Unipautas nº 09 (2017/1)

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UNIPAUTAS /// JUNHO 2017 /// 13

POR DINHEIRO

LEONARDO FERREIRA

Mortes viram rotina em assaltos na Capital gaúcha

ANA PAULA LIMA

A

cada dez dias, um gaúcho morre em assalto na capital. De Janeiro a abril de 2017, ocorreram nove crimes de latrocínio, que é o roubo seguido de morte, na cidade de Porto Alegre. Segundo indicadores criminais divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), em 2016 o número foi de 15 latrocínios (roubo com morte). A Capital não é a única cidade gaúcha a apresentar casos de latrocínios neste ano: em todo o RS, nos primeiros meses, foram de 42 vítimas. A maioria dos nove crimes aconteceu durante o dia em bairros como o Centro, considerado um dos lugares mais perigosos da cidade, onde foram registradas duas mortes. As vítimas tinham idades entre 20 a 67 anos e foram mortas a facadas ou tiros. Na mira dos assaltante, quase sempre, carros, dinheiro e celulares. O diretor da Delegacia Regional de Porto Alegre, Eduar-

do Hartz, disse que o principal fator para o crescimento de latrocínio seria o aumento populacional relacionado à diminuição do policiamento ostensivo. No entanto, o crescimento populacional nos últimos anos está distante da explosão do número de latrocínios. Hartz afirmou que dos nove casos na Capital, quatro casos já estão resolvidos e os criminosos presos. Os outros cinco estavam em fase de investigação no mês de maio. No ano de 2016, em torno de 70% dos casos foram elucidados e 30% estão ainda em investigação. Hartz ressalta que muitas vezes o ladrão é iniciante e está sob o efeito do crack. “Temos percebido que o perfil do assaltante tem sido de um bandido jovem, entre 18 e 19 anos, pessoas que não possuem uma perícia sobre a arma”, explica ele. Por isso, o roubo algumas vezes resulta em morte, no nervosismo e com medo de que a vítima reaja, o bandido

atira. “Nós ouvimos da maioria dos agressores o seguinte argumento: eu não queria matar, mas achei que ele fosse reagir e meu dedo estava no gatilho e quando vi aconteceu”, finaliza Eduardo Hartz. O psicólogo Carlos Marcírio Naumann Machado acredita que, muitas vezes, a carreira delitiva tem como um de seus precursores o desajuste familiar.. “Existem famílias completamente desregradas, situações de pais que abandonam, se envolvem no crime e a criança desde pequena é carente, ela não tem os cuidados essenciais. E o Estado não apresenta uma cobertura a falhas familiares”. Já na percepção do doutor em sociologia com pós-doutorado em criminologia, Rodrigo Azevedo, o debate está muito mais ligado à existência de uma cultura de sociabilidade violenta, dentro de determinadas áreas, onde o Estado não está presente e quando aparece, geralment,

é de forma violenta. Muito novas, as pessoas entram em contato com a violência em seu cotidiano: acabam se socializando num contexto onde há arma de fogo e a violência vira um mecanismo de acerto de contas e administração de conflitos. Para a resolução e a diminuição dos crimes de latrocínios em Porto Alegre, o delegado Hartz conta que é preciso colocar mais policiais da Brigada Militar nas ruas. “O policial fardado inibe o crime”. Também fala que o sistema prisional da capital gaúcha sofre certa deficiência, que deveria ter uma maior efetividade para que os agressores pudessem cumprir a pena imposta. Além disso, o sistema deveria oportunizar formas e projetos, para que o apenado volte para a sociedade reabilitado, reduzindo o índice de reincidência criminal O sociólogo Azevedo apontou ainda outras soluções, colocando em questão a necessi-

dade de atuação da polícia para recolher as armas de fogo que estão circulando de forma ilícita. Conforme o relatório preliminar sobre o ranking sobre o controle de armas nos Estados, divulgado no Fórum de Segurança Pública, mostra que o Rio Grande do Sul ainda possui centenas de milhares de armas ilegais. Para Azevedo, a redução da violência deve iniciar com um investimento em políticas sociais e uma melhora na oferta de ensino, especialmente nas áreas mais periféricas. Conforme os especialistas, para que haja uma redução nos crimes de latrocínio, entre outras medidas, é preciso uma preocupação maior do Estado com a questão, com aumento e qualificação do policiamento, reforma do sistema prisional, ampliação das redes de ensino e proteção em áreas onde o Estado está ausente, além da retiradas de circulação de armas ilegais.


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