Jornal Valor Local edição Julho 2020

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Jornal Regional • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 89 • 30 Julho 2020 • Preço 1 cêntimo

Valor Local

Concelho que mais cresceu nos últimos 10 anos em população

Arruda dos Vinhos vive sobressalto demográfico

“A terra para onde todos querem ir morar” Destaque da 12 à 14

Nelson Marçal, médico pneumologista no Hospital de Vila Franca de Xira

Curar a devastidão psicológica deixada pela Covid-19 é urgente

André Rijo, presidente da Câmara de Arruda dos Vinhos

Autarquia não quer ir além dos 20 mil Bolina fecha habitantes apesar a porta a Azambuja da pressão do setor sem dar “cavaco” da construção civil Sociedade na 6

à Câmara

Sociedade na 3

Entrevista na 15 e 16 PUB


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Bolina está de abalada para Lisboa e Câmara de Azambuja diz-se ignorante de toda a situação epois de sete anos nas instalações da EPAC em Azambuja, a empresa MMCL Cervejeiros ligada à marca da Cerveja Bolina está de abalada da vila ribatejana para se instalar de armas e bagagens em Marvila. Segundo Miguel Menezes da empresa que ocupava instalações municipais a custo zero desde 2014, ao Valor Local, a estratégia ainda não está totalmente pensada por causa da Covid, contudo um artigo na revista da especialidade “Time Out”, datado de 18 de julho, e que não foi desmentido, é claro ao afirmar que o Ribatejo fica para trás e que o grande passo passa agora pela concentração da produção nas novas instalações na capital. O Valor Local sabe que ainda estão equipamentos na fábrica de Azambuja, e instado pelo Valor Local quanto às aspirações para o futuro o próprio Miguel Menezes afirma que a opção definitiva recai sobre Lisboa. Em declarações ao Valor Local, Luís de Sousa, presidente da Câmara, mostra-se indignado com este comportamento da empresa, dado que ficou a saber das intenções da Bolina pela comunicação social. O autarca que nunca foi um entusiasta do negócio que se proporcionou no último mandato de Joaquim Ramos (2009-2013) mas que concordou “por questões de solidariedade partidária”, confidencia que já colocou os serviços camarários no encalço da empresa. Luís de Sousa diz-se agastado, e refere que o único ponto em que a Câmara não cumpriu no protocolo foi com visitas das escolas “dado que se tratava de um produto alcoólico”. Segundo a Time Out, os empresários da Bolina, Miguel e Duarte Menezes deixaram Azambuja para trás e Marvila passa a ser agora o epicentro da sua atividade. De acordo com a mesma publicação, a empreitada não terá sido de pe-

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Entrada das instalações da Bolina em Azambuja

quena monta pois implicou a recuperação de um edifício cinquentenário abandonado em Lisboa há 50 anos para ali a Bolina construir um novo capítulo da sua atividade, que segundo o mesmo meio, estará de vento em popa dada a adesão do consumidor, nos últimos anos, à cerveja artesanal. A imagem de prosperidade dada pelos empresários na Time Out contrasta com o que é dito ao Valor Local. Temendo repercussões locais, a empresa assume uma postura contida, e diz que está a passar dificuldades financeiras em contraponto com o que é publicado na publicação lisboeta, menos lida por terras do Ribatejo e pelos decisores políticos locais. Ao Valor Local, Miguel Menezes fala apenas da abertura de um bar em Marvila, mas para os leitores da Time Out, há planos mais à frente: Para além da instalação da fábrica, há ideias para uma zona de restauração, no edifício com 50 anos recuperado, entretanto pelos empresários, bem como o possível aproveitamento

de um terraço no mesmo edifício. Para trás fica um protocolo com a Câmara de Azambuja previsto para 20 anos. Segundo apurámos junto de azambujenses ligados à atividade do Grupo Desportivo de Azambuja na outra ala do edifício da EPAC, paredes meias com esta cervejeira, raramente se viu movimento na Bolina ao longo dos seis anos “que aqui estiveram”. Havia a promessa de um museu que nun-

ca foi cumprida. Apenas uma lona foi afixada, a dada altura, com um convite à população para uma visita as instalações. Isto depois de uma reportagem do Valor Local junto da Câmara há cerca de quatro anos em que Luís de Sousa mostrava já, à época, razões de queixa da empresa. Na altura do protocolo com a Câmara, a empresa assumiu as obras de requalificação do espaço que foram exe-

cutadas. Sendo que ali permaneceria por um período de 20 anos mas com a obrigação de dinamização de atividades. O protocolo previa ainda a criação de 10 empregos, mas terá ficado bastante aquém. Segundo a nossa fonte que não quis ser identificada, “era raro existir movimento lá para dentro”. Não se viam muitas viaturas cá fora, e “posso dizer que nem se dava pela existência de pessoas, ali, a fazerem a sua vida”. Questionado sobre o não cumprimento dos itens que fazem parte do contrato, Miguel Menezes diz não estar a par e prefere não tecer considerações esclarecendo que tem sócios acima de si, e que na altura do nosso contacto se encontravam de férias. O abandono da Bolina destas instalações está a deixar preocupada a Câmara. De acordo com Luís de Sousa, já chegaram propostas para ocupação do espaço por outras empresas, mas garante que “podemos estudar todo o tipo de possibilidades nesse sentido, desde impliquem o pagamento de uma renda, porque não podemos a voltar a subsidiar empresas”, refere muito ao estilo “gato escaldado de água fria tem medo.” A ocupação da EPAC por uma empresa sempre foi mal vista pela oposição e sobretudo quando a autarquia não tem um auditório ou uma casa de espetáculos para esse fim. O espaço da EPAC poderá ficar totalmente livre para algum tipo de aproveitamento municipal agora que a Bolina se encontra a desocupar o espaço por sua livre vontade, a avaliar pelo que é dito na Time Out, e assim que o GDA consiga transferir a totalidade da sua atividade desportiva para a sua sede que aguarda um apoio da autarquia para realizar obras. A EPAC tem 600 m2. Fazendo um pouco de história, à época, em 2012, Jorge Lopes, ve-

reador da Coligação Pelo Futuro da Nossa Terra, referia-se a este negócio, segundo uma ata da Câmara a que tivemos acesso da seguinte forma: “O edifício estava valorizado em 500/600 mil euros para venda e agora propõe-se que esse património seja entregue a uma empresa a custo zero que vai fazer ao longo dos anos 115 mil 530 euros de obras, e que vai gastar por mês 481 euros”. O edifício da EPAC foi comprado no final dos anos 90 pelo antigo presidente da Câmara, Carlos Alberto Oliveira, já falecido, por 200 mil euros com o intuito de transferir para o local as oficinas municipais, o que não aconteceu. Esta é a segunda vez que uma empresa a ocupar espaços municipais passa a perna à Câmara Em janeiro de 2008 foi o blog Estado Velho a dar a notícia de que a empresa que à época ocupava as instalações da antiga Escola Almeida Grandella em Tagarro tinha colocado o imóvel municipal à venda na internet. O anúncio constava de um site na internet. Foi o blog a dar a notícia em primeira mão ao então presidente da Câmara, Joaquim Ramos, que se mostrou totalmente atónito com a notícia. Na prática o protocolo firmado com o município funcionava nos mesmos moldes do da Bolina- a empresa efetuara as obras de remodelação e requalificação do edifício, ali desenvolvera a sua atividade, sem necessidade de pagar uma renda à Câmara, que à data só via vantagens em ter os edifícios conservados mas por terceiros, e a partir daí não adviria qualquer benefício financeiro para a autarquia. A Câmara viria a recuperar o edifício e a empresa foi praticamente expulsa do local. O edifício, nesta altura, não está a ser utilizado.

Barco “Vala Real” regressa ao Tejo dez anos depois barco varino “Vala Real” regressou em pleno, no dia 25 de julho, às águas do Tejo. Esta foi a viagem inaugural, depois de ter sido recuperado nos estaleiros de Sarilhos Pequenos. O barco mandado construir pelo antigo presidente de Câmara João Benavente, foi colocado a circular em 1998, numa primeira viagem que ligou o esteiro ao Tejo. Aliás, a embarcação teve na altura um custo de cerca de 35 mil euros (sete mil contos) e foi mandado fazer de raiz pela câmara de Azambuja. João Benavente recordou ao

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Valor Local que a opção seria comprar um barco velho e recuperar por esse valor. No entanto depois de uma empresa local oferecer a madeira o estaleiro acabou por contruir um barco de raiz. Em 2011 a embarcação ficou parada e a madeira deteriorou-se. Foram vários os anos em que o “Vala Real” esteve à espera de melhores dias e foi através de um projeto de fundos comunitários que foi possível devolver o barco às águas do Tejo. No seu curriculum, o “Vala Real” destaca vários projetos, sendo a

“Rota dos Mouchões” a mais emblemática. Agora o barco recuperado vai também retornar a essas viagens, de acordo com o presidente da Câmara de Azambuja, Luís de Sousa, ao Valor Local. O autarca recorda a importância para o turismo da região e do concelho que este barco representa e salienta que o investimento que rondou os 120 mil euros foi comparticipado por fundos europeus em 75 por cento. O barco só estará disponível ao público em 2021, mas até lá efetuará várias visitas e passeios promocionais.

Vala Real entra na sua segunda vida completamente restaurado


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Face à contestação

Green Iberica vai desmantelar parque de contentores do Carregado Câmara de Alenquer já chegou a uma solução de compromisso com a Green Iberica para abandonar o estaleiro de contentores que ocupava, desde há escassos meses, de forma ilegal no mesmo local onde chegou a funcionar a antiga “Portugal, Cofragem, Andaime, Engenharia” (PERI), na Barrada, Carregado, em terrenos da família Pinto Barreiros. Em declarações ao Valor Local, o presidente da Câmara, Pedro Folgado, espera que a empresa deixe de ali exercer a sua atividade, e vai reunir-se com a mesma para acertar a data para que essa ação seja desencadeada. O Valor Local sabe que foi dado um prazo à Green Iberica para que fornecesse uma data, mas isso não aconteceu, pelo que a Câmara prepara-se para exigir tal. Ao nosso jornal, o autarca refere que ainda antes de a empresa ter assentado arraiais no Carregado houve uma conversa informal no átrio da Câmara com representantes da Green Iberica, que estavam

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nesse dia nas instalações municipais para tratar de outros assuntos, e que logo nessa altura Folgado referiu aos empresários que a localização não reunia condições. O que se seguiu foi uma ação de livre arbítrio por parte da Green Iberica que se desculpou, nesta altura do campeonato, junto da Câmara ao alegar que esperava beneficiar do RERAE emitido pela autarquia para a antiga PERI, ou seja estamos a afalar do regime excecional de regularização de atividade, mas que cessa com o abandono daquelas instalações no Carregado por parte da anterior indústria, não tendo caráter transmissível para a empresa que agora se instalou no local, de forma ilegal. Folgado refere que foram levantados dois autos de contraordenação por ocupação ilegal do terreno e pelo desenvolvimento de atividade não legalizada, porque esbarra na RAN e no PDM. Recorde-se que a população da Barrada tem-se mostrado preocupada com a instalação do parque de contentores devido ao intenso

tráfego de camiões e numa altura em que se aproxima o novo ano escolar. O município enviou ainda ofício para a Direção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo a reportar a ilegalidade mas não obteve resposta. O parque da Green Iberica autointitula-se como um porto para dar resposta ao hinterland (porto) de Lisboa, como substituição do parque de contentores da Bobadela, apresentando-se junto das empresas que estão a fazer o transporte destes contentores marítimos, pela dominação de ALB Carregado. Este mesmo porto tem uma área total de 55000.00m², e tem uma capacidade de cerca de 40000.00 TEU (twenty-foot equivalent unit) com um horário de funcionamento já definido. Recorde-se que chegou a estar em cima da mesa a possibilidade de este parque transitar da Bobadela para a freguesia vizinha de Castanheira do Ribatejo, solução que mereceu um voto de rejeição do município de Vila Franca. Ao que parece vai ter de ir em busca de novas paragens.

Câmara vai exigir que a empresa saia da Barrada antes do início do ano letivo

Projeto promove a inclusão pela arte em Bairro na Póvoa de Santa Iria Câmara Municipal de Vila Franca de Xira teve mais uma candidatura aprovada a fundos comunitários, no âmbito do “Portugal 2020”. O Projeto “ART FOR ALL – Inclusão pela Arte” vai desenvolver-se nos próximos 36 meses no Bairro do PER da Quinta da Piedade, na Póvoa de Santa Iria, tendo como principal objetivo a promoção de mais cultura para todos no concelho de Vila Franca de Xira. Ao longo deste período, vão concretizar-se no bairro as 13 atividades previstas na candidatura, que visam capacitar cada indivíduo de

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Há três anos o bairro recebeu obras da Câmara agora aguarda por maior dinamização (foto de arquivo)

competências pessoais, sociais e de empregabilidade com vista à sua inclusão e combate à pobreza e discriminação; promover a inclusão social através de oficinas artísticas e culturais que potenciem novas experiências e o aumento da criatividade na comunidade; e também sensibilizar, informar e divulgar ações que contribuam para o aumento da cidadania ativa, privilegiem a igualdade nas relações interpessoais, a integração da diferença, o respeito pelos direitos humanos, a tolerância e a não discriminação. As atividades serão gratuitas,

abrangendo a população que reside e frequenta o Bairro Municipal do PER da Quinta da Piedade, mas também outras pessoas da comunidade em geral. Na sua implementação estará envolvida uma equipa multidisciplinar de técnicos especializados nas áreas das ciências sociais. O “ART FOR ALL – Inclusão pela Arte” terá um investimento total de 585 mil 249,40 euros comparticipado a 50% pelo Fundo Social Europeu. O investimento direto da Câmara Municipal para a criação destas atividades cifra-se em 292 mil 624,70 euros.

Prosseguem as obras no Bairro Gulbenkian em Alenquer stão a decorrer as obras de reabilitação dos espaços públicos do Bairro Calouste Gulbenkian, em Paredes, Alenquer. A intervenção naquele espaço teve início no mês de maio, no âmbito do PEDU – Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano. Esta ação inclui para além do tratamento dos espaços públicos envolventes aos edifícios do Bairro, a criação de uma ligação pedonal ao Pavilhão Municipal, numa lógica de dotar este aglomerado de melhores condições ambientais, de conforto e de mobilidade.

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A reabilitação dos diversos espaços públicos deste Bairro, que atualmente se encontram degradados e ocupados indevidamente e de forma anárquica, prevê o reordenamento da circulação viária e das áreas de estacionamento, a beneficiação dos diversos percursos pedonais existentes (passeios e zonas de estadia), redimensionando-os e eliminando sempre que possível, barreiras arquitetónicas, com o objetivo de melhorar as acessibilidades, sobretudo dos peões com mobilidade condicionada.

Contempla ainda a melhoria da rede de iluminação pública existente, a criação de uma zona de estadia e de lazer dotada de equipamentos de fitness, mesas, bancos, papeleiras e um espaço lúdico infantil e a reabilitação das zonas verdes existentes através do seu redimensionamento e da renovação do seu coberto vegetal. O acesso pedonal ao Pavilhão Municipal irá desenvolver-se numa extensão aproximada de 305m, e vai permitir a ligação entre o Bairro Calouste Gulbenkian, o Complexo Desportivo do Sport Alenquer e

Benfica (adjacente a este bairro) e o Pavilhão Municipal, dando acesso direto às bolsas de estacionamento existentes neste local. O Bairro Calouste Gulbenkian situa-se em Paredes, Alenquer, e foi construído em finais da década de 1960, no âmbito do plano de realojamento das famílias atingidas pelas inundações de novembro de 1967. É constituído por edifícios multifamiliares em banda de três pisos, num total de 36 habitações. A obra tem um prazo de execução de 180 dias, devendo ficar concluída no próximo mês de novembro.

