Extensão popular: caminhos para a emancipação

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Até o início dessa década, a política adotada pelo governo federal, de construir mais universidades e faculdades, sem a devida preocupação de resguardar a indissociabilidade dessa dimensão, vem sendo vista com muita preocupação pela comunidade acadêmica, em relação ao que vem sendo demandado pelo marcado de trabalho em detrimento da qualidade do ensino. Nesse período, pouco se avançou no campo da extensão, como uma dimensão do ensino superior promotora de transformação social da sociedade e das classes trabalhadoras. Para Freire (2000), seria necessário criar uma aproximação da universidade com a sociedade, no entanto, durante a ditadura militar, essa aproximação era muito limitada. Era possível identificar pequenos grupos de estudantes e professores que resistiam ao modelo ditatorial, apontando suas ações no apoio e no acompanhamento aos movimentos sociais que surgiram durante os anos de repressão, como o movimento de meninos e meninas de rua, existente nos anos 70 e 80, os movimentos de amigos e moradores, surgidos nos bairros periféricos e nas favelas das metrópoles nesse período. Mesmo com essa pequena resistência, fortaleciam-se ainda as ideias de assistencialismo de uma extensão universitária, carregada dessas características básicas de servir ao capital, e que se distanciavam da ideia de transformar a sociedade a partir de sua realidade. São notórias as concentrações de contradições, até certo ponto, paradoxais, carregadas de equívocos e imprecisões. Para Batomé (1996), esse tipo de extensão se distancia cada vez mais do entendimento do que seria a sua função original, alijando o debate e ignorando outras possibilidades, que apontam, em suas práticas extensionistas, as fragilidades do modelo até o presente momento, que a proposta educacional das IES tem apresentado para a sociedade. Lessa (1999) refere que, nesse modelo neoliberal, as IES são pensadas numa perspectiva de escolas-fábricas, que preparam mão de obra especializada para dar respostas às necessidades do mercado. Ele afirma, ainda, que a extensão universitária praticada nas IES públicas perde espaço para promover o desenvolvimento social, devido à voracidade da lógica mercadológica. 58


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