Poesia Revoltada

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A palavra armada

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O meu papo não é fachada/ bumbo, caixa, teclado/ encaixam com minha fala/ o produto a rajada” (Entrei no ar)

ou Acreditando que a mente é a mais farta munição (Matemática na prática)

nos do Racionais MCs: A primeira faz bum, a segunda faz tá/ [...]/ meu estilo é pesado e faz tremer o chão/ minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição [...]/ o rap venenoso é uma rajada de PT” (Capítulo 4, versículo 3).

MV Bill não reproduziu o modelo em seus versos; em compensação, ostenta uma tatuagem no ombro esquerdo onde se pode ver o desenho de um microfone e a legenda “Minha arma”. O expediente não se restringe aos rappers destacados neste trabalho. O grupo pernambucano Faces do Subúrbio declama: Não tenho um 38, mas minha arma é o microfone então se liga, / pá...rá-tá-tá-tá, rajadas de consciência não vai dar pra se esquivar (Coisas que vêm de dentro).

ou ainda: Estou aqui novamente/ com meu calibre pesado, nervoso para disparar/ mensagens à queima-roupa/ sem chance de escapar” (Comunicação verbal).

O grupo carioca Planet Hemp – que apesar de contestado por alguns setores do próprio meio, reivindica sempre que pode a identidade hip-hop1 – também entra na onda: 1 Marcelo D2, líder do grupo, volta e meia toca no assunto em suas letras, como por exemplo: “Enquanto você brinca de Ice-T/ pessoas pagam com a vida aqui e ali/ então não venha com esse papo que o rap é só seu/ que caiu no seu quintal/ saia dessa utopia e caia na real/ antes que seja tarde e você se dê mal/ rap é cultura de rua e não vou dizer mais nada/ para bom entendedor meia palavra basta/ rappers reais será que existe isso?” (Planet Hemp, 1999: “Rappers reais”). Em outra faixa, D2 canta: “Eu vou tentando rimar/ cê vai tentando entender/ hip hop Rio é Planet Hemp/ [...] eu sou do Rio, eu sou do hip-hop” (“Hip Hop Rio”).


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