Quem é você, alasca john green

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cinquenta e um dias depois TENDO PARADO A INVESTIGAÇÃO, voltei-me novamente para os textos de Religião, o que pareceu deixar o Velho satisfeito, pois fazia bem umas seis semanas que eu fugia sistematicamente de seus testes-surpresa. Naquela quarta-feira fizemos um teste: Dê um exemplo de um koan budista. O koan é uma espécie de enigma que supostamente ajuda a pessoa a atingir a iluminação no zen-budsimo. Em minha resposta, escrevi sobre esse cara, o Banzan. Certo dia, ele estava caminhando pelo mercado quando ouviu alguém pedir ao açougueiro o melhor pedaço de carne. O açougueiro disse: “Tudo aqui é da melhor qualidade. Você não encontrará um pedaço de carne que seja melhor que o outro.” Ouvindo isso, Banzan percebeu que não havia nem melhor nem pior, que esses juízos de valor não faziam sentido porque o que existia era o que existia, e puf, atingiu a iluminação. Lendo o texto na noite anterior, eu me indaguei se também seria assim comigo – se, num instante, eu finalmente conseguiria entendê-la, conhecê-la e compreender o papel que desempenhei em sua morte. Mas eu não estava lá muito convencido de que a iluminação chegava assim como um clarão de luz ou um relâmpago. Depois que entregamos o teste, o Velho, que estava sentado, pegou uma bengala e apontou para a pergunta da Alasca, desbotada na lousa. “Vamos refletir sobre a frase da pagina noventa e quatro da divertida introdução ao zenbudismo que eu passei para vocês nesta semana: Tudo o que é construído termina por desmoronar.”, o Velho disse. “Tudo. Esta cadeira. Ela foi construída e, portanto, vai desmoronar. Eu vou desmoronar. Provavelmente antes da cadeira. Vocês vão desmoronar. As células, os órgãos e os sistemas que compõem seu corpo – tudo isso foi gerado, foi construído, e, portanto, vai desmoronar. Buda sabia de uma coisa que a ciência só foi capaz de provar milhares de anos após a sua morte: A entropia cresce, as coisas desmoronam.” Todos nós vamos, pensei, e isso se aplica a tudo, desde as rolas do céu até as rolhas da garrafa, desde a Alasca–garota até o Alasca-lugar, pois nada perdura, nem mesmo a própria terra. Buda diz que o sofrimento é causado pelo desejo e que a suspensão do desejo implica a suspensão do sofrimento. Se pararmos de desejar que as coisas perdurem, não iremos sofrer quando elas desmoronarem. Um dia, ninguém vai lembrar que ela existiu, escrevi no caderno, e depois, que eu existi. Porque as lembranças também desmoronam. Então não nos resta nada, nem mesmo um fantasma, apenas sua sombra. No começo, ela tinha assombrado meus sonhos, mas, agora, apenas algumas semanas depois, já estava me escapulindo, desmoronando em minha lembrança e na lembrança de todos nós, morrendo novamente. O Coronel, que tinha conduzido a Investigação desde o princípio, que se mostrara interessado em seu paradeiro, enquanto eu só queria saber se el me


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