Obras deverão estar concluídas em novembro


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Nelson Marçal, médico pneumologista no Hospital de Vila Franca de Xira

Curar a devastidão psicológica deixada pela Covid-19 é urgente Sílvia Agostinho elson Marçal, médico pneumologista, no Hospital de Vila Franca de Xira tem sido um dos clínicos que tem convivido mais de perto com as situações de infeção por Covid-19 naquela unidade hospitalar. Ao Valor Local, e numa altura, em que ainda não passaram cinco meses da entrada do vírus em Portugal, coloca o acento tónico na prevenção e nos comportamentos responsáveis como o uso de máscara e o distanciamento social. O clínico traça um paralelismo com a teoria da evolução das espécies de Darwin - “O vírus SARS-Cov2 pertencente à família dos coronavírus conseguiu transpor a barreira dos seus reservatórios animais e criar condições para infetar, replicar-se e propagar-se entre os seres humanos. Trata-se de um somatório de mutações que, tal como nos dizia Darwin com o seu conceito de seleção natural, vai favorecer os que melhor se adaptam ao meio e não necessariamente os mais fortes. É um conceito fascinante que só comprova um mundo em permanente mudança.” De um ponto de vista “prático e imediato”, na sua opinião, importa, neste momento, conter surtos ativos como forma de limitar a propagação da doença para evitar cená-

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rios como os de Espanha e Itália (que ainda estão presentes na nossa memória) “onde os recursos existentes para tratar os doentes com a Covid-19 estavam em rutura, sendo por isso importante que quem esteja saudável não se torne vetor de transmissão da doença.” Muito falada tem sido a hipótese de uma segunda vaga e refere Nelson Marçal que é algo que pode ser uma realidade, mas ao mesmo tempo é um conceito vago. Sobretudo interessa-lhe colocar o acento tónico nas repercussões psicológicas da doença “que já se verificam atualmente a vários níveis”. O médico vai mais longe: “Não é possível conceber separar os avós dos netos ou dos filhos. Não podemos admitir que os lares de idosos ou as unidades de convalescença ou paliativos considerem exequível manter os seus utentes em quarentena (ou na “solitária”) de cada vez que lá entram ou por terem de ir a uma simples consulta hospitalar”. Muito crítica tem sido, ainda, a situação dos doentes internados que se vêm privados do contacto com os seus familiares. Neste contexto, muitos doentes em estado terminal têm partido com uma cortina a separálos dos familiares, “sem lhes poder agarrar na mão”, e se “continuarmos a compactuar com isto esta-

Nelson Marçal fala numa relação com a doença consciente mas que não pode tolher todos as aspetos da vida em sociedade mos a permitir que se roube a dignidade humana a quem se encontra na reta final da sua vida”. Num futuro próximo, o grande desafio que se põe à comunidade médica serão os meses de inver-

A regra do distanciamento social Quem não consegue fugir dos ajuntamentos, seja por via dos transportes públicos ou outras situações, a regra continua a ser: distanciamento social, máscara, álcool gel quando não puder lavar as mãos ou poderá dar mais conselhos? Infelizmente não há mais nada que possamos fazer. Penso que devíamos, enquanto sociedade, promover o teletrabalho, sempre que possível, pois é benéfico para o trabalhador e reduz custos à entidade empregadora. Não só deviam ser fortalecidos os transportes públicos como se deviam reduzir as penalizações a quem vai de transporte próprio neste período de pandemia. É mais provável que eu apanhe e doença numa ida sozinha, com máscara e munida de álcool gel, ao supermercado e praticando distanciamento social, mas onde é impossível deixar de mexer em algumas superfícies, carrinhos de compras, alimentos, e caixa (e não sabemos até que ponto o álcool gel que vou pondo até sair do supermercado é eficaz) ou numa confraternização com meia dúzia de amigos num jantar em minha casa, todos sem máscara e sem distanciamento social? Do meu ponto de vista, os momentos sociais são sempre mais perigosos uma vez que no supermercado a ideia é “despachar isto para sair rápido” e nos nossos momentos sociais achamos sempre que os nossos amigos e familiares não têm a doença e por isso mesmo é mais fácil “baixar a guarda”. Tendo em vista o próximo inverno e nem que seja por uma questão psicológica é importante que tomemos a vacina da gripe, não vá existir alguma confusão de sintomas e pensarmos que temos Covid quando não passa de mais uma gripe sazonal? Nem mais! Os grupos de risco são sempre as pessoas com mais de 65 anos, doentes crónicos ou profissionais de saúde. A vacina da gripe é sem dúvida uma das estratégias com maior custo-benefício em saúde pública a salvar vidas. Ela não impede que a pessoa desenvolva gripe uma vez que a estirpe desse ano não está contida na vacina por razões óbvias mas leva a quadros menos graves e impede que se desenvolva pneumonia pós-gripe e que tem uma elevada mortalidade. Tendo em conta a sua experiência, e de forma a consciencializar quem nos lê, que tipo de sequelas é que já presenciou nos pacientes que tem acompanhado no pós doença? Este é um tema muito delicado e que, na nossa região, fruto do surto a Legionella em 2014, ainda hoje continua a levantar algumas questões pela noção de sequela. Para definirmos sequela temos de conhecer os doentes antes da infeção para conseguirmos ter termo de comparação. Ora isso é, na grande maioria dos casos impossível. Não há ainda muitos dados sobre este tema e teremos de aguardar a sua chegada. Na maioria dos casos não haverá sequelas orgânicas, exceto nos doentes que estiveram internados em Unidades de Cuidados Intensivos, sobretudo os que estiveram dependentes de um ventilador. Já quanto a sequelas psicológicas/psiquiátricas de quarentenas, isolamentos, separações e “solitárias” penso que serão muitas.

no, porque teremos, ainda, a Covid misturada com outras infeções respiratórias no mesmo Serviço Nacional de Saúde (SNS) “enfraquecido e sobrelotado onde será mais difícil a manutenção de circuitos de doentes separados”. O médico é perentório – “Os recursos em saúde não se esgotam na aquisição de mais ventiladores mas sim no fortalecimento em número e na motivação dos profissionais que com eles trabalham”. Num futuro mais longínquo, refere que o nosso sistema imunitário terá de aprender “a conviver com este vírus tal como acontece a milhares de outros vírus quer seja com vacina ou sem ela”. Nelson Marçal fala em meses intensos no hospital de Vila Franca. A doença apresenta manifestações muito díspares à medida que vai evoluindo. Todos os dias a ciência traz a lume novos dados, e se numa fase inicial não passa de uma simples infeção viral, na segunda semana “aí a doença distancia-se de tudo o que até aqui conhecíamos pois a sua evolução, quando se complica, é rápida a evoluir para falência respiratória e necessidade de ventilação mecânica o que limita a nossa capacidade de reagir”. Os anglo-saxónicos cunharam estes doentes como portadores de hipoxemia alegre ou seja “há por vezes uma dissociação entre os poucos sintomas apresentados e a gravidade da insuficiência respiratória que nunca tinha sido visto até agora”. A falta

de uma terapêutica válida e eficaz também se torna angustiante para “quem trata estes doentes”, refere. A doença por ser nova não permite uma visão adequada da mesma, ou seja, “no olho do furacão não conseguimos ter a noção da gravidade de uma tempestade”, diz o médico quando lhe colocamos a questão quanto ao facto de a Covid-19 ter evoluído, segundo a comunidade científica, de uma doença respiratória para algo que afeta todo o sistema imunitário. Quanto mais se conhece da doença mais se fica a perceber que a falta de olfato, a dor abdominal nos jovens ou manifestações cutâneas fazem também parte dos sintomas desta doença. Quanto à vacina ou a descoberta de uma terapêutica com sucesso, fala-se da hidroxicloroquina e da dexametasona, entre outras, mas não arrisca previsões. Mais importante do que isso é que “a indústria farmacêutica está focada em obter uma vacina eficaz pelo que esta união de esforços trazer-nos-á benefícios seguramente”. Quanto aos medicamentos para o seu tratamento “é um tema mais complexo na medida em que faltam ensaios clínicos estruturados que demoram muitos meses a preparar”. Daquilo que já viu até agora, já se perdeu o entusiasmo pelo lopinavir/ritonavir e hidroxicloroquina. Tradicionalmente as infeções virais agudas não têm tratamentos muito eficazes pelo que a Covid não é exceção. No seu entender, seria mais

importante, nesta fase, “determinar quais as características ou os marcadores que identificariam os doentes cujo curso de doença evoluiria para a falência respiratória de forma a serem precocemente tratados, e também a determinação serológica de anticorpos que permitisse avaliar quem estaria ou não imune à doença.” No seu entender, Portugal tem respondido à altura na crise Covid-19 a nível do Serviço Nacional de Saúde mais por brio dos seus profissionais extensível ao setor privado, do que pelos esforços dos sucessivos governos, dado que o setor público sofre de um desinvestimento crónico que se acentuou com a crise de 2011. Os médicos portugueses, na sua opinião, têm conseguido fazer muito com poucos instrumentos ao seu alcance. Nelson Marçal acredita que está nos genes portugueses aquele espírito do “desenrasca” que “nos permite reagir em situações de stress de uma forma mais eficaz do que outros países e assim unimos esforços entre o sector público e privado para arranjar as melhores soluções.” Tem sido comum entre os indivíduos que contraem a doença testar positivo e negativo de forma intermitente, o que acaba por ser algo extenuante e que deixa as suas vidas num impasse, obrigados por vezes a um confinamento sem dia para acabar. Nelson Marçal avalia assim a volatilidade, grosso modo, das zaragatoas, ao explicar que o teste de confirmação da doença baseia-se atualmente na identificação do vírus em amostras da naso e orofaringe. “É um teste muito específico (o que quer dizer que os positivos têm mesmo a doença) mas pouco sensível (quer isto dizer que um resultado negativo não é sinónimo de não ter doença). A existência de teste negativo entre dois testes positivos é resultado das características que descrevo.” Face ao facto de, em muitos casos, a Covid-19 ter uma evolução e um desfecho críticos para o doente, questionamos o médico se não se recorrerá em demasia ao método assistencial via Saúde 24, mas este refere que “é incomportável seguir estes doentes de outra forma”. Na sua maioria, os doentes não têm problemas no início da doença, a altura crítica é mesmo entre o oitavo e o décimo dia após início de sintomas. “Infelizmente ainda não descobrimos quais as características ou marcadores que nos permitam conhecer antecipadamente os doentes com desfecho mais grave”, realça.


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Junta de Vila Franca lança campanha de sensibilização no atravessamento da passagem de nível stá na calha uma campanha que visa promover a segurança na passagem de nível de acesso ao cais em Vila Franca de Xira. Trata-se efetivamente de uma ação de sensibilização com a colocação de lonas em locais estratégicos. A campanha de sensibilização consiste na instalação de um conjunto de cartazes de grande dimensão junto à passagem de nível. Os cartazes são compostos pelas fotografias de cada um dos participantes na campanha e por frases que têm por objetivo orientar a atenção dos transeuntes para o cuidado no atravessamento da passagem de nível. Segundo João Santos, presidente da junta de freguesia de Vila Franca de Xira e promotora da ideia, esta é uma campanha em conjunto com várias entidades, envolvendo as Infraestruturas de Portugal, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Junta e a Policia de Segurança Pública. João Santos recorda a importância de um atravessamento em segurança, na passagem de nível, ago-

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Para alguns vilafranquenses este é um comportamento natural e sem consequências

ra sem guarda e térrea em Vila Franca de Xira e que tem sido alvo de inúmeras preocupações quer dos autarcas quer das populações, uma vez que recorda “nos últimos 15 anos registaram-se 29 acidentes com vítimas mortais no troço

da Linha do Norte que atravessa a cidade de Vila Franca de Xira”. Estes são números preocupantes para a cidade e não só. O autarca recorda que de acordo com estes números trágicos “a passagem de nível do cais de Vila Franca de

Xira é considerada pela Infraestruturas de Portugal um ponto negro de sinistralidade ferroviária nacional”. João Santos que agradece o apoio das várias figuras locais que dão a cara pela segurança e vinca que

esse apoio é “de enorme relevância para a sociedade vilafranquense”. Entre os nomes que apoiam a campanha estão os de Amália Rodrigues , fadista vilafranquense, José Carvalho, antigo provedor da

Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira, David Silva historiador e personalidade distinguida com o galardão de mérito cívico pela Junta de Freguesia, Sofia Lixa, jovem estudante de Direito e artista local, os irmãos Vasco Pereira e José Francisco Pereira, jovens engenheiros agrónomos e elementos dos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, e o próprio presidente da Junta de Freguesia, João Santos. Esta é aliás uma iniciativa já aplaudida pela Infraestruturas de Portugal, que refere aos promotores que sendo bem sucedida, poderá vir a ser reproduzida noutras regiões do país. Esta campanha ganha agora redobrada importância depois de a Câmara Municipal ter tornado público o adiamento da decisão final relativamente à deslocalização da passagem de nível. Recorde-se que esta decisão foi tomada no seguimento de uma sessão de esclarecimentos ocorrida no dia 26 de junho, na Fábrica das Palavras, e que contou com a presença de moradores da zona.

Apresentação do Plano Municipal de Ambiente

Qualidade do ar no concelho de Vila Franca está melhor mas há mais por fazer Câmara Municipal de Vila Franca de Xira apresentou, no passado dia 24 de julho, o Plano Municipal de Ambiente e o Estudo de Qualidade do Ar do Concelho. A iniciativa que decorreu na Praia dos Pescadores na Póvoa de Santa Iria, contou com a presença online do engenheiro responsável pelo projeto, Henrique de Brito, a quem coube explicar a componente do plano municipal de ambiente e de Francisco Ferreira que falou sobre o documento que estuda a qualidade do ar de Vila Franca de Xira.

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Esta apresentação teve como base o documento que está em discussão pública até ao dia 31 de agosto. Segundo a autarquia, o Plano Municipal do Ambiente vai definir ações para o desenvolvimento sustentável até 2030, “sendo um documento fundamental no âmbito do cumprimento desses objetivos”, “como tal afirma-se estruturante para a elaboração de outros documentos estratégicos, tais como o Plano Diretor Municipal”. Sobre a qualidade o ar, Alberto Mesquita, presidente da Câmara

Municipal de Vila Franca de Xira, refere qua neste setor há “aspetos a melhorar”. De acordo com o autarca as parcerias com as universidades são importantes para “termos, em cada momento, a noção do que é necessário fazer”. Aos jornalistas o autarca refere que desde 2005 até ao presente “a situação melhorou, mas ainda é necessária alguma monotorização e algum trabalho”. O autarca salienta que as fábricas devem dar um passo “para serem cada vez mais amigas do

ambiente” até porque já existe uma cultura por parte dos empresários de “cumprir com as regras que a legislação impõe e isso está a ser feito”. O autarca refere, por outro lado, a sua preocupação relativamente ao tráfego automóvel, que segundo Francisco Ferreira, coordenador do estudo da qualidade do ar para Vila Franca, é a principal fonte de poluição. Nesse sentido o presidente da Câmara vinca a necessidade da utilização mais frequente dos transportes públicos: “É esse tra-

balho que estamos a fazer na Área Metropolitana de Lisboa (AML) com o passe único, mas estou convicto que a par e passo vamos ter um concelho melhor do que temos hoje”. Alberto Mesquita salienta, por outro lado, o trabalho feito na recuperação da zona ribeirinha entre Vila Franca de Xira e a Póvoa de Santa Iria, faltando agora ligar Alverca à Povoa. Os estudos vêm dar um impulso nesse sentido. Ao nosso jornal, assegura que todo o investimento feito nesta área tem compensado no que

toca à qualidade ambiental e de vida das pessoas e a prova disso é a utilização massiva destes locais. A autarquia já anunciou por outro lado o arranque da obra do novo Parque Linear Ribeirinho do “Estuário do Tejo”, entre Alverca do Ribatejo e Póvoa que acrescenta seis quilómetros aos 12 já construídos à beira-rio. O edil vinca que assim será mais um passo na ambição da Câmara de Vila Franca na requalificação dos 22 quilómetros de frente ribeirinha do concelho.

