Huberto Rohden - Entre Dois Mundos

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O mesmo que se dá no macrocosmo sideral acontece também no microcosmo hominal. O homem que afirma unilateralmente o seu Eu à custa do seu ego, cai vítima de monotonia e estagnação. O homem que afirma unilateralmente o seu ego à custa do seu Eu, cai vítima de caos e dispersividade. O primeiro caso acontece, em parte, no oriente. O segundo caso está acontecendo, sobretudo agora, no ocidente, ou pelo menos com numerosos representantes deste hemisfério. E esse centrifuguismo diversitário do ego à custa do centripetismo unitário do Eu está assumindo, ultimamente, proporções catastróficas na humanidade do ocidente. Nunca a hipertrofia do ego e a atrofia do Eu apareceu tão nitidamente como em nossos dias. E por que está isto acontecendo agora, no ocaso do segundo milênio da era cristã? Até ao fim da Idade Média, século 15, quase só se havia tratado dos interesses do Eu espiritual do homem, da sua alma. “Salve a tua alma”, era o brado universal; salva o teu Eu espiritual, depois da morte, em regiões distantes e ignotas do cosmos; a vida presente não valia nada; era sofrimento e miséria, que deviam ser tolerados, com paciência, contanto que a alma se salvasse, depois da morte e em outros mundos. A humanidade europeia era, espiritualmente, criança – e a criança aceita qualquer crença que os adultos lhe impinjam. Deus era uma realidade inegável, mas uma realidade apenas crida, distante e futura, aceita docilmente por testemunho alheio, não sabida por experiência própria. Com a superação da infância espiritual e o despertamento da adolescência, no princípio da Renascença, século 16, o homem repudiou a crença, baseada em testemunho alheio, e tentou substituir a crença pela ciência – mas, não tardou a sentir grande decepção. A ciência dá conforto ao ego, pela técnica, mas não satisfaz as necessidades mais profundas do Eu. Voltar à crença num Deus ausente e futuro – impossível para os mais avançados. Permanecer no plano da simples ciência e técnica, para satisfazer as coisas do ego – era insuficiente para os homens de maior profundidade. A terceira alternativa, para além de crença e ciência, seria a sapiência, a experiência própria da Realidade espiritual e divina – mas quem é capaz dessa sapiência? dessa experiência própria e imediata da Realidade Eterna?


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