Tribuna do Norte - 19/03/2013

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viver CINEMA Sessões do Cinecult custam preço promocional de R$ 10,00. PÁGINA 2

AGENDA Colecionadores e fãs do vinil participam de feira no Mercado de Petrópolis. PÁGINA 4

REFORMA

MinC dá sinal verde para Biblioteca Câmara Cascudo e acervo será transferido para antigo Centro Experimental. PÁGINA 4

JORNALISMO Manhattan Connection completa 20 anos com recorde de audiência . PÁGINA 3

FILME NA TV Na madrugada desta terça para quarta,Globo exibe,às 3h,“Primo Basílio”. PÁGINA 2

CANAL ZAP Depois de Lado a Lado,Patrícia Pillar prepara volta ao comando do“Som Brasil”. PÁGINA 2

Editora: Cinthia Lopes e-mail: cadernoviver@tribunadonorte.com.br

NATAL | RIO GRANDE DO NORTE Terça-feira | 19 de março de 2013 FOTOS:DIVULGAÇÃO

DE OUVIDOS

YUNO SILVA repórter

((( bem abertos )))

uando estiver no cinema pede pra passarem o filme com o som forte; não alto, forte! E tem que ficar em cima, se não o técnico acaba baixando. O som precisa marcar presença na sala pra coisa funcionar”. Essa foi a primeira coisa que o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho disse ao saber que “O Som ao Redor” iria estrear em Natal. A recomendação expressa justifica-se por um motivo ‘simples’: o “som” é mais que uma palavra no título do filme, ele funciona como personagem. Premiada em festivais do Brasil e exterior, a produção será exibida na capital potiguar durante as sessões Cine Cult (Cinemark, sala 4), nesta terça e quinta-feira (21) somente às 20h50, e nada garante que o filme permanecerá em cartaz na próxima semana. Espécie de crônica contemporânea da sociedade brasileira, “O Som ao Redor” não é um sucesso de bilheteria nem pode ser rotulado como um ‘filme-de-arte’, mas se há a necessidade de encaixálo em algum gênero considere-o um ‘filme-conceito’. Desde o dia 4 de janeiro passado, quando foi lançado em 13 salas de SP, RJ e Recife, o filme acumula quase 100 mil espectadores – um número tímido se comparado com blockbusters da vida, mas um feito para quem corre por fora do circuito meramente comercial. O fato é que, em menos de cinco meses, quando começou a ser mostrado em festivais, o longa de estreia de Mendonça já faturou prêmios de melhor filme em nada menos que nove eventos (até agora!): de São Paulo à Nova Iorque (EUA), do Rio de Janeiro à Roterdã na Holanda, de Gramado (RS) à Polônia, passando pela Sérvia e Dinamarca. Questionado sobre o cuidado com o tratamento sonoro impresso na película, o diretor explica que o som é elemento importante da narrativa por não respeitar barreiras. “Vivemos em uma sociedade cheia de obstáculos, desde a cerca elétrica à vaga de estacionamento, linhas que delimitam o seu, o meu, o nosso espaço, e temos que seguir na linha para mostrar que estamos inseridos”. Kleber diz que a partir dessa abor-

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“PEDE PRA PASSAREM COM O SOM FORTE!”, RECOMENDA O DIRETOR KLEBER MENDONÇA FILHO, SOBRE “O SOM AO REDOR”, UM DOS MAIS PREMIADOS FILMES BRASILEIROS, CUJA ESTREIA OCORRE HOJE NO CINEMARK SAIBA MAIS... FILMOGRAFIA Curtas-metragens .“Enjaulado”(1997) .“A Menina do Algodão”(2003) .“Vinil Verde (2004) .“Eletrodoméstica”(2005) .“Noite de Sexta,Manhã de Sábado (2006) .“Luz Industrial Mágica”(2009) .“Recife Frio”(2010) Documentário .“Crítico”(2008)

