Edição número 3172 - 23 e 24 de junho de 2018

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POLÍTICA

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ESPLANADA

LEANDRO MAZZINI - contato@colunaesplanada.com.br

Sem demagogia

A

menos de dois meses do início das campanhas eleitorais, o Tribunal Superior Eleitoral – que atua forte para evitar estrago de fake news contra candidaturas – movimentase também para barrar a balela eleitoral. A demagogia de candidatos foi tema de reunião do deputado Otávio Leite (PSDBRJ) com o presidente do TSE, ministro Luiz Fux. Leite solicitou que o Tribunal dê visibilidade a um dispositivo na Lei Eleitoral, de sua autoria e aprovado em 2009, que obriga candidatos a presidente e a governador a cumprirem o que prometem nas campanhas.

É A LEI A 12.034/09, de Leite, incluiu na Lei Eleitoral 9504 a obrigatoriedade de o candidato a prefeito, governador e presidente registrar no cartório eleitoral suas promessas.

CERCO Está no Art. 11, Parágrafo 1º, Inciso IX: as propostas defendidas pelo candidato devem ser entregues à Justiça Eleitoral anexadas à documentação do registro de candidatura.

COMPROMISSO “A ideia é que seja matéria prima para um recall, um questionamento. É para não haver estelionato eleitoral. O objetivo é para ampla publicidade”, explica Otávio Leite.

METADE JÁ FOI

CUSTO PT

NOVAS..

PELO VERDE

A intervenção federal na segurança do Estado do Rio de Janeiro já consumiu, em apenas 4 meses, mais de um terço do total dos recursos (R$ 1,2 bilhão) destinados para operações de combate à violência. Foram R$ 450 milhões usados na compra de veículos, coletes, uniformes e material de perícia.

É o mesmo cenário da tentativa de costura de alianças entre os partidos da oposição. O PT mantém-se irredutível quando sondado para compor chapa com outro nome do partido já que a Ficha Limpa barra Lula da Silva. A resistente postura petista tem irritado até líderes do aliado histórico, o PCdoB.

O Partido NOVO terá 50 candidatos, por baixo, no Rio de Janeiro: 20 a federal, 30 a estadual e, o mais interessante, 30% deles serão mulheres.

A Ambev lança aceleradora com foco em propostas que contribuam para questões ambientais, como emissão de carbono, agricultura sustentável, embalagem circular e água. O projeto vencedor fechará contrato com a multinacional e, o melhor, apresentará sua ideia a fundos globais de investimento. www.aceleradoraambev. com.br

SERÁ QUE TEM? A equipe econômica do Governo discute novo aporte, pois a intervenção vai durar até 31 de dezembro. Em tempo: a presença das Forças Armadas não impediu, em maio, o aumento dos homicídios dolosos no Rio em relação ao mesmo mês do ano passado.

CUSTO MDB Deputados e senadores alinhados ao Planalto apontam a “irredutibilidade” do MDB como principal entrave para a composição de aliança ampla para a disputa presidencial. Líderes da base confidenciam em tom de queixume que as conversas com emedebistas “cessam” quando ventila-se a hipótese de o MDB ocupar a vice numa chapa.

RECEITA ATIVA A revelação é do Subsecretário de Administração Aduaneira da Receita Federal, Marcos Vinícius Pontes: o gerenciamento de risco levou a melhores resultados dos últimos 9 anos com o embargo de produtos piratas nos postos das fronteiras.

EFICIÊNCIA Segundo Pontes, houve crescimento de 80% das apreensões da Receita na Aduana brasileira. A Polícia Federal também ressalta taxa de eficiência em 60% dos inquéritos de contrabando e descaminho.

SANDRO LIMA

ENTREVISTA

“Jornadas de Junho” deram viabilidade a Jair Bolsonaro Manifestos ocorridos em 2013 acabaram culminando em um reduto eleitoral para ser usufruído pela ideologia de direita

Carlos Martins considera que as manifestações também foram relevantes por despertar o interesse de estudantes pela causa política

O que antes estava enclausurado, com certo temor de se afirmar de direita, agora não mais. Agora esse pessoal bota a cara na rua”

CARLOS AMARAL REPÓRTER

A

s “Jornadas de Junho” completam cinco anos este mês. O que começou com protestos contra aumento de passagem do transporte público em São Paulo, acabou por se tornar o período recente com as maiores manifestações de rua do Brasil. Dali os ânimos das eleições de 2014 se acirraram como nunca e a presidente eleita foi afastada do cargo. Seus reflexos são vistos até hoje, com destaque ao surgimento de uma “direita raivosa”, por assim dizer, o que deu capilaridade para a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República. Essa é a avaliação do sociólogo Carlos Martins. “Aquelas manifestações desencadearam uma construção de identidade de um setor que agora diz ‘eu sou de direita’”. Tribuna Independente – Este ano as chamadas “Jornadas de Junho” completam cinco anos, que começou com uma questão pontual – aumento de passagem de ônibus – em São Paulo

e desdobrou para mega atos em todas as capitais brasileiras. Que avaliação o senhor faz do saldo daquelas manifestações, elas fizeram bem ou mal à democracia brasileira? Carlos Martins – É

MACEIÓ - ALAGOAS SÁBADO E DOMINGO, 23 E 24 DE JUNHO DE 2018

difícil afirmar porque todo processo social é multifacetário. Se teve naquele momento a participação nas ruas de uma juventude que, até então, não sabia o que era ir para a rua, fazer manifestações. Se tem

Produziu porque aquela ‘Jornada’ também compunha uma manifestação de direita contra um governo de esquerda”

..E NOVATO Professor de Direito, o précandidato do NOVO ao Governo do Rio, Marcelo Trindade, terá a companhia do técnico de vôlei Bernardinho em caminhadas na capital e bairros da zona Oeste neste fim de semana. Uma será amanhã no posto 12 do Leblon, às 10h.