Alenquer com nova associação empresarial T

eve a sua primeira reunião, no passado dia 8 de julho, a AGEIRA - Associação de Gestão Empresarial e Inovação da Região de Alenquer. Esta nova associação, que conta apenas com um mês de existência, surgiu a partir de um grupo de empresários da região cujos negócios estão mais orientados para a inovação e para os grandes clusters de atividade económica de Alenquer (o agroalimentar , o automó-

vel e a logística), e da própria Câmara Municipal de Alenquer que sentiu necessidade de um parceiro com esta natureza, para apoiar os empresários e as empresas. Conta já com mais de 20 empresas associadas, sendo que os seus maiores desafios são a atração de talento, de pessoas qualificadas, que passa por ter um conjunto de quadros que se sintam estimulados a trabalhar na região, e também a formação es-

pecializada. Outra prioridade é a consolidação do parque industrial da zona, e a internacionalização. Na agenda para 2020 consta o apoio ao empreendedorismo (em matérias de legislação e candidaturas a fundos por exemplo) e ao networking, a criação de uma newsletter mensal, formações certificadas, e uma feira empresarial que terá lugar em novembro, não se sabendo ainda se será em ambiente presencial, on-

line ou misto. Este evento substituirá o Fórum Empresarial de Alenquer e terá três grandes iniciativas que incluem conferências, e palestras de empresas “reconhecidamente inovadoras que possam inspirar quem assiste, uma feira de emprego a ser desenvolvida com o apoio do Instituto de Emprego de Torres Vedras, e sessões de networking profissional para que os empresários possam estabelecer con-

tactos, parcerias entre si”, refere à nossa reportagem fonte da AGEIRA. Para ser associado é necessário preencher um formulário de adesão e pagar a quotização de 60 euros anuais. Quem se tornar sócio até ao final de 2020 fica isento da jóia de custo único e vitalício de 60 euros também. Qualquer sociedade ou empresário em nome individual pode ser associado e usufruir dos apoios.

Segundo Raquel Ribeiro, relações públicas, a associação conta a médio prazo estabelecer parcerias com outras associações “numa lógica de complementaridade, não de competição”. Acredita que a AGEIRA vai ser “uma grande mais-valia ao tecido empreendedor”, e que vai conseguir dar uma melhor orientação com mais ambição.” Sílvia Carvalho de Almeida


8 Sociedade

Valor Local

Julho 2020

Benavente: Distúrbios provocados pela comunidade cigana continuam na ordem do dia m elemento do partido “Chega” foi à reunião de Câmara de Benavente queixar-se das atitudes e comportamentos da população de etnia cigana que vive no concelho. Pedro Soares, que é também munícipe, referiu que a maioria CDU tem evitado olhar de frente para este problema e a oposição também não ajuda. Recorde-se que no final de junho, Paulo Rebocho, proprietário de um estabelecimento comercial foi agredido por um grupo de cidadãos daquela etnia. Mas há mais queixas um pouco por toda a freguesia. O clima de insegurança e revolta da população motivou até uma reunião da junta de Benavente com os moradores e forças de segurança para avaliar medidas futuras. Carlos Coutinho, presidente da Câmara, compreende os anseios da população mas recordou que na origem do mal estar estão cidadãos que vieram viver recentemente para o concelho e que não fizeram um esforço no sentido da integração. Segundo o autarca há indivíduos daquela etnia que es-

U

Pedro Soares apresentou-se como membro do Chega no concelho tão integrados e que cumprem minimamente com os requisitos de convivência em sociedade. Segundo apurámos estes novos elementos de etnia vivem há menos tempo neste concelho, e residem há vários anos na Azinha-

ga do Contador em terrenos municipais. O presidente da Câmara lembrou que em 20 anos, o concelho perdeu 15 elementos das forças de segurança, e essa realidade não se compadece com o aumento populacional registado

nos últimos anos. Coutinho referiu que em conjunto com a presidente de junta tem-se reunido com o comando distrital de segurança da GNR. “Em democracia, as minorias não se podem sobrepor às maiorias, mas não sou ra-

cista nem xenófobo”, assegurou ressalvando que não está nos seus planos “expulsar” os elementos de etnia que possam ser considerados mais problemáticos, dado que a situação em causa é da alçada das forças de segurança, e a solução está a ser avaliada. Pedro Soares elevou o tom queixando-se do clima de terror que se vive no concelho com “pessoas a serem ameaçadas no supermercado” sem poderem “fazer a sua vida normal”. Aludiu ao facto de as pessoas daquela etnia por norma não pagarem as rendas municipais pois muitas delas estão alojadas em casas da Câmara. O vereador do Partido Socialista, Pedro Pereira, também se juntou à discussão e lembrou que “a comunidade cigana que agrediu o dono do café se gabou de estar em terrenos da Câmara”, que na sua opinião está a sacudir a “água do capote” neste momento de tensão entre a população e os membros da etnia em causa, “sobretudo quando corre por aí a in-

formação de que a Câmara paga a água e a luz daquelas pessoas”. Pedro Pereira quis saber que acompanhamento é levado a cabo pelos serviços de ação social do município, “porque não basta distribuir os ciganos pelos contentores”, e questionou-se ainda por que motivo numa reunião destinada a falar dos problemas da comunidade cigana com os moradores, não estava presente nenhum membro daquela etnia e ilustrou com o caso do município de Vila Franca que mitigou os conflitos entre aquela comunidade e a população “criando um sentimento de responsabilidade pelos seus atos junto dos ciganos, com a indicação de líderes dentro das próprias comunidades” o que acabou por dirimir comportamentos mais problemáticos. Carlos Coutinho referiu que os ciganos apoiados pelo município têm de cumprir obrigações específicas caso contrário não teriam acesso a benefícios, e remeteu para mais tarde novidades sobre este assunto logo que se reúna de novo com a GNR distrital. PUB


Valor Local

Julho 2020

Sociedade 9

Ricardo Correia, comandante dos bombeiros de Azambuja

“No meio de um incêndio salvar pessoas e bens é mais importante que a Covid-19” semelhança de outras associações, os Bombeiros de Azambuja tiveram de se adaptar à chegada da pandemia. Ricardo Correia, comandante do corpo de bombeiros, fala num trabalho hercúleo por parte dos seus soldados da paz e vinca o esforço das autoridades de saúde pública, salientando que ninguém estava preparado para lidar com a situação. Em plena época de fogos, refere que a preocupação com a pandemia está presente mas salvar vidas e bens no imediato é o primeiro pensamento de qualquer soldado da paz. Numa entrevista concedida ao Valor Local, e que pode ser vista em vídeo no nosso site nos próximos dias, o operacional refere que “não tínhamos muita noção da utilidade da saúde pública naquilo que era a normalidade do dia a dia antes da Covid-19 e isso revelou-se num na altura em que precisámos dela”. Contudo, e ao contrário de outros protagonistas locais do concelho de Azambuja, Ricardo Correia, enaltece o esforço de todos neste processo, sem esquecer a saúde pública, sobretudo quando Azambuja teve que lidar com surtos de covid-19 muito antes de outros municípios do país. Em causa estão os consecutivos surtos nas empresas Avipronto e Sonae, que dominaram as aten-

À

Ricardo Correia fala da difícil missão de combater fogos no meio da pandemia

ções nos media, mas que sobretudo preocuparam a população e os trabalhadores. Ricardo Correia diz ter a sua opinião pessoal que no caso de ter existido alguma falha foi estrutural “por parte de quem teve responsabilidades ao longo dos anos e deixou a saúde pública chegar a este estado”. Ricardo Correia destaca que os voluntários de Azambuja colocaram um plano de segurança em prática logo no início da pandemia, que passou por fechar as

portas do quartel ao público e gerir as escalas de serviço. Outra das medidas passou por manter os voluntários em casa, recorrendo apenas aos profissionais no dia a dia do quartel. Ao Valor Local, Ricardo Correia refere que o corpo de bombeiros não teve falta de material e que conseguiu até ao presente lidar bem com a situação. Nenhum bombeiro ficou infetado até à data com o vírus, embora tenham sido realizados muitos transportes de

suspeitos de covid e até de casos confirmados. Outra das questões, prendeu-se com a forma como os bombeiros se deslocaram, por exemplo, para os acidentes de viação em tempos de pandemia. O comandante refere que as ordens são para irem totalmente equipados, como se o sinistrado estivesse infetado, sendo essa uma forma eficaz na proteção dos bombeiros. Com a época de fogos em pleno, o comandante dos bombeiros, re-

fere que os voluntários têm em prática um plano para não descurar nem a pandemia nem os fogos. O operacional refere que desde um de junho que estão a trabalhar no assunto e embora “seja difícil conciliar a preocupação com a covid e a incidência dos incêndios” assegura que Azambuja está a preparar os seus soldados para o que aí vem. “O combate aos incêndios é exigente fisicamente e colocarmos na cabeça que temos de andar

sempre de máscara, numa altura em que precisamos de respirar, sendo que o ar ali não é da melhor qualidade, tem sido um enorme desfio para os operacionais”, desabafa Ricardo Correia que salienta que “não está fora de hipótese que num caso de fogo que envolva vários corpos de bombeiros, não possa existir um foco de infeção”. Há algumas preocupações dos bombeiros que têm de ir sendo colmatadas. Um dos exemplos são os espaços de refeição nestes cenários de fogo. Em regra com mesas corridas, quando as há, mas não existe plano de contingência possível nem de distanciamento social num incêndio, onde por exemplo estão mais de cem bombeiros, e isso é uma preocupação que ainda assim não afasta os bombeiros da sua missão. Para o comandante “no meio de tantas preocupações que os fogos rurais nos oferecem, principalmente naquilo que tem a ver com a segurança das habitações e das pessoas, a Covid quase que passa para segundo plano” e explica que “entre salvar as pessoas e os bens e a Covid, garantidamente que não haverá nenhum bombeiro que vá colocar o vírus em primeiro lugar” desabafa o comandante.

“Pontapé de saída” para requalificação do Bairro João de Deus Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos ultrapassou, no dia 1 de julho, mais um obstáculo no que toca à reabilitação do Bairro João de Deus. A autarquia assinou o auto de consignação da obra à empresa vencedora do concurso, que deverá ter a seu cargo a reabilitação das casas existentes e a construção de novos fogos habitacionais prontos em cerca de 18 meses. André Rijo, presidente da Câmara de Arruda dos Vinhos, destacou o empenho de várias entidades ligadas ao projeto, inclusive dos mais variados setores do município, e fez questão de notar o “empenho”

A

e a “paciência” dos moradores que durante a duração da obra ficarão instalados em contentores nas imediações do bairro. Estes contentores possuem as necessárias comodidades para as famílias que ficarão alojadas com acesso a água, saneamento, luz e ar condicionado. “Com o vosso apoio e colaboração tornar-se-á tudo mais fácil”, sublinhou o autarca tendo em vista o tempo que a obra vai demorar. Para André Rijo, este foi “um dos dias mais importantes e felizes do nosso mandato autárquico”, vincando que neste projeto “apesar de todas as nuvens que pairam

atualmente no horizonte” existe “a certeza de que trabalhamos e trabalharemos sempre por um concelho de valores”, “com as pessoas no centro das preocupações e da ação política e administrativa da autarquia e onde ninguém pode ficar para trás”. Este foi o primeiro projeto no país apoiado pelo programa de apoio à habitação do governo “1º Direito” e também o primeiro a ser aprovado e a vir para o terreno. Esta é uma obra importante também financeiramente. O investimento ronda cerca de 1,8 milhões de euros “e é claramente, nos últimos 20 anos, o mais representativo do município

em termos de custos suportados pela Câmara”. Com ausência do Ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, da cerimónia, André Rijo pediu à Secretária de Estado da Habitação, Ana Pinho que lhe levasse um recado. O presidente da Câmara voltou a lembrar a necessidade da construção da variante de Arruda que é “uma obra absolutamente estratégica e vital para o desenvolvimento e competitividade do nosso território concelhio”, apesar de reconhecer que até ao momento o concelho de Arruda dos Vinhos não se pode queixar do governo de António Costa.

Obras deverão estar concluídas em 18 meses

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10 Política

Valor Local

Julho 2020

Câmara de Alenquer aprova contas com críticas da oposição à falta de execução de obras município de Alenquer viu aprovado o relatório e contas de 2019 com os votos a favor do Partido Socialista e da independente Filipa Correia, a abstenção do Bloco de Esquerda e os votos contra da CDU, PSD e CDS. Foi executado 86 por cento do orçamento a nível da receita, e 71 por cento do lado da despesa. Segundo o presidente da Câmara as receitas correntes são superiores às despesas. Pedro Folgado salientou, ainda, uma maior liquidez da tesouraria nas dívidas de curto prazo. Mas a despesa com o pessoal aumentou “não por força da contratação, mas devido aos encargos com seguros, segurança social, e horas extraordinárias”. O saldo de gerência é de 6 milhões e 583 mil euros, e o saldo orçamental de 5 milhões e 800 mil euros, sendo que 1 milhão e meio foi utilizado no apoio às medidas covid19. Na análise do documento, verificou-se que os encargos do lado da despesa foram menores em parte porque as obras previstas no orçamento no que se refere ao Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU) não foram realizadas na sua totalidade. Pedro Folgado assegurou que nos próximos meses serão lançadas estas obras a par das do Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial (PDCT). Foram investidos três milhões de euros na área social e educação e apoio a coletividades, bem como na aquisição dos terre-

O

Autarquia garante arranque das obras previstas no PEDU

nos do parque de pesados do Carregado. Foi canalizado 1,5 milhões de euros para as festas concelhias como Alma do Vinho, Pintar e Cantar dos Reis, Feira da Ascensão, entre outras, e dois milhões de euros nos acordos de execução com as juntas de freguesia. “Temos margem suficiente para nos podemos financiar junto da banca no valor de seis milhões de euros”, destacou o autarca face ao que

considera ser a boa saúde financeira municipal. Oposição critica contas do município Do lado da oposição, o deputado do PSD, Rui Neto, salientou a subida do valor da despesa corrente que aumentou de 18 para 21 milhões de euros, de 2017 para 2019. Já a deputada Amélia Cae-

tano, da CDU, salientou gastos incompreensíveis como o da Alma do Vinho com uma despesa de 444 mil euros cuja receita apenas chega aos 109 mil euros ou seja, o prejuízo é de 334 mil euros - “Por cada pessoa que entrou no recinto, a Câmara teve de suportar uma despesa de cinco euros”, isto atendendo ao número de 60 mil visitantes. Em contraponto “as verbas disponibilizadas às associações do

concelho são irrisórias”, e sugeriu “um plano de apoio às coletividades em função das atividades ao contrário dos 500 euros habituais”. Lembrou ainda as obras dos orçamentos participativos que nunca viram a luz do dia bem como a falta de obras em alguns estabelecimentos escolares, nomeadamente, no dos Cadafais. Já o deputado Galvão Teles (CDS) aludiu ao facto de uma série de

obras não terem saído do papel, e até o cálculo do seu custo ter sido alterado nos últimos anos, e deu o exemplo entre outros das obras previstas em PEDU na requalificação ambiental e urbana do Rio de Alenquer; recuperação do edificado do Bairro Angra do Heroísmo; remodelação da Escola Conde Ferreira; e reabilitação dos espaços públicos da Urbanização da Barrada.

