Na Selva das Cidades

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Um dia antes da morte Mario Vitor Santos “Livros. Para que serve isso? Por acaso as bibliotecas impediram o terremoto de São Francisco?” Assim, o personagem Verme, dono de um hotel, anuncia o tema dessa peça que se passa em Chicago, uma cidade-mercado, de gângsteres, mendigos, punguistas, prostitutas, golpistas, espiões, proxenetas e lutadores. No período de um ano, o diretor Frank Castorf e o Volksbühne apresentam no Brasil o segundo texto cuja “ação” tem por lugar os Estados Unidos. O anterior foi “Estação Terminal América”, baseado em “Um Bonde Chamado Desejo”, de Tennessee Williams. A fixação de Brecht nos EUA era tal que ele chegou a americanizar seu nome alemão Berthold para Bertolt, uma corruptela de Bert. Na abertura de “Na Selva das Cidades”, o texto introdutório de Brecht anuncia que o público presenciará a “inexplicável luta entre dois homens e assistir à decadência de uma família que veio do campo para a selva da grande cidade”. E já avisa: “Não quebrem a cabeça para descobrir os motivos dessa luta”. Voltando ao início: para que servem os livros? A peça de Castorf começa com personagens trazendo livros, buscandoos numa caixa, procurando linhas e falas. Lêem trechos das obras, recitam partes de Brecht. São ratos de biblioteca. Eles se confrontam, debatem, lutam entre si, linha a linha, folheiam para frente e para trás, consultam as notas no final e retornam ao ponto onde estavam lendo. Os atores movimentam-se enquanto lêem. São histéricos e


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