ESPLANADA ESPORTES O BB comemora a propaganda involuntária do comentarista Casagrande na TV Globo feita ontem em rede nacional: “O banco do Brasil faz parte importante dessa Copa do Mundo”. Galvão riu, sem graça. Obviamente falou do banco de reservas. Mas viralizou.

Com equipe DF, SP e Noedeste www.colunaesplanada.com.br contato@colunaesplanada.com.br Twitter @leandromazzini

o perfil de população ali que não é a daquela juventude tradicionalmente de rua, de construir protestos. Também se teve ali, para trabalhar num sistema binário, dois segmentos com paradigmas ideológicos diferentes, contrários [direita e esquerda]. Tinha ali setores de esquerda, que tradicionalmente compunha manifestações de rua como o movimento estudantil. Se aumenta passagem, movimento estudantil vai para a rua. Mas tinha ali um contexto político relacionado com processos eleitorais e com a polarização muito evidente de dois grupos políticos [PT e PSDB]. Nesse sentido, estava muito claro, ali, que aquelas manifestações não foi uma luta por avanços sociais. Havia também ali uma manifestação muito clara de manutenção de status quo. Como consequência, do ponto de vista dos movimentos sociais tradicionais, encontramos hoje é outro segmento de jovem, de direita. Claro que aquilo não nasceu ali, mas se pegarmos como referencial histórico, aquelas manifestações desencadearam uma construção de identidade de um setor que agora diz ‘eu sou de direita’. Tribuna Independente – Tirou-se a “vergonha” de se afirmar como de direita? Carlos Martins – Tirou. O que antes estava enclausurado, com certo temor de se afirmar de direita, agora não mais. Agora esse pessoal bota a cara na rua. Esse tecido social vai produzir – e a internet é espaço fundamental para a saída do casulo desse pessoal porque eles começam a se perceber – e se constrói uma identidade a partir de um inimigo comum: a esquerda e os debates transversais como racismo e feminismo, tratados como ‘mi mi mi’. Constroem um discurso que monta uma identidade em torno desses grupos. Aquelas manifestações foram boas? Sim, em certo aspecto. Você tem ali participação do movimento estudantil tradicional, e de outros movimentos. Também foram ruins? Foram, porque aquilo deu um ‘start’ para uma direita que, até então, nós não tínhamos. E esse tecido social vai dar legitimidade para a candidatura presidencial do Bolsonaro [PSL], por exemplo. Tribuna Independente – E que mudanças, o senhor avalia que aquelas manifestações gera-

ram no sistema político brasileiro, ou nas correlações de força? Ou a política só ficou mais moralista? Carlos Martins – Acho que algumas foram intensificadas. Elas já existiam, mas ganham corpo e começam a dizer ‘somos um organismo’. É impressionante. Participo de um grupo no Whatsapp sobre política e nele ex-gestores e ex-parlamentares, e tem uma senhora que faz um discurso radical de direita impressionante. Ela, de São Paulo, fala com uma convicção. Seu discurso é antigo, sobre o comunismo. Mas para ela, o comunista no Brasil é o Michel Temer [MDB] ou Eduardo Cunha [MDB]. Ela associa comunismo com corrupção. Para ela, a corrupção no Brasil é produzida pelos comunistas. É esse perfil o do militante de direita no Brasil e é consequência da falta de leitura do brasileiro, da falta de informação. Que é leitor de manchete. Aí, do ponto de vista da disputa eleitoral, você tem o surgimento do Bolsonaro. Esse sujeito que antes ‘guardado’, porque ele sempre existiu, foi vereador no Rio de Janeiro... Tribuna Independente – Grosso modo, as “Jornadas de Junho” produziram a viabilidade eleitoral ao Bolsonaro se candidatar à Presidência da República? Carlos Martins – Produziu. Produziu porque aquela ‘Jornada’ também compunha uma manifestação de direita contra um governo de esquerda [Dilma Rousseff, PT]. Tribuna Independente – Mas não se trata de uma direita com discurso voltado à economia, mas apenas aos costumes, moralista... Carlos Martins – Exatamente. Até por isso essa discussão não é pacificada. Não é consensual dizer que existe uma direita no Brasil, mas nós temos a ‘nossa’ direita. É assim que a gente constrói a nossa direita, é assim que a gente constrói a esquerda que temos. É o nosso jeito. Tribuna Independente – Direita e esquerda se relacionam com a realidade de onde atuam... Carlos Martins – Depende da realidade onde elas se constituem. Uma população vai elaborar seus paradigmas ideológicos a partir de sua capacidade de interpretação. Como a gente lê pouco, então...


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