Moacir Andrade

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13/10/2010

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Meio século de arte amazônica

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om cinquenta anos dedicados à pintura e milhares de quadros espalhados pelo mundo, o artista plástico amazonense Moacir Andrade é considerado não só um dos melhores artistas contemporâneos, mas também o maior intérprete da cultura amazônica e pintor de paisagem Tropical do Mundo. Evandro Lobo Professor e Ex-vice Reitor da UFAM Ao se entrar no ateliê do artista Moacir Andrade é que se percebe que tudo que se tenta falar dos seus cinquenta anos de atividade artística é pouco. Abarrotado de livros, quadros, esculturas (algumas dos presentes recebidos do artista), documentos, centenas de fotografias antigas, tintas e pincéis, o ateliê mostra que a dimensão e importância de Moacir Andrade para arte, no contexto regional e mundial, vão além deste meio século completado este ano. Numa tentativa de demonstrar esse reconhecimento foi promovido pela Superintendência Cultural do Amazo-

nas, dos dias 14 e 18 de janeiro, a exposição “O Tempo e a Arte de Moacir Andrade”, na Pinacoteca do Estado, onde foi mostrado boa parte das fotografias, documentos, prêmios, reportagens feitas sobre ele, livros e quadros do pintor desde o início de sua carreira, em 1941, quando fez sua primeira exposição, até suas obras mais recentes. Entretanto, se formos levar em conta os rabiscos feitos aos nove anos de idade pelo garoto Moacir Andrade, verificaremos que na verdade já tem mais de meio século que ele resolveu adotar a Amazônia como tema básico de seus trabalhos e se tornar um dos mais importantes interpretes, tradutor, ou mesmo recriador. “Nunca consegui me libertar da Amazônia, desde quando nasci”, admite. E essa paixão natural, não se estabelece apenas de dentro para fora, com o pintor atento à paisagem, à mitologia, o folclore e às pessoas da região. Essa relação também foi demonstrada de fora para dentro, quando ele conta que nos primeiros anos de sua carreira, em decorrência das dificuldades financeiras, ele tinha

que produzir suas próprias tintas a partir de substâncias naturais, como o sumo das folhas das árvores ou a partir do barro lavado sem areia, misturando à “goma” (farinha de tapioca diluída em água). Moacir Andrade hoje tem 64 anos e desde a infância passada em maior parte no município de Manacapuru, no interior do Estado do Amazonas, já era comum vê-lo desenhar carroças, vendedores de cata-ventos, lavadeiras casas de palha, barcos de todos os tipos, o rio, a mata, enfim, tudo que fazia parte do seu pequeno universo, que se tornaria maior parte da expansão de seu deslumbramento e fascínio pela região. “Eu trabalho com o telurismo, com o regional, com as coisas autóctones”, com todo o mistério que caracteriza a Amazônia”, resume o artista. A dimensão desse fascínio, dessa paixão permanente pela Amazônia, pode ser observado hoje nos mais de seis mil quadros de Moacir Andrade espalhados pelo mundo todo e um reconhecimento quase que unânime de artistas e intelectuais brasileiros e estrangeiros.

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Moacir Andrade – Uma Lenda Amazônica

“ARAUTO POLICRÔMICO” – Toda a obra de Moacir Andrade é fruto de suas inúmeras viagens pela região. É uma espécie de síntese de sua observação da vida amazônica. Mas, quanto à forma, Moacir não costuma definir suar arte a define como uma simples manifestação do seu espírito criador. “Jamais me ative à corrente ou escolas tradicionais de pintura, sejam elas, clássica, moderna, abstrata, concreta surrealismo, impressionismo etc.” “A arte tem de ter como resultado formas e cores agradáveis”, diz ele, simplificando. Essa simplicidade em definir seu trabalho toma, no entanto, contornos maiores, mais entusiasmados, na voz de amigos e admiradores famosos, como a escritora Clarice Lispector, que 1972 considerou profética a obra de Moacir Andrade, considerado-o também uma espécie de “arauto policrômico da Amazônia”. “Também outro escritor, Gabriel Garcia Marquez, deu sua definição de Moacir em um artigo publicado em 1968, quando o artista expunha nos Estados Unidos: A obra de Moacir Andrade é um gesto largo e


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