Revista usina da cultura - Julho 2013

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aumento exacerbado da população humana, chegando a 7 bilhões em 2011, desencadeou o crescimento da demanda por alimentos. Nessa perspectiva, o setor agrícola tem sido direcionado para o desenvolvimento de sistemas que priorizam minimizar as perdas, e que ao mesmo tempo eleve a produtividade dos cultivos. O uso de biocidas engrenou no mundo com a Revolução Verde, modelo baseado no uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos na agricultura, cujos produtos originaram-se do arsenal da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, um dos programas que impulsionou o uso de biocidas na agricultura foi a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural, em 1965, que vinculava a obtenção de crédito agrícola à obrigatoriedade da compra de agrotóxicos pelos agricultores, ou seja, fazendo com que se fortalecesse o fluxo de mercadorias desse gênero em todo o país. “[...] a palavra biocida significa ‘mata a vida’. Este termo inclui também organismos não alvos, atingidos no amplo espectro destes produtos químicos” (MORAGA & SCHNEIDER, 2003). Isto é, esses “organismos não alvos” referem-se a nós e todos os outros seres vivos. Umas das questões mais preocupantes no âmbito da saúde humana com relação ao consumo de agrotóxicos são os sintomas crônicos, estes podem ser diagnosticados até anos depois do contato, seja indireta ou diretamente. Dor de cabeça, tonturas, tosse, agitação, diarreia, são alguns sintomas que podem ser causado por intoxicação, contudo estes sintomas podem ser consequências de vários outras causas. Ou

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Usina da cultura - Junho 2013

seja, a intoxicação crônica é difícil de diagnosticar, pois os sintomas iniciais se mascaram em outras possíveis doenças. Ao contrário das agudas, quando a pessoa já apresenta sintomas mais graves como dificuldade respiratória, hemorragia, câncer, convulsões, coma e morte. Este último pode ser, também, consequência de forte depressão, por parte dos trabalhadores rurais, fato que já é foco de muitas pesquisas científicas. Hoje, com todas as fontes de informação que estão a nossa disposição, é impossível não estar ciente desses dados básicos sobre o assunto que são a ponta do iceberg! As pessoas não estão em busca de alimentos realmente saudáveis, pois uma alface ou uma maçã há muito tempo deixou de ser visto assim, pelo menos para quem sabe como esse alimento foi produzido. Ao invés de buscar seu direito por uma melhor qualidade de vida, para a presente e futuras gerações, a população exige que o alimento seja lustroso, grande, sem bicho, que não tenha absolutamente nem um “machucadinho” e principalmente, que o custo seja baixo. O problema não são os agrotóxicos, mas sim a nossa visão de mundo, de sistemas inter-relacionados que regem a vida na Terra. “Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará”. Cacique Seattle. Texto: Thuani Farias


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