Vereadores do PS na Câmara de Benavente e comandante dos bombeiros de Samora em pé de guerra udo começou com desabafos nas redes sociais por parte de Miguel Cardia, comandante dos bombeiros de Samora, em relação ao comportamento político de figuras como o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, seguidos de crítica à postura dos vereadores socialistas durante o foco de covid naquela corporação em junho passado, ao alegar “que nem um telefonema por parte dos eleitos existiu”. Florbela Parracho e Pedro Pereira, vereadores do Partido Socialista no órgão executivo, declararam, em reunião de Câmara, que os textos do também antigo vereador da CDU não os intimidam, e aproveitaram a deixa para confessar que foi Cardia quem instigou o célebre caso do “anexo ilegal” do presidente da Câmara, Carlos Coutinho. Miguel

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Cardia que é simultaneamente coordenador municipal da proteção civil, um cargo de confiança política, nomeado pelo presidente da autarquia. No projeto de ata da reunião de Câmara de 13 de julho à qual o Valor Local teve acesso pode lerse que Florbela Parracho aludiu ao caso do anexo, espoletado no início de 2019, em que “o senhor Miguel Cardia telefonou, várias vezes (desconhece se na qualidade de cidadão, de comandante ou de coordenador), aos vereadores do PS, para ‘apertarem’ com o senhor presidente por causa do muito falado assunto do anexo ilegal, e referindo que ele sabia, perfeitamente, quais as condições em que esse anexo estava construído”. A vereadora garantiu ainda que tem provas de que houve esses contactos com

o comandante da proteção civil. Florbela Parracho quer ainda ver explicadas as razões que levaram ao aparecimento do surto nas instalações dos soldados da paz de Samora, numa altura em que Cardia alegava “em diversos comunicados, que tinha o melhor plano de contingência, com tudo topo de gama”. “Essa é a informação que o senhor Miguel Cardia ainda não teve tempo de colocar nas redes sociais, nem de mandar para a Câmara Municipal.” Ao Valor Local, Pedro Pereira avalia a situação desta forma: “Às vezes é preciso coragem para enfrentar certos poderes instituídos e que se acham intocáveis e donos dos lugares que ocupam. Tal como fez Rui Rio quando era presidente da Câmara Municipal do Porto enfrentando Pinto da Costa, o presidente da

Câmara Municipal de Benavente a quem não lhe reconhecemos essa coragem, depois de ter levado uma facada nas costas do seu subordinado coordenador da proteção civil municipal, deveria ter a dignidade de o demitir, algo que o coordenador municipal não tem, porque se o tivesse demitia-se.” Segundo fonte do gabinete de imprensa da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho não pretenderá retirar a confiança política a Cardia que se deverá manter no cargo de coordenador municipal da proteção civil. Mas na mesma ata referente à reunião de Câmara do dia 13 não deixou de observar - “ Enquanto cidadãos, todos são livres de ter a sua opinião e desenvolver os seus atos. Contudo, há questões que têm alguma gravidade.”

Bombeiros de Samora ameaçam com queixa na Justiça Em comunicado publicado nas redes sociais, os bombeiros de Samora Correia manifestam o seu repúdio pelas declarações dos vereadores socialistas, em relação às quais a própria concelhia socialista se demarca. Nesse comunicado, os bombeiros referem que nunca existiu um contacto dos vereadores durante o momento da crise covid vivida no quartel devido ao surto que atingiu 10 pessoas daquela corporação. “Lamentar que os visados não tenham tido, como era seu dever institucional, uma única palavra para saber como estavam e se precisavam de alguma coisa”. E vai mais longe -”Só quem é burro não percebe que as afirmações

dos vereadores Pedro Pereira e Florbela Parracho, visando o comandante Miguel Cardia num ataque inqualificável, são só uma desesperada tentativa de desviarem as atenções da população para a grave omissão dos seus deveres, enquanto eleitos”. O comunicado refere ainda que Pedro Pereira e Florbela Parracho faltam aos seus deveres básicos usando de “ódio despudorado” contra a instituição, onde passaram a ser personas non gratas, apesar do vereador socialista fazer parte dos órgãos sociais dos bombeiros. Refere ainda o comunicado que os eleitos socialistas devem mostrar prova das acusações contra Miguel Cardia quando argumenta que este infringiu os deveres a que está obrigado, se não o fizerem seguirá queixa para o Ministério Público por difamação e calúnia.


Valor Local

Julho 2020

Ambiente 11

Aterros de Azambuja e de Ota já receberam 92 mil toneladas de resíduos importados este ano esde maio que o Governo decidiu suspender a importação de resíduos provenientes do estrangeiro até ao final de 2020. A cinco meses do final do ano, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) revela ao nosso jornal que até à data foram depositadas 92 mil 962 toneladas nos dois aterros da região: 53 mil 330 na unidade da localidade ribatejana de Azambuja, e 39 mil 632 no aterro de Ota, concelho de Alenquer. A nova lei criou alguns obstáculos a este setor que não conseguiu receber a totalidade do previsto proveniente do estrangeiro. Pesou nesta lei que entrou em vigor a 16 de maio, a contestação das populações, nomeadamente, em Azambuja, onde o aterro da Triaza é uma das unidades que recebe os lixos provenientes de países como Itália. O Valor Local avançou em meados de janeiro com a informação de que estariam a caminho dos aterros da região, Ota e Azambuja, durante este ano, 79 mil toneladas provenientes de Itália e de Malta. Sustenta a APA, em declarações obtidas durante este mês de julho, ao nosso jornal que todos os resíduos depositados estão abrangidos pelo código LER – 191212 respeitante a lixos com origem na produção industrial, desde que não perigosos, e resíduos municipais, grosso modo lixos domésti-

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cos produzidos em Itália e Malta, ou biodegradáveis que são os principais responsáveis pelos maus cheiros nos aterros da região. Num comentário à nossa entrevista, em maio passado, com o jornalista italiano Salvatore Minieri que esteve na base da investigação que levou à descoberta do maior aterro ilegal de resíduos em Itália, ligado à atividade da máfia, em que o mesmo afirmava que o nosso país estava a receber resíduos perigosos provenientes da atividade criminosa da Camorra, ao longo dos anos, especialmente os da indústria química, a Agência Portuguesa do Ambiente rejeita essa possibilidade. Não há qualquer indício de haver “resíduos perigosos da indústria química e outras” nos resíduos recebidos de Itália, sendo efetivamente a sua origem as regiões de Campânia e Toscana, sustenta. A Agência Portuguesa do Ambiente salienta, ainda, ao nosso jornal que só o processo IT010868 está referenciado como fazendo parte do chamado “passivo da Campânia”, “de resíduos acumulados com origem em resíduos urbanos, que foram depositados durante uma situação de crise na região de Nápoles entre os anos 2001 e 2009”, os denominados ecofardos. Contudo não esclarece sobre a sua preponderância entre os de-

mais resíduos importados. Sendo certo que a nível ambiental, entidades como a Zero já criticaram o facto de Portugal estar a receber resíduos ditos recentes ou frescos vindos de Itália e de Malta por falta de capacidade de tratamento dos dois países. A APA sustenta, ainda, que não ocorreu nenhuma “rejeição” de toneladas de resíduos italianos pois estes atendiam aos critérios para deposição nos aterros, dado que todos os processos aprovados, continham as análises respetivas aquando da sua apreciação, tendo sido concluído que “não são resíduos perigosos, podendo ser classificados com o código 191212 e apresentam análises com valores abaixo de Carbono Orgânico Dissolvido (COD)”. “Em acréscimo, foi incluída a condição de se proceder a amostragem à entrada das instalações, com relatório de análise por laboratório acreditado, a ser enviado à APA e à Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR) territorialmente competente, antes de ocorrer a deposição efetiva.”, acrescenta aquele organismo. Atento o movimento transfronteiriço de resíduos, previsto para 2020, as duas unidades de tratamento de resíduos industriais de Ota e Azambuja acabaram por sofrer alguns reveses. No caso da Ota que em janeiro apenas tinha

Com a nova lei e segundo a APA os aterros de Azambuja e Ota ficaram a perder 37 mil toneladas de resíduos importados

recebido 17 mil das 50 mil toneladas previstas, apenas entraram mais 22 mil toneladas na unidade da Proresi desde essa altura. Ficaram a faltar 11 mil toneladas. O grupo Blueotter que gere o aterro de Ota tinha previstos mais dois movimentos para datas posteriores à entrada em vigor da lei: para 27 de maio e 24 de setembro. No caso de Azambuja, ficaram de fora devido à nova lei 26 mil toneladas de resíduos estrangeiros que tinham sido contratualizados. A 24 de janeiro, a APA informava o nosso jornal da existência de cinco processos aprovados de resíduos

não perigosos para aterro com origem em Itália e Malta. Neste aterro já tinham sido enterradas 29 mil 633 toneladas das 76 mil previstas. A expetativa é muita quanto ao que se seguirá para 2021 e a nova legislação, sendo que a APA, apenas, refere que a sua missão a partir de novembro de 2020 passa por através da Autoridade Nacional dos Resíduos enviar ao membro do Governo responsável um “relatório detalhado que contenha os dados relativos aos volumes depositados, à capacidade das instalações, bem como a avaliação das

necessidades, com vista ao apuramento da autossuficiência nacional”. Segundo a APA os resíduos perigosos provenientes de Itália foram encaminhados paras as unidades concebidas para o efeito, nomeadamente os Centros Integrados de Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos Perigosos (Cirver), e embora alguns possam ter vindo da região de Campânia, “não pertencem à tipologia de passivo”, ou seja não resultam da decisão tomada em 2016 com vista à exportação dos ecofardos italianos para países como Portugal.

Pontével - Rio da Fonte

APA prepara fiscalização das descargas ilegais Sílvia Carvalho de Almeida uas suiniculturas foram multadas em 24 mil euros pela GNR do Cartaxo, por descargas ilegais no Rio da Fonte, que atravessa Pontével. A denúncia partiu do Presidente da Junta de Freguesia, Jorge Pisca. Segundo comunicado do Bloco de Esquerda de Santarém, às redações, recebido no dia 27 de julho, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática revelou que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR têm previstas fiscalizações às explorações pecuárias existentes nas imediações do rio da Fonte. O Ministério do Ambiente e da Ação Climática admitiu que a massa de água do rio da Fonte está classificada com “estado inferior a Bom” ou “Razoável”, devido aos valores de parâmetros físico-químicos, biológicos e hi-

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dromorfológicos. A poluição de linhas de água é um problema recorrente, não só no distrito de Santarém, mas também ao nível nacional. O Bloco de Esquerda refere que continuará a acompanhar de perto o estado ambiental do rio da Fonte e a exigir que se apurem todas as responsabilidades das entidades envolvidas. Segundo apurado, a última descarga ocorreu dia 6 de Abril, num dia de chuva, o que se tornou percetível pela coloração da água e pelo mau cheiro que se fez sentir, incomodando a população local. Uma das suiniculturas já tinha sido multada anteriormente pelas mesmas razões. Segundo Jorge Pisca este é um problema que tem pelo menos duas décadas de existência, em que as suiniculturas aproveitamse, em particular, “dos dias de chuva para largar os produtos da pecuária”. Para o autarca, há fal-

Jorge Pisca fala em situação insustentável ta de fiscalização por parte das autoridades competentes no sen-

tido de prevenirem estas ocorrências.

Depois do sucedido, Jorge Pisca acompanhou, durante meses, o

Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente da GNR ao local das suiniculturas infratoras para apurar os factos, tendo-se seguido a aplicação de coimas. “Ninguém quer que as suiniculturas deixem de existir” já que fazem parte da economia da região. No entanto, “deve haver fiscalização e coimas para estes casos” como elemento dissuasor do que considera serem “crimes ambientais”, especialmente acabam por ser a única solução depois de todas as tentativas em vão para se colocar um termo ao comportamento prevaricador. Defende ainda que seja realizado investimento “para que as suiniculturas possam atuar dentro das regras, que foram alteradas.” “Há que haver separação de resíduos, e parte destes podem mesmo ser aproveitados para a agricultura, para fertilizar os campos, o que é uma mais valia também para as suiniculturas.”


12 Destaque

Valor Local

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Arruda dos Vinhos:

A terra para onde todos querem

m pouco por todo o território do país, a desertificação é uma das batalhas dos municípios. A população está cada vez mais idosa e os mais jovens escolhem viver no litoral nas grandes cidades. Em 264 municípios (85,7% do total) o número de residentes diminuiu, segundo os últimos censos. Não tem sido assim em Arruda dos Vinhos nos últimos 20 anos. Desde que foi inaugurado o primeiro troço da A10 entre Bucelas e aquela localidade do Oeste, muitos têm sido os que escolheram o denominado Vale Encantado para vir morar. Segundo os censos de 2019 agora dados a conhecer, este concelho registou o maior sobressalto demográfico dos últimos 10 anos com um aumento de 12,5% na população face a 2011, o que corresponde a mais 1.710 residentes num concelho que conta agora com 15.412 habitantes entre os 308 municípios do país. Já entre 2000 e 2011 tinha crescido 29 por cento mas atrás de outros concelhos, nomeadamente, Mafra

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Sandro Silva é um dos denominados novos residentes de Arruda dos Vinhos. Tem 32 anos, é natural de Ponte de Lima mas veio estudar para Santarém. Conheceu a sua esposa, natural de Arruda, na altura em que ambos frequentavam o ensino superior na cidade scalabitana. Depois de terminarem os respetivos cursos nunca tiveram muitas dúvidas onde viriam a residir no futuro. Sandro Silva conheceu Arruda quando ainda namorava, “há cerca de oito ou nove anos”. O concelho nessa altura já conhecia um boom demográfico, grosso modo, “mas era diferente”. “Achava que a terra era um bocado mais parada do que hoje. Noto que agora há mais dinamização cultural por parte do município”. Depois de acabar o curso estagiou em Lisboa “e Arruda pareceu logo uma boa opção para viver, porque era perto, e como a minha namorada era de cá fez sentido”. Residente no Bairro Fonte do Ouro na sede de concelho, comprou casa há cerca de quatro anos, e, nessa altura, apercebeu-

se que o mercado imobiliário era mais barato na localidade do Carregado ou no concelho do Sobral, que também registou alguns picos de aumento da população nos últimos 20 anos, “mas considerámos que era mais interessante vir para cá em termos de qualidade de vida”. Atualmente trabalha no regime teletrabalho, ainda antes da pandemia, mas em tempos chegou a deslocar-se todos os dias para Lisboa e no local de emprego havia muitas ideias divergentes sobre a dicotomia: viver num meio rural e fazer carreira na capital. “Tinha colegas que viviam na zona da Ericeira ou Malveira, e que possuíam uma visão semelhante à minha, que valia a pena fazer mais alguns quilómetros, porque demorávamos o mesmo tempo ou menos a chegar ao emprego do que os colegas que vinham da linha de Sintra, mas que julgavam, inicialmente, que Arruda era muito longe, que distava mais de 100 quilómetros”. Sendo oriundo do norte do país, nota que esta perceção dos lisboe-

tas em relação a zonas limítrofes como Arruda é “muito própria do sentimento de quem vive na capital, onde parece que as pessoas não conhecem mais nada a não ser Lisboa, porque têm tudo ao pé”. “No norte, as pessoas que vivem nas capitais de distrito como Braga ou Viana do Castelo não olham para as periferias como lugares remotos ou fora de mão, porque também fazem mais trajetos para fora”. Os sentimentos de pertença a uma região são mais arreigados no Norte onde “as festas que acontecem em determinadas zonas como é o caso de Ponte de Lima trazem muita gente de muitas cidades como Braga e outras localidades da região, enquanto que no caso das festas de Arruda, salvo raras exceções, não são frequentadas pela população

da capital”. Para Sandro Silva uma das grandes mais-valias de viver em Arruda são as pessoas “que acolhem bem, por norma, os novos residentes”. “Penso que Arruda conseguiu um bom equilíbrio entre o rural e o urbano, em que temos tudo à mão, mas também usufruímos da tranquilidade do campo”. Para o novo habitante do concelho, manter este equilíbrio é o desafio, e encara como fundamental a obra da nova variante “face à pressão de tráfego que se regista a determinadas horas”. Ainda não conseguiu trazer amigos para vir viver para Arruda mas também confessa que nesta altura “não existe oferta no mercado de arrendamento e já escasseia no que toca a imóveis para vender”. “Quando comprei o meu apartamento foi no pico da

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Foi em Arruda que Sandro Silva decidiu viver desde há meia dúzia de anos

crise mas se fosse hoje custar-meia mais 25 por cento do que aquilo que custou”. Sofia Rodrigues e Nuno Figueiredo são um jovem casal de Odivelas que vai assentar arraiais na localidade de Ajuda, na freguesia de Arranhó. Ambos com 28 anos, ainda estão a viver na casa dos pais, mas só até conseguirem construir a sua casa num terreno que foi adquirido há poucos meses. “Somos ambos entusiastas da natureza e da qualidade de vida e este foi o local que nos fez sentido, apesar de também termos procurado casa na Malveira e em Venda do Pinheiro, mas Arruda não foi segunda escolha”, enfatizam. O entusiasmo destes jovens é visível e já começaram a frequentar o comércio local, nomeadamente, uma barbearia existente na zona, bem


Valor Local

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Destaque 13

m ir morar

O futuro deste jovem casal de Odivelas passa por Arranhó

como, alguma restauração na sede de concelho. Trabalham ambos por turnos. Sofia Rodrigues é enfermeira numa clínica do setor privado em Lisboa e Nuno Figueiredo é gestor aeronáutico no aeródromo de Cascais, e “como tal o nosso grande objetivo é passar, com qualidade de vida, os poucos

dias de folgas que teremos no futuro”. Desde há dois anos que procuravam um terreno. Entre os fatores que pesaram na opção esteve também o facto de um dos familiares residir na zona de Bucelas, e ser mais económico em comparação com o concelho de Mafra “que está a ficar saturado” a

nível das deslocações para o trabalho de Sofia Rodrigues. No próximo ano, esperam já estar a viver em Ajuda, Arranhó, e sentem que a população vê com bons olhos os novos residentes da freguesia. Apesar de ainda não viverem em pleno no concelho, “está a ser como idealizámos”. “É estar perto

da cidade no meio do campo”. Para ser o pleno “bastava existir mais um acesso da autoestrada a esta zona”, refere Nuno Figueiredo. “Não se pode ter tudo mas demora um bocadinho mais a cá chegar”, junta Sofia Rodrigues que elogia, ainda, o mercado local e a abundância de produtos da terra.

