixamos de lado até alguns famosos como A Comilança (onde os convidados comiam até morrer) ou O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante porque não era o que nos interessava. Nada de morbidez. O êxito deste livro nos levou a produzir o seguinte: Bebendo Estrelas (Melhoramentos), sobre os drinques e as bebidas do cinema. Uma dificuldade que tivemos foi o fato de que não temos, como os americanos, uma tradição de coqueteleiras. Simplesmente não temos grande quantidade de barmen como Brian Flanagan, o personagem vivido por Tom Cruise no filme Cocktail. Eles faziam malabarismos, coreografias com as garrafas, jogando charme no freguês que deveria ficar mais empolgado com a performance do que com o sabor do drinque.

Rubens Ewald Filho Jornalista, crítico de cinema e escritor

Hoje acontece um fenômeno que as pessoas ainda não assumiram, mas que o cinema já está mostrando: as mulheres bebem tanto quanto os homens. E bebidas mais fortes. Nada de ficar tomando chope ou cerveja, hábitos masculinos que servem mais para criar barriga do que para deixar alguém alegre, digo, alto. Toma-se caipirinha, qualquer coisa com muita vodka e nada de dar uma de James Bond (em vez do Dry Martini se usa o Vodka Martini). E o coquetel de Sex and the City chegou a tal ponto de saturação que até Carrie e as heroínas da série o desprezaram, ao menos até o final do segundo filme. Valorizamos, tanto nos livros quanto na nossa vida, dois tipos de bebidas que considero muito especiais. Uma delas é o champanhe, reservado para ocasiões especiais. Aliás, um parêntesis. Passei uma temporada nas caves e plantações do verdadeiro champagne, na França, e garanto que não há nada mais delicioso do que tomar um porre de champanhe autêntico e acordar sem dor de cabeça. A outra bebida é o vinho. Acho que existe um lobby fenomenal em volta dele, já que a todo o momento algum médico ou relatório aparece dizendo que vinho faz bem à saúde. E é quase insuportável a quantidade de gente que faz curso de degustação, sonha em ser sommelier e faz afirmações sobre a textura do vinho. Diria que é coisa de emergente, se não tivesse tido a sorte de experimentar alguns vinhos maravilhosos e constatado que o cinema está certo. Existem chilenos e argentinos acessíveis e brasileiros de primeira linha. Se bem que merchandising mesmo foi o do genial publicitário que inventou a lenda do licor Stregha, afirmando que, se bebê-lo com a pessoa amada, o amor de vocês irá durar para sempre (isso se constata no antigo filme Kitty Foyle de 1940, com Ginger Rogers e, de forma muito mais cult, em O Candelabro Italiano, 20 anos depois). O curioso é que, por causa dos dois livros, mudou meu status quando vou aos restaurantes. Agora me olham como se eu fosse aquele crítico severo e antipático de Ratatouille!

Novembro | 2013


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