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Do primeiro ao segundo Concílio de Constantinopla

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“Trinitas in unitate”. A vida interna de Deus: as processões, as relações, as pessoas divinas

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Nossa exposição histórica m ostrou-nos como a reflexão da Igreja se viu impelida a refletir sobre a vida divina, sobre o que é Deus em si mesmo, precisamente para garantir a verdade da salvação que Deus nos oferece em C risto. A “economia” levou necessariamente à “teologia”. Interrompemos nosso percurso histórico (exceto as referências a alguns concílios medievais) no momento final da formulação do dogm a trinitário. Introduziremos em nosso tratam ento sistem ático as contribuições de Sto. Agostinho, tão determ inantes para a teologia ocidental, e também as da teologia medieval, em especial as de Sto. Ibm ás. Em todo m om ento deveremos procurar que nossa reflexão se funde na manifestação histórico-salvífica de Deus, que é o único caminho que se nos oferece para chegar a seu m istério. N o capítulo 3 tomamos com o ponto de partida as duas missões do Filho e do Espírito Santo, de que nos fila G14,6. Tratarem os de ver agora como essas missões nos levam ao ser de Deus, seguindo o caminho de reflexão teológica que foi empreendido na tradição da Igreja. A doutrina clássica sobre D eus, tão íreqüentem ente inspirada na sistemática de Sto. Ibm ás, tratou do Deus uno antes de tratar do Deus trin o 1. A ordem da exposição corresponde, para o Aquinate à ordem de nosso

1. Na Suma teológica o estudo do tema de Deus coloca-se no começo da prim eira parte (q. 2-43); a continuação imediata é a criação, que para Ibm ás é ainda parte do tratado de Deus (constitui sua terceira parte) enquanto trata da saída das criaturas de Deus. As duas primeiras partes tratam do que pertence à essência divina (q. 2-26) e do que pertence à Trindade das pessoas (q. 27-43). Se m uitas das questões tratadas na primeira parle nos parecem ter caráter filosófico, não devemos esquecer que nossa distinção não corresponde à mentalidade do século X lll. Sto. 'Ibm ás argúi a partir da Escritura também nessas questões. Além disso, também a essência divina refere-se ao Deus trino. Sobre o pensamento trinitário de Sto. Ibmás, com ulterior bibliografia, cf. G. M . SALVATI, “Cognitio divina-

conhecimento; não se trata de dar prioridade a uma dimensão sobre a outra* 2. U tilizarem os amplamente Sto. Tomás em nossa exposição sucessiva, embora seja distinta, em parte, a ordem que seguiremos. Nossa consideração da única essência divina vem no final, porque não há outra unidade em Deus que não seja a do Pai, do Filho e do Espírito Santo: a essência divina não é algo prévio às pessoas (tampouco para Sto. Tomás, evidentemente) porque só subsiste nos três. Mas desses três só podemos falar a p artir da manifestação histórico-salvífica de Deus, porque o Pai enviou seu Filho e o Espírito Santo. Por isso já nos referimos às “missões” do Filho e do Espírito Santo, e delas voltaremos a tratar brevemente em primeiro lugar3. A partir dessas missões divinas ad extra consideraremos a geração eterna do Filho e a processão do Espírito Santo, isto é, as processões divinas, segundo a terminologia teológica ocidental. N osso breve percurso pela história da teologia dos prim eiros séculos cristãos deu-nos elementos para entender essas noções.

DAS MISSÕES DIVINAS ÀS “PROCESSÕES”

D eus enviou seu Filho e o Espírito Santo. A partir da aparição histórica de Jesus e da experiência de seu Espírito, já o Novo Testamento chegou à conclusão de que ambos preexistem à sua missão a este mundo por parte de Deus Pai. Nos prim eiros Concílios, ficará definida a fé da Igreja

rum Personamm”... La reflexión sistemática de Santo Tomás sobre el Dios cristiano, EstTrin 29 (1995) 443-472; também L. ABRAMOWSKI, Zur Trinitätslehre des Thomas von Aquin, ZTbK 92 (1995) 466-480; P. VANIER, Théologie trmitaire chez samt Thomas d’Aqum, M ontreal-Paris, 1953; G. EMERY, La Trinité créatrice. Trinité et création dans les commentaires aux Sentences de Thomas â*Aquin et ses prédécesseurs Albert le Grand et Bonaventure, Paris, 1995; ID ., Existentialisme et personalisme dans le traité de D ieu chez saint Thomas d’Aquin, RevTb 48 (1998) 5-38; H. Ch. SCHM IDTBAUT, Personarum Trmitas. Die trmitariscbe Gotteslebre des heiligen Thomas von Aquin, St. O ttilien, 1995. Mais em geral, sobre os temas que ora tratam os, cf. W. KASPER, Der Gott Jesu Christi, Mainz, 1982, 337-347; J.-M . ROVIRA BELLOSO, Tratado de Dios um y trino, Salamanca, 1993, 569-614; A. STA- GLIANÒ, U mistero dei Dios vivente, 534-543: L. SCHEFFCZYCK, Der Gott der Offenbarung, 350-370, J. R. GARCÍA MURGA, El Dios dei amor y de la paz, 242-250. 2. C. STh 1,33, 3 ad 1 3. N a sistemática clássica, de maneira muito conseqüente, as missões ocupam o último lugar. Se considerarmos a Trindade imanente, as missões ad extra são conseqüências da vida interna da Trindade. Cf. Tomás de AQUINO, STh. 1 43. Se ao contrário, preferimos a ordem de nosso conhecimento a partir da revelação neotestam entária das missões ad extra do Filho e do Espírito, podemos entrar na consideração do que esses são, em relação ao Pai, na vida interior de Deus. Cf. sobre esse ponto STh I 43, 7.

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