No trajeto para o aeródromo de Cascais, Nuno Figueiredo vai demorar uma hora e dez minutos a chegar ao trabalho, num total de ida e volta de 106 quilómetros. Já Sofia Rodrigues, demora 20 a 30 minutos a chegar à clínica. O casal confessa que em tempos tinha uma ideia desfasada quanto a es-

tas localidades do distrito de Lisboa, mas mais afastadas da capital, como sendo longínquas e que não compensavam sequer uma deslocação a um restaurante para ir jantar. Os dois referem ainda que têm amigos que já estão à procura ou que já encontraram casa para viver neste concelho. PUB


14 Destaque

Valor Local

Julho 2020

Presidente da Junta de Arruda, Fábio Romão

“Há quem tenha vindo de Lisboa, e acabe a participar em tertúlias tauromáquicas” eiras, Lisboa, Sintra, Cascais são os concelhos de onde é proveniente a maioria dos novos residentes de Arruda que desde o início dos anos 2000 têm optado por esta zona, de acordo com o presidente da junta de freguesia de Arruda dos Vinhos, Fábio Morgado. A autoestrada foi essencial nesta nova realidade caso contrário “ainda haveria gente a pensar que Arruda dos Vinhos era ao pé de Figueiró dos Vinhos”. “Se não houver trânsito demora-se vinte minutos a chegar a Lisboa”, constata realçando que o grande atrativo do concelho “é podermos estar numa espécie de interior do país às portas da capital”. Mas o perfil do novo residente também tem mudado ao longo dos anos “se nos reportarmos até há 15 anos atrás diria que essas pessoas não faziam vida em Arruda, apenas residiam cá, hoje já temos

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pessoas que vieram viver para o concelho, nos últimos anos, e que fazem parte de órgão sociais de clubes, participam em festas e tertúlias”. São pessoas que têm interesse em fazer parte da vida local, e que vêm esta opção de vida em Arruda como algo a longo prazo. Por outro lado, e como novos habitantes do campo, acabam por ter uma paixão e um interesse pela preservação da natureza diferente da dos residentes tradicionais – “Temos assistido, nos últimos anos, ao aparecimento de pequenos grupos de pessoas que defendem o bem-estar animal e a preservação do ambiente em Arruda”. Fábio Morgado nega que haja um choque cultural entre os novos residentes, e os antigos, por via dos primeiros terem outro tipo de vivências, educação e cultura. Segundo o presidente da

junta, um fator de integração acabam por ser as festas de agosto, onde as pessoas que vieram viver para o concelho vindas da zona de Lisboa fazem parte das denominadas tertúlias móveis que como é sabido celebram o espírito tauromáquico, mas este não é um obstáculo – “De facto é em Lisboa que persiste o sentimento antitaurino, e muitas vezes essas pessoas, que passaram parte das suas vidas, antes de virem para cá, em concelhos perto da capital, são de facto contra as touradas, mas posso dizer que há quem naquele momento valorize o convívio e a integração com quem cá vive e esqueça esse cunho taurino ou dê menos importância”. No exercício das suas funções, o desafio também passou a ser diferente com a comunicação com a população a efetuar-se em parte através da internet e das novas

formas de comunicação. “São pessoas por norma mais exigentes em relação a assuntos que pouco ou nada dizem à população natural de Arruda, que prefere, antes, o contacto direto através da abordagem na rua”. Nesse sentido “tentamos incluir toda a gente através de todas as formas de atendimento, porque quer os arrudenses, quer os novos residentes sentem um grande apego a esta terra, embora de maneiras diferentes, porque uns nasceram e cresceram cá, e outros porque escolheram Arruda e têm orgulho em cá viver não apenas por causa da paisagem mas pela filosofia de integração e das relações pessoais que se estabelecem na comunidade”. Fábio Morgado diz que só conhece um caso de quem se tenha arrependido de vir viver para Arruda, “mas foi uma situação muito específica”.

Presidente da junta de Arruda fala numa integração a todos os níveis dos novos residentes

Piquete da Fruta cria loja online para ir ao encontro da população

Paulo Viduedo: Pandemia aumentou procura por moradias

om o número de pessoas a aumentar em Arruda dos Vinhos, vão-se mudando os gostos e sobretudo as exigências. Em parte do comércio local, já se vão notando outros pedidos. Habituado a ter todo o tipo de produtos e uma clientela diversificada, André Moleiro, da loja Piquete da Fruta, que já conta com 12 anos de existência, diz que é habitual ver muitas caras novas. “Não sabemos se são pessoas que já viviam em Arruda ou se vieram para cá morar, mas ficamos com a sensação de que são novos residentes”. Embora exigentes, os novos habitantes não trazem gostos diferentes dos clientes habituais, mas não esconde que a fruta e os produtos da terra têm uma grande procura. Por norma não tem dificuldades em satisfazer os novos clientes, até porque o leque de produtos vendido nesta loja “é bastante alargado”. Atento à nova realidade demográfica do concelho, o Piquete da Fruta tem também melhorado a loja online. A chegada da pandemia levou a mudanças nesse projeto, um sistema usado em regra por uma população mais nova, e que durante o confinamento fez a diferença junto de muitas famílias. André Moleiro salienta que a loja preparou-se para essa realidade. Ao nosso jornal, refere que a loja online foi reforçada, assim como, o número de trabalhadores, que estava noutras áreas da empresa “que fizeram toda a diferença, porque de facto tivemos uma procura enorme em relação às entregas ao domicílio e com entregas em 48 horas”.

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C

André Moleiro

em só o poder autárquico teve de se adaptar ao desafio do aumento populacional de Arruda, mas também o setor imobiliário que tem tentado manter-se a par das exigências da nova população. Com a pandemia surge agora o fenómeno de uma maior procura de moradias. O “Vale Encantado” acaba por ser um “refúgio” no campo a meia dúzia de quilómetros da cidade o que encanta os novos e os velhos habitantes. O consultor imobiliário da Remax, Paulo Viduedo, que está há mais de dez anos no mercado, também teve de “agarrar” esses desafios. A sua experiência e os anos que leva nesta profissão são um barómetro quanto ao tipo de pessoas que têm procurado o concelho em causa. Ao Valor Local, considera que nos últimos tempos “o mercado imobiliário sofreu várias mutações” e “adaptação” tem sido a palavrachave. É importante por isso “ter em carteira um grande número de imóveis de forma a colmatar as necessidades dos clientes”. Segundo o principal consultor em Arruda dos Vinhos, um dos fatores atuais mais desafiantes é o facto de começar a esPaulo Viduedo cassear a nova construção. Em média, os clientes procuram na maioria imóveis com quatro assoalhadas e moradias “sendo que nos últimos meses, e muito devido ao confinamento pelo qual todos passámos, tem vindo a aumentar a procura por moradias, o que é facilmente explicado pelo facto de as pessoas passarem mais tempo em casa e sentirem a falta de algum espaço exterior”. No mercado de Arruda escasseia precisamente esse tipo de tipologia de imóveis, o que significa um desafio ainda maior para Paulo Viduedo e a sua equipa. Contrariando a ideia que Arruda é apenas procurada por jovens casais, Viduedo refere que os seus clientes são de todas as idades e das mais variadas proveniências - “Tenho como clientes jovens casais que compram a sua primeira casa, mas também casais já com filhos que trocam apartamentos em cidades mais movimentadas como Lisboa por moradias em Arruda, e casais já reformados que por quererem estar mais perto da família, ou por quererem viver mais calmamente escolhem Arruda”. Salienta o consultor que, na maioria, os seus clientes referenciam o seu trabalho a amigos e por isso, esta é também uma forma para ir ao encontro de novos clientes. De toda a área circundante de Arruda dos Vinhos, é o concelho do Sobral de Monte Agraço que regista valores mais baixos no imobiliário. Paulo Viduedo salienta contudo que Arruda dos Vinhos apresenta valores inferiores a Loures, Vila Franca e Torres Vedras, sendo por isso “também mais barato, viver em Arruda dos Vinhos, sem dúvida”. Para o consultor os fatores que mais têm contribuído para o crescimento populacional estão relacionados com a proximidade a Lisboa, as acessibilidades, a segurança, e o valor dos imóveis em relação a outras localidades “mas sobretudo a qualidade de vida”. “Repare que na realidade vivemos no campo mas com todas as comodidades da vida na cidade”.


Valor Local

Julho 2020

Entrevista 15

André Rijo, presidente da Câmara de Arruda dos Vinhos

Autarquia não quer ir além dos 20 mil habitantes apesar da pressão do setor da construção civil Sílvia Agostinho Valor Local – O concelho de Arruda dos Vinhos registou o maior aumento populacional do país, cerca de 12,5 por cento face a 2011. São mais pessoas que escolheram Arruda para viver. A população total é de 15 mil 412 habitantes. Perante esta evidência quais são os desafios futuros? André Rijo – Temos a noção de que esses números se devem aos novos residentes que escolheram vir morar para Arruda dos Vinhos. Temos percebido que um dos motivos que leva a que muitos tenham escolhido o nosso concelho, prende-se com a excelência da qualidade de ensino que temos conseguido criar, quer através do externato, quer de outros estabelecimentos. Este aumento populacional está vertido no documento estratégico do município “Arruda 2025” aprovado em 2016. Não queremos ir além dos 20 mil habitantes, sensivelmente.

Como é que vai conter esses números, limitando as áreas de construção? O Plano Diretor Municipal é um instrumento de gestão territorial que tem em vista esse controle de aumento populacional. Percebemos que terá de haver um abrandamento pois de 2000 a 2011 já tínhamos registado um crescimento de 29 por cento. Na altura não fomos o concelho que mais cresceu, mas Mafra à conta da atratividade da Ericeira, mas nos últimos 10 anos crescemos mais do que aquele concelho. É muito assediado pelo setor da construção para que disponibilize mais uma área ou mais um terreno para construção? Essa pressão existe de facto. Por isso mesmo o nosso documento estratégico refere que não devemos ir além dos 20 mil habitantes para não perdermos o pé no equilíbrio desejável em questões como uma boa utilização do espaço público, e a preservação do ru-

ral vs urbano no que toca à qualidade de vida. Por outro lado, não queremos ter problemas relacionados com a segurança típicos de zonas mais densamente povoadas. No contacto que tem com estes novos residentes, estamos a falar de uma população com diferenças em relação à população dita tradicional de Arruda. Os pedidos e as exigências são diferentes? Pelo que me vou apercebendo estamos a falar de pessoas com qualificações académicas ou seja superior à média do que existia no concelho, e com um grau de rendimentos superior também. São por isso mais exigentes em relação ao exercício das funções públicas, e isso também é bom para o funcionamento dos órgãos. Teremos, com certeza, mais futuro enquanto concelho quanto mais qualificadas forem as pessoas que nele habitam. Ficou conhecido, no ano passaPUB

André Rijo espera que Governo e IP cumpram o que está assinado quanto à variante

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16 Entrevista do, um grupo de pessoas que veio morar para Arruda e que trouxe para cima da mesa uma série de questões ambientais com várias críticas à mistura Câmara, como foi o célebre caso do glifosato. São pessoas que trazem experiências diferentes e que de facto são mais exigentes no que toca a questões ambientais ou à qualificação do espaço público. Pedem mais informação e mais prestação de contas dos diversos temas ao município, e isso é ótimo e desafiador para a classe política e por arrasto para os serviços técnicos, e fortalece a nossa democracia local. O setor económico/empresarial tem sido bandeira dos seus mandatos, nomeadamente, foi criada uma incubadora logo no primeiro mandato, e têm sido fomentadas algumas ações também no acolhimento de empresários interessados em investir em Arruda, apesar de alguns projetos já terem ficado pelo caminho como o da Balestrand Pharma. Ainda no início deste ano, falou ao Valor Local do interesse de novas empresas se fixarem no território concelhio relacionadas com o setor automóvel, satélites aeroespaciais, cannabis medicinal, e turismo, qual é o ponto de situação neste momento? No que respeita a essa empresa, a Omnidea, na área dos satélites aeroespaciais foi concedida uma isenção do município no que toca ao Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis. Esta isenção justifica-se a que nível? A empresa vai trazer toda a sua

