Jornal Valor Local edição Julho 2020

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Valor Local

Julho 2020

Presidente da Junta de Arruda, Fábio Romão

“Há quem tenha vindo de Lisboa, e acabe a participar em tertúlias tauromáquicas” eiras, Lisboa, Sintra, Cascais são os concelhos de onde é proveniente a maioria dos novos residentes de Arruda que desde o início dos anos 2000 têm optado por esta zona, de acordo com o presidente da junta de freguesia de Arruda dos Vinhos, Fábio Morgado. A autoestrada foi essencial nesta nova realidade caso contrário “ainda haveria gente a pensar que Arruda dos Vinhos era ao pé de Figueiró dos Vinhos”. “Se não houver trânsito demora-se vinte minutos a chegar a Lisboa”, constata realçando que o grande atrativo do concelho “é podermos estar numa espécie de interior do país às portas da capital”. Mas o perfil do novo residente também tem mudado ao longo dos anos “se nos reportarmos até há 15 anos atrás diria que essas pessoas não faziam vida em Arruda, apenas residiam cá, hoje já temos

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pessoas que vieram viver para o concelho, nos últimos anos, e que fazem parte de órgão sociais de clubes, participam em festas e tertúlias”. São pessoas que têm interesse em fazer parte da vida local, e que vêm esta opção de vida em Arruda como algo a longo prazo. Por outro lado, e como novos habitantes do campo, acabam por ter uma paixão e um interesse pela preservação da natureza diferente da dos residentes tradicionais – “Temos assistido, nos últimos anos, ao aparecimento de pequenos grupos de pessoas que defendem o bem-estar animal e a preservação do ambiente em Arruda”. Fábio Morgado nega que haja um choque cultural entre os novos residentes, e os antigos, por via dos primeiros terem outro tipo de vivências, educação e cultura. Segundo o presidente da

junta, um fator de integração acabam por ser as festas de agosto, onde as pessoas que vieram viver para o concelho vindas da zona de Lisboa fazem parte das denominadas tertúlias móveis que como é sabido celebram o espírito tauromáquico, mas este não é um obstáculo – “De facto é em Lisboa que persiste o sentimento antitaurino, e muitas vezes essas pessoas, que passaram parte das suas vidas, antes de virem para cá, em concelhos perto da capital, são de facto contra as touradas, mas posso dizer que há quem naquele momento valorize o convívio e a integração com quem cá vive e esqueça esse cunho taurino ou dê menos importância”. No exercício das suas funções, o desafio também passou a ser diferente com a comunicação com a população a efetuar-se em parte através da internet e das novas

formas de comunicação. “São pessoas por norma mais exigentes em relação a assuntos que pouco ou nada dizem à população natural de Arruda, que prefere, antes, o contacto direto através da abordagem na rua”. Nesse sentido “tentamos incluir toda a gente através de todas as formas de atendimento, porque quer os arrudenses, quer os novos residentes sentem um grande apego a esta terra, embora de maneiras diferentes, porque uns nasceram e cresceram cá, e outros porque escolheram Arruda e têm orgulho em cá viver não apenas por causa da paisagem mas pela filosofia de integração e das relações pessoais que se estabelecem na comunidade”. Fábio Morgado diz que só conhece um caso de quem se tenha arrependido de vir viver para Arruda, “mas foi uma situação muito específica”.

Presidente da junta de Arruda fala numa integração a todos os níveis dos novos residentes

