UP! Magazine 20 - Pense Rosa

Page 17

Rosa Simões de Oliveira Presidente do Grupo Reviver, tornou-se ícone da força feminina pela cura do câncer

A vida antes do câncer “Com três filhos, minha vida era comum, como de muitas mães e esposas. E com relação ao câncer de mama, não havia muitos esclarecimentos. Naquele tempo, isso ainda era comum, o assunto era tratado com certo receio”, revela Rosa. “Na verdade, procurei um médico para interromper a amamentação do meu filho caçula, que eu já amamentava por dois anos. Buscávamos várias alternativas e medicamentos para secar o leite e, durante essa busca, sem querer, notei um nódulo em meu mamilo esquerdo”, relembra. Contudo, o diagnóstico do câncer ainda demorou mais um tempo. Como havia tentado vários métodos para interromper a amamentação, o nódulo fora tratado como leite empedrado, conhecido como mastite. Mas, como as técnicas mais eficientes para resolver o problema não surtiam bons resultados, Rosa aproveitou a chegada de um especialista à cidade para realizar exames mais completos. E lembra com exatidão do momento em que teve a notícia da doença: “Quando o resultado da biópsia foi revelado, entrei em pânico: eu estava com câncer de mama em meu seio esquerdo. Nada passava por mim a não ser o desespero. Não conseguia nem ao menos ir para casa, tive que ser acolhida por uma vizinha, em prantos.” Família e Tratamento “E não demorou para que o pânico se espalhasse por toda a minha família”, conta. Nesse momento, Rosa estreitava ainda mais seus laços de amor com seu esposo Douglas e os filhos Junior, Renato e Ricardo, fazendo dessa união a principal força para encarar tudo o que vinha pela frente. “Como os meninos eram ainda muito novos, com 13, 11 e 8 anos, eu pedia a Deus para que pudesse ao menos viver pelos próximos 10 anos, para ver meu caçula crescido. Hoje, já é um belo pai de família”, conta com os olhos claros já emocionados. E diz que se algo assim voltasse a acontecer novamente, pediria outros 10 anos, dessa vez para cuidar de seus netos. Também símbolo da luta contra o câncer

em Americana, o médico Emerson Assis foi outro ponto de apoio fundamental para a força e a esperança de nossa entrevistada. “Ele aconselhava muito a mim e ao meu marido. Chegava a me dizer que preferia partir no meu lugar, mas que não podíamos nos desesperar: não era porque tínhamos câncer que iríamos morrer. Em uma das nossas muitas conversas, me perguntou se eu tinha créditos com Deus e me pediu então para conversar com Ele, em uma espécie de negociação”, recorda. Depois de passar pela mastectomia radical, Rosa enfrentou 8 sessões de quimioterapia e com elas conheceu todos as aflições do tratamento. “Com a minha cirurgia, tive que dobrar a minha fé. Não busquei por outros hospitais mais reconhecidos pelo tratamento do câncer e decidi ser operada aqui mesmo, em Americana. Sempre contei com os olhos cuidadosos de Deus”. Para ela, mesmo sendo este um dos momentos mais temidos pelas pacientes, é preciso não deixar-se abater ou cair em desesperança. E declara com muita positividade: “A quimioterapia é difícil, mas todas as pacientes que se curam passam por ela! É um passo fundamental!”. Depois da cirurgia, Rosa não procurou por reconstrução mamária graças ao apoio do esposo. “Quando sugeri que faria a cirurgia por ele, Douglas não titubeou e me disse: casei com você e não com sua mama. Quando meu próprio filho me presenteou com uma prótese, feita por ele mesmo com espuma de colchão, eu entendi que passar por mais uma cirurgia não seria necessário”, conta emocionada. O medo x a esperança Rosa confessa que passou por momentos em que a dúvida pairava como uma nuvem negra sobre seu tratamento. Na época, o bombardeio de notícias negativas pela mídia, a própria falta de esclarecimento sobre o assunto e a permanência do tabu sobre o câncer de mama não deixavam as pacientes muito confiantes. “Com algumas perdas na família causadas pelo câncer, tinha que me fortalecer para fugir do pensamento de que seria a próxima”, declara ela. E na busca por

uma forma de diminuir esse estigma tão cruel do câncer de mama é que Rosa e seu médico começaram a amadurecer a ideia de criar um grupo de pacientes, hoje conhecido como Grupo Reviver, fundado oficialmente em 1998. “Quando se tem câncer, qualquer pequena dor nos desespera. O grupo foi pensado para justamente aliviar essas angústias, buscar respostas e, sobretudo, criar laços de apoio entre as participantes”, afirma a fundadora. Nesses 20 anos, o grupo foi fundamental na vida de muitas pacientes. Com casamentos desfeitos, dores e dúvidas, muitas mulheres foram amparadas pelo Reviver, que passou a simbolizar uma outra forma de encarar a doença. “Sempre dizemos que a felicidade é possível. Lutamos não apenas contra o câncer físico, mas também o emocional, aquele que impede o sorriso no rosto e a alegria de viver, essenciais para o processo de cura. O próprio contato do grupo é uma ótima ferramenta para a esperança: ver outras mulheres fortes dá força às mais fracas”, explica. E completa: “É claro que pretendemos estender nosso alcance, podendo principalmente amparar mulheres de menores condições financeiras. Mas saber que já salvamos vidas nos enche de orgulho”. A cura e a luta pela prevenção Com a cura de Rosa, a sua filosofia da felicidade e de alegria de viver tornaram-se exemplos para outras pacientes. Com o movimento Pense Rosa e a efetivação das ações de prevenção, sua luta e a do Grupo Reviver colhem bons frutos cada vez mais. Para ela, existem algumas indicações fundamentais para evitar o câncer e a primeira é a prevenção. “Nada mais eficaz quanto conhecer o próprio corpo e realizar os exames periodicamente”, diz ela. E é decidida: “As outras práticas indispensáveis são o sorriso no rosto, a alegria de viver e a serenidade para enfrentar nossos problemas”. E encerrando nosso bate-papo, olha para o céu sem nuvens cortado por um avião que refletindo o sol mais parece uma estrela e diz: “Entre tantas lições, o câncer me ensinou a ver beleza em todos os dias e em todas as coisas.”

17


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.