O SOM

Filme foi rodado no Recife e retrata a vida de pessoas numa rua

Experiente diretor de curtas, Mendonça estreou em longa com “O Som ao Redor”

dagem as pessoas passam a enxergar coisas que geralmente passam despercebidas no dia a dia. “As pessoas têm reagido muito bem a essa proposta do som, mas me pergunto se tivesse escolhido outro nome se isso seria diferente”. Antes de imaginar um discurso radical nas telonas, contra o ‘status quo’ social, ele avisa: “A crítica é sutil, apesar das tensões

mostradas na tela, e tive essa preocupação para não virar um filme panfletário. O certo é que o som te alcança, por mais que você se feche para o mundo exterior”. Talvez daí, acredita o cineasta, é que venha a identificação das pessoas “independente do CEP”. Kleber Mendonça Filho garante continuar o mesmo de antes da fama repentina, e o que mudou é que

A vida numa rua de classemédia na zona sul do Recife toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece a paz de espírito da segurança particular.A presença desses homens traz tranquilidade para alguns,e tensão para outros,numa comunidade que parece temer muita coisa.Enquanto isso,Bia, casada e mãe de duas crianças, precisa achar uma maneira de lidar com os latidos constantes do cão de seu vizinho.Uma crônica brasileira,uma reflexão sobre história,violência e barulho.

hoje se sente “privilegiado de ter conseguido viajar bastante com esse filme e de ter conhecido pessoas interessantes nesses lugares”. Outra questão desmistificada pelo diretor diz respeito ao tom adotado em “O Som ao Redor”: ele não vê o filme como violento, mas admite que algumas pessoas saem incomodadas. “Tem gente que sai do cinema sem saber o que dizer, não sabem dizer se gostaram ou não gostaram. Gosto de filmes que pegam o cara pelo pescoço, sem machucar, sem deixar marcas, mas que pegam para dizer: ‘olha o que tenho para te falar’”. SERVIÇO: Exibição em Natal do filme “O Som ao Redor”(Brasil,2012),do diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho. Sessões dias 19 e 21, às 20h50, na sala 4 do Cinemark - Midway Mall.Ingressos:R$ 10 e R$ 5 (meia).

Kleber Mendonça: “Incentivo é digno e faz parte” MERCADO AUDIOVISUAL Kleber Mendonça Filho afirmou que o mercado exibidor tem tratado muito mal filmes que não se encaixam no esquema comercial,e que o público brasileiro foi treinado ao longo do tempo para achar que filme bom é aquele que estreia com muitas cópias.“Conseguimos uma repercussão incrível com apenas 13 cópias.Por mais verba que se tenha para promover uma produção,não há dinheiro que compre uma crítica no The New York Times que indicou o filme como um dos dez melhores do ano”, comentou ele sobre a crítica positiva para “O Som ao Redor”do jornal norte-americano. O diretor fala do formato predatório com propriedade:em fevereiro,o pernambucano abriu uma discussão com a Globo Filmes após entrevista na Folha de S.Paulo onde disse “se meu vizinho lançar o vídeo do churrasco dele no esquema da Globo Filmes fará 200 mil espectadores no primeiro final de semana”. Como resposta,Cadu Rodriguez,diretor executivo da distribuidora,respondeu em tom de desafio:se Kleber “ dirigir um filme e fazer 200 mil espectadores com o apoio da Globo Filmes,nada será cobrado;se não fizer,assume publicamente que, como diretor,ele talvez seja um bom crítico”. Para encerrar o assunto Mendonça Filho disparou:“lanço outro desafio:que a Globo Filmes,com todo o seu alcance e poder de comunicação,invista em pelo menos três projetos por ano que tenham a pretensão de ir além de atrair alguns milhões de espectadores que não sabem nem exatamente o porquê de terem ido ver aquilo”. APOIO PÚBLICO Sobre o fato do filme ter sido viabilizado através de editais e leis de incentivo,com patrocínio do Ministério da Cultura,Petrobras e Governo de Pernambuco,o diretor afirma ser impossível fazer cinema no Brasil e em países como França, Inglaterra e Canadá,entre outros – “O Som ao Redor”custou cerca de R$ 1,6 milhão,e o projeto levou cerca de três anos para ficar pronto.“Atualmente é impossível produzir sem incentivo,é digno e faz parte.Em outras partes do mundo acontece muito isso,é como investir em Educação”, acredita.Kleber disse que a forma norte-americana de fazer cinema só serve para eles “por questões culturais”:“Quando um produtor se associa com um diretor e juntos precisam ir buscar financiamento privado,fazer empréstimo,só se visa o retorno financeiro, precisa ser comercial para compensar o investimento”.


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