Piquete da Fruta cria loja online para ir ao encontro da população

Paulo Viduedo: Pandemia aumentou procura por moradias

om o número de pessoas a aumentar em Arruda dos Vinhos, vão-se mudando os gostos e sobretudo as exigências. Em parte do comércio local, já se vão notando outros pedidos. Habituado a ter todo o tipo de produtos e uma clientela diversificada, André Moleiro, da loja Piquete da Fruta, que já conta com 12 anos de existência, diz que é habitual ver muitas caras novas. “Não sabemos se são pessoas que já viviam em Arruda ou se vieram para cá morar, mas ficamos com a sensação de que são novos residentes”. Embora exigentes, os novos habitantes não trazem gostos diferentes dos clientes habituais, mas não esconde que a fruta e os produtos da terra têm uma grande procura. Por norma não tem dificuldades em satisfazer os novos clientes, até porque o leque de produtos vendido nesta loja “é bastante alargado”. Atento à nova realidade demográfica do concelho, o Piquete da Fruta tem também melhorado a loja online. A chegada da pandemia levou a mudanças nesse projeto, um sistema usado em regra por uma população mais nova, e que durante o confinamento fez a diferença junto de muitas famílias. André Moleiro salienta que a loja preparou-se para essa realidade. Ao nosso jornal, refere que a loja online foi reforçada, assim como, o número de trabalhadores, que estava noutras áreas da empresa “que fizeram toda a diferença, porque de facto tivemos uma procura enorme em relação às entregas ao domicílio e com entregas em 48 horas”.

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André Moleiro

em só o poder autárquico teve de se adaptar ao desafio do aumento populacional de Arruda, mas também o setor imobiliário que tem tentado manter-se a par das exigências da nova população. Com a pandemia surge agora o fenómeno de uma maior procura de moradias. O “Vale Encantado” acaba por ser um “refúgio” no campo a meia dúzia de quilómetros da cidade o que encanta os novos e os velhos habitantes. O consultor imobiliário da Remax, Paulo Viduedo, que está há mais de dez anos no mercado, também teve de “agarrar” esses desafios. A sua experiência e os anos que leva nesta profissão são um barómetro quanto ao tipo de pessoas que têm procurado o concelho em causa. Ao Valor Local, considera que nos últimos tempos “o mercado imobiliário sofreu várias mutações” e “adaptação” tem sido a palavrachave. É importante por isso “ter em carteira um grande número de imóveis de forma a colmatar as necessidades dos clientes”. Segundo o principal consultor em Arruda dos Vinhos, um dos fatores atuais mais desafiantes é o facto de começar a esPaulo Viduedo cassear a nova construção. Em média, os clientes procuram na maioria imóveis com quatro assoalhadas e moradias “sendo que nos últimos meses, e muito devido ao confinamento pelo qual todos passámos, tem vindo a aumentar a procura por moradias, o que é facilmente explicado pelo facto de as pessoas passarem mais tempo em casa e sentirem a falta de algum espaço exterior”. No mercado de Arruda escasseia precisamente esse tipo de tipologia de imóveis, o que significa um desafio ainda maior para Paulo Viduedo e a sua equipa. Contrariando a ideia que Arruda é apenas procurada por jovens casais, Viduedo refere que os seus clientes são de todas as idades e das mais variadas proveniências - “Tenho como clientes jovens casais que compram a sua primeira casa, mas também casais já com filhos que trocam apartamentos em cidades mais movimentadas como Lisboa por moradias em Arruda, e casais já reformados que por quererem estar mais perto da família, ou por quererem viver mais calmamente escolhem Arruda”. Salienta o consultor que, na maioria, os seus clientes referenciam o seu trabalho a amigos e por isso, esta é também uma forma para ir ao encontro de novos clientes. De toda a área circundante de Arruda dos Vinhos, é o concelho do Sobral de Monte Agraço que regista valores mais baixos no imobiliário. Paulo Viduedo salienta contudo que Arruda dos Vinhos apresenta valores inferiores a Loures, Vila Franca e Torres Vedras, sendo por isso “também mais barato, viver em Arruda dos Vinhos, sem dúvida”. Para o consultor os fatores que mais têm contribuído para o crescimento populacional estão relacionados com a proximidade a Lisboa, as acessibilidades, a segurança, e o valor dos imóveis em relação a outras localidades “mas sobretudo a qualidade de vida”. “Repare que na realidade vivemos no campo mas com todas as comodidades da vida na cidade”.


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