Valor Local

Julho 2020

Pressão urbanística terá de ser contida nos próximos anos segundo o autarca atividade para Arruda bem como toda a sua estrutura de produção. O quadro de recursos humanos é muito qualificado, cerca de 20 pessoas e prevê-se que possam ser criados mais empregos. No que se refere à empesa de cannabis temos sido sondados nesse sentido, mas ainda não há nada em concreto. Existe o interesse de um grupo que já cultiva cannabis na costa vicentina em instalar uma unidade transformadora num espaço, atualmente, devoluto no concelho. Ainda no domínio económico que balanço faz do projeto Invest Arruda, a incubadora de empresas? Começou-se com um piso, e avançou-se para dois, com várias empresas incubadas. Alguns proPUB

jetos vingaram outros nem por isso como foi o caso da Balestrand Pharma. Temos exemplos de empresas que conseguiram autonomizar-se. Penso que é um projeto de sucesso e uma aposta bem conseguida, e é um caminho para continuar. O projeto Arruda Lab, com um polo do ensino superior em Arruda, é outro passo mais virado para o agroindustrial. Com a pandemia, apostamos ainda a nível da economia em ações de crowdfunding para apoiar o comércio com um valor de dois mil euros a fundo perdido para cada estabelecimento, com vista à retoma económica, isto em conjunto com a associação comercial de Arruda dos Vinhos e Vila Franca de Xira e o Vale Encantado Market. Já foram apoiadas 20 lojas, e

até setembro serão mais algumas a serem apoiadas. O espetro de apoio é muito alargado pois podemos falar de esteticistas, cabeleireiros, passando por cafés, restaurantes e vários outros setores de atividade, ou seja, tudo o que sejam estabelecimentos de porta aberta. É proporcionado a cada empresário, ainda, um ambiente de loja virtual nas suas transações com os consumidores e sem custos. Quais foram os principais impactes da pandemia no concelho? Houve desde logo um impacto nos números do desemprego. Antes da pandemia tínhamos uma situação de pleno emprego a avaliar pelos parâmetros da Organização para a Cooperação e DePUB

senvolvimento Económico (OCDE), abaixo dos três por cento. Embora eu diga que basta termos um desempregado para termos um problema para resolver. Ainda não tenho os números concretos, mas de abril a junho registámos um aumento de cerca de 90 desempregados para os 280 desempregados existentes, o que significa um crescimento já com algum peso desta estatística. Por isso estamos a trabalhar com o Instituto de Emprego e Formação Profissional e a orientar as pessoas que procuram o nosso gabinete de inserção profissional que agora funciona a tempo inteiro. Têm surgido na região vários surtos de coronavírus junto da população mais idosa em lares e instituições vocacionadas para aquela faixa etária, como é que o município tem acompanhado esta franja da população institucionalizada e particularmente vulnerável. Somos uma comunidade ainda pequena e tem sido muito bom ver que todas as entidades têm estado em uníssono nesta luta que é de todos, e nessa perspetiva temos trabalhado em rede com as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), com as autoridades de saúde, bombeiros, proteção civil. Os lares são de facto uma preocupação e nessa perspetiva digo que não impomos nada, mas trabalhamos em conjunto. Tudo fizemos para que a informação circulasse. Fornecemos equipamentos de proteção individual junto dos lares de idosos. Apareceram três ou quatro casos nas IPSS e por isso considero que conseguimos controlar os danos. O único óbito no concelho de Arruda prende-se com uma pessoa que contraiu a doença em contexto hospitalar e que já apresentava muitas comorbilidades. Já nos reunimos também com a comunidade escolar tendo em vista o regresso às aulas, bem como com o setor vinícola com vista à aplicação de um plano de contin-

gência na atividade agrícola. A questão dos ajuntamentos é crítica em Arruda dos Vinhos? Tivemos um foco muito complicado há cerca de um mês atrás na sequência de festas privadas e de encontros que se realizaram por pessoas que não estão conscientes dos perigos. Percebo que as pessoas queiram reencontrar-se, mas não é admissível que nesses encontros se partilhem garrafas, copos e tabaco como foi o caso. Não é possível, contudo termos um polícia à porta de cada café, esplanada ou ringue desportivo. A obra da variante será a mais importante do concelho nos próximos anos. Contudo temos aqui um senão, estava anunciado um investimento por parte da Câmara de quatro milhões na obra, e agora já são cinco milhões, e nas expropriações temos um acréscimo de despesa dos 400 para os 800 mil. Mal começou e os números já estão a derrapar. O acordo inicial do município com a Infraestruturas de Portugal (IP) previa que o município teria um encargo até 400 mil euros com as expropriações que contemplavam ainda o projeto de execução com um custo de 150 mil euros, sendo que a restante verba serviria para as expropriações propriamente ditas. Se fosse mais a IP assumiria até porque não era líquido que se ficasse apenas pelos 400 mil euros. Acontece que fizemos os ensaios geotécnicos, sendo que foi possível apurar que vão ser necessárias mais movimentações de terras do que o esperado no anteprojeto. Por outro lado, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e a Comissão de Coordenação Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) recomendaram o aumento da zona de viaduto por via da questão do leito de cheia dos últimos 100 anos. Podia ter sido aprovada com uma declaração de interesse público por parte da tutela mas decidimos não o fazer, porque entendemos acatar a recomendação. O viaduto contempla 50 por cento do custo total da obra. Chegámos a acordo para que a IP passe a financiar de três para cinco milhões em relação ao acordo inicial, e por sua vez a Câmara deixa de pagar o projeto de execução para passar a pagar a totalidade das expropriações. Vamos esperar que depois das expropriações a IP avance de facto com o que lhe cabe, porque têm sido visíveis, em toda a região, queixas dos municípios em relação a este organismo que assina contratos e depois não os cumpre. Verdade. Mas de momento não tenho motivos para estar pessimista quanto à empreitada. Todas as conversas que tenho com o senhor ministro das Obras Públicas, Pedro Nuno Santos, vão no sentido de que esta é uma obra prioritária, inscrita no Programa Nacional de Investimentos.


Julho 2020

Valor Local

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18 Opinião

Valor Local

Por linhas direitas

Julho 2020 António Jorge Lopes*

Acredita que as galinhas são violadas por galos? o início deste mês de Julho, morreu o “Maestro” Mário Coelho. Quer se goste, quer não se goste, este vilafranquense “fez acontecer” no mundo da tauromaquia e na arte da lide a pé. Pablo Picasso, depois de ter assistido a uma das suas faenas na praça francesa de Arles, deu o seu olhar e traço sobre a mestria de Mário Coelho na bonita gravura que aqui se reproduz. Noutros tempos, mas não no “tempo da outra senhora”, o “Maestro” foi agraciado com a Ordem de Mérito num reconhecimento público pelo seu contributo à cultura tauromáquica portuguesa. Nestes tempos, nada se ouviu da Ministra da Cultura, Graça Fonseca. Nem uma palavra de reconhecimento, nem tão-pouco uma breve nota de pesar. Nada. O silêncio da principal responsável pela pasta da Cultura não é inocente e tem significado político. Tal como foi um acto político a sua recusa em receber o barrete de forcado que lhe foi ofereci-

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do pelos grupos de forcados amadores de Évora e de São Manços. A Ministra da Cultura tem aversão à tauromaquia e a tudo o que envolve esta forma de expressão cultural. Graça Fonseca tem toda a liberdade pessoal para não gostar do “mundo dos toiros”. Mas, enquan-

Contudo, neste tema, todos os actos de Graça Fonseca são tomados para afrontar, hostilizar e menorizar todos aqueles cidadãos que se revêem na cultura tauromáquica. E este comportamento sectário só pode merecer o nosso veemente repúdio! Porque impor aos outros aquilo de

to Ministra da Cultura, Graça Fonseca tem o dever de defender a liberdade de todos aqueles que são aficcionados. A sua liberdade individual não vale mais do que a liberdade individual dos outros.

que se gosta ou proibir aos outros aquilo de que não se gosta mais não é do que cercear a liberdade individual de cada um. É também nesta perspectiva que devem ser analisados os recentes

projectos de lei para acabar com o apoio público às touradas e que foram apresentados pelo PAN, pelo Bloco de Esquerda e pelo PEV (parceiro do PCP na CDU). Aliás, durante o debate na Assembleia da República, uma das deputadas do PAN até disse que “não têm de ser todos os portugueses a pagar, com dinheiros públicos, as touradas através de apoios ou subsídios”. Mas, os mesmos portugueses já podem pagar com os seus impostos a actividade de organizações que trabalham com a comunidade LGBTI (Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo)! E certamente que é mera coincidência que a actual Ministra da Cultura se tenha assumido publicamente como homossexual! Que não haja dúvidas: estou-me nas tintas para a orientação sexual de quem quer que seja! Agora não aceito que para umas coisas os meus impostos não podem servir e para outras coisas os impostos que pago já são bons, sendo a escolha apenas ditada por critérios de “gosto”, por aquilo que

odos nós temos Amália na voz. O tanas, desculpem-me o calão. Não há, entre os dez milhões de portugueses espalhados neste cantinho mais os outros milhões que moirejam por terras estranhas, quem tenha aquela capacidade de cantar fados, malhões, samba, flamenco, canções italianas de Nápoles, coisas francesas do Aznavour, que Amália tinha. Foi seguramente uma das dez grandes cantoras do século 20, a par da Callas, da Piaf ou da Ella Fitzgerald. Houve um tempo em que me considerava um bicho esquisito. Enquanto os meus amigos e colegas de liceu se desengonçavam ao som das “bandas” que nasciam aqui e ali depois de aparecerem os Beatles, eu queria era ouvir na Rádio ou nos gira-discos de café onde se punha uma moeda e o mecanismo ia buscar o 4 G, o Barco Negro ou o Povo que Lavas no Rio. Vi Amália ao vivo quatro vezes na vida, e cada uma delas tem a sua história. E foi um deslumbramento, também. Vi-a uma primeira vez no Casino Estoril. Não que eu fosse um frequentador habitual, mas acontece que o meu pai era amigo dum senhor que tinha mesa própria no Casino e que, nessa noite que a Amália lá cantou, convidou-nos

para ir com ele. Ao intervalo, ela dava autógrafos no Lobby e eu, com o meu caderninho de autógrafos, a tentar perfurar a multidão até chegar a ela. Quando finalmente consegui entregar o livrinho, estava tão enlevado frente ao meu

ídolo, que lhe disse chamar-me Zé…onde é que parará esse caderno, que tem numa página, numa letra redonda” Para o Zé, com a amizade da Amália”? Voltei a vê-la, muitos anos mais tarde, quando a Câmara de Lisboa, com o Eng. Abecasis, resolveu fazer-lhe uma homenagem no S.Luis. Fiz parte da Comissão organizadora. A primeira parte foi um desfile de vedetas, nacionais e internacionais que vieram homenageá-la, enquanto ela assistiu num

rodeia. É óbvio que há quem genuinamente acredita no bem-estar animal. Não é a esses que me refiro. O combate tem ser feito àqueles que nos querem impor um extremismo animalista para a construção de um “admirável mundo novo” em que a liberdade individual é posta em causa e sujeita à “ditadura do gosto” de imbecis que defendem que as galinhas são violadas pelos galos e que até existe mau trato animal quando os cavalos são montados pelo Homem, como recentemente foi dito pela deputada Luz Maria do PODEMOS (o congénere espanhol do Bloco de Esquerda). Nestes tempos da “modernidade” e de que “isto agora é assim” os cidadãos moderados não podem claudicar ou “assobiar para o ar”. É a sua liberdade individual que está em causa. A não ser que o Caro Leitor também seja daqueles que acredita que as galinhas são violadas pelos galos…

Joaquim António Ramos

Amália T

está na moda ou que é “politicamente correcto”. Até porque a “narrativa” dos apoios públicos à tauromaquia é uma ficção criada pelos extremistas que nos querem impor apenas aquilo de que eles gostam e que nos querem probir de ter aquilo que eles não gostam. A tauromaquia é tutelada pelo Ministério da Cultura, no entanto não existe qualquer programa de apoio à mesma. Ou seja, a tauromaquia recebe zero euros do Orçamento do Estado! Também ao nível das autarquias locais os apoios financeiros não têm tido qualquer expressão significativa: entre 2013 e 2017, o investimento do Poder Local em espectáculos tauromáquicos foi pouco mais de 250 mil euros! Também por isso começa a tornar-se cada vez mais evidente que todos estes ataques extremistas à cultura tauromáquica e ao mundo rural mais não são do que um mero instrumento para corroer as nossas vivências populares, as nossas tradições, a nossa forma de viver e de sentir a terra que nos

camarote. Sozinha, mandou a representante dela que tratava connosco. E com uma garrafa de Whisky, um balde de gelo e um copo, ordenou a criatura. A segunda parte foi Amália, e não cambaleava.

Vi-a na Praça de Toiros da Nazaré. Cantava em qualquer sítio e com a mesma voz e entrega, quer fosse no Olympia quer na Praça da Nazaré. A última vez que a vi foi no seu primeiro espectáculo no Coliseu de Lisboa. Já era uma Diva a nível internacional. A voz tornara-se-lhe mais profundo e acho que, com a idade, foi ganhando alma fadista. Mas a verdade é que a voz já não era o que fora, e tinha que usar alguns truques para O Povo que La-

vas no Rio ou para o Fado Malhoa. Creio que foi quando foi condecorada pelo Presidente da República, Mário Soares. Mas não vos faz “espécie”, caros leitores, que Amália Rodrigues, que actuou nas principais salas de espectáculo do Mundo, só na fase descendente da sua carreira se tenha estreado no Coliseu, já na década de oitenta? A mim não faz. É política. É que, como em quase tudo, a forma como o Poder em Portugal lidou com Amália mudou muito ao longo dos tempos e aos sabores das circunstâncias e interesses políticos. Eu fico parvo quando ouço propalar que Amália deu dinheiro aos comunistas, subsidiou “subversão”, só falta dizer que cantou na Festa do Avante. Fico parvo com uma das manas Mortágua a dizer que é um símbolo nacional e mais não sei quê. Vamos ver as coisas com coerência: não acredito que Amália fosse da Pide nem da União Nacional nem defensora do Estado Novo. Mas a verdade é que o Estado Novo se apropriou da sua imagem, quando se apercebeu que ela era das poucas coisas que referenciava Portugal no Mundo. E ela deixou. Assim como se calhar deu dinheiro a comunistas e recebia gente do reviralho na sua Casa da

Rua de S.Bento. Simplesmente porque se estava nas tintas. Queria ela era lá bem saber do Estado Novo ou se eram comunistas ou fascistas. Ela queria era cantar e ser uma vedeta internacional imune às questões políticas. Amália chegou ao vinte e cinco de Abril com a imagem do Estado Novo colada, e a esquerda radical (e a moderada também…) que hoje a bajula e só faltou convidá-la para o Comité Central do PCP, fezlhe a vida negra. Ostracizou-a, quem gostava da Amália era fascista, boicotava-a de toda a forma e feitio. Lembro-me daquele primeiro espectáculo no Estoril, em que os trabalhadores do Casino lhe boicotaram o som várias vezes, fazendo com que os instrumentos se sobrepusessem à sua voz. O longo período de reabilitação de Amália, não junto dos portugueses, que sempre estiveram com ela, mas dos representantes do poder instituído, culminou nesse concerto do Coliseu a que assisti (já no fim da carreira de Amália), com honras de Presidente da República e tudo. Mesmo assim, estou cá desconfiado que o Poder a endeusou porque percebeu que não tinha alternativa. O seu prestígio internacio-

nal e o consenso que despertava como símbolo de Portugal já eram de tal forma poderosos que o Estado não podia fingir que não a via. E a esquerda radical, que disse de Amália, nos idos de setenta e oitenta, o que Maomé não disse do toucinho, tratou de arranjar umas ajudas a comunistas e umas afrontas ao Estado Novo para se poder, também, apropriar da sua imagem. É sempre assim. Quando se está perante um símbolo nacional, há que desfrutar da sua sombra. Ser admirador de Amália ainda dá votos…Não importa o regime, Ditadura ou Democracia, não interessam as ideologias da extrema esquerda à extrema direita: o que interessa é a mais valia em termos políticos que esse símbolo nacional representa. Eu acho que na sua modesta cova de Santa Comba Dão, se ouvir agora os Partidos de Esquerda a bajular Amália, Salazar deve estar a rir-se.


