DA "ECONOMIA" À “TEOLOGIA"
H ipona36. Esse veio foi seguido mais decididam ente por Ricardo de São V ítor (m orto em 1173), anterior em um século a Sto. Tomás. Vale a pena que nos detenhamos brevem ente em seu De Trinitate para ver o utro modo de colocar o problema da pluralidade em D eus e da fecundidade ad intra. Em bora Ricardo não coloque de modo direto o problema das processões, como Sto. Tomás, a explicação do prim eiro responde à mesma questão, isto é, “justificar” a existência de uma pluralidade no Deus uno. Ricardo busca esclarecer com a razão o mistério em que cremos, buscar as rationes necessariae para explicar a Trindade37. O ponto de partida é que em D eus tudo é uno, tudo é simples, todos os atributos são uma só coisa e o mesmo, não há mais do que um Sumo Bem38. A diversidade em Deus funda-se na perfeição da caridade: nada há m elhor nem mais perfeito do que a caridade. Esta, essencialmente, tende ao outro; por isso o am or de si não pode ser a realização perfeita do mesmo39. Para que haja caridade, deve haver portanto pluralidade de pessoas. Para que Deus possa ter esse sumo amor, é necessário que haja quem seja digno dele. Chega-se à mesma conclusão partindo da idéia de felicidade. Esta vai unida à caridade: “como nada há melhor do que a caridade, nada há mais gozoso do que a caridade” (sicut nibil contate melius nibil caritate iucundius). Se a divindade é a suma felicidade, precisa da pluralidade de pessoas para que o amor seja gozoso, porque o que ama quer, por sua vez, ser amado por aquele a quem ama40. Se D eus (o Pai) não quisesse comunicar a outro seu amor e sua felicidade, seria por defectus benevolentiae. Se não pudesse, não seria onipotente. As duas coisas devem ser excluídas nele. A pluralidade de pessoas, requisito para o amor gozoso, pede que as pessoas sejam iguais, coetemas, “a suma caridade exige a igualdade das pessoas” {caritas simrma exigit personarum 36. Trm V III 10,14 (290-291) “Q uid amat anim us in amico nisi animum? Ex illic igitur tria sunt”. In Job, XIV 9; XXXIX 5 (CCL 36,148; 348). Não esqueçamos, por outra parte, que Agostinho se opôs a que se considerasse imagem da Trindade a tríade formada pelo m arido, a m ulher e a prole: TririXH 5,5ss (359ss). 37. RICARDO de São V ítor, De Trinitate, prol; 1,4 (SCh 63,52s; 70). Sobre sua teo logia trinitária, cf. X. PTKAZA, Notas sobre la Trinidad en Ricardo de San Victor, EstTrin 6 (1972) 63-101; M . SCHNEIERTSHAUER, Consummatio Caritatis. Eine Untersueben zu Richard von St. Victors De Trinitate, Mainz, 1996. Sobre as razões necessárias, cf. 88-91; essas são tais porque se acham em Deus mesmo. 38. Cf. RICARDO, Trm, H 18 (142). 39. Ibid., R I,2 (168): N ihil caritate melius, nihil caritate perfectius... U t ergo phiralitas personarum deest, caritas om nino esse non potest”. 40. Ibid., m , 3 (172). 252






































