OS SÍTIOS DE REDES SOCIAIS NO PROCESSO DE PRODUÇÃO DA NOTÍCIA E SEU USO NO JORNALISMO

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Percebe-se, portanto, que há entre os jornalistas do Mato Grosso do Sul uma tendência, ainda que oculta nos resultados quantitativos – mas presente na análise qualitativa das perguntas abertas das entrevistas realizadas – de atribuir à fonte oficial e às assessorias de imprensa de órgãos públicos um nível de fidedignidade que, via de regra, não podem possuir devido ao seu próprio caráter constitutivo. Fontes oficiais e assessorias de imprensa são canais interessados que devem ser usados com parcimônia pelos jornalistas, de modo a que sua contribuição não desequilibre o conteúdo jornalístico. Para Manning (2000) as rotinas produtivas, a pressão do deadline, a exigência por informação com valor notícia são fatores que colaboram para a criação de uma relação de dependência dos jornalistas perante as fontes oficiais. O controle do conteúdo por parte da fonte torna-se, portanto, mais fácil quanto maior for a dependência dos jornalistas em relação às fontes. Por outro lado, quando o jornalista tem acesso a versões alternativas ou a informação contextual de outras fontes, a importância da fonte oficial como fonte primária diminui (MANNING, 2000, p. 116). Em relação ao nível de fidedignidade das fontes não oficiais – que na análise quantitativa é similar ao nível de fidedignidade das fontes oficiais – ele é enfraquecido ou fortalecido a partir da análise qualitativa. Enfraquecido sob o argumento básico de que o seu enquadramento da realidade não pode ser embasado. Neste sentido, o conteúdo oferecido pela fonte não oficial – o cidadão comum – perde valor diante da autoridade constituída, dos especialistas, dos profissionais autorizados a mediar a informação nas assessorias de imprensa. São fortalecidas, no entanto, sob o argumento de que são fontes pouco interessadas, como se o cidadão comum não tivesse agenda política, interesses próprios a serem embutidos em seu discurso como fonte. Ambos os argumentos – o que diminui e o que fortalece a fonte não oficial – são questionáveis. Assim como não se pode desvalorizar a fonte não oficial pelo simples fato dela ser “não oficial”, também não se deve superestimá-la, como se o cidadão comum fosse totalmente isento de agendas e interesses, pronto a ofertar a verdade ao jornalista.

Victor Luiz Barone Junior

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