Valor Local

Julho 2020

Política, redes sociais e efeito câmara de eco tualmente, nos espaços de comunicação criados pelas redes sociais, vamos assistindo a intervenientes políticos que orquestram o pânico moral e incitam ao descontentamento social. Com o avanço da era tecnológica, o ambiente de comunicação no “espaço” público é agora caótico e até anárquico. Nesta nova ordem de comunicação, parece valer tudo. É importante ter presente que a violência não ocorre apenas a partir da força física. A violência também tem expressão escrita, gráfica e oral. Por vezes, até mais expressão e intensidade. É com estas formas de agressão que temos convivido nos últimos tempos e que têm vindo a alimentar, de forma irracional, os ódios que vão dividindo a sociedade. É um “ambiente selvático”, desprovido de regras. No universo dos conteúdos gráficos e multimédia não há reservas, nem limites, destratando-se pessoas, culturas e identidades. Todos os que são parte ativa desta conjuntura devem colocar as mãos na consciência quando veem acon-

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tecer as manifestações de ódio a que temos assistido nos últimos tempos e que, em algumas ocasiões, assumem dimensão de tragédia. Infelizmente, tenho poucas dúvidas de que as narrativas e os discursos odiosos, que instigam à discórdia e à insatisfação, vieram para ficar; correspondem a um dos grandes problemas do cenário político da atualidade, sendo as redes sociais o instrumento preferencialmente utilizado para o efeito. Todavia, também não é menos certo que a natureza peculiar de boa parte da política atual resulta da forma irrefletida como a sociedade em geral absorve a informação que lhe chega através dos espaços de comunicação online. Parece que as suspeições acerca da credibilidade das instituições, as notícias falsas, os boatos e as insinuações preenchem o “vazio” na vida de muitos daqueles que usam as redes sociais. Os agentes políticos que utilizam a pobre estratégia da maledicência, fazem-no porque há efetivamente predisposição

do público-alvo para o “consumo” de informação com estas características. É o pensamento crítico (ou a ausência dele) em equação. Tal como acontecia nas culturas humanas ancestrais, também os utilizadores das redes sociais, na atualidade, interagem mais com quem partilha as suas opiniões e condutas. Muito foi já escrito sobre o “efeito câmara de eco” (echo-chamber effect), descrição metafórica que nos ajuda a compreender a propensão do ser humano para se cercar de pontos de vista com os quais tem prévia concordância e a distanciar-se daqueles que expressam opiniões opostas. Isto leva o Ser humano a exagerar as diferenças entre o “nós e os outros”, a ser cada vez mais intolerante e a extremar posições. É este o quadro geral das sociedades contemporâneas, muito particularmente no âmbito político. Alterar posições ou permitir que novas circunstâncias introduzam nuances nas nossas convicções ou crenças, mesmo nas que firmemente defendemos, é essencial para evitar a polarização que

perverte grande parte de nossa política. Não há nada de irracional em mudar de ideias. Pelo contrário, talvez seja difícil, sim, compreender as posições desafiadoramente conservadoras e dogmáticas perante um mundo em mutação intensa e permanente. São necessários líderes que deem o exemplo a este nível, que sejam corajosos, que corram riscos, que evitem a popularidade fácil e que apresentem disposição para enfrentar as inevitáveis ??acusações de inconsistência. Os líderes deve acrescentar valor pela positiva. Enquanto este paradigma não se alterar, o que poderia ter tido um efeito benéfico na vida pública, ameaça-a, ao invés. Chega a parecer que as redes sociais foram criadas para garantir formas de tribalismo primário e para fomentar a prática da intransigência e da imponderação. Muito recentemente, ouvi o humorista Ricardo Araújo Pereira contar uma história que retrata na perfeição o tipo de “debate” que vai circulando em boa parte

O retorno às aulas nas universidades seniores um momento de reflexão, conclui que, tenho sérias reservas quanto ao modo como irá processar-se o retorno às aulas presenciais no próximo ano letivo, com início em Setembro, nas Universidades/Academias Seniores – U/AS’s -. Sou defensor, confesso, de aulas presenciais, em todos os níveis de ensino (este ano letivo, demonstrou-o), mas sobretudo, no ensino sénior ministrado nas U/AS’s, dado a população-alvo e o formato, o que ocasionará, inevitavelmente, constrangimentos de vária ordem, tendo em conta os condicionalismos impostos pela Direção Geral de Saúde - DGS - face à situação pandémica que nos assola (sem previsão do seu términus). A situação obrigará os órgãos decisores (direções e conselhos) das U/AS’s a uma atitude proativa e resiliente na planificação atempada do novo ano letivo, nomeadamente, a eventual reconversão de espaços físicos ou a utilização de outros e providenciando a eliminação de barreiras arquitetónicas nas acessibilidades às diferentes áreas exteriores e interiores – deficientes motores, a frequentar pelos membros dos órgãos sociais, professores e alunos e, a aplicação das regras sanitárias a serem observadas para segu-

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rança de todos os stakeholders, bem como, do plano pedagógico apresentado pelo Conselho Gerontopedagógico – CG – órgão independente de coordenação e supervisão pedagógica e de orientação educativa e, constituído por professores (voluntários) do ensino secundário e/ou superior, que consensualizará, em trabalho de equipa com a Direção – DI – ou Diretor designado (Câmaras Municipais), um plano escolar global (administrativo/pedagógico) para apresentação, consensualização e validação por todas as partes interessadas e representadas no Conselho Representativo – CR – (órgão consultivo, de disciplina e zelador do cumprimento das normas estatutárias - colateral ao CG -) e constituído por representantes de todos os órgãos sociais (respetivos presidentes), dos professores e dos alunos (ambos por nomeação), para que o novo ano letivo (2020/2021) se inicie com a necessária e indispensável, normalidade, segurança e eficiência, sendo que, a antecipação do período de inscrição dos alunos é condição primária para se obterem dados sobre a população inscrita por disciplina. A inscrição via online deverá ser o futuro para quem não possua esta apli-

cação (app) e, o período de inscrição presencial ou, por chamada telefónica ou, ainda por mensagem - SMS - (antigos alunos), deverá ocorrer bastante mais cedo que o habitual. Contudo, a testagem ao Covid-19 a todos os membros dos corpos sociais, professores, alunos e, funcionários (se os houver), é condição sine qua non para a retoma das aulas presenciais. Depois, serão confrontados com o seguinte: a) A possível divisão de turmas (menos alunos por disciplina em sala de aula) e a consequente adaptação do mobiliário ao espaço físico e da carga horária, naturalmente em conciliação com os dados obtidos; b) A obrigatoriedade da utilização de máscaras em todas as instalações, particularmente em sala de aula; c) Os manifestos condicionalismos na lecionação de aulas de contato físico, devido ao distanciamento social imposto e que eventualmente obstaculizará ou minorará a eficácia das aulas de ginástica, dança, teatro, música e pintura; d) Os constrangimentos que, inevitavelmente ocorrerão, nas visitas de estudo (lotação do autocarro e número limitado de visitantes autorizados, nos restaurantes, entre outros condicionalismos); e) A higienização dos espaços físi-

cos com frequência e a disponibilização de gel desinfetante em locais estratégicos, placares informativos e respectiva sinalética, entre outras medidas julgadas convenientes (+ custos). f) E, eventualmente, o adiamento sine die do início do novo ano lectivo. Lembro que, os pressupostos para a criação das Universidades/Academias Seniores, são basicamente: o envelhecimento ativo e saudável, “só possível presencialmente”, através da sociabilidade em sentido horizontal (entre colegas) e vertical (com os professores), o lazer prazeroso (eventos/convívios), as actividades física e artística, a informação /aculturação [(intelecto) e.g.: palestras, temáticas em aula, debates e troca de experiências/vivências entre alunos], o conhecimento (e.g.: matérias das diferentes disciplinas, visitas de estudo e passeios temáticos, nomeadamente, ecológicos), o desenvolvimento das capacidades cognitivas de análise, de crítica e de exposição e, do potenciar de capacidades ingénitas (dom que se transforma em talento), quaisquer que sejam, mas não percecionadas ou não estimuladas, até então. Enfim… da maturidade dos diversos saberes, visando a qualidade de vida, a realização pessoal

Opinião 19 João Santos

dos fóruns públicos de comunicação online: um avô, uma criança e um burro atravessam tranquilamente uma aldeia quando, de repente, são ofendidos e apelidados de pouco inteligentes. “Têm um burro, mas vão os dois a pé”, ouviram eles em tom jocoso. O idoso, envergonhado, decide então pôr-se em cima do burro. Quando atravessam outra aldeia, é novamente alvo de ofensa, pois vai montado no burro enquanto o pobre menino vai a pé. O avô toma então a decisão de sair de cima do burro, cedendo o lugar ao neto. No momento em que chegam a uma outra aldeia, são novamente injuriados, pois o senhor, que é idoso, vai a pé. “A criança, cheia de energia, é que vai montada no burro. São mesmo ‘inteligentes’”, ouviram eles. Infelizmente, esta história ajudanos a compreender perfeitamente uma parte significativa da comunicação das redes sociais. Volto ao nível de pensamento crítico e à forma como alguns políticos - cuja qualidade devemos necessariamente questionar - se

vão aproveitando disso de uma forma eticamente reprovável. Deixar tudo como está é contribuir para mais crises e mais desastres sociais. É muito importante equilibrar a liberdade, que tão dificilmente se alcançou, com sentido de responsabilidade. Nesta mudança que urge, os políticos assumem o protagonismo; são quem deve dar o mote. Termino com ironia, fazendo referência a uma dimensão paralela, em que as redes sociais são utilizadas para moldar a nossa conceção política para melhor. Nesta realidade (imaginária), os pontos de vista e as crenças são expressos generosamente e acolhidos com entusiasmo. Cada um de nós permite que os seus preconceitos sejam desafiados, aceita e respeita opiniões opostas e aprende com aqueles que veem o mundo de maneira diferente da sua.

Augusto Moita

e a felicidade do cidadão sénior! E não, ficar em casa a olhar para o ecrã de um computador, que nem todos possuem ou que, muitos não têm acesso à net, e outros tantos não estarão recetivos ao formato de Ensino Remoto – ER -, com certeza. Penso que o ER, só deveria ser aplicado em situações de grande exceção, porque potencia as desigualdades. Há que evitar discriminações negativas entre alunos. O mesmo se coloca relativamente aos professores voluntários: deve-se providenciar a igualdade no acesso à formação na utilização de ferramentas telemáticas (maioria impreparados. A ministrar nas próprias U/AS’s, se possível, ou apoiar formação no exterior) e considerar a disponibilidade de wardware e software adequado. Devem apresentar o seu plano curricular (pedagógico/didático) no início de cada ano letivo, ao Conselhio Gerontológico – CG para apreciação, possível (re)orientação e validação. Idealmente a estrutura organizacional (funcional) de uma U/AS deverá ser: Assembleia Geral – AG; Direção – DI - ou Diretor designado (c/equipa); Conselho Gerontológico – CG - e Conselho Representativo – CR -.

Quaisquer que sejam as tomadas de decisão, os líderes terão sempre a responsabilidade de não deixarem “morrer” as suas instituições, pelo que, deverão ter sempre o foco, no propósito da criação e existência das U/AS’s! Epílogo: Vivemos tempos de mudança e de adaptação a novas formas de viver, quer individualmente, quer socialmente, quer institucionalmente. O plano de acção escolar global para levar à prática, deve estar compatibilizado com os condicionalismos consabidos e pedagogicamente estruturado em harmonia com o contexto local/regional e sócioeconómico em que se insere, i.e. cujos currículos sejam compatíveis com a envolvente local/regional (sob orientação educativa do CG) e, indo ao encontro dos anseios da população sénior, que procura nestas instituições momentos de convívio, de lazer, de gratificação e de felicidade, que bem merece!


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Instantâneos 21

Centro Cultural Azambujense a caminho da ampliação Centro Cultural Azambujense quer avançar para a ampliação da sua atual sede. A coletividade conhecida em Azambuja como “a Banda” quer dar um passo à frente para criar mais e melhores condições aos alunos e ao mesmo tempo fomentar ainda mais o gosto e o ensino pela música. José Braz Santos, presidente da coletividade, salientou ao Valor Local a importância deste projeto, que é um desejo antigo de várias direções, e que visa possibilitar acolher mais entusiastas da música, e criar condições de excelência que não existem no concelho de Azambuja atualmente. Durante o mês de julho, José

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Bráz Santos e a restante direção, Pedro Cardoso e Sílvia Vargas, encontraram-se com técnicos da Câmara de Azambuja que estiveram no terreno para verificarem as necessidades em termos de infraestruturas. O presidente do centro cultural salientou ao Valor Local que a ideia passa por ampliar o primeiro andar e o rés-do-chão da sede para criar mais salas de ensino para a música e condições para um bar e um salão “em condições”, sustenta Ao nosso jornal José Braz destaca que o futuro da casa passa por efetivar “diversos protocolos com as escolas de Azambuja”. Uma das ideias subjacentes passa por incentivar os mais novos

à prática da aprendizagem musical. Luís de Sousa confirmou ao Valor Local a sua intenção de apoiar o Centro Cultural Azambujense “pelo que representa para a nossa cultura”. O autarca garante que esta é uma coletividade importante e por isso assegura que “estamos a ponderar o apoio que será quase certo”. No entanto o presidente não fala para já no possível montante ou percentagem dessa ajuda. Luís de Sousa vinca que o principal objetivo, atualmente, passa por ceder o edifício à coletividade em direito de superfície. O autarca refere que o espaço ainda é camarário, mas que o processo de cedência já está a andar.

COAC Ajuda Bombeiros de Azambuja Clube Ornitológico de Aveiras de Cima (COAC) “brindou” os bombeiros de Azambuja com quatro termómetros de leitura corporal. Segundo o presidente do clube, José Braz, o trabalho e esforço dos soldados da paz durante o período do Covid levou a que a coletividade investisse na ajuda ao corpo de bombeiros De acordo com o presidente, esta ideia surgiu depois de uma primeira entrega para apenas uma ambulância. O facto de existir uma necessidade premente para que estes equipamentos estejam disponíveis em várias viaturas, levou a que o COAC investisse em mais três unidades. Com esta oferta o clube espera “contribuir para o bom funcionamento de cada uma das viaturas, esperando que o uso dos mesmos seja só em casos de rotina”.

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Junta de Vila Franca entrega aparelhos medidores de tensão arterial ao centro de saúde Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira decidiu dar mais um passo no que concerne à saúde dos vilafranquenses. Ao Valor Local, João Santos, presidente da junta, salientou a importância da entrega de medidores de tensão à Unidade de Saúde Familiar da freguesia. O presidente da junta acrescenta que “estes medidores de tensão contribuirão seguramente para melhorar a capacidade do centro de saúde na prestação do serviço absolutamente imprescindível que presta aos vilafranquenses e isso deixa-nos muito felizes.” Já os responsáveis pela Unidade de Saúde Familiar agradeceram a dádiva da junta. Numa nota publicada no site daquela entidade de saúde, esta refere que a “oferta ajudará a colmatar um défice crónico de aparelhos deste género na unidade” e qua a mesma poderá ser cedida “quer por empréstimo ou dádiva a outras unidades mais necessitadas”, dado que “a falta destes equipamento muitas vezes fica a dever-se à falta de manutenção ou atrasos nas devoluções de aparelhos para reparação”. Ao todo, a junta entregou cinco esfigmomanómetros digitais automáticos. De acordo com a USF, a hipertensão é uma doença muito prevalente na população sendo que praticamente metade dos utentes, acima dos 40 anos, apresenta um quadro clínico daquele tipo ”daí a necessidade de um diagnóstico rápido, urgente e eficaz”. A entrega decorreu no passado dia 14 de julho, sendo que não é a primeira vez que estas as duas entidades colaboram. Já em novembro de 2019, a Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira apoiou a Unidade de Saúde Familiar na concretização das Primeiras Jornadas Multidisciplinares da USF Terras de Cira. Mais recentemente, por ocasião das comemorações do 36° aniversário da cidade de Vila Franca de Xira, a Junta de Freguesia galardoou a USF Terras de Cira com o galardão de Mérito Cívico.

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Ficha técnica: Valor Local jornal de informação regional Propriedade e editor: Propriedade: Metáforas e Parábolas Lda – Comunicação Social e Publicidade • Gestão da empresa com 100 por cento de capital: Sílvia Alexandra Nunes Agostinho; NIPC 514 207 426 Sede, Sede do Editor, Redação e Administração: Rua Alexandre Vieira nº 8, 1º andar, 2050-318 Azambuja Telefones: 263 048 895 - 96 197 13 23 Correio eletrónico: valorlocal@valorlocal.pt; comercial@valorlocal.pt Site: www.valorlocal.pt Diretor: Miguel António Rodrigues • CP 2273A • miguelrodrigues@valorlocal.pt Redação: Miguel António Rodrigues • CP 2273 A • miguelrodrigues@valorlocal.pt • 961 97 13 23; Sílvia Agostinho • CP 6524 A • silvia-agostinho@valorlocal.pt • 934 09 67 83 Multimédia e projetos especiais: Nuno Filipe Vicente multimédia@valorlocal.pt Colunistas: Rui Alves Veloso, Augusto Moita, Acácio Vasconcelos, José João Canavilhas, António Salema “El Salamanca” Paginação, Grafismo e Montagem: Milton Almeida • paginacao@valorlocal.pt Cartoons: Bruno Libano Departamento comercial: Rui Ramos • comercial@valorlocal.pt Serviços administrativos: Metaforas e Parabolas Lda - Comunicação Social e Publicidade N.º de Registo ERC: 126362 Depósito legal: 359672/13 Impressão: Gráfica do Minho, Rua Cidade do Porto –Complexo Industrial Grunding, bloco 5, fracção D, 4710-306 Braga Tiragem média: 8000 exemplares Estatuto Editorial encontra-se disponível na página da internet www.valorlocal.pt

Valor Local foi contactado por este utente da Santa Casa da Misericórdia de Azambuja que tem vivido, à semelhança de muitos outros idosos, sem contacto com o exterior, devido à pandemia, para publicarmos os seus versos. Aqui deixamos este pedido satisfeito.

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Quadras soltas A janela está aberta O espírito está aberto É sempre um achado Ver o campo tão aberto Primavera em flor É linda de viver Contigo meu amor E sonhos reviver Quando te vejo passar Pareces uma andorinha É a primavera a chegar Mas no coração já és minha Enclausurado sem viver Como morto eu estou Sem esperança de reviver Uma memória eu sou Pensamento Quando um dia morrer Gostaria de cá voltar Para da Natureza poder O perfume aspirar Disto vou ter saudades E da beleza da flor Tudo mais é só maldade E muita falta de amor Carlos Henrique Santos Carneiro Utente de quarentena na Santa Casa da Misericórdia de Azambuja


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Vila Nova da Rainha conta os dias para a escola nova que vai surgir em 2021

Município e Construaza dão pontapé de saída á foi dado o pontapé de saída para as obras na empreitada de requalificação da Escola Básica/Jardim de Infância de Vila Nova da Rainha. Foi assinado o protocolo com a empresa que vai executar a obra – Construaza – Construções e Projetos, Lda por parte do município de Azambuja. Segundo o presidente da Câmara, Luís de Sousa, durante o ato de consignação da obra com a Construaza, neste ano letivo que arranca já em setembro, os alunos vão ter aulas em contentores climatizados. Tratou-se de um investimento

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de 50 mil euros. Madalena Tavares, diretora do agrupamento de escolas de Azambuja, fala num sonho concretizado, “que no seu percurso conheceu vários obstáculos”. “Felizmente a Câmara soube ser resiliente em prol das nossas crianças”. Neste ano letivo, vão faltar vagas no pré-escolar, algo que se espera ver colmatado no ano letivo de 2021/2022 já com a inauguração do novo complexo escolar de Vila Nova da Rainha. Frequentam esta escola 40 crianças no ensino básico e 25 no préescolar. A população escolar tem

Encarregados de educação sublinham a manutenção da traça arquitetónica aumentado nos últimos anos, e com esta nova obra pretende-se evitar que muitos pais coloquem os filhos em escolas mais perto do local de trabalho, devido ao estado de maior degradação e de falta de oferta da atual escola de Vila Nova da Rainha. Mário Parruca, presidente da junta de freguesia, corrobora esta informação “pois a escola tem poucas condições” atualmente. “Com a nova obra que se prevê excelente tenho a certeza de que os nossos moradores vão voltar a deixar os nossos meninos na escola de Vila PUB

Nova da Rainha”. A obra de “requalificação da escola básica, jardim de Infância e espaços exteriores de Vila Nova da Rainha”, que arranca agora, trata-se de uma obra prevista na Carta Educativa Municipal. O projeto prevê a reabilitação das instalações já existentes da escola do Plano Centenário, contemplando algumas demolições e ampliações. Esta intervenção, propõe a manutenção da volumetria atualmente existente relacionando as novas construções com o edifício original. A ampliação permitirá criar as salas e as instalações necessárias ao bom funcionamento de um estabelecimento de ensino destinado às faixas etárias mais jovens O projeto apresenta duas salas de aula para o 1º ciclo e duas salas de atividades para o ensino préescolar, em blocos distintos. Estarão equipados com instalações sanitárias para adultos e para crianças, gabinetes de trabalho para professores e educadores, e espaços de arrumos. Destaque para a existência de um refeitório – num espaço com a valência de sala polivalente – e de uma biblioteca/mediateca escolar. As salas de préescolar terão, ainda, vestiários de apoio. O projeto contempla espaços lúdi-

cos adequados aos alunos dos dois níveis de ensino que utilizarão a escola. Assim, haverá zonas de recreio interiores e também áreas exteriores cobertas, estando assegurada a fácil circulação por pessoas com mobilidade condicionada. A obra que terá um prazo de execução de um ano, representa um investimento global de 855 mil 235,58 euros. Com a componente informática os custos ascenderão a 1 milhão e 20 mil euros com comparticipação a 75 por cento do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). Encarregados de educação expectantes com a obra Ricardo Paixão e Tânia Paixão são pais de um menino que no ano letivo de 2020/2021 vai passar a frequentar o primeiro ano do ensino básico e ao Valor Local confessam a sua expetativa quanto a esta obra. Com 41 anos, Tânia Paixão frequentou esta escola nos anos 80 e confessa que de lá para cá pouca coisa mudou. O estabelecimento sofreu algumas obras ao longo dos anos, mas sem nenhuma intervenção de fundo. E como tal “não há muitas diferenças” entre aqueles tempos e a atualidade.

“Espero que a nova escola seja uma grande mais-valia para a nossa vila e para as crianças, sem dúvida”. A obra há muito que era falada entre a população sobretudo entre os que têm filhos em idade escolar. A necessidade de retirada do amianto nesta escola era outra preocupação, algo que já teve lugar. Para este casal, cujo filho já frequentava o estabelecimento no pré-escolar, ter aulas nos contentores “é um mal necessário”. “Não vale a pena arranjarmos problemas, porque é preferível esta solução a termos de levar os meninos para outra escola”. O projeto da nova escola agrada a estes pais, pelo número de valências e sobretudo pela manutenção da traça do plano centenário. Ricardo e Tânia Paixão esperam agora que a nova escola possibilite que seja implementada a componente do alargamento de horário de modo a que se consiga conciliar o horário de saída dos encarregados de educação do trabalho com o dos filhos, caso contrário “é necessário recorrer a uma ama, como é o nosso caso, ou aos avós”. Para isso é necessário existir um número suficiente de pais a pedir essa valência e disponibilidade financeira para pagar a uma funcionária.

Escola Secundária do Cartaxo é uma das melhores no ranking nacional Escola secundária do Cartaxo do Agrupamento de Escolas Marcelino Mesquita ficou em segundo lugar no ranking nacional de escolas para a categoria de ensino profissional. Para o professor Jorge Tavares, director do agrupamento, ao Valor Local, estes resultados devem-se à preocupação de todos envolvidos em “não deixar ninguém para trás”, e no envolvimento de toda a comunidade, sejam encarregados de turma, professores, ou pais. Segundo a mesma fonte, a taxa de entrada no ensino universitário nestas escolas é oito por cento superior à média nacional. No caso de escolas profissionais, note-se, o método de aferição de resultados é feito através do número de alunos que acaba o ensino secundário em três anos. Questionado pelo Valor Local se espera um aumento de alunos após estes resultados, Jorge Tavares diz que tem havido um aumento significativo nos últimos anos, “algo que certamente se relaciona com o contínuo bom desempenho da escola, e por isso provavelmente estes números vão aumentar. “ Na oferta formativa deste ano letivo que se aproxima, a escola oferece os cursos de técnico comercial, de informática de gestão, de ação educativa, e de desporto. O professor diz ainda que este é um “agrupamento diferenciador, que tenta puxar e agarrar cada aluno” e que está motivado para que “todos os alunos tenham sucesso”. Sílvia Carvalho de Almeida

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Cultura 23

Escritor João Pedro Martins apresenta “Conversas (Des)fiadas e Assim” Miguel A. Rodrigues jornalista e escritor vilafranquense João Pedro Martins está de volta aos livros. Homem da rádio, da cultura e da imprensa, traz para os escaparates o livro “Conversas (Des) Fiadas e Assim”. Numa entrevista ao Valor Local, João Pedro Martins assume que este livro foi escrito com base em alguns “posts” que colocou no seu facebook pessoal. O autor reconhece que este foi um risco que decidiu correr, consciente de que algumas coisas que foi escrevendo eram, na sua opinião, “merecedoras de permanecer estampadas num livro”. João Pedro Martins que, durante o ano passado, foi “postando” pensamentos e estados de alma, diz ter igualmente a noção de que transcrever para o papel esses mesmos tópicos foi uma forma de deixar “algo que ficará para sempre acessível ao olhar e à leitura

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quando assim se desejar”, esclarecendo que “escrever numa rede social é deveras ingrato”. Independentemente do texto que se publica, por “muito bem elaborado e pensado que possa estar”, ou não, “rapidamente se perde entre os milhares de outros que surgem instantaneamente no feed de notícias”. Para o autor a rede social é efémera. Os bons textos aparecem na maior parte das ocasiões no meio de muitos outros “posts” sem interesse, mas argumenta que desde sempre lhe agradou utilizar o facebook como uma possibilidade de passar ideias, desabafos, reflexões com uma comunidade ínfima de potenciais leitores. Sendo que “o contato direto com os leitores sobre aquilo que acabaram de ler é uma mais valia.” “Foi, nesse sentido, que passados pouco mais de 10 anos, e por considerar que algumas peças que

escrevi mereciam um pouco mais do que algo tão fugaz como uma rede social, que resolvi fazer um apanhado ou uma seleção e estampar neste meu livro que é o oitavo”. João Pedro Martins que desde sempre usou o seu blogue para dar a conhecer o seu trabalho, lembra que no início o facebook não era mais do que uma ferramenta de autopromoção, salientando que estes textos nunca passaram pelos seus programas de rádio. Aliás o autor recorda que antes das redes sociais “eram os blogs que dominavam”. Com uma recolha de vários textos publicados no facebook desde 2009, João Pedro Martins esclarece que os últimos textos já foram publicados em tempos de pandemia, mas não optou por nenhuma ordem cronológica em especial, concentrando-se sobretudo na mensagem e na temática em detri-

Faleceu vítima de Covid-19, o toureiro Mário Coelho aleceu, no dia 5 de julho, vítima de Covid-19, Mário Coelho, uma das figuras maiores da tauromaquia mundial. O toureiro de Vila Franca de Xira estava internado desde o dia 26 de junho no Hospital Vila Franca de Xira. Viria a falecer aos 84 anos de idade. Alvo de diversas homenagens ao longo da vida, uma das últimas consistiu no descerramento de um busto no Largo Conde Ferreira, por parte da junta de freguesia de Vila Franca, no ano passado, junto à sua casa museu. Mário Coelho Luís, nasceu a 25 de março de 1936 no concelho de Vila Franca de Xira, filho de uma família humilde de 6 irmãos. Cresceu no meio de campinos, o que desde cedo o influenciou na sua escolha profissional. Sonhava ser toureiro. Começou como amador, mas no caminho tornou-se bandarilheiro. Em breve tornou-se um talento em asVila Franca disse adeus a um censão e inclusive ganhou vários prémios, granjeando dos seus maiores ícones o lugar de melhor bandarilheiro a nível nacional. Foi em Espanha que se tornou o melhor bandarilheiro do mundo, sendo o único que saía em ombros de diversas praças nacionais e espanholas. Isto não era bem aceite pelos toureiros, que não viam com bons olhos estas honrarias para um subalterno. Iniciou a carreira de toureiro a quatro de maio de 1967 em Espanha. Foi neste país e no México, que viveu durante muitos anos. Mas a sua carreira internacional levá-lo-ia a passagens por França, Marrocos, Canadá, EUA, Angola e Moçambique, bem como pelos países da América Latina: México, Venezuela, Peru, Colômbia e Equador. Conta-se que durante o seu percurso internacional conheceu personagens como o escritor Ernest Hemingway, o pintor Pablo Picasso, e as atrizes de Hollywood Ava Gardner e Audrey Hepburn. Foi por duas vezes condecorado pelo estado português, em 1990 com a medalha de Mérito Cultural, e em 2005 com a de Comendador de Ordem de Mérito, pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio. Em 2001 foi inaugurada na casa onde nasceu, a Casa Museu Mário Coelho que reúne espólio do toureiro, com fotos, trajes e troféus, e que pretende simultaneamente divulgar a tauromaquia e a obra deste. Paulo Beja, crítico tauromáquico, em declarações ao Valor Local, considera que Mário Coelho a par de Vítor Mendes foram as figuras portuguesas do mundo da tauromaquia que granjearam mais popularidade alémfronteiras. Recorda ainda a sua personalidade de homem que se integrava bem nos vários círculos culturais não só em Portugal como no estrangeiro, prova disso são as suas boas relações com figuras de proa do cinema e da literatura, principalmente, entre as estrelas de Hollywood onde era visto como um galanteador. De origens humildes, era filho de um trabalhador da Câmara de Vila Franca. Tinha mais irmãos, hoje apenas estão vivos três. “Começou do nada, e quando era impensável ter uma carreira no mundo dos touros, mas tinha uma vivência e um perfil psicológico fora de série”, constata Paulo Beja. Segundo o crítico tauromáquico, Mário Coelho reuniu-se num convívio de amigos em Paço de Arcos, e aquilo que se julgava, inicialmente, ser uma gripe afinal era Covid-19. Vila Franca “vai ter saudades do matador”, e “em boa hora foi homenageado em vida com a sua estátua, a sua casa-museu”, mas “vamos sentir a sua falta”. SAC/SA

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mento da data. “Mas na verdade acho que a esse propósito o livro é um pouco anárquico. Tanto pode ter uma reflexão política e até desportiva, como logo a seguir uma poesia ou uma declaração de amor”. Quanto ao nome deste oitavo livro “Conversas (Des)Fiadas? E Assim”, João Pedro Martins refere que o título diz tudo - “Reflete, exatamente, aquilo que podemos encontrar numa rede social como o facebook. Fala-se de tudo no geral e de pouco ou nada em particular. São conversas fiadas que, na maior parte das vezes, se desfiam quando são objeto de considerações e opiniões dispersas de quem as lê e quer participar nelas”. Pela primeira vez o autor optou por publicar num formato digital. A obra que será primeiramente editada em e-book reflete o futuro a que muitos autores e projetos terão de se adaptar. Para o autor esta “não foi uma opção”. Disponibilizar um e-book é cada vez mais uma atitude natural nos tempos que correm. Por questões de espaço e por questões ambientais. “Porque as pessoas estão cada vez mais estão agarradas aos pc’s, tablet’s e smartpho-

Trata-se do oitavo livro de João Pedro Martins nes e já têm tudo otimizado para ler um livro digital”, no entanto, pessoalmente, assegura: “Ainda prefiro ler à moda antiga, sentir o peso de um verdadeiro livro na mão e molhar a ponta do dedo para folhear, mas muita gente já adotou outros métodos. E mais tarde ou mais cedo esse também será o fim do livro”. Ao Valor Local, o autor é perentório: “O que estiver em digital vai

perdurar”. “O resto ou o que estiver em papel perder-se-á. Veja-se a título de exemplo o que sucedeu ao vinil, ao cd, à cassete, ao vhs. Portanto, embora ainda seja difícil a aceitação, não tenho dúvidas, que mais dia menos dia, o livro será apenas digita, tal como a música e a fotografia”. Este livro já está editado e está disponível para compra no site “bookmundo”, tanto a edição impressa como a digital. PUB


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