Vilas Magazine | Ed 265 | Fevereiro de 2021 | 25 mil exemplares

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É URGENTE LEMBRAR: Continue usando máscara em todos os am ientes José Medina Pestana

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urgência da recomendação do título acima decorre da necessidade de preservar não só sua vida, mas també m nossa capacidade h ospitalar para atender a este ameaçador crescimento de casos de C ovid-19 em todos os estados brasileiros. Além das restrições à mobilidade social, o uso de máscaras f aciais como barreira ao vírus é a medida individual mais efetiva para reduzir o contágio e minimizar as duras consequências ao sistema de saúde. O B rasil, que j á registra mais de 8,5 milh õ es de inf ectados e mais de 210 mil óbitos, enf renta esta segunda onda com perspectiva prolongada de números muito superiores ao pico da primeira. Nesta condição, é possível que a expectativa pessimista da adição de mais de 100 mil novos óbitos no decorrer deste ano sej a concretizada – ou, ainda, agravada por três cenários. O primeiro, negligenciado, mas bastante responsável pela amplif icação do contágio, decorre da volta para o convívio f amiliar de membros que se inf ectaram conf raternizando em imprudentes aglomeraçõ es nas recentes semanas e durante estas férias de verão. A pessoa infectada sem sintoma é a principal f onte de contágio para f amiliares de maior risco, como aqueles na faixa etária acima de 50 anos, na qual ocorrem 90% das mortes.

edidas de prevenção deverão ser mantidas por meses em todo o mundo

Portanto, não basta só o “fique em casa”. Cabe manter dentro de sua residência as medidas sanitárias de precaução, como o uso permanente de máscara facial e o distanciamento físico das pessoas que se expuseram ao risco. Neste ou em outro ambiente, qualquer tipo de aglomeração ou festa deve ser postergada. O segundo, mais assustador e j á enfrentado por muitas instituições em quase todos os países, é a disponibilidade limitada de profissionais de assistência para atender à consequente elevada demanda de internações. Durante o pico de incidência, em julho passado, os jovens profissionais de saúde foram os principais atores no enf rentamento da doença. Mesmo quando vinculados às especialidades pouco af eitas ao cuidado com inf ectologia e terapia intensiva, adquiriram h abilidades e usaram sua f orça de trabalho solidária. Neste começo de ano, a maioria deles está em período de transição profissional e focada no direcionamento de sua vocação, enquanto outros enf rentam a f adiga decorrente da superação física e mental. O terceiro cenário corresponde ao surgimento de ameaçadoras variantes biológicas do vírus, como a responsável por mais de 6 0% dos novos casos na Inglaterra, e como aquela que levou ao

colapso o sistema de saúde do Amazonas. Ambas mantêm a letalidade das demais, mas, pela maior capacidade de transmissão, acarretam exponencial crescimento no número de casos e necessidade de leitos. Fugindo das ameaças, a esperança se concentra na vacinação, que é h istoricamente considerada como responsável pela maior f ração no aumento na expectativa de vida relacionada a alguma intervenção médica. Entretanto, uma vez aplicada, ela demanda semanas para alcançar a proteção individual decorrente da produção de quantidade efetiva de anticorpos neutralizantes. Ademais, a indução de imunidade coletiva é limitada pela insuficiente capacidade de produção imediata para atender à maioria da população. Portanto, nos próximos meses, as medidas sanitárias de prevenção deverão prevalecer tanto aqui como nos demais países. É crucial intensificar o envolvimento da rede de atenção básica e dos agentes de saúde no rastreamento comunitário de sintomáticos e de seus contatos, dando ênfase nos cuidados pessoais e f amiliares, gerenciando o risco presente em cada circunstância do ambiente domiciliar. Até agora, comemoramos o sistema de saúde brasileiro, que suportou mais de dez meses de luta contra esta pandemia, mas outras ameaças regionais de colapso estão próximas. Não é tempo de nos acostumarmos com o vírus, mas de exercermos a nossa atitude cidadã, cumprirmos as precauçõ es e, assim, mudarmos o rumo devastador desta pandemia — cuj o desastre não pertence ao B rasil, mas sim ao mundo todo. José MEdina PEstana é professor titular da nifesp e membro do centro de contingência do coronavírus do estado de são Paulo. Artigo originalmente publicado na seção endências ebates, do jornal Folha de São Paulo, edição de 